Desanuviamentos...

Setúbal, a terra onde nasci e vivo até agora! Donde já pensei sair... Mas nunca o fiz! As razões são várias... fundamentadas ou talvez não!

A família, o trabalho, os amigos, a beleza... Esta, muito dependente do local de onde a foto é tirada!

Uma terra rodeada de gente que manda... Não sei se bem!? Mas isso são outros factores... Compreensíveis para alguns! Para outros nem tanto!

Uma terra limitada pela Reserva Natural do Estuário do Sado a Nascente, pelo Parque Natural da Arrábida a Poente! Ambas as organizações com enormes "cancros" no seu seio!

A Reserva do Estuário, com mondas de arroz e empresas poluentes a perder de vista, o Parque Natural da Arrábida, com cimenteira e pedreiras que não acabam... Tudo em nome do progresso e do emprego! Só não entendo porque não o turismo? Pelos vistos não traz progresso nem traz emprego!

Já sei! É uma questão histórica! Veio para aqui tudo o que podia render e agora não há volta a dar-lhe! Por isso há que manter o que supostamente se traduz em progresso e emprego e cortar onde se pode, para que a poluição não alastre! Para que se salvem os golfinhos e para que a SONAE e tróia funcionem do lado de Grândola Vila Morena, dando um ar de turismo de alto gabarito! Não sei como? Tirar fotos a partir de Tróia que não sejam em direcção do oceano ou de alguns lugares da Serra da Arrábida, é uma tarefa que, no mínimo, terá de ser cuidada, tendo em conta que essa foto não tenha um pano de fundo com chaminés, prédios que nunca deveriam ter sido construídos, estaleiros e ferro-velhos com utilidade duvidosa e não sei mais o quê!?

Entretanto parece-me que os cortes à poluição direcionam-se essencialmente à náutica de recreio a partir de Setúbal, disfarçados num plano de ordenamento onde a palavra de ordem é o canal dos golfinhos para esquerda e o canal dos golfinhos para a direita! Canal este, onde passam os grandes barcos para os estaleiros e toda a porcaria produzida pelos "cancros" que o rio leva e traz nas suas correntes de maré, assim como um barco que passeia turistas para ver os golfinhos! Bom será que esses turistas não levantem muito o olhar! Neste momento começam a ter dificuldade em encontrar beleza e, qualquer dia, mesmo limitando a náutica de recreio a partir de Setúbal, vão ter de ter uma imaginação fértil, para conseguirem vislumbrar os tais mamíferos marinhos!

Com tudo isto, a realidade é que os Setubalenses com um barquito, já não podem encostar-se ou fundear junto à costa da Arrábida e, pelos vistos, cedo não poderão encostar-se à costa de Tróia, por criarem poluição sonora no canal dos golfinhos! Aliás um canal que é talvez o mais poluído e navegado pelos barcos comerciais! Sim... Agora até os Ferry-Boats, vão lá passar! Mas esses, certamente não fazem barulho! Como é que podiam? Então uns barcos que servem o empreendimento turístico de Tróia, podiam lá fazer barulho? Nem têm motor... Vai-se ver, andam à vela!

Os Setubalenses sem barco, esses autênticos poluidores, terão de ir para o campo! Praia para quê? Já tiveram que chegasse!

Quanto aos Setubalenses com barco... Bom esses é melhor nem falar! Ficam com linha aberta para o mar! Margens... Quem gozou, gozou... Quem não gozou... Azar!

Marina, nem pensar! Para quê, mais dia menos dia já nem podem andar de barco, para que é que vão querer uma marina? Isso é para Grândola que já a tem lá para os lados de Tróia, mas essa é para o Turismo de alto gabarito com fotos cuidadas, pode lá agora ser para trabalhores estúpidos que tiveram a ousadia de comprar um barquito e, para além de trabalhar, pouco mais sabem fazer!

Quem diria? Grândola com marina!?

Nada tenho contra! Pena é, que Setúbal também não a tenha! Mas quem sou eu? O que vou fazer? Terei razão no que para aqui estou a pensar? Então estou triste porquê?

Talvez porque tenho, como todos os Setubalenses, uma forte ligação a Tróia e ao Rio Sado!? Talvez porque sinta que algo nos está a ser estorquido!? Talvez porque, no meu íntimo, sinta que Setúbal está a ser afastada de todo este processo, e pior que tudo, que nos estão a afastar para a nossa margem, mesmo assim, só para aquele bocadinho que se situa entre a Reserva Natural do Estuário do Sado e o Parque Natural da Arrábida!

Estes pensamentos causaram-me tristeza, na passada Quinta Feira, enquanto programava mais uma actividade náutica a realizar no Rio Sado, cuja baía está inscrita na Associação da Mais Belas Baías do Mundo. Então porque estava tão triste? Tinha de desanuviar! E claro... que melhor local que o Porto de Recreio de Sines? Onde tenho o meu barquito!

