segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Pescar...


Pescar... O que é?
O que quisermos que seja, é talvez a resposta que me parece a mais adequada!?

De barco, por terra, no mar, em águas interiores... Nas suas várias vertentes e técnicas... Não interessa! Importa de facto, pescar! Viver a Pesca da forma que mais nos agrade, segundo as possibilidades e condicionalismos da vida que nos permite... Pescar!
O acto em si, parece monótono... Iscar, lançar, sentir, perder, repetir... Ou, ferrar, lutar, subir o peixe e tentar de novo!

Visto assim, parece não ter grande piada mas, quando enquadramos o acto no meio em que se realiza, a solo ou com amigos; quando contemplamos os elementos naturais envolventes, percebendo ou tentando perceber o que cada gesto, cada sinal, podem significar; quando percebemos ou tentamos perceber o que cada material, posicionamento pedonal ou em embarcação, nos podem trazer de positivo ou