domingo, 26 de abril de 2009

Vontade de Pescar!


Não sei o que vos acontece!
Mas comigo, quanto menos sucesso tenho numa jornada ou época de pesca, maior a vontade de voltar a pescar!
Nestas alturas, procuro insistentemente uma qualquer aberta, mesmo que as condições não me pareçam as melhores, basta-me que pareçam suficientes e lá vou eu!
Foi o que aconteceu no passado fim de semana, 18 e 19 de Abril!
As condições climatéricas não se apresentavam ideais... Alguma chuva, algum vento de várias direcções com indícios de nortada para Domingo mas com prenúncio de pouca vaga, o que me fez decidir pela ida logo na Sexta após as aulas.
Barco tratado e a necessidade quase visceral de lidar com tudo o que à pesca diz respeito, em paralelo com a intenção de aproveitar algum tempo mais disponível, cada vez mais raro, já tinham decidido a encomenda das iscas e todos os preparativos feitos no dia anterior.
Chegado a Sines, olhei a Costa Norte e não gostei do mar que vi, aquilo não parecia grande coisa... Já frente à paisagem da baía, um olhar deitado a Sul deixou-me mais satisfeito e com água na boca, considerando as hipóteses de ainda apanhar o jantar!
Senti o sorriso que abri de orelha a orelha, fechando-o de imediato quando observei melhor o céu carregado, indiciando umas chuvadas que pareciam querer iniciar a sua queda a qualquer momento.
A chuva não se fez esperar!
Mal entrei no barco começou miudinha, engrossando enquanto arrumei os sacos e o preparei para sair, atingindo uma consistência franca, espessa e contínua no final destes trabalhos. Chatice... Pensei primeiro, seguindo-se um pensamento de gratidão em direcção ao São Pedro por ao menos me ter deixado chegar ali sem me molhar!
O que é que queria? Já estava no barco, podia ir preparando os materiais e as baixadas, ir pensando os pesqueiros e relizando um sem número de outras pequenas arrumações e trabalhos que sempre se têm de fazer, para além de consultar o GPS e rever marcas antigas, por vezes bons locais de tentativa quando outros nos falham. Tudo isto, já para não falar de até poder ir já pescar, não fora a chatice do desconforto que a chuva provoca e ao qual, sinceramente, sou um bocado avesso!
Se já lá estiver... Que remédio! Agora, ir para lá assim, não faz nada o meu género!
Iniciei os trabalhos retirando as canas dos seus ninhos, colocando os carretos e fazendo correr o fio pelos passadores, deixando as pontas onde se aplicariam as baixadas em zonas de fácil acesso, ao abrigo da chuva.
Anzóis, fios, destorcedores, tudo espalhei de forma organizada por ali, iniciando a execução das baixadas com a calma dada pela chuva que teimava em cair densa, sem que no céu se visse uma aberta do lado do vento que indiciasse a paragem ou diminuição que ainda esperava. Já tinha decidido que não me preocuparia se a chuva não parasse mas que estaria atento a qualquer aberta para ir ao mar, durante esta tarde de Sexta Feira. Eram 15.00 horas, os dias são maiores, quem sabe...
Os trabalhos decorreram! Fiz as baixadas para a cana de mão, para a de isca viva, suplentes... Até que olhei para o céu por entre a chuva e vi a aberta esperada!
Do quadrante Oeste, o mesmo da chuva, aparecia uma zona de céu claro e a esperança renasceu!
Olhei para o relógio, eram 17.05 horas! Olhei a água que caía e notei uma diminuição de intensidade! Decidi-me!
Fui buscar o oleado e accionei a ignição do motor, pensando para comigo que, mais não fosse, experimentaria as prestações do barco após manutenção, aquela de que vos falei!
Saí para o mar e não resisti a tirar a foto de abertura que como se vê não pronunciava nada de bom, mas estava decidido e, certo é que, à medida que chegava ao pesqueiro eleito, a chuva diminuía, esgotando-se mesmo, quando após sondagem e posicionamento do barco resolvi largar o ferro.
Sentia-me bem, não chovia e o vento, o mar e a temperatura eram aceitáveis... Só faltava pescar!
Isquei tudo com sardinha! Na cana de mão, um belisco em cada anzol; na cana de isca viva à falta desta, uma Sardinha quase inteira; e, baixadas para baixo!
Os primeiros toques aconteceram rápido, assim como o roubo dos beliscos que substituí de imediato após primeira subida de anzóis limpos, enquanto mirava de soslaio a outra cana, sempre em guarda com o que pudesse acontecer.
Os toques eram repetidos e intensos, dando ideia da vontade de comer "dos" que por lá andavam, não tardando que algo me fizesse dobrar a cana com alguma intensidade após ferragem.
Aí está o causador!

