sexta-feira, 15 de maio de 2009

O Cabo Partiu...

Não há pesca... Só trabalho e, como se não bastasse, o cabo do ferro partiu (faz de conta)!

Há que remendá-lo, não adianta estarmos a pensar na má sorte e mais não sei o quê. O que importa é resolver.

Os passos que vou descrever, vêm ao encontro de uma solicitação feita por aqui e sou sincero... Qualquer marinheiro ou pescador profissional, homens que fazem isto de olhos fechados com preparações mínimas, se por aqui passarem, vão achar que me dou a trabalhos escusados. A verdade é que o faço com a intenção de facilitar um conjunto de manobras que, parecendo simples à primeira vista, na prática, complicam-se um pouco, parecendo-me que um conjunto de preliminares poderão facilitar o acto até ao seu final (a língua portuguesa tem umas ratoeiras...). Consideremos então, em primeiro lugar, os preliminares, tendo em conta que tudo o que realizarmos numa das pontas partidas se aplica também à outra.

Material:

Uma faca bem afiada, um rolo de uma qualquer fita gomada, alguns pedaços de multifilamento ou fio fino vulgar e um isqueiro.

Retira-se um pouco de fita gomada e enrola-se em torno do cabo, procurando uma zona onde este se mostre inteiro e com o entrançado original intacto.

Eliminam-se as pontas em más condições, cortando-as junto ou na zona onde a fita gomada se encontra, tendo o cuidado de deixar alguma fita a suster as pontas que se soltariam se não estivessem sujeitas à pressão desta.

Queimam-se as pontas, ainda com a fita a envolvê-las.

Retiram-se as fitas, verificando-se que as pontas estão rijas e unidas pelo calor aplicado.

Retiradas as fitas, corta-se um pedaço do fio escolhido e executa-se um nó apertado, para aí a uns 10cm de cada ponta.


O nó acima, servirá de travamento ao passo seguinte que consiste na separação dos ramos que formam o entrançado do nosso cabo, neste caso, constituído por 4 ramos, havendo também cabos de 3 ramos, para os quais o procedimento é igual.
Os ramos separam-se em cruz até atingirem o travamento executado.
Na imagem seguinte, podemos verificar o trabalho até agora descrito, executado em ambas as pontas.

Estamos em condições de estabelecer o primeiro contacto para início da ligação após preliminares.
Os ramos de cada ponta entrecruzam-se como se de dedos das mãos se tratassem quando as cruzamos, assegurando que cada ramo de cada ponta se encaixe entre dois ramos da outra, sendo o final do encaixe os travamentos efectuados com o fio suplementar.
São chegados os momentos mais sensíveis desta ligação!
A partir deste momento teremos os ramos activos e os passivos, sendo os activos aqueles que iniciam o entrançado na ponta do cabo oposta e os passivos os que ficarão pendurados ao longo do cabo e agarrados na nossa mão menos dextra.
Então o que vai acontecer a partir daqui?
Escolhemos qualquer um dos ramos activos e fazemos com que passe para além do fio branco de travamento, sobre o ramo oposto que lhe está encostado e por baixo do seguinte, sendo para tal necessário criar um afastamento entre os últimos ramos referidos o que se pode verificar pelo trabalho do dedo polegar, na foto seguinte.
Olhando atentamente para a imagem abaixo, pode ver-se a ponta do ramo que vai ser introduzida na abertura criada pelo polegar, assim como as posições dos ramos, para esta primeira ligação, conforme anteriormente foram referidas.

