segunda-feira, 25 de maio de 2009

O Famigerado "Segredo"...

O passado fim de semana estava, à partida, condenado!

Pesca, nem pensar!

Prova de canoagem na Sexta à tarde, mais duas provas grandes da mesma modalidade no Sábado, Domingo para descansar e Segunda para recomeçar, tal e qual o mais comum dos mortais. Estão a ver... Aqueles que trabalham e pagam... Os outros não são para aqui chamados!

No meio da confusão de provas, das preocupações com a segurança, do acompanhamento dos atletas e de todo um conjunto de tarefas de coordenação que me cabem, durante uma pequena aberta em que tudo corria como previsto, vá-se lá saber porquê dou comigo a telefonar ao Zé Beicinho, a perguntar-lhe se Sines estava no mesmo sítio e também se me arranjava Sardinha para pescar no Domingo. Tinha acabado de decidir! Acabava as provas, tomava um banho e fazia-me à estrada!

O corpo pedia-me tréguas, mas a cabeça dizia-me que o descanso estava lá, naqueles lugares que elegi para pescar... Sines e o mar!

Voltei à terra e as actividades decorreram sobre rodas, principalmente depois de ter telefonado à família e de esta ter apoiado a minha escolha. Mais um belo momento na vida de um homem!

Actividades terminadas, estômago cheio, rabinho lavado e malas prontas, eis que me faço à estrada pronto a desfrutar de cada momento, já que o resto de tarde de Sábado e o Domingo, pareciam-me pouco tempo mas havia que não pensar nisso e transformar cada momento em longas horas sem horário.

O que queria mais? Estes eram momentos perdidos que a partir da hora em que decidi ganhá-los... Ganhos estavam!

Andei lento, cheguei com Sol ainda composto, temperatura amena e fui recebido com a calma do Porto de Sines.

O barco estava lá e parecia rir-se da minha cara de parvo derivada do ar carinhoso com que o mirei antes de passar às verificações habituais reveladoras de que tudo estava bem, nada havendo que impedisse a continuação do tempo esperado de paz e sossego.
As canas saíram para fora, os carretos foram montados, os fios passados, as montagens feitas e aplicadas sob olhar atento de gaivotas e outra passarada, enquanto o telefone tocava e o meu amigo João Martins me dizia que sempre jantávamos juntos, garantindo assim conversa interminável onde a pesca teria lugar de destaque. Tudo isto rolando ao sabor do acaso.

Na volta ao barco, procurei de imediato o vale dos lençóis onde, após esticado, só tive tempo de pensar que nem sabia bem que condições climatéricas estavam previstas para o dia seguinte, mas também não me preocupei, algo se havia de arranjar.

Depois dos trabalhos e refeições matinais, saí para o mar por volta das 10.00 horas, apresentando-se este calmo, parecendo no entanto que aquela calmaria seria sol de pouca dura o que, sem muita demora, se veio a verificar.

Escolhi o primeiro pesqueiro com aquela marcação de sonda que apresento na foto de abertura, um pouco tremida devido aos balanços de mar trapalhão.

Aquele é o tipo de marcação que pode ser bom ou nem por isso... Preferia que aquela bola de peixe estivesse mais encostada ao fundo e até mais partida e espalhada, mas, após um tempo significativo de sondagem, aquele foi o melhor fundo que encontrei na zona previamente eleita.

Pescas para baixo... Pescas para cima... Ora com Sardinha, ora com Lula, ora com Lula e Sardinha... Mas nada!

O peixe comia, depois não comia... Até que deixou de comer completamente, sem que nunca tivesse atingido aquele estado de agressividade em que tudo desaparece, condição que se tem verificado importante na atracção daqueles que procuro. Como se não bastasse, o vento aumentava a olhos vistos e a procura de local de pesca mais abrigado evidenciava-se uma decisão de bom senso, não porque o barco não aguentasse, mas pelo desconforto que sinceramente não me apetecia suportar, muito menos tendo em conta os sinais dados pelo pesqueiro.

