A passada semana foi fértil em dias calmos, excelentes para a nossa actividade, mas... Nem sempre as coisas se compõem para que os possamos aproveitar todos. Ora por que torna, ora porque deixa, sempre existem factores que nos limitam ou, por serem tão importantes, se sobrepõem à pesca.
Certamente que o terceiro aniversário da minha neta, no passado dia 4 de Novembro, era muito mais importante que a pesca, fazendo que, com o maior prazer, esta ficasse adiada para Sexta e Sábado, sendo que as condições de mar e vento indicadas pelo Windguru, para estes dias, eram de fazer crescer água na boca.
Penso que se aprende, mais cedo ou mais tarde, a gozar cada momento e foi o que fiz...
Trabalhei um pouco na preparação de actividades náuticas para o próximo ano, antecipei com a minha mulher o aniversário da gaiata, intervalei com encomenda de iscas, preparação de baixadas e outros materiais, brinquei com a neta no dia anual dela e, eis senão quando, já noite dentro, dou comigo a guiar para o "paraíso" alternando os sons do Oceano Pacífico e da M80, com os olhos na estrada e, o mar, o barco, a pesca, os peixes... Sempre presentes aguardando a sua entrada, em momentos de trânsito mais calmo que, àquela hora, até deixa espaço...
O programa dos dois dias estava feito!
Sexta, iria pescar comigo, sem hora marcada; Sábado, o Filipe, o João e o Miguel; antigos alunos e actuais amigos, vinham fazer-me companhia.
O Sol alto da manhã de Sexta, espevitou-me para sair da cama e iniciar todos os pequenos trabalhos a realizar... Comer, ir buscar iscas, montar canas, meter combustível... Tanta coisa!
Tudo fiz devagar, de tal modo que só iniciei a acção de pesca, ali por perto, já o meio do dia estava próximo. Sem problema! Apanho... Tudo bem! Não apanho... Tudo bem!
Não é bem assim... Mas ando a treinar para que seja!?
Não digam a ninguém... Mas fui àquela zona de pesqueiros... Aquela "fiável" da última entrada... chiiiiuuu!!!
Bem... Também não é necessário tanto segredo... Rara é a vez que pesco no mesmo pesqueiro da zona e esta não foi excepção. Por força dos sinais que a sonda me deu, acabei por escolher um espaço entre pontões que, sem me parecer famoso, indicava alguma actividade... A necessária para me interessar e decidir o fundeio, fazendo contas a uma pequena aguagem instalada, ao pouco vento existente e à possibilidade de algo se alterar durante o tempo de pesca, tentando assegurar que dando ou recolhendo cabo, manteria o barco em zona de actividade e fora dos bicos mais fortes, tentando assim minimizar os ataques de Andorinhas, Ganopas, Peixes-Piça e outros frequentadores assíduos que, embora me ajudem na engodagem, comem rápido e mascaram os toques, atendendo à violência com que as suas bocas pequenas abordam as iscas.
A coisa funcionou!
Contemplei as cores que me rodeavam, na calma do "paraíso", dispus as iscas no tabuleiro e, atirei-me à pesca com uma cana na mão, iscada com posta de sardinha; outra num caneiro, com sardinha inteira ou quase; e, uma terceira noutro caneiro, com um carapau pequeno e vivinho da Silva que, por gulodice, confundiu um anzol em movimento com algo comestível. Azar do coitado!
Os toques iniciaram-se sem grande ênfase, as iscas iam desaparecendo a bom ritmo e, passada uma meia hora, entre uma ou outra Choupa ou Sargueta devolvidas, dá-se toque conhecido e sobe o primeiro Sargo... Daqueles capazes de contentar um adulto alambazado ou, eventualmente, um casalinho em dieta que, terminada a refeição, pensarão em recomeçar a cortar na comezaina, na Segunda Feira seguinte!?
O primeiro já cá estava ou seria o único? Não... Não foi!