A operação anterior vai repetir-se com cada um dos quatro ramos que serão entrançados da mesma forma, um de cada vez, respeitando sempre a passagem por cima do ramo que lhes está encostado, a passagem por baixo do ramo seguinte e a saída para fora em cada volta de entrançado que se completa em cada vez que se entrançam os quatro ramos, ganhando o formato que se vê na foto seguinte, ao fim de algumas voltas de entrançado.
Após três ou quatro passagens dos ramos que devem ser esticados em cada entrada que fazem; repito, por cima do oposto encostado e por baixo do seguinte; deveremos rolar o cabo nas mãos, aplicando-lhe alguma pressão de forma a manter a regularidade das distâncias no entrançado.
A foto abaixo mostra o momento em que se encontra terminado o entrançado da primeira ponta, com ramos activos, no corpo do cabo acima da ponta em que os ramos estiveram passivos.
Entrançada a primeira ponta no corpo do cabo oposto, há que entrançar a segunda, cujos ramos aguardaram pela sua vez de trabalhar no corpo do cabo cuja ponta esteve em acção. Os fios brancos de travamento tendo cumprido a função inicial de formarem uma zona compacta de encosto evitando que os cabos se continuassem a desentrançar com o trabalho, devido a uma das pontas já estar entrançada podem ser removidos, o que se vê fazer na foto seguinte.

Nesta fase, agarra-se na primeira costura, nome mais utilizado para este entrançado, e, continua-se o trabalho de passar cada ramo sobre o seu oposto encostado e por baixo do seguinte, mantendo a sucessão de passos já efectuados, tornando-se agora mais fácil devido aos ramos já estarem presos em cada intervalo que lhes compete.
A foto que se segue, permite observar, de forma que me parece mais consistente, a tal passagem do ramo activo sobre o oposto a ele encostado e por baixo do seguinte.

Terminada a segunda costura, ambas ficam ligadas numa única que colocaremos no chão e faremos rolar com o pé, aplicando-lhe alguma pressão com o objectivo de que fique mais homogénea quanto ao encosto de todos os ramos entrançados ou costurados.

Aqui se apresenta o trabalho terminado, sendo que ainda poderemos encurtar e queimar melhor as pontas dos ramos que sobraram de cada lado da costura.
Este entrançado ou costura pode ser feito com cabos de medidas diferentes e até de texturas diferentes, devendo o comprimento das costuras ser adequado a estas variações.
Na altura em que tive oportunidade de fazer o nó com a presença de fotógrafo, não tinha cabos de côr diferente, o que poderia ser uma mais valia nesta exposição. Paciência...
Espero sinceramente que isto vos sirva, já que o fim de semana tem organização de provas de vela em vez de pesca, mas... Trabalho é trabalho e... O resto há-de vir.
Um agradecimento ao fotógrafo, o meu amigo João Martins que como sempre está a postos quando solicitado.
Uma boa noite a todos os leitores.
PS: Sei que este não é muito o meu estilo... Falta mais conversa e talvez entusiasmo, mas a disponibilidade não deu para mais.

12 comentários:

Anónimo disse...

Viva Ernesto
É um prazer poder dar apoio (mesmo que pequenino!) a alguém que nos oferece horas agradáveis de leitura no blogue e de convívio no Makaira e em terra
Pesca e mais Pesca!
Quanto ao nó... não é dos mais fáceis de executar e muito menos de explicar...
Mas como dizem nos concursos de tv, "a prova foi conseguida", como sempre!
Vamos falando e que tudo corra bem nas actividades do momento

João Martins
.

Anónimo disse...

sim senhora temos mestre a bordo.
se precisares de posso te fornecer muitos nós.
um abraço

Anónimo disse...

Olá Ernesto

Em primeiro lugar, agradeço o tempo, dedicação e empenho a esta minha anterior solicitação.
Tirando a mais valia dos chicotes de cores diferentes, a explicação, que não é fácil, está bastante detalhada e completa. Resta-me agora experimentar e por em prática estes procedimentos. Espero em breve divulgar aqui os resultados.
Relativamente à "aula" de interpretação da sonda, e apesar de só levar a minha embarcação para Sines em meados de Junho, estou disponível para quando o Ernesto assim puder e querer...
A lamentar, a ausência de relato de pesca desta semana...por falta de comparência da "equipa da casa".Eh eh eh.
Ao professor e fotografo um grande bem hajam.

Um grande abraço

Paulo Benjamim

Anónimo disse...

Ora aí está!

Quem tinha duvidas, deixou de as ter. AGORA É PRATICAR!