Procurei terra e abrigo no pesqueiro da minha neta, onde me fugiu aquele grande no Verão passado, sem grande fé mas com a curiosidade de continuar a observar o comportamento desta zona em várias épocas do ano. Fundeei, atirei as montagens iscadas, engodei com alguma Sardinha, deixei as montagens em acção e fui comer sem tirar os olhos das canas que durante todo o tempo nem ai disseram. Eram 13.30 e não tinha um peixe a bordo! A coisa não estava fácil e a sombra da "grade" pairava sobre o Makaira. Não era a primeira e certamente que não será a última caso se venha a verificar, pensei, enquanto me sentava saboreando o resto da cerveja que tinha acompanhado a refeição rápida.

O certo é que não tinha uma captura efectuada, o vento mantinha-se fresco dificultando a procura de outros pesqueiros fora daquela zona, a moleza instalava-se, o sol estava bom no abrigo da cabina, enfim... Tanta coisa que estava a contribuir para me manter por ali mais um pouco, pensando em desistir da pesca e talvez procurar cedo demais a volta ao porto.

Meia hora passada, resolvo levantar ferro e desandar, com a "grade" praticamente aceite, até ao momento em que tendo feito rumo para me afastar do molhe Sul, procurando segurança devido ao vento que me atiraria para cima deste em caso de uma eventual avaria de motor, verifico que não estou muito longe do pesqueiro em que fiz a minha primeira pesca quando fui para Sines.

A teimosia e a curiosidade alteraram o estado de coisas!

Dirigi-me ao pesqueiro e desatei a sondar, encontrando uma cova entre pontões que, não marcando muito peixe, mostrava alguns interessantes traços azuis agarrados ao fundo. Se não tentar vou ficar a pensar que algo me passou ao lado simplesmente porque deixei... Não! Vou pescar e ver o que dá!

Fundeei, isquei e baixadas para o fundo!

Os toques iniciaram-se com alguma timidez, revelando as subidas que umas vezes desiscavam em baixo... Outras em cima, revelando alguma regularidade e deixando pensar que qualquer coisa estaria para acontecer...

O primeiro Parguito entrou, sem que qualquer outro peixe se tivesse entretanto atrevido a roubar iscas inteiras.

O segundo não tardou, mais crescido que o primeiro, continuando a dar nota positiva ao pesqueiro e a deixar o pescador pendente da acção, esquecido do vento e dos balanços do barco.

A vez do terceiro não se fez esperar, merecendo este destaque em imagem, por adequação ao tamanho do pé.
A coisa compunha-se, os tamanhos aumentavam e as iscas desapareciam embora a uma velocidade lenta, indicadora de peixe que escolhia a hora e, quem sabe, o momento certo para se atirarem a elas com critério próprio que não conseguia interpretar.

A pesca caiu mais uma vez e a espera sem toques alongou-se mais que as anteriores, deixando-me pensar que algo estranho se passava. A vaga dobrava demasiado a ponteira da cana e resolvi libertar um pouco mais de fio, mantendo-me em alerta máximo... Os dois toques intensos e consecutivos, seguidos de uma ferragem alta e violenta puseram-me em contacto com mais um sério desafio de pesca!

O peixe que lá estava não enganava nada! Cabeceava longa e intensamente, não me permitindo recuperar qualquer milímetro de linha, tentando tirá-lo dum fundo de 32 metros, muito baixo para que tal bicho se mantivesse por ali. Optou por levar linha para baixo do barco, dobrando a cana a limites impensáveis e levando linha para além do que tem sido normal, mesmo para os maiores com que tenho lutado. O tempo passava, interminável... Ele não desistia e eu também não! Ele lutava pela vida, eu pelo desafio da captura, respeitando a imensa capacidade do meu opositor que entretanto ia desistindo permitindo-me recuperar alguma linha entre os metros que ele levava.

A luta aproximava-se do fim! O mono filamento da ponteira de amortecimento indicava-me que faltavam uns 15 a 16 metros para que o visse e a recuperação continuou até que vi o reflexo prateado com laivos avermelhados de um peixe comprido... Procurei o enxalavar levantando a cana para manter a tensão e, de repente, a cana ficou leve, a baixada subiu unicamente com o peso da chumbada e o vulto prateado de tamanho considerável que nem tento estimar, afundou lentamente, abanando-se como que cantando a sua vitória.

Nos momentos seguintes, passei de pesaroso estático a interrogativo activo, levantando a pouca linha que ainda estava na água, desejando encontrar respostas na montagem que regressava da luta.

