Isto está em crise... Para não fugir à moda actual que tudo culpa com a dita cuja!
Ventos, frios, chuvas, vagas... Tudo contra nós, principalmente os que vão de barco, já que o pessoal das pescas a partir de terra lá se vai safando!
Fui pescar faz hoje quinze dias, mas, para além de umas Sarguetas e um Parguito, nada mais entrou, num dos dias mais frios das minhas idas ao mar, em que nenhuma lógica ou conhecimento adquirido funcionaram, fazendo-me pensar na enormidade de aprendizagens por desenvolver.
Quando acontecem jornadas destas, procuramos insistentemente os domínios em que não pensamos mas que, entretanto, afectam negativamente a nossa pesca. Nesta altura, deparamo-nos com uma quantidade de variáveis e hipóteses, cuja análise e sistematização implicariam um trabalho de casa monstruoso e quiçá infrutífero, tanto pelo desconhecimento científico, como pelas variações climáticas sucessivas, para não falar do pouco tempo que pescadores de fim de semana, como a maioria de nós, podem despender nesse sentido.
Então o que faço?
Aponto tudo! Tento pescar em locais fora das zonas habituais, continuo a tomar notas e espero que algo resulte, podendo mais tarde ter um termo de comparação, se é que tal possa vir a acontecer... Sem nunca parar ou desistir de procurar!
Entretanto outra questão se levanta! O tempo continua a não deixar pescar e as experiências ficam por realizar enquanto acontecem outras mexidas de mar importantes, pelo que tudo começa de novo e... Ainda bem!
Se dominássemos a pesca com tanta cientificidade, para além de perder a graça, dificultávamos seriamente a renovação!
Esta é a hora em que acalmo, evito opinar sobre técnicas, materiais, capturas..., deixo de pensar, limpo o material, vou ver o mar, o barco... Enfim, acho que já perceberam o "filme"!?
Foi o que fiz!
Desafiei a mulher e... Lá fomos até Sines!
Amarra-se a Moreia ali pela zona onde a estou a suspender e pendura-se num ponto à altura no nosso peito para que a possamos ter bem a jeito; Não sem antes a ter raspado daquele "sarro" que teima em não sair na totalidade!
Pega-se numa faca tão afiada que até arrepia e dá-se um corte à volta, logo abaixo da cabeça até atingir a carne!
Feito o corte anterior, vai-se descolando a pele da carne, formando um bordo de pele caída até que a mão consiga agarrar! Aí meus amigos, puxa-se a pele por ali abaixo dependendo, do corte e da separação inicial, a facilidade com que a "farda" do bicho possa ser retirada.
Fora com a pele e consequentemente com a grande maioria da gordura que não queremos ingerir, corta-se a cabeça, limpa-se a barriga das tripas, deitamos a hipótese de pitéu numa tábua à medida e cortamo-la em fatias finas, não mais grossas que o nosso dedo mindinho (da mão)! Excepto a zona do rabo, a qual poderá ser objecto de uma sopa de peixe deliciosa.
As postas, nesta altura, apresentam-se suculentas, sendo hora de preparar uma marinada a gosto!
Cá em casa, por orientação da "Patroa", fazemos assim:
Ao sumo espremido de uns três, quatro ou mais limões, dependendo da quantidade de Moreia, juntam-se bastantes alhos cortados à fatia, duas ou três folhas de louro, picante e sal a gosto. Tudo isto se coloca a banhar a Moreia, voltando tudo várias vezes, assegurando o envolvimento das postas pelos condimentos e liquidos referidos que assim se deverão manter durante umas três horas ou um pouco mais, tendo o cuidado de revirar tudo de vez em quando!
Enquanto as horas passam, podemos conversar, "picar daqui", "picar dali", regando a coisa também a gosto, conforme a capacidade de cada um e de maneira a que, quando chegar a hora de degustar a Moreia, ainda se consiga perceber o gosto!
Chegou a hora da fritada!
Frigideira ao lume, óleo bem quente, postas escorridas e, para dentro com elas!
Deixam-se fritar até que a cor fique um tudo nada mais escura que aquele dourado habitual, retiram-se e colocam-se a escorrer!
Depois pessoal... Com um arrozinho de tomate, umas batatas fritas, uma salada a preceito ou mesmo e só com um bom pão, regando com um vinho tinto novo, de boa qualidade ou com um branquinho leve, geladinho... Até me está a crescer água na boca! Já para não falar da companhia que, nestes momentos, devemos exigir que seja, no mínimo, boa!