Jantar para mim e outro, já cá está! Bonito o Sargo!
Continuei a acção e os toques repetiam-se, assim como as capturas! Vieram de seguida dois Parguitos que devido ao seu tamanho, foram libertados. Depois duas fanecas de bom porte, seguidas de mais uma Sargueta que também encontrou o caminho de regresso, embora com medida legal!
Já tinha pensado em forno ou em peixe escalado grelhadinho... Não queria mais nada!
Foi-se insistindo entre roubos de isca, ora só com Sardinha, ora com Sardinha e Caranguejo e a coisa acabou por se compôr com mais dois Parguitos que já compunham mesa farta e pronunciavam boas pescas para o Sábado e Domingo que aí vinham!
Aqui estão os apurados para o jantar!
Eram 18.30, o Sol continuava cinzento, a chuva miúdinha voltava outra vez, os toques tinham desaparecido, o jantar para mim e para os amigos que haviam de aparecer estava assegurado, o barco estava testado, tinha feito o gosto ao dedo, tinha dois dias de pesca pela frente... Senti-me satisfeito e voltei ao porto.
É bom! Não esperava nada e acabou por acontecer tudo para tornar agradável esta tarde de Sexta Feira.
Caíu a noite, com os pequenos prazeres da mesa, da conversa e do descanso que complementam a pesca, precedida das preparações para o dia seguinte que se apresentou à saída do porto com a calma que se vê:

Tudo em aberto para um dia esplêndido com capturas a condizer, o que não se verificou!

Foi um dia de tentativas sucessivamente falhadas, embora os fundos se apresentassem com alguma qualidade.

Andámos pelo Norte, lá por fora e cá por terra; pelo Sul, em zonas idênticas; tentámos o pesqueiro da tarde de Sexta Feira; mas nada!

Quando digo nada, quero dizer mesmo isso... Não fora um Robalo de 38cm que entrou ao fundo, numa iscada de cabeça de Lula, após grande insistência de Sardinha, ora comida ora não, pode dizer-se que teríamos chegado a terra com a famigerada "grade". Neste local, ainda insistimos durante uma hora e tal, não fora os Robalos andarem por ali mas, nem mais um peixe ficou, nem as iscas eram comidas no fundo ou acima dele.

Que dizer? Não sei!

Sei que em algum lado "eles" comerão, não soube encontrá-lo!

Verdade que os fundos apresentavam peixe mas não com aquelas imagens de sonda que não deixam grandes dúvidas, também o vento mudava de quadrante com alguma assiduidade, não permitindo manter o barco no pesqueiro, no entanto pergunto-me, não serão estas "desculpas de mau pagador"? Estou inclinado para isso!

Acabou o Sábado, preparando-se a pesca de um Domingo que se antevia com vento logo pela manhã, mas mesmo assim ainda tentámos, eu e o Zé Beicinho, procurar alguma coisa que desse para contar história. Encontrámos!

Saímos cedo já com vento fresco que limitava à partida qualquer aventura mais desabrigada, pelo que sondámos e poitámos ali perto do fim do molhe Sul a uns 33 metros de profundidade.

O peixe picava e comia de tudo embora não tivesse boca para os anzóis que lhe apresentávamos, no entanto assegurava movimento frenético lá por baixo e fazia-nos acreditar que algo de bom poderia acontecer.

Enquanto prosseguíamos no trabalho do pesqueiro, iscas para baixo, anzóis limpos para cima, esperando um ataque mais forte em cada momento, senti o barco atravessar-se à vaga e as linhas a andarem para a proa, indício seguro de que o ferro se tinha soltado do fundo por força do vento e de alguma vaga desencontrada que se fazia sentir.

Subimos as linhas, pensando: logo agora que o pesqueiro parecia ter assunto...

O barco deslizou, o ferro agarrou outra vez, mas os toques rápidos desapareceram, sentindo-se alguns mas já sem a intensidade anterior, indicando-nos que tinhamos mudado de sítio o que verifiquei ligando a sonda e apercebendo-me que já estávamos demasiado em cima de pedra.

Não nos demos por vencidos! Barco a trabalhar e vá de levantar o ferro para voltar ao pesqueiro onde estávamos, só que o ferro não subiu!

Estava agarrado a qualquer coisa que, embora se movesse, não o deixava subir mesmo puxado pelo barco. Que raio! Nem peixe... Nem ferro... Pensei para comigo!