Iscas para baixo, anzóis vazios para cima, outro toque e mais um Sargo daqueles, promovendo o meu entusiasmo, esperando que este fosse o prenúncio de algo maior.
Aconteceu logo a seguir... Uma luta mais tensa lá em baixo, muita cabeçada comprida e esmorecimento na subida, indicavam o que se segue:
Uma Saima jeitosa! Já se apanharam maiores, mas a variedade é algo indicadora de momentos mais altos e, com estes pensamentos, continuei a azáfama, sendo que após algum tempo sem capturas e com diminuição do roubo de iscas, sinto um pequeno toque seguido de outro e ferro alto, sentindo uma fuga enganadora de início, mas cuja luta pesada que se seguiu, identificava um Safio ou Moreia e era grande!
Parava-me a pesca a meia água, eu elevava a cana bombeando e recuperando linha ao que se seguia nova tentativa para o fundo e linha a sair, arrastando-se a luta por longos momentos, num misto de vou perder, não vou perder...
A ponteira de amortecimento já estava à vista, não tinha forma de tirar o bicho com enxalavar; o bicheiro... É ilegal!? Só tinha uma hipótese... Abrir a porta da popa e tentar arrastá-lo sobre a plataforma de banho, em direcção ao poço. Assim o fiz, preparando tudo com uma mão e suportando a cana na outra.
O animal chegou e apercebi-me que vinha ferrado pela beiça, única razão porque ainda não tinha cortado o fio. Talvez consiga... Pensei para comigo!
Depois de algumas voltas, lá consegui elevar-lhe a cabeça para a plataforma e, num movimento rápido e constante, arrastá-lo para dentro do barco, pensando mentalmente:.. Abençoada decisão de usar estralhos 0,45 quando pesco a solo e abençoada mania de ter o poço completamente desimpedido.
Cá está ele! Oito quilos de Safio, conseguidos arduamente e com alguma sorte à mistura!
Verdade seja dita... Bastaria que a ferragem fosse mais interna e nem a meio caminho teria chegado!
Mas chegou, adormeci-o, acomodei-o, limpei o chão do barco que sempre fica escorregadio quanto estes bichos se roçam por lá e, após verificar as iscadas das canas a trabalharem nos caneiros, atirei-me de novo à acção de pesca.
Os sinais continuavam idênticos. Já a frequência de capturas que, até ao momento em que se deu a do Safio, parecia ter aumentado; após esta e durante uma boa meia hora nada subiu para além de anzóis completamente limpos. Insisti! Mudei iscas e formas de iscar! Lancei para a popa, para os bordos e tornei, mais uma vez, a deixar cair ali junto à cabine onde gosto de me encostar de vez em quando.
A baixada chegou ao fundo, senti um pequeno toque, seguido de um outro mais intenso e ferrei alto, pensando... Outro Safio?
A ponteira começou a bater em cabeçadas longas e o Safio saiu do horizonte de perspectivas. Aquilo era coisa mais vermelha, com luta de bom exemplar. Não daqueles maiores, mas suficiente para colorir a pescaria.
Ora aí está, nos seus 2,900 kg, sua excelência o Pargo!
Entusiasmei-me outra vez, pensando que chegava a hora de entrar mais algum, talvez aquele... Mirava constantemente a cana com a isca viva e trabalhava que nem um louco para manter a cana de mão activa mas, a noite já chegava quando tirei os últimos dois Sargos iguais ao primeiro, quase de seguida, decidindo-me a terminar e andar para o porto.
A pesca está feita e composta, amanhã também é dia, queres mais o quê? Pensava para comigo, sorrindo satisfeito e pensando que me estava a apetecer uma Carne de Porco à Alentejana e que tinha de tratar desse assunto urgentemente.
O Sábado acordou banhando o "paraíso" com Sol e calmaria. Os meus companheiros chegaram cheios de vontade de pescar, aparentando no entanto uma calma a condizer com a manhã.
A isca foi procurada, o café tomado, os materiais preparados e ala para o mar!
