terça-feira, 19 de abril de 2011

"Água na boca..."


Foi isso companheiros... as últimas jornadas em Sines deixaram-me "água na boca"!

Muita acção, muita procura, muita diversificação e peixe... muito pouco, embora de qualidade.

As tácticas funcionaram, mas pouco, as procuras e tudo o resto andaram pela mesma linha, valendo a pesca pelo seu todo e a constatação de que estes são mesmo aqueles tempos em que as dificuldades de capturar se tornam mais evidentes e em que, por vezes, num local e hora em que nada se espera se podem conseguir boas pescas.

A "água na boca" deixou um gosto amargo, muito pelas excelentes condições de mar e vento que se podem apreciar na foto de entrada que, tirada na Quinta Feira, se poderia ter repetido na Sexta e no Sábado, prenunciando procuras em mar inteiro e capturas a condizer que acabaram por não corresponder, principalmente em quantidade.
No entanto, o gozo dos dias passados em acção de pesca, das horas de preguiça que antecedem as saídas a solo, do completo descontrolo de horários, da companhia de malta amiga e dos jantares animados, suplantaram fortemente as poucas capturas, assim como adocicaram os sabores amargos. Mas adiante!

Na Quinta Feira saí já tarde, direi mesmo muito tarde... para variar; em completo estado de graça, apreciando o mar e verificando a disposição do material, enquanto percorria a baía às 1000 RPM, aquecendo o motor e dando-me ao desfrute de tirar fotos, como a da entrada, captando depois a do conjunto para pescar na mão...


... também a do conjunto para pescar no caneiro, com um estralho de 250 cm e anzol grande...


... e ainda o enxalavar, encaixado no caneiro central de popa, deixando-me ver a esteira certinha e abanando-se com os balanços do barco, como que lembrando-me que gostaria de entrar em acção.


Prometi-lhe que tudo faria para que tal acontecesse, antes de lhe virar costas e colocar o barco à velocidade de cruzeiro em direcção ao pesqueiro escolhido, ali perto. Isto porque as horas que a altura do Sol já indicavam, exigiam aproveitamento do tempo útil de pesca e o mínimo de mudanças de pesqueiro. Escolher bem, precisava-se!

Não estava preocupado! Este primeiro dia sempre funciona como aquecimento e base informativa para os que se seguem. Logo se veria!?
O fundeio deu-se com a sonda a mostrar peixe por todo o lado, talvez demasiado peixe!?
Era verdade! Aquilo era peixe a mais! As Bogas não davam descanso como tem sido habitual e momentos de pesca mais consistentes, em que se sente: é agora! Vai entrar peixe de jeito... nem um! Uma desilusão.

Não fora uma Dourada de quilo e o Sargo Veado que se mostra abaixo, entrados espaçada e completamente inesperados, para além de uma Choupa e dois Sargos pequenos, magros que nem cães; e, a desgraça seria completa!

O Sol já procurava o seu leito, as iscas continuavam a desaparecer, tanto a Sardinha das iscadas da pesca de mão, quanto a Cavala que, por ser mais rija, sempre cobriu o anzol da pesca no caneiro. O pesqueiro não dava outros sinais e o aquecimento estava feito. Era hora de tornar ao porto e pensar sobre o assunto, tentando perceber o que fazer no dia seguinte. Tudo indicava que tinha de procurar outros mares. Aqueles... estavam mal frequentados!

A Sexta Feira deu comigo a navegar para fora, procurando mares mais profundos, outros pesqueiros, de fundeio mais difícil, solicitando mais atenção e cuidado na manobra, com promessa de justificarem tais trabalhos!?
As marcações eram boas e, mal grado uma pequena aguagem contrária ao vento que com ele guerreava pela posição do barco, consegui fundear onde queria, preparando-me para roubos e lutas a 82 metros de profundidade, usando as mesmas canas e montagens idênticas às do dia anterior. A fé estava em alta, muito alicerçada nos sinais de sonda observados, na qualidade do fundeio e, em outros resultados, de outros anos, em época idêntica, neste mesmo pesqueiro!
Momentos deliciosos que antecedem o que quer que seja?!