A resolução passava por duas hipóteses: ou cortava já o cabo, deixava uma bóia a marcar o ferro e solicitaria mais tarde a algum profissional conhecido que o levantasse com guincho ou então continuávamos a pescar, forçando o pesqueiro e faríamos o mesmo mais tarde. Eram 11.00 horas e resolvemos optar pela primeira hipótese, continuando a pescar!

Mas os dados estavam lançados e o pesqueiro morreu completamente, muito porque o que quer que nos tinha prendido o ferro ia-se deslocando e esticando não permitindo que nos mantivéssemos no mesmo local, parecendo-nos que seria alguma rede ou covos.

Aguardámos mais algum tempo que aproveitei para cortar o cabo atrás da amarração e colocar-lhe uma defensa, como bóia, para poder ir embora, quando apareceu a "salvação" materializada no companheiro Felizardo, com o seu barco "Mangas II" que por acaso até tem um bom guincho e que de imediato se prestou a resolver a situação.

Abreviando, um grande obrigado ao Felizardo que me poupou uns tostões e uma carrada de chatices!

A história continua com a nossa deslocação para uma zona ainda mais abrigada onde emendei o cabo, ilustrando tão importante acto...

Por solicitação de alguns leitores, posterior à leitura deste artigo, prometo que brevemente ilustrarei ao vivo este nó de ligação, fornecendo um conjunto de cuidados na sua execução. Entretanto aqui fica um link que dá uma ideia virtual da mesma: http://www.marinews.com/Short-Splice-521.php


Neste local almoçámos, tentámos ainda pescar, mas o vento e a nossa incapacidade para dar com peixe por ali, acabaram por nos indicar o caminho de casa que encetámos pelas 14.00 horas o que a família acabou por agradecer.

Portanto, tinha vontade de pescar e pesquei! Gostaria de ter capturado mais e melhores peixes mas não apanhei! Estive para perder um ferro mas não perdi!

Concluindo, com tudo isto acabei por passar um belo e variado fim de semana, embora ficando com alguma azia por não ter descoberto peixe para mim ou para o Zeca e o Zé que, respectivamente, me acompanharam Sábado e Domingo.

Melhor que tudo: A vontade de pescar ficou ainda maior!

Boa noite a todos os leitores.

9 comentários:

Bruno disse...

Ora viva entao andamos a matar o vicio. Poucos mas bons quem me dera trazer desse lote, agora na minha volta a pesca na costa alentejana, esperemos...
Deixe la nao perdeu nada, o que ja nao é nada mau.
Para a proxima será melhor.

Abraços

Anónimo disse...

Viva Ernesto!

A vontade de pescar por este lados também e muita!!!
E também me acontece que quando menos sucesso nas capturas mais me apetece lá voltar e experimentar outros fundos e novas estratégias.

Fui na quinta-feira passada e sinceramente não sei o que se passa com o peixe lá por Sines está escasso! Se não fosse uma Saima de 1kg e umas choupas azuis aquilo era uma miséria.
Corri os pesqueiros todos os sinais estavam lá, mas nada!
Para não falar das as garopas eram muitas e assim que a isca caía lá em baixo, pronto! Metiam aquilo na boca e assim era difícil ir lá outro tipo de peixe. Fundei mais fora dei-me mais cabo, sondei a ver se estava muito em cima da rocha. Mas era só garopas!!

Outra coisa que tenho vindo a notar que o peixe não anda a comer bem a sardinha! Pelo menos as ultimas vezes que tenho lá ido! Tem saído mais peixe com lula e com caranguejo. Não sei se e da época? Mas noutras épocas a sardinha era muito eficaz?

Para terminar não e só a si acontecem chatices com o material, pois a mim aconteceu que quando vinha do mar da pesca já em direcção a marina o motor começou a afogar e a apitar o alarme, parece que só funcionava num cilindro tive que vir em relantim foi uma chatice ainda por cima não havia barcos por perto estava a ver que fica apeado.

Um abraço,

Rui Viegas

Anónimo disse...

Olá Ernesto

A vontade de pescar por aqui, pelos lados da Nazaré, anda farta mas o Windguru, o S.Pedro e demais agentes celestes não têm deixado e quando deixam os nossos amigos lá em baixo também não querem colaborar !!! Oiço muita gente queixar-se pela falta de apetite do peixe. Eles andam lá mas não estão para ali virados. A temperatura da água está ainda muita baixa e o metabolismo lento. Talvez seja esta, em parte, a explicação dos fracos resultados, mas uma outra razão de fundo também vai ganhando expressão: a pressão humana sobre os oceanos e o planeta. E Sines é , infelizmente, um exemplo de como se destruiu uma das zonas mais bonitas do país e que ainda tive o prazer de apreciar no seu estágio natural...antes dos "monstros" a invadirem.
Próximamente irei fazer companhia ao amigo Ernesto uma vez que a marina e o porto da Nazaré estão em dragagens. Assim aproveito a oportunidade para ir pescar, por uns tempos, nesse mar generoso e tentar sentir as mesmas emoções das aventuras com que o Ernesto nos faz vibrar no seu blog semanalmente.
Para terminar, faço-lhe um pedido : gostaria que o Ernesto nos pudesse explicar, passo a passo, como executa essa emenda no cabo, numa das suas próximas entradas.