Em conversa com o pessoal, mal grado a ausência de dicas nesse sentido, concluímos que a época aconselhava arriscar a procura de Douradas! Mais dia, menos dia estarão concentradas, quem poderia afirmar se este não seria o tempo?
Verdade também que essa concentração, costuma congregar os "primos" das "moças", podendo daí resultar caixas pintadas a vermelho, prata e ouro; colorido sempre agradável à vista de qualquer mortal.
Navegámos para Sul, procurando zonas habituais de concentração, apreciámos a deriva do barco e os sinais de sonda, percebendo que alguma aguagem se fazia sentir e as imagens electrónicas não se mostravam fortes como seria desejável. No entanto, decidimos fundear, percebendo de imediato que a corrente era fortíssima. Ainda tentámos pescar, mas o certo é que, mesmo com chumbadas de 300 grs, a acção de pesca era muito difícil, sendo que as iscas tinham dificuldade em chegar ao fundo e mesmo lá chegadas, ninguém lhes tocava.
Levantámos ferro e demandámos pesqueiros mais à terra onde não se fizesse sentir a força de tal "ribeira".
Pelo sim, pelo não, procurámos pesqueiros onde as Douradas costumam aparecer fora de época ou no seu deslocamento para os locais de concentração para o acasalamento.
As imagens apareceram, os fundos pareciam generosos, o ferro caiu, o barco tomou posição e vá de pesca!
O peixe miúdo atirou-se às iscas como esperado. Primeiro, demorando algum tempo; depois, com maior intensidade percebendo-se, aqui e ali, um ou outro toque a exigir maior atenção...
Uma meia hora depois de iniciarmos a pesca, já o Miguel tinha mudado para anzóis mais pequenos e iniciado algumas capturas de Sarguetas, eis que o Filipe entra em luta acesa com peixe mais grado. As cabeçadas que se viam na ponteira da cana não enganavam... Era uma Dourada, sem dúvida!
Aqui está ela, a primeira do dia e orgulho do Filipe!
A partir deste momento, inicialmente com sardinha, depois com caranguejo e outra vez com sardinha, elas foram entrando e mantendo tamanhos "aceitáveis", com raras excepções, intervaladas com algumas Bicas e até alguns Besugos já para o fim do dia; obrigando-nos ao controlo do peso legal que atingimos, fazendo enorme esforço para resistir à tentação de o ultrapassar, pois elas estavam lá!
Mas haverão outros dias certamente.
Para evitar a repetição de cada uma das lutas, deixo-vos aqui os melhores exemplares capturados!
Uma minha, tirada como se estivesse a solo, para evitar que os meus companheiros se desconcentrassem... As raparigas não estavam fáceis, exigindo grande concentração nos toques, sob pena de os anzóis serem limpos antes que se conseguissem ferrar.
O Filipe, agora com o seu melhor exemplar:
O João com a sua mais pequena...
... Outra vez o João, agora com a sua maior:
Foi assim! Mais um dia no "paraíso", numa calma... Dourada, com boa companhia, Sol, calmaria e peixe de qualidade!
Pena o Miguel, não ter tirado uma foto... Estava tão concentrado que nem de tal se lembrou, mas também, tanta coisa que havia para fazer... Fotos para quê?
Brincadeiras à parte, considerando os resultados, comportamentos observados e condições de mar encontrados, arrisco-me a dizer que talvez os bichos estejam mesmo em fase de andar para as zonas normais de concentração, isto porque não tem sido normal encontrar tantas juntas aos 46 metros de água.
Quem nos diz que só aguardam que aquelas aguagens loucas se interrompam e lhes dêem oportunidade de se deslocarem para as zonas de acasalamento e desova com um mínimo de esforço?
Parece lógico!? Mas como é que vamos saber? Talvez com o tempo!?
Enquanto não descobrimos a verdade... Divirtam-se com o que se conhece!
Uma boa noite para todos vós!