Esperava ver algo partido junto ao anzol ou ao destorcedor, mas não, vinha lá tudo, anzol, estralho, madre... Tudo!

O anzol encontrava-se numa posição esquisita e, qual não é o meu espanto, o nó que o agarrava tinha escorregado da haste para a curva... Não resisti a tirar uma foto, para partilhar convosco, cuja qualidade é péssima tanto pelos balanços do barco quanto pela pressa com que estava de continuar a pescar, embora dificilmente pudesse reaver tal exemplar.

Como é que isto aconteceu? Onde e como viria o peixe ferrado? Que voltas deu sobre si ou contra a montagem que tenham contribuído para este deslize do nó? Será que dei mais voltas que as do costume na última substituição de anzol? Não terei apertado o nó de fluorcarbono com força suficiente?

Todas estas perguntas bailavam na minha mente, enquanto continuava a pescar tirando mais um Parguito e um Sargo, seguindo-se a paragem total de toques e a decisão de ir embora de vez.

Quanto às respostas... Sinceramente não as tenho, embora tenha pensado nas hipóteses mais estranhas.

Fico-me pelo que me pareceu talvez mais real.

Como sabemos, o fluorcarbono é rijo na zona do nó, exigindo voltas que bastem e alguma força no aperto. Parece-me que, independentemente da zona onde o peixe vinha ferrado e das voltas que possa ter dado, o nó de empate tinha oito voltas em vez das seis que costumo dar, o que certamente exigiria uma força de aperto superior que eventualmente não terei efectuado, permitindo assim que o nó escorregasse e desse a vitória ao outro animal.

Paciência... Fica para a próxima!

É assim a pesca! Um dia que parecia de nada, de repente transformou-se num dia com emoções que significaram muito, acabando por se traduzir na "pesquita" que ilustro.

Que concluir deste dia?

Tentando responder a esta questão, recorro a um artigo que escrevi, lá mais para o princípio do blog, denominado "Hoje não há peixe" (http://aminhapesca.blogspot.com/2007/10/hoje-no-h-peixe-uma-reflexo-9abril2007.html), onde me refiro às desculpas que elaboramos para justificarmos a nossa incapacidade de conseguir capturas num determinado dia ou época do ano. Penso que as conclusões a tirar estão contidas nos conceitos que em tal artigo desenvolvo.

Para todos os efeitos, o peixe vive, come, acasala... Lá no mar!

Cabe-nos perceber quando, onde, como... Realizar as capturas que pretendemos!

Manter a regularidade de capturas nas saídas de pesca que realizamos, não é fácil! Mas parece-me estar em nós, na informação, no raciocínio... o famigerado "segredo".

Esta é a forma, em meu entendimento, mais racional de encarar a pesca.

Boa noite a todos os leitores.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

O Cabo Partiu...

Não há pesca... Só trabalho e, como se não bastasse, o cabo do ferro partiu (faz de conta)!

Há que remendá-lo, não adianta estarmos a pensar na má sorte e mais não sei o quê. O que importa é resolver.

Os passos que vou descrever, vêm ao encontro de uma solicitação feita por aqui e sou sincero... Qualquer marinheiro ou pescador profissional, homens que fazem isto de olhos fechados com preparações mínimas, se por aqui passarem, vão achar que me dou a trabalhos escusados. A verdade é que o faço com a intenção de facilitar um conjunto de manobras que, parecendo simples à primeira vista, na prática, complicam-se um pouco, parecendo-me que um conjunto de preliminares poderão facilitar o acto até ao seu final (a língua portuguesa tem umas ratoeiras...). Consideremos então, em primeiro lugar, os preliminares, tendo em conta que tudo o que realizarmos numa das pontas partidas se aplica também à outra.

Material:

Uma faca bem afiada, um rolo de uma qualquer fita gomada, alguns pedaços de multifilamento ou fio fino vulgar e um isqueiro.

Retira-se um pouco de fita gomada e enrola-se em torno do cabo, procurando uma zona onde este se mostre inteiro e com o entrançado original intacto.

Eliminam-se as pontas em más condições, cortando-as junto ou na zona onde a fita gomada se encontra, tendo o cuidado de deixar alguma fita a suster as pontas que se soltariam se não estivessem sujeitas à pressão desta.

Queimam-se as pontas, ainda com a fita a envolvê-las.