Grande Ernesto sempre a postos para o que der e vier!

Da Caparica, aquele abraço!

Paulo karva disse...

Viva Ernesto

Bela aula, bem reportada fotográficamente, embora o Joâo Martins diga que o nó "não é dos mais fáceis de executar" o relato está bem ilustrado e até parece fácil de fazer.

Agora, haja Pesca!

Abraço
Paulo karva

Ernesto Lima disse...

Viva Pessoal!

Grato pelos comentários!

Esta costura, implicava cabos de côr diferente para melhor se entenderem as voltas a dar. Espero, no entanto, que dê para perceber.

Só a Vossa prática o dirá, sendo que para retirar dúvidas é só dizerem alguma coisa que com a brevidade possível, tentarei expôr melhor os movimentos necessários.

Quanto ao companheiro anônimo que se prestou a avançar com nós, todos são bem vindos!

Se o entender, sugira uma forma de nos conhecermos e conversamos sobre o assunto.

Abraço

Ernesto

Anónimo disse...

Amigo Ernesto, hoje tive o prazer de (quase) o conhecer. Eu era aquele "tótó" que viu o mestre, entusiasmou-se e não conseguiu por o barco no lugar à primeira. Mais uma vez mostrou o seu altruísmo, numa situação em que qualquer um ficaria a gozar o momento, o Ernesto disponibilizou-se para ajuda. E isso diz tudo de si. Muito obrigado, continue sempre assim.
Abraço
João Carlos Silva

Ernesto Lima disse...

Viva João Carlos Silva!

Não sou capaz de gozar ou brincar com quer quer que seja quando vejo que possa estar em dificuldades. Ninguém nasce ensinado.

Para além disso aquela direcção do seu barco pareceu-me um bocado rija e dificulta a manobra.

Agora essa do Mestre e não ter aproveitado para conversarmos é que não lhe perdoo (maneira de falar claro).

O que quero dizer é:

Então conversamos na virtualidade e na realidade não...

Oh homem... Se não me quisesse relacionar com as pessoas, não vinha para aqui falar fosse do que fosse.

Bom... Para a próxima espero bem que conversemos, senão aí é que fico preocupado.

Um abraço

Ernesto

Anónimo disse...

Ernesto, aquilo eram 4problemas: a direcção é realmente muitíssimo rija; o lugar é muito apertado e o vizinho bem largo; o hábito a um barco com aquelas condições é quase zero e a assistência era de peso... Então homem, já ia atrasado com o esquecimento da água e ainda o ia prender mais? Havemos de nos encontrar mais e boas vezes, tenho a certeza. E está combinado, para a próxima metemos a conversa em dia. Obrigado, um abraço
João

Ernesto Lima disse...

Viva João Silva!

Tirando a "assitência de peso" e o "atrasado por causa da água" que só se justificaria se tivesse alguém à minha espera, tudo o resto é compreensível!

Na próxima vez a coisa compôe-se!

Abraço

Ernesto

Rebolo disse...

Boas Ernesto,
Lá fui eu experimentar fazer o referido nó de união que aqui apresentas.
A coisa não correu tão bem como esperava, ficou feito mas com um aspecto diferente daquele que aqui apresentas.
No meu caso uni um cabo mais grosso com outro mais fino e a coisa ainda se complicou mais.
A ver se um dia destes me podes ensinar este nó pessoalmente.
Só espero que caso o ferro prenda o cabo não ceda por ali,embora depois tenha prendido o cabo e fiz bastante força e ele não cedeu.
Abraço

Ernesto Lima disse...

Viva Tiago!

Grato pelo comentário!

Já nem me lembrava que tinha escrito isto! Lololol

Ver como se faz em formato escrito, mesmo com fotos e a mesma coisa ao vivo e a cores, será sempre diferente.

De qualquer modo, mesmo que tenha havido algum engano, estes entrançados costumam suportar.

Quando quiseres, aparece lá no Nuno com duas pontas de cabo da mesma dimensão ou de dimensões diferentes que fazemos isso. No Problemo!

Abraço