10 comentários:
Mais 2 dias de excelentes pescarias. Eu fui ontem à procura delas cá em Setúbal, mas elas não quiseram nada com o meu barco.
Parabéns Ernesto e obrigado por mais esta carga de baterias que nos proporcionaste. É muito bom para quem não vai, vir aqui sentir a pesca. Parabéns também aos teus colegas pela pesca que viveram no sábado. Ainda por cima o Felipe tem uma Galega, cana que eu também tenho usado no último, simpatizei logo com o rapaz... Douradas é uma espécie À qual ainda não me dediquei, esta altura do ano já é mais "rija" e não me sinto muito à vontade para sair à procura delas no meu barquito, pelo que sou um zero na matéria. Qualquer dia tenho de me colar a ti e fazer-me convidado a uma saída a elas. É impressão minha ou as que mostras são maiores so que as que costumas apanhar quando estão mais encardumadas?
João Carlos Silva
Viva Pessoal!
Grato pelos comentários!
Ao Valter:
É assim... Tem dias! É uma questão de conseguir lá estar no dia certo.
Ao João Carlos Silva:
É verdade... As fulanas estão mais crescidas, vamos ver se assim continuam!?
Quanto a ser mais rijo, desde que o windguru diga que está calmo, tens dias muito bons para te fazeres ao mar, mesmo com o teu barco.
Logo nos encontramos por lá!
Abraço
Ernesto
Olá Ernesto
- Como sempre um magnifico relato de uma jornada de pesca.
Pela partilha de experiência vivida o meu obrigado.
Os Americanos tiveram o Hemingway (Ernest) nós temos o Lima.
Podia haver um prémio Nobel da pesca e certamente seria para Ernest(o) Lima.
TóZé (Évora)
Viva Tó Zé!
Xiiiiii... O que para aí vai!?
Abraço
Ernesto
Desde já os meus parabens pelo blog e por nos porpocionar, no nosso imaginário, as grandes pescarias que faz e acima de tudo da maneira como encara a vida e tambem a pesca. Quero ainda dizer que sorte que estes seus antigos alunos e agora amigos, que tiveram um professor que para além de ser seu professor partilhava dos seus interesse e não se desmarcou deles assim que a sua missão de professor deixou de os incluir. Quem me der ter tido um professor assim. Adoro pesca embarcada vou sempre que posso e s foce de mais perto um dia gostava de exprimentar a sair pro mar em Sines. Quem sabe um dia.
O meu email é r_fino@hotmail.com pro caso de querer responder.
Olá amigo!
Como se pode ver pela reportagem, as boas capturas já aí andam! Tal como tens indicado, as aguagens têm feito com que a pesca não corra de feição... outro problema têm sido os pampos que insistem em não largar as minhas áreas de pesca! Malditos! Parece que perseguem o barco... alguém tem um truque para afugentar estes peixes insaciáveis? Já não era altura de eles andarem por outros mares, ou vão ficar o ano todo pela nossa costa?
Abraço Ernesto
Atentamente, Luis
Viva Ernesto
Este ano a localização das suas meninas deu-lhe algum trabalho, embora fosse apanhando algumas tresmalhadas para aguçar o apetite
Mas já sabia que os resultados iam aparecer, fruto de um rastreio perfeito dos seus pesqueiros bem articulado com a informação que tem acumulada ao longo dos anos
Dois dias de pesca bonitos e resultados que já nem surpreendem
Parabéns a todos os intervenientes
Para si também, claro
João Martins
.
Muito bom !
Parabens!
Abraço brasileiro.
SBersano "véiopipoqueiro"-POA-RS-BRASIL
Viva Pessoal!
Aos últimos comentadores, agradeço a atenção!
Ao João Martins:
É verdade... Elas sempre aparecem!
Nem sempre com a mesma frequência e tamanho nos mesmos sítios, mas... Aparecem!
Abraço
Ao SBersano (VéioPipoqueiro):
Viva companheiro! O seu blog é uma maravilha de informação!
Um abraço Português!
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