Retiram-se as fitas, verificando-se que as pontas estão rijas e unidas pelo calor aplicado.

Retiradas as fitas, corta-se um pedaço do fio escolhido e executa-se um nó apertado, para aí a uns 10cm de cada ponta.


O nó acima, servirá de travamento ao passo seguinte que consiste na separação dos ramos que formam o entrançado do nosso cabo, neste caso, constituído por 4 ramos, havendo também cabos de 3 ramos, para os quais o procedimento é igual.
Os ramos separam-se em cruz até atingirem o travamento executado.
Na imagem seguinte, podemos verificar o trabalho até agora descrito, executado em ambas as pontas.

Estamos em condições de estabelecer o primeiro contacto para início da ligação após preliminares.
Os ramos de cada ponta entrecruzam-se como se de dedos das mãos se tratassem quando as cruzamos, assegurando que cada ramo de cada ponta se encaixe entre dois ramos da outra, sendo o final do encaixe os travamentos efectuados com o fio suplementar.
São chegados os momentos mais sensíveis desta ligação!
A partir deste momento teremos os ramos activos e os passivos, sendo os activos aqueles que iniciam o entrançado na ponta do cabo oposta e os passivos os que ficarão pendurados ao longo do cabo e agarrados na nossa mão menos dextra.
Então o que vai acontecer a partir daqui?
Escolhemos qualquer um dos ramos activos e fazemos com que passe para além do fio branco de travamento, sobre o ramo oposto que lhe está encostado e por baixo do seguinte, sendo para tal necessário criar um afastamento entre os últimos ramos referidos o que se pode verificar pelo trabalho do dedo polegar, na foto seguinte.
Olhando atentamente para a imagem abaixo, pode ver-se a ponta do ramo que vai ser introduzida na abertura criada pelo polegar, assim como as posições dos ramos, para esta primeira ligação, conforme anteriormente foram referidas.

A operação anterior vai repetir-se com cada um dos quatro ramos que serão entrançados da mesma forma, um de cada vez, respeitando sempre a passagem por cima do ramo que lhes está encostado, a passagem por baixo do ramo seguinte e a saída para fora em cada volta de entrançado que se completa em cada vez que se entrançam os quatro ramos, ganhando o formato que se vê na foto seguinte, ao fim de algumas voltas de entrançado.
Após três ou quatro passagens dos ramos que devem ser esticados em cada entrada que fazem; repito, por cima do oposto encostado e por baixo do seguinte; deveremos rolar o cabo nas mãos, aplicando-lhe alguma pressão de forma a manter a regularidade das distâncias no entrançado.
A foto abaixo mostra o momento em que se encontra terminado o entrançado da primeira ponta, com ramos activos, no corpo do cabo acima da ponta em que os ramos estiveram passivos.
Entrançada a primeira ponta no corpo do cabo oposto, há que entrançar a segunda, cujos ramos aguardaram pela sua vez de trabalhar no corpo do cabo cuja ponta esteve em acção. Os fios brancos de travamento tendo cumprido a função inicial de formarem uma zona compacta de encosto evitando que os cabos se continuassem a desentrançar com o trabalho, devido a uma das pontas já estar entrançada podem ser removidos, o que se vê fazer na foto seguinte.

Nesta fase, agarra-se na primeira costura, nome mais utilizado para este entrançado, e, continua-se o trabalho de passar cada ramo sobre o seu oposto encostado e por baixo do seguinte, mantendo a sucessão de passos já efectuados, tornando-se agora mais fácil devido aos ramos já estarem presos em cada intervalo que lhes compete.
A foto que se segue, permite observar, de forma que me parece mais consistente, a tal passagem do ramo activo sobre o oposto a ele encostado e por baixo do seguinte.

Terminada a segunda costura, ambas ficam ligadas numa única que colocaremos no chão e faremos rolar com o pé, aplicando-lhe alguma pressão com o objectivo de que fique mais homogénea quanto ao encosto de todos os ramos entrançados ou costurados.

