terça-feira, 30 de outubro de 2007

Pesca á "Zagaia" - Como aconteceu a minha "Estreia" - 27/Maio/2007


Boas tardes a todos.

Neste fim de semana sem pesca e com previsões de só o vir a fazer após trocar as baterias do barco que estão a dar as últimas, vou continuar a contar-vos as minhas experiências na pesca à zagaia que, como referi na última entrada, são poucas, com mais derrotas que vitórias, mas que considero, me proporcionaram, através da observação contínua, um conjunto de aprendizagens que posso por à consideração dos leitores e que me servirão de base para evoluir neste tipo de pesca, lá pela zona de Sines.

A minha estreia, com um peixe grande, utilizando esta técnica, aconteceu aí em meados de Junho de 2001, no período de transição entre a venda do barco que tinha e a aquisição do que tenho actualmente.

Eu e o meu amigo António Júlio, de Setúbal, talvez um dos melhores pescadores de pesca embarcada ao fundo que conheço, daqueles que ninguém conhece de revistas, blogues, páginas, etc., saímos em direcção a Lagos, na perspectiva de uma pescaria à zagaia, combinada com o nosso amigo comum, o Carlos Cruz, da Nauticmar, em Lagos.
Pelo caminho lá fomos conversando sobre a zagaia, pesca que o António Júlio nunca tinha experimentado, tendo eu já ido umas quatro vezes sem qualquer resultado, para além de muito trabalho e de um enjoo por cada uma das saídas efectuadas.

A conversa alargou-se, antecipando uma comesaina, seguida de ronda nocturna por Lagos, coisa que não se coaduna muito bem com um dia seguinte de pesca à zagaia, atendendo ao esforço que nesta pesca se desenvolve. Assim vejamos:

- Esta técnica de pesca realiza-se com o barco à deriva, significando que este estará normalmente de lado à vaga e ao vento, com aqueles movimentos que nós todos conhecemos.

- Os pescadores têm de estar em pé, mantendo o necessário equilíbrio, enquanto deixam descer continuamente as amostras e as trabalham com subidas e descidas alternadas, com movimentos mais ou menos curtos de sobe e desce, assim como, variações continuas de velocidade em todos estes movimentos, em profundidades  que variam entre os 50 e os 80 metros.


A azáfama descrita, decorre em cada passagem que se faz num determinado pesqueiro, previamente definido através das marcações de sonda por ele apresentado. Tal implica que, enquanto a marcação de sonda indicadora da suposta fiabilidade do local se mantiver, passaremos por lá repetidamente, até esgotarmos várias cores e tipos de amostras, várias formas de as trabalhar, até que a ausência de resultados e o esgotamento da paciência, nos façam mudar de pesqueiro, voltar a percorrer os mesmo passos, e assim sucessivamente ao longo de todo o Santo dia.

Chegados a Lagos, lá nos encontrámos com o nosso amigo Carlos e vá de preparar os materiais, comer, beber e antecipar os peixes "enormes" que iríamos apanhar no dia seguinte, até ao momento em que fomos dormir e continuar a sonhar.

Partimos de Lagos, pelas 7.00 horas da manhã em direcção ao pesqueiro, passando Sagres e São Vicente, rumo N/NW, com um mar razoável atendendo à zona em causa que, como se sabe, tem sempre alguma vaga e variações das condições de mar e vento ao longo de todo o dia, salvo raras excepções.
Chegados à zona, começou a procura dos sinais de comedia ao fundo, de preferência alvorada (um pouco acima do fundo) e espalhada na sua base, junto a covas e pontões elevados das profundezas.
Encontrados os sinais iniciaram-se as hostilidades, assim como, o meu, já habitual, processo de enjoo e consequente "atirar de carga ao mar", intervalado com a montagem das baixadas com que iríamos tentar promover os encontros com os sujeitos do nosso interesse, e claro, com a risota provocada pelas minhas dificuldades em manejar os materiais em tais condições de "saúde".

A água tinha um colorido azul escuro, com alguma transparência e cada um de nós montou a sua amostra tendo em conta os conselhos do Carlos, o mais informado e experiente nesta técnica.

Relativamente às indicações do Carlos, deveríamos ter em conta, os seguintes cuidados:

- Cada um de nós deveria ter uma amostra diferente, para que se tentasse perceber quais as tendências do peixe.

- As amostras deveriam ter cores enquadradas com a cor da água ou cores vivas que contrastassem com a mesma, o que não me parece desadequado, atendendo ao que ainda hoje se refere em vários artigos desenvolvidos por entendidos na matéria.

Assim, reportando-me à foto da entrada anterior, o Carlos iniciou com a 1.ª amostra do lado esquerdo da foto, o António Júlio com a 2.º, a partir do mesmo lado, o Luís, um outro amigo que foi connosco, com a 3.ª e eu com a 5.ª.
Todos eles estavam a pescar com canas rijas de 2,10 a 2,40m e eu com uma cana de médio Spin de 2,70 mts, sendo o peso das amostras entre as 120 e as 150g.