A baixada da cana que ia pescar no caneiro, foi iscada com quatro generosos filetes de Cavala fresca, adquirida à saída dos barcos e gelada logo ali, na lota de Sines. A da cana de mão, com Sardinha congelada do Verão, por não haver da outra, fresca e que já mostra gordura suficiente para chamar  e/ou interessar quem queremos. Olhei para as iscadas e estupidamente pensei: "se fosse peixe não resistia a isto"! Coisas que se pensam... sei lá eu ao certo os gostos dos bichos!?

A baixada da cana que pescaria a solo, foi largada em primeiro lugar e deixada cair até meia água; depois, a da cana de mão para que tivesse tempo de fixar a primeira e chegar a esta a tempo de sentir o que por lá andasse, sem perder pitada. Fixei a primeira, recolhendo a linha de sobra e baixando o braço do carreto; agarrei na segunda, deixei chegar ao fundo e aguardei atento, mirando a ponteira e olhando de soslaio para a cana que pescava no caneiro que não me deixou tempo para nada... pura e simplesmente, deu um primeiro toque para aí de meio metro, afocinhando em seguida na direcção da água! Já!? Pensei, enquanto colocava no caneiro a que tinha na mão e com uma rapidez feita de calma me atirei à outra, sentindo a força necessária para a tirar do caneiro e iniciar a luta que, parecendo de peixe maior, terminou com a captura deste Pargo de 3,300 kg!


A coisa começava bem... teria pernas para andar? Tudo indicava que sim!

Fui-me à outra cana e levantei-a no ar, apercebendo-me que já não tinha isca. Subi-a! Repeti todo o processo e encontrei-me na mesma situação, atento a todos os pormenores e... bumba!!! Outra vez a cana do caneiro, com Cavala, mergulhando a ponteira, agora com menos intensidade, originando menor luta e dando origem à captura de outro Pargo, melhor dizendo... um Parguito com 1,200 kg. Nem foto lhe tirei! Para quê? O que se necessitava era rapidez para procurar o avô de um e de outro. Será que andaria por ali?
A sequência de capturas interrompeu-se, diga-se que sem surpresa, faltava trabalho e isso é coisa que não me mete impressão!

Atirei-me às canas, às iscas, atento, baixando e subindo ao ritmo dos roubos que aconteciam a curtos intervalos, mas, os resultados a partir daqui, esses sim, impressionaram-me, deixaram-me a pensar e até com algum amargo de boca... em mais de quatro horas de trabalho afincado, à excepção de alguns peixes sem interesse, só consegui mais uma captura... um Polvo para aí de dois quilos!? E agora... como explicar isto?
O ritmo de pesca foi intenso, tanto mais, quanto menos os resultados apareciam; o barco, manteve-se no mesmo local; a aguagem, com a mesma intensidade e rumo; o vento, quase não teve alterações; o peixe miúdo, sempre a comer ambas as iscas e supostamente a contribuir para a atracção de maiores exemplares; tudo isto, considerando ainda as qualidades deste pesqueiro e anteriores resultados, mais que afirmados; não consigo encontrar explicação lógica para o acontecido!?

Alguém com quem comentei o assunto, respondeu-me: só capturaste esses, porque eram os únicos que lá estavam!
Sinceramente, concordei... para o momento em que se deram as capturas. Mas, e todo o trabalho de atracção realizado posteriormente, como não trouxe resultados? O que é que não fiz? Do que é que não me apercebi? Será que a aguagem, por ir para Norte, não encaminhou a esteira de cheiros e vibrações na direcção certa? Talvez esta a razão mais lógica?
Tenho de lá voltar e tentar perceber. Caso esta tenha sido a razão, podia ter-se resolvido mudando o barco para uma ponta ou para o outro lado do pontão. Tarde de mais! Esta opção só me veio à ideia depois de estar em terra a pensar sobre o assunto.
Para todos os efeitos, só em próximas idas ao local se poderão talvez tirar ilações!?

O Sábado nasceu e os meus amigos: Nuno, Tózé e João; compareceram para me acompanharem em mais uma pescaria. Contei-lhes das maleitas e, não os querendo sujeitar às lutas do dia anterior e do outro, procurei outros mares, mais para Sul.
Uma vez mais, apareceram bons sinais quer de sonda quer de toques, mas resultados, nem por isso.
Muito trabalho, muita Sardinha, muito Camarão, mas peixe... salvou-se o Nuno, com esta Dourada...