Agradeço-lhe, renovadamente, pela existência deste seu cantinho de pura paixão e aprendizagem.

Um grande abraço
Paulo Benjamim

Ernesto Lima disse...

Viva pessoal!

A todos agradeço os comentários!

Ao Bruno:

É verdade companheiro, fez-se o gosto ao dedo, foi-se ao mar... Não há que olhar de outra forma para além de mais experiência e conhecimento adquirido.

Ao Rui:

Viva Rui!
Podes dizê-lo! A Sardinha no Inverno não parece tão apelativa para o peixe, talvez por estar magra ou fora dos hábitos dos pequenos "artistas" que de Verão comem tudo.

Certo é que começando com outras iscas para criar reboliço e introduzindo posteriormente a Sardinha, tenho tido bons resultados nesta época do ano.

Quanto aos peixes, penso que andarão mais fora e mais fundo, onde as diferenças térmicas não terão tanta influência. Agora... Onde é que não sei!

Mas havemos de dar com eles! Lol

Ao Paulo Benjamim!

Acho que tem toda a razão no que aos sinais dos tempos refere.

Quanto a Sines, mesmo assim, mantém-se uma terra muito agradável e acolhedora.

Seja Bem Vindo a Sines e ao blog!

Quanto à emenda do cabo, vou tentar fazer umas fotos ou um pequeno vídeo e colocar aqui logo que possa! Está prometido!

Abraço

Ernesto

Anónimo disse...

Boa tardinha!

é assim companheiro; Um dia do caçador o outro da caça....

Mas o simples facto de entrarmos noutro elemento é por si só reconfortante, e eu que o diga: É só forro, vigas, barrotes, pregos, Bondex, Xilofene....Safa nunca mais tenho um tempinho. Ando mesmo a precisar de uns borrifos pela proa!

Em breve as aguas vão aquecer, a sardinha vai chegar e o apetite volta ao normal.

Da Caparica, aquele abraço!

Mário Baptista

Ernesto Lima disse...

Olha o Márinho da Caparica!

Viva Companheiro e Amigo!

É verdade sim senhor! Basta ir até ao mar e as coisas melhoram!

Um dia destes havemos de ir juntos e fazer história!

Já faltou mais!

Abraço

Ernesto

Anónimo disse...

Viva Ernesto
Tenho andado por aqui "invisível" ultimamente e muito egoísta - divirto-me em grande com o que leio e nem ao menos um agradecimento para o encorajar um pouco mais na feitura de novos relatos (eu sei que não precisa mas era o meu dever para consigo, como amigo!)
Gostei da manutenção do Makaira, toda feita por si (só há dias soube esse pormenor), da disciplina e rigor com que se ataca aquela grande tarefa e de ver o resultado final. Uma perfeição.
Quanto ao relato de agora, a pesca também é isto
Mas o que importa é que lhe deu prazer voltar às lides, esperar a aberta para entrar no mar, guerrear com os peixes, com o ferro, com o cabo
Os amigos, no mar e em terra, a conversa em dia e os jantares a condizer puseram-lhe de certeza as baterias em carga máxima
Até à próxima saída...
Abraço

João Martins

Ernesto Lima disse...

Viva João!

Os amigos nunca estão invísiveis, mesmo quando parecem estar.

Quanto aos relatos, pois são fruto da época que corre e que este ano tem sido especialmente agreste, quer quanto ao clima quer quanto a tarefas profissionais.

Por vezes começo a pensar numa quantidade de temas e artigos que quero fazer, mas o tempo disponível, não me deixa.

Não vale a pena pensar muito nisso, vai-se fazendo o que se pode e o que a inspiração sugere.

Sem dúvida que a troca de conversas por aqui, sempre é um elemento importante na vontade de mais e melhor fazer.

Grato pelo comentário

Abraço

Ernesto

Paulo karva disse...

Viva Ernesto.

Mesmo com o tempo adverso, a vontade de ir à pesca é mais forte. Apesar de poucos foram bons e a escassez é geral. Penso que estamos nesta altura do Ano, numa fase de transição. Melhores dias virão, mas eles não estão e pegar muito bem nas iscas brancas.

Abraço
Paulo karva