Assim que iniciámos a pesca, concluí que, enjoado como estava, não conseguiria corresponder ao esforço solicitado e tinha de parar até que me passasse, como é hábito. Por tal, resolvi ir para a proa do barco e deitar-me a apanhar vento até que melhorassem os sintomas, mas antes, tendo o vício da pesca falado mais alto, lembrei-me de usar uma amostra de vinil que tinha comigo, daquelas que se iscam e se mexem muito com um mínimo de acção da água, ou do pescador, sobre elas.

Pensei para comigo que, usando a referida amostra montada num estralho com 1,50m de comprimento, à distância de 1,50m duma chumbada de 150 grs, não teria de estar sempre a subir e a descer a pesca, excepto quando mudávamos de lugar ou iniciávamos nova deriva, podendo assim, deitar-me com a pesca na mão e ir mexendo de vez em quando, na esperança de despertar o interesse de algum "matulão", enquanto o enjoo não me passava. Imaginem a figurinha!?

A pesca foi decorrendo e ao fim de umas duas horas, sem qualquer toque a bordo, com vários locais batidos à exaustão e eu estabilizado mas ainda em más condições; o meu amigo António Júlio que, entretanto, tinha vindo fazer-me companhia para a proa, numa das já pouco motivadas subidas e descidas da sua amostra, é atacado por uma cabeçada violenta, reagindo atabalhoadamente (lembro que era a sua 1.ª vez!), soltando demasiado a embraiagem do carreto e escapando-lhe o peixe.

As coisas modificaram-se, as expectativas aumentaram, eu sentei-me, mas a sensação de enjoo voltou outra vez.
A acção de pesca dos meus companheiros aumentou de vivacidade e o Luís ferra um peixe com alguma força...
O que é? O que não é? E sai um lírio com uns dois quilos.
O meu peixe era maior, pena não ter conseguido ferrá-lo, não estava a acreditar nesta pesca, comentava ao momento o António Júlio, com algum pesar.

Entretanto, o Carlos manda subir as pescas e diz: este local está "quente", vamos fazer outra passagem. E começa a manobrar em direção ao ponto inicial da deriva, pára o barco, as amostras seguem para o fundo e assim que o António Júlio, com a mesma amostra que tinha no início, inicia a sua acção de pesca, leva outro toque ainda mais violento que o anterior, ferra um "bruto", começa a trabalhá-lo e quando parece que já o traria, este desferra-se.
O António nem queria acreditar, soltando algumas expressões que me escuso de aqui referir, mas perfeitamente adequadas ao momento.
No meio de todo este movimento, eu, o enjoado, a pescar com a montagem e amostra possíveis para o meu "estado", pensando ser a última pessoa a quem acontecesse alguma coisa de bom a bordo, levanto-me, elevo a cana num movimento amplo, e, nesse preciso momento, sou "vítima" de um ataque brutal que me dobra a cana toda e me faz esquecer o enjoo, a desgraça, a família, os amigos e tudo o que me rodeia para além do que, através da minha montagem, me desafia para uma luta da qual dificilmente me esquecerei.

Tudo estava bem, o fio era 0.40, o anzol da amostra, um 4/0, a embraiagem a funcionar bem, e a luta continuou durante uns intermináveis e insubstituíveis minutos, não sei quantos..., até que, já perto da superfície, mas longe do barco, se eleva um enorme Pargo cuja bexiga natatória inchada faz boiar e que vem até ao barco que nem uma prancha de surf, direito a um enxalavar enorme que dele toma conta, depositando-o depois no convés, onde é observado, fazendo as delícias dos presentes.

É claro que "moi", o enjoado, ficou com um peito enorme, de imediato alvejado pelos outros com expressões do tipo: "apanhaste-o a dormir", "deve ser do engodo que atiraste ao mar" e etc., mas a verdade é que, não desisti e adequei o material ao meu estado, tendo a coisa surtido efeito. Foi sorte? Foi sim senhor! Mas, por vezes nós contribuímos para que esta surja, sendo o contrário também verdade.
Quanto à luta com o peixe..., aí a coisa é diferente. Neste caso, diluiu-se o factor sorte.

Depois deste acontecimento, ainda houve mais um toque, também na amostra do António Júlio, mas não se chegou a ferrar, tendo o dia terminado em festa, embora se tenham apanhado apenas o Lírio e este Pargo do meu contentamento.

Não havia onde pesar o peixe, pelo que o amanhei e trouxe para Setúbal, onde o pesei, acusando um total de 12,650 kgs limpo.

Esta foi a minha primeira vitória utilizando esta técnica de pesca.

É importante perceber que as derrotas são muito frequentes nesta pesca, obrigando a um continuo estudo e experimentação de locais, materiais e de nós próprios.

Espero que esta não seja a minha única vitória, porque derrotas já tive muitas.

Nota Importante 1: Para perceberem quais as amostras utilizadas, têm de consultar a entrada anterior "Experiências na Pesca à Zagaia".

Nota importante 2: Para verem a amostra que apanhou o "Meu Pargo", vejam a amostra do meio, na foto que ilustra esta entrada, sendo as outras algumas das que estou a experimentar.

Nota importante 3: Para verem o "Meu Pargo", consultem a "ficha técnica" da entrada seguinte que sairá de imediato!

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