Aqui se apresenta o trabalho terminado, sendo que ainda poderemos encurtar e queimar melhor as pontas dos ramos que sobraram de cada lado da costura.
Este entrançado ou costura pode ser feito com cabos de medidas diferentes e até de texturas diferentes, devendo o comprimento das costuras ser adequado a estas variações.
Na altura em que tive oportunidade de fazer o nó com a presença de fotógrafo, não tinha cabos de côr diferente, o que poderia ser uma mais valia nesta exposição. Paciência...
Espero sinceramente que isto vos sirva, já que o fim de semana tem organização de provas de vela em vez de pesca, mas... Trabalho é trabalho e... O resto há-de vir.
Um agradecimento ao fotógrafo, o meu amigo João Martins que como sempre está a postos quando solicitado.
Uma boa noite a todos os leitores.
PS: Sei que este não é muito o meu estilo... Falta mais conversa e talvez entusiasmo, mas a disponibilidade não deu para mais.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Coisas da pesca...

O posto de comando já tinha entrado em funcionamento, conduzindo-nos ao pesqueiro possível, na Sexta Feira ventosa do 1.º de Maio.
Eu, o João e o Vira, preparados para um dia no mar muito mais que para um dia de pesca.
As escolhas eram poucas, por "cortesia" éolica, não inspirando grande fé quanto a capturas, muito devido à inadequação entre os pesqueiros viáveis e a época do ano.
É verdade que ali por Sines qualquer coisa pode acontecer, em qualquer altura, num qualquer pesqueiro visitado e trabalhado, mas nem sempre!
A leitura de sonda não era má de todo; isto para pescadores que não tinham grande escolha devido às condições de mar e vento, por isso lá nos fizemos à labuta que como se esperava, mesmo engodando e trabalhando exaustivamente o pesqueiro que não deu mais que duas Choupas com medida e o Safio que se vê; entrado na última subida da cana ao fim de umas quatro horas de pesca infrutífera, embora muito técnica e acompanhada, à guitarra e à viola, pelos bolinhos doces e salgados que o Vira trouxe. Viva os bolinhos!
A Sexta estava feita, precedida do Bacalhau à Guia bem regado da noite anterior e antecedendo umas Espetadas de Porco Preto, das quais já se sentia o cheiro ainda o barco não tinha entrado no porto.
Era preciso ingerir calorias, tanto pelo agastamento de uma jornada com mar padrasto, como pelo que se previa para o dia seguinte: Zagaiar à farta!
O Sábado nasceu solarengo e com pouco vento indicando, ao contrário de Sexta, um daqueles dias em que qualquer pesqueiro pode ser objecto de teste.
Um dia ideal para a zagaia, com vento a preceito que permitia uma deriva suficiente para trabalhar as amostras em qualquer profundidade, de formas variadas, permitindo um bom tempo de permanência em cada ponto quente a cobrir.
Correram-se pesqueiros, procuraram-se comedias, trabalharam-se amostras variadas em cada um deles, derivando o barco vezes incontáveis como mostram os traçados no GPS, da foto abaixo, mas nada... Nem um toque.
O único pequeno "susto", seguido de "captura", pode ver-se na imagem seguinte, indicando um fundo com capacidade para, em qualquer momento, revelar a sua produtividade quanto aos habitantes que se procuravam.

A volta ao Porto acabou por se dar cedo, talvez cedo demais... Nunca se sabe se a "hora do peixe" não é aquela em que desistimos.

A verdade é que nunca saberemos! Não estávamos lá!

Chegado à terra, enquanto decidia se me ia embora para casa ou se ficava para Domingo, inconscientemente, fui analisando as duas jornadas de pesca e as últimas saídas que se têm verificado pouco produtivas, pensando para comigo que poderia estar a cometer um erro que muitas vezes mais ou menos implicitamente costumo apontar a outros pescadores, como por exemplo: não há peixe, o peixe não come... Etc..

Não pode ser! Então na Sexta Feira o dia não permitiu correr pesqueiros, hoje Sábado fui zagaiar, uma pesca que se sabe ser difícil e improdutiva muitas das vezes que se opta por ela... Não! Tinha de insistir!

Não tinha isca, não poderia pescar muito tempo quer devido ao sono de beleza a que sempre me obrigo (não sei bem para quê?) quer à volta para casa que não poderia ser tardia, tanto pelo trânsito esperado como pela família que eventualmente já desesperaria com tanta pesca.