Também tem chaminés! Também tem uma série de coisas que não são bonitas! Mas... Também tem compensações! Ao menos pensaram que o pessoal que trabalha tem de desanuviar! Talvez...? Por enquanto parece que sim! E não falo só do Porto de Recreio! Falo do passeio marítimo, das praias abertas e cuidadas, limpas diariamente durante a época balnear, evidenciando preocupações que não se vêm pela minha terra e, como não podia deixar de ser, da pesca... já ali, tão perto, logo ao virar, quer do molhe Sul quer do molhe Oeste!

Lá fui, na Sexta Feira, para dois meios dias de pesca! Na Sexta, só de tarde, devido às aulas; e, no Sábado, só de manhã; considerando o vento prognosticado para a tarde!

Programei para Sexta, pesca de fundo com o barco fundeado e, para Sábado, Zagaia, ali perto, só para ir treinando e considerando o vento esperado, já que ia só e não me queria afoitar!

Eram 13.30 e, finalmente tinha chegado à minha "ilha de desanuviamento"! Fui buscar as iscas, preparei o barco, as montagens e fiz-me ao mar!

Ia com ideia feita! Nesta altura do ano já podem começar a aparecer uns Parguitos jeitosos lá mais para Sul, isto lembrando-me das pescas feitas em anos anteriores, o que fez com que me dirigisse a um pesqueiro ao qual não ia, para aí, há uns dois anos. Já começam a ser tantos que se corre o risco de deixar de frequentar alguns que não deixam de ser bons só porque encontrámos outros, supostamente melhores, esquecendo os antigos.

Lá fui! Sondei! Gostei do que vi! Fundeei e vá de pesca!

A coisa começou bem! Quase de rajada, apanhei duas sarguetas de bom tamanho, cinco Parguetes para aí de 0,900 kgs e três Carapaus tamanho XL! Tudo isto pensando que o grande poderia aparecer... mas não!

Aconteceu o que muitas vezes acontece de Verão! Apanha-se até uma determinada hora e depois parece que cai uma parede e nada mais entra, embora se insista, se diversifique, se engode e sei lá mais o quê! Às vezes muda-se de sítio e a coisa dá-se outra vez! É assim! Bom sinal, pensei! Sinal de Verão! Pode ser que sim!?

Enquanto me envolvia destes pensamentos... Talvez raciocínios, telefona-me o Zé Beicinho! A que horas vens? Pergunta-me! Digo-lhe que não sei ao certo e pergunto-lhe porquê! É que estamos aqui a preparar uma Sopa de Rabo de Boi e se a queres "papar" tenho que saber horas para pôr a massa a cozer!

Combinámos a hora e fiquei desconcentrado! Já só pensava na Sopa de Rabo de Boi e no vinho de Pias! Levantei ferro e andei! O peixe já chegava e tinha de o amanhar! Mais arrumar a tralha, preparar as canas e zagaias para o dia seguinte, lavar o barco e o respectivo dono! Estava mais que na hora!

Deu-se o jantar, a conversa, as peripécias do dia, as histórias antigas de pescas "enormes", um jogo de Snoker com o António do talho e fui-me à deita, completamente desanuviado, sem me lembrar de Setúbal, da Marina de Grândola, do trabalho, de quem manda mal ou bem e sei lá quantos outros pensamentos desagradáveis que antes me assolavam!

Acordei cedo, no Sábado! Voltei ao mar! Percorri os passos da sonda e do GPS, derivei e zagaiei!

Os sinais de sonda eram bons e, à segunda deriva, na encosta do pico, ferro qualquer coisa pesada e a lutar pouco! O que é? O que não é? Não luta muito! Não leva linha! Bombeio a cana e enrolo linha! Aparece-me um bodião para aí com umas 900 grs! Ah também gostas de chumbo? Pensei!

Não tirei foto! Não porque achasse que não o merecesse, mas, sinceramente, esqueci-me! Porque seria?

Continuei! Mais derivas e mais trabalho de amostra! Consulto a sonda e vejo uma bola de peixe por cima do bico onde derivava, a 29 metros de profundidade! Resolvo subir a zagaia e animá-la mais alto!

Variei profundidade e a animação da amostra e, eis senão quando, a linha fica bamba! Ferro alto e seco! Não me arrependo! A luta começa, não muita, mas a indicar melhor peixe! Parece um Robalo e é!

Aquele que mostro aqui por baixo, com 1,500 kgs, ainda com a amostra ferrada! Bonito!

Descansei! Bebi água e continuei!

Derivas e mais derivas! Trabalho e mais trabalho de amostra! O vento entrou e a hora de andar aproximou-se, até porque, os sinais tinham enfraquecido, a fome já estava a apertar e, muito sinceramente, este foi um fim de semana em que talvez tenha procurado mais desanuviar do que propriamente pescar intenso!

Para isso gosto de preparar melhor as coisas e ter mais tempo para tudo, coisa que não aconteceu! Mas... Os objectivos estavam cumpridos! Tinha desanuviado e algum peixe tinha completado estes dois meios dias! Faltava almoçar, voltar ao barco para algumas pequenas manutenções e caminho de Setúbal com ele, de preferência sem passar por Tróia, pensando noutros dias, noutras pescas, noutras pequenas aventuritas!

Férias... Precisam-se! Já faltou mais!

Boa noite a todos!