... o João Maria, com este Parguito:


Quanto ao resto... um Safio e alguns Sargos e Sarguetas de pequeno porte que, já no fim do dia animaram a coisa. Talvez se temos ficado um pouco mais os acontecimentos fossem outros, mas a hora tardia, algum cansaço e a perspectiva das viagens de volta, já nos apoquentavam, indicando o caminho do porto.

E assim foi, ficando a "água na boca", tendo em conta o bom tempo, as hipóteses de procura, os sinais que se sentiram, versus os parcos resultados.

O mar está lá, nós não andamos longe e, como costuma dizer o Nuno... "queremos desforra"!

"Bendito e louvado... está mais um conto acabado"!

Boa noite a todos os leitores!

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Pescar em "zona de conforto"...


O que é isto da "zona de conforto"?

Alguns poderão pensar que tem a ver com cadeiras de recosto e canas abandonadas em acção de pesca... mas não!
Para mim, a dita zona, tem mais a ver com não ir muito longe, onde talvez devesse para aumentar as hipóteses de capturas maiores atendendo à época; não pescar muito fundo; não procurar muito, mas bem; de preferência, um daqueles pesqueiros que se situam em zonas tão acidentadas que, mais cedo ou mais tarde, nos podem trazer surpresas gratificantes; e, principalmente, não ir muito cedo, dando tempo ao corpo de se preparar para uma acção de pesca intensa, em que são os sinais que dão o mote para a rapidez das trocas de isca com duas canas a funcionarem em simultâneo,  montagens e iscadas diferentes, atenção colocada nas ponteiras, enquanto se gerem os tempos de preparação de iscas de modo a que ambas estejam continuamente activas lá no fundo, conseguindo que a que pesca na mão, nunca esteja fora dela, enquanto tem isca. Não é difícil, mas exige controlo de tempo, controlo dos movimentos e dos espaços a bordo, tendo em conta uma colocação, de tudo o que é necessário, em locais certos, de fácil acesso, para um circuito curto e eficaz de movimentos que permita conseguir uma rapidez controlada e sem stress.

Terminados os principais trabalhos da feira, estava a precisar disto. Por um lado, da calma da viagem para Sines, do sono embalado, da inexistência de horários ou compromissos, dos convívios sem horas; por outro, da acção de pesca pensada, dura e, na medida do possível, gratificante.
É caso para dizer: procurei e encontrei tudo o que mais desejava nestas jornadas que vos descrevo!

Então e os grandes... já se esqueceu? Questionarão alguns de vós!

Nunca me esqueço! Na verdade trabalhei para eles. Mas, para ser sincero, talvez se tenho ido mais fora a coisa se tivesse dado... não fui! Paciência! Vou para a próxima, com cabeça mais limpa e o corpo mais descansado.

A navegação levou-me à zona eleita! Sondei em torno dela! Passo um pontão, outro e ainda outro, até que me aparece aquela imagem de sonda, que abre esta entrada, na base de um deles. Preferia que não fosse tão compacta... imagens mais separadas, com amarelos, laranjas e vermelhos, costumam ser melhores indicadores de peixe maior, mas, o que ali aparece não engana... há actividade no pesqueiro!

O Meio dia já era passado e acção de pesca precisava-se!

Paro o barco, coloco o cursor do GPS em cima do ponto onde estou e limpo os traços de rumo que sempre tenho activos. É hora de perceber a deriva e aproveitar o tempo em que a deslocação do barco me dará o rumo desta.
Tiro as canas dos caneiros, fixo estes na inclinação de trabalho e monto as chumbadas nas canas, uma com dois anzóis e outra, só com um, montado em estralho de 2 metros e tal.
Coloco a caixa de sardinhas congeladas junto ao balde com água salgada, onde algumas já vieram de viagem, descongelando. Retiro seis delas e corto-as às postas; mais duas, às quais corto só o rabo.
Isco a cana de mão com postas e a que vai estar a pescar no caneiro (só com o estralho comprido) com uma sardinha inteira. Tenho as canas prontas a entrar em acção e isca a postos para não ter cortar mais logo em seguida, o que me permitirá ir cortando mais isca enquanto as baixadas descem, sem correr o risco de ambas as canas estarem abandonadas em simultâneo lá no fundo, o que não me permitiria actuar sobre a cana de mão no caso de interlocutor mais malandro.
Falta preparar o ferro e colocar tudo a jeito para o largar sem delongas.
Espreito o GPS e já lá tenho o traço de deriva desenhado, dizendo-me que, considerando a relação: rumo traçado / comprimento do traço / tempo despendido nas preparações, a deriva está na direcção do vento e a aguagem é muito pouca ou mesmo nenhuma. Aproo contra o rumo, passo o bico do pontão, largo o ferro e controlo o cabo largado, tendo em conta o ponto onde quero ficar. Deixo o barco rolar com a deriva até se ferrar no fundeio, olho a sonda e lá está tudo no sítio, considerando a marcação de peixe e a profundidade onde se encontrava na primeira passagem. Perfeito!