Certo é que me atirei à resolução dos problemas apontados, falando com o pessoal lá de casa e dirigindo-me à loja de congelados onde adquiri Sardinha do Verão passado e Lula, ambas com aspecto pouco prometedor mas incapaz de abalar a decisão tomada com base na escolha de um bom pesqueiro e na intenção de o trabalhar à exaustão até às 15.00 horas de Domingo, limite previamente decidido para a volta ao porto, arrumos e regresso a casa.

Acordei no Domingo, não muito cedo, verifiquei que as iscas estavam prestes a descongelar totalmente, comi, preparei duas canas, uma para a mão e outra para o caneiro com as baixadas já Vossas conhecidas e fui-me ao mar perto das 9.00 horas, não sem antes levar com um comentário mais ou menos jocoso de um companheiro que por ali andava: "então... Isto é que são horas"? Não esmoreci, brinquei com o assunto e lá fui à vida!

Escolhi uma zona ali perto e desatei a sondar!

As marcações de peixe envolviam os bicos de pontões conhecidos, quase coladas, mas assim que se chegava à base destes tudo ficava deserto, sinais que se têm verificado nos últimos tempos revelando-se péssimos indicadores de sucesso para a pesca de fundo.

A procura continuou ali à volta, correndo pontões e embeiradas, até que, navegando um pouco por fora, encontrei o que me pareceu ser uma zona mais prometedora. Após a passagem de um pontão com uns cinco metros de altura, pouco extenso, verifiquei que este caía para uma cetomba que começava nos 50 metros prolongando-se durante outros tantos até atingir os 54 de profundidade, mostrando em toda a sua extensão sinais fracos mas contínuos de peixe! Agradou-me, deixando-me a pensar que era talvez a melhor marcação que encontrava nos últimos tempos.

Um problema se colocava, o vento era fresco de Leste e a zona que me parecia mais rica, obrigava-me a largar o ferro no limpo e a dar bastante cabo para que este agarrasse, o que mais tarde ou mais cedo, quando o vento caísse, faria com que o cabo deixasse de estar esticado e originasse a deslocação do barco para cima da pedra que estava a meio e certamente seria improdutiva, atendendo aos sinais verificados.

Bom, não havia nada a fazer e atirei mãos à obra ficando onde queria.

À primeira descida de iscas, esperei algum tempo até que uns toques miúdos e tímidos se fizessem sentir, verificando ao subir a linha que as iscas quase inteiras vinham com pequenas e incipientes mordidas. Não elaborei grandes pensamentos, troquei as iscas e insisti!

Posso dizer-vos que a partir da quarta ou quinta vez que desci e subi pescas, os anzóis só não vinham comidos porque os "artistas" residentes não tinham boca para eles, mas estavam a fazer o trabalho que eu queria... Espalhavam partículas gordas de Sardinha por todo o lado em grande frenesim, atendendo à velocidade e agressividade com que comiam. Estavam ali dois tipos de atração em simultâneo e um arrepio correu-me a espinha enquanto me assolavam estes pensamentos.

O vento foi caíndo, o roubo continuando e as bocas que por lá andavam continuavam a não ter capacidade para comer os anzóis, só esfrangalhavam as iscas ou seja, a Sardinha, na Lula nem tocavam.

De repente uma pancada mais brusca, uma ferragem e um peso com pouca luta como única reacção, fazem pensar no que aí viria... Uma Abrótea com quase um quilo! Não está mau, mas já devo estar em cima da pedra... O que é que se passa?

O vento tinha caído e como temia o cabo deixou de esticar e já estava nos 50 metros em vez de 54, conforme verifiquei assim que abri a sonda. Ainda insisti, mas os toques ficaram diferentes, mais espaçados e sem tanto frenesim. Tinha que voltar aos 54 metros.

Liguei o motor, recolhi as canas e levantei o ferro!

Voltei à zona, sondei bem e concluí que já podia fundear agarrado à pedra e largando pouco cabo, atendendo à diminuição significativa do vento. Aproei, larguei ferro e com satisfação vi o barco derivar calma e lentamente mesmo para cima da zona pretendida, agora ainda mais rica de sinais. Lindo!

Deixei cair as iscas, recolhi linha e esperei... Nada! Esperei mais um pouco, desconfiado, os toques começaram afundando mais a isca e fazendo-me folgar a pesca por instinto, deixando comer. Um toque mais insistente fez-me ferrar e sentir de imediato aquela prisão seguida da luta fraca mas mais afundante dum Parguito pequeno. Não me enganei! Era mesmo o que pensava!