Quanto a vocês... Experimentem! Vão ver que vale a pena!
Sei que esta receita pode não ser pacífica!
Por um lado temos os puristas da Moreia frita após seca que torcerão o nariz a tal pitéu. Por outro teremos os que já a provaram confecionada dessa maneira e que acharam ser o gosto demasiado agressivo para eles, decidindo que não gostam de tal peixe!
Como convenço uns e outros?
Bom... O gosto é menos agressivo que quando se frita o animal depois de seco, direi mesmo, mais refinado! As espinhas quase não se sentem e a carne, de tão suculenta, cola ao dente de quando em quando, sendo libertada quando mastigamos aqueles pedacitos de gordura que não foram com a pele, dando um toque final excelente que só provando poderão avaliar. Uma delícia!
Experimentem companheiros! Há coisas que parecem doer mais e que muita gente experimenta antes que o mar ou qualquer outra coisa os leve!
Enquanto pensam nisso e o tempo passa, pode ser que o São Pedro nos traga alguma paz, deixando-nos pescar e falar das capturas e de tudo o que as rodeou!?
Boa noite a todos os leitores!
8 comentários:
OLá Ernesto. Sou leitor assíduo do teu blog... já estava com saudades de um post... tirando a parte da moreia, que acredito que fique deliciosa, a mensagem vai mesmo de encontro àquilo que estamos a sentir... respeito pelo mar mas ao mesmo tempo uma mistura de tédio e ansiedade de querer voltar rápido ao nosso "mundo".
Força e boas proas.
Atentamente, Luis Ramalho
Viva Ernesto
Mais um soberbo e desta vez soculento relato.
Não há fome que resista a essa ementa "Grega", temos que provar isso. Haja Moreias! LOL
Tenho de ir comer qualquer coisa, até já!!!!
Abraço
Paulo karva
Viva
Pois é, até o mar nos aumenta a crise...
Quanto à Moreia à Grega, já tive a oportunidade de provar. Foi mesmo provar, porque quando me aprestava para voltar à travessa já lá não morava mais nenhuma posta.
Uma prova de que todos gostámos do pitéu.
Acerca das pescas, até a partir de terra, também está complicado.
Mas a crise há-de passar. E de certeza mais depressa que a(s) outra(s).
Abraço
Vira
Boas amigo Ernesto!
Quanto á moreia, é um dos peixes que mais gosto! deliciosa!
vou-lhe apontar um defeito na receita....lol, em vez da moreia ser frita no óleo, se for frita com o tal azeitinho... Fica do outro mundo!
Quanto á pesca de água doce... pode estar á vontade, quando passar pela zona do torrão ou álcacer, é só apitar!
Um grande abraço,
Daniel Rodrigues
Pois é, o tempo de "sequeiro" faz-nos destas coisas, ficamos agri-doces...
Olha se foi á grega ou á turca não sei, mas que estava um espectáculo ninguém duvide. Tem um senão, aquando posta na mesa desaparece num ápice...
Amigo, tenhamos calma e vamos fazendo umas manutenções no material, umas montagens, afinar este ou aquele pormenor porque logo logo estaremos a meter máquina a fundo rumo ao combate.
Da Caparica, aquele abraço!
Mário Baptista
ora viva com qye entao queria pescar!!??? pois pois como eu o compreendo nao molho anzol desde final de Dezembro!!!! Melhores dias virao, ate la vamos respeitando o mar e pondo a leitura em dia.
Essa receita esta me a fazer crescer agua na boca. Tenho de exprimentar isso ai tenho, tenho!!!
um Abraço
Viva Ernesto
Vinte dias sem post é uma eternidade!
E já faltou mais para que o mar volte aos tons de verde e de azul...
Sobre a moreia, provei e gostei, tal e qual como descreve. À grega o petisco já me convence
Um abraço
João Martins
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Viva Pessoal!
Em primeiro lugar, grato pelos Vossos comentários, sem eles ainda me sentia mais "agridoce", como refere o Mário Baptista!
Depois, o tempo que estive sem vos contemplar com alguma escrita... Não é habitual, mas pode acontecer, embora eu tente sempre que não!
Quanto à falta de pesca, já vi que estamos, senão todos, muitos a padecer do mesmo mal!
Quanto à Moreia, salvo a minha concordância com o Daniel sobre a questão do azeite (esqueci-me de levar), aquilo vale mesmo a pena! Lol!!!
Grande abraço!
Ernesto
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