A acção de pesca inicia-se, largando primeiro a cana que vai pescar abandonada no caneiro, aquela só com um estralho e sardinha inteira. Deixo sair linha durante alguns momentos, largando em seguida as iscas da cana de mão, conseguindo assim assegurar que quando a primeira chegar ao fundo, tenha tempo de tirar a folga do fio e travar o carreto, antes que as iscas da cana com que vou pescar ao sentir cheguem ao fundo. Quero saber se roubam e, eventualmente, qual a qualidade dos ladrões!
Toda a acção continua desta forma, ao longo de todo o dia, tentando assegurar que não falte comida lá em baixo quando aqueles que se procuram derem um ar da sua graça! Foi assim... Quinta e Sexta Feira, a solo, com saídas tardias, muita sardinha, muita acção, muita boga pelo olho, pelo rabo (delas ...claro!) e algumas boas recompensas nos intervalos; como esta Dourada...


... seguida de imediato por outra e logo por mais Bogas ferradas por qualquer lado, a certa altura incomodadas por este Sargo Veado:


O dia correu sempre a este ritmo infernal, proporcionando, no final, esta composição bonita, onde um ramalhete de 5 ou mais kgs ficaria a matar. Mas não me queixo!


A Sexta Feira foi outro dia, quase tirado a papel químico, não fora as Douradas terem sido mais pequenas, o Sargo Veado maior e a captura de dois "artistas" iguais à amostra... Zeus Faber, do latim que dá um ar entendido a qualquer pescador!?


Ainda este Serrajão, resolveu entrar à bruta, predispondo-se a petisco lá no Zé Beicinho e claro... motivo inicial de conversa que iniciando-se pela culinária, logo derivou para a pesca e "mentiritas" do costume.


Muito bom! Direi mesmo: excelente início após interregno e... em "zona de conforto"

O Sábado e Domingo, também tiveram pesca!

No Sábado com o Raimundo, o Victor e Pedro, com resultados menos profícuos, calhando-me o melhor exemplar... este Sargo:


Não acertámos com o primeiro pesqueiro e o vento que entrou no fim de tarde, tornou a pesca tão incómoda que, não fora umas Sarguetas, de tamanho que há muito não via, ali ao abrigo do molhe Sul e a coisa mal dava para o jantar.

Finalmente o Domingo, com o Zeca e o Zé Beicinho!

Sou sincero... não fora ser o único dia em que o Zé pode pescar e melhor seria ter ficado em terra.

O vento era muito, correspondendo às previsões. A época não é a ideal para pescar ali encostado, já que o peixe maior tende a frequentar os mares de fora. Por tal, valeu mais pela companhia, almoço a bordo e alguns peixes, principalmente Sargos; do que pela pesca em si, considerando os objectivos que sempre estão na nossa mente... os grandes!!!

Quatro dias de encher o papo! Acho que merecemos, eu e os meus amigos, sem desprimor para outros que até possam merece-lo mais. Mas sobre isso, não posso fazer grande coisa!

Vem aí bom tempo! Estou quase a ir outra vez! Depois conto!

Boa noite a todos os leitores

terça-feira, 5 de abril de 2011

1ª. Feira de Pesca de Setúbal / Reportagem


Boa tarde a todos!

Para finalizar a odisseia desta carga de trabalhos (boa... por sinal) em que me meti, ao lado dos meus companheiros da Comissão Organizadora dos Jogos do Sado - projecto da Câmara Municipal de Setúbal - com o apoio do Pessoal do Porto de Abrigo, e, enquanto aguardo a oportunidade de me atirar a Sines e colocar aqui aquelas outras fotos de que mais gostamos, deixo-vos uma das reportagens sobre o evento em questão.

Divirtam-se e até... aos Pargos e Douradas e não sei que mais!?

Abraço