Retirei o anzol com cuidado e libertei-o pensando: será que começou?

Tinha começado! Eles tinham chegado ou tornaram-se mais interessados devido ao tempo em que, por via das manobras de reposicionamento do barco, a isca deixou de cair. Não sei ao certo.

O facto é que, a partir deste momento, os toques eram espaçados mas quando apareciam eram prelúdio de captura de Pargo. Subiram quatro, todos do tamanho do que se vê a seguir.

Não eram grandes, mas a esperança de maior ganhava terreno a passos largos!

Após o quarto Pargo lancei as iscas procurando o quinto, mas não... Um toque mais subtil seguido de uma pancada seca, deram origem a uma ferragem alta e a luta diferente, mais violenta, com sacões mais curtos embora afundantes, tal e qual uma Dourada... Será?

E era mesmo! Cá está ela!

A pesca compunha-se! Nada mais entrava ou se chegava às iscas, só peixe desta qualidade. Chatice...

Lancei outra vez pensando no que viria a seguir com todos os sentidos alerta!

A espera foi mais comprida, fazendo-me pensar que a isca já tinha ido, mas a desconfiança de que algo estaria para acontecer, fez-me aguardar sem levantar a cana, talvez algo maior por lá andasse não permitindo que estes "Rapazitos" se fizessem à isca. Não me enganei!

Um pequeno afundar insistente embora pouco franco da ponteira da cana fez-me ferrar alto e sentir o animal maior que iniciou a luta com três pancadas fortes e longas, levando alguma linha e soltando-se de imediato, deixando-me a falar sózinho e sem tempo para lhe sentir o pulso. Era um dos tais! Não fiquei com qualquer dúvida!

Terei ferrado cedo demais? Teria deixado a linha demasiado tensa ou simplesmente o anzol não ferrou bem? Não faço ideia! A isca do anzol de baixo vinha totalmente comida e a do anzol de cima completamente inteira, indicando que "ele" andou por ali guardando a comida até se decidir a abocar a Sardinha congelada do ano passado, conseguindo levar-me de vencida.

Salvé peixe! Outro dia nos encontraremos ou talvez não!

Enquanto digeria o último acontecimento, o vento rondou para Norte e tirou-me do pesqueiro, mandando-me outra vez para cima da pedra rija o que facilmente se percebeu logo após a subida de uma Ganopa na tentativa seguinte e a consequente consulta da sonda.

Tornei a levantar ferro e recolocar-me no pesqueiro mas era quase impraticável pois teria de o largar mesmo em cima de terreno arenoso e nada resultou. A hora limite tinha chegado e pescar a olhar para o relógio não é coisa que me agrade. Dei-me por satisfeito e fiz-me ao porto onde amanhei o peixe pensando que faria as delícias da minha neta e restante família.

De todo este relato, algo moroso, o que se pode dizer?

Há que pescar! Em algum lado, o peixe estará pronto a atirar-se às nossas iscas.

Se a pesca fosse uma ciência certa vejam só alguns conceitos que caíam por terra com esta experiência:

A Sardinha deve ser fresquinha do dia...

O peixe quando quer comer atira-se a qualquer isca... Nem tocaram na Lula e experimentei-a várias vezes.

Este ou aquele pesqueiro não estão a dar nada... Talvez seja verdade se só se pescar naquele ponto certo de GPS que o amigo deu ou onde "aquele gajo" apanhou e eu tirei a marca.

Quando está difícil, só ao abrir da manhã e ao cair do dia é que se apanham uns peixes... Será? Talvez... Em certos dias. De manhã, sinceramente, é uma experiência que raramente faço.

Enfim... Tanta coisa que se diz e se pensa, às vezes só para justificar receios de ir e não apanhar o que se quer ou por qualquer outra razão!

Por tudo isto, vamos mas é à pesca sempre que pudermos e concentremo-nos nos sinais todos que conhecemos ou em quaisquer outros que nos pareçam fidedignos.

Sobre iscas e pesqueiros bons ou menos bons... Bem, essas são questões passíveis de reflexão, por aqui ou em qualquer outro sítio!

Uma boa noite a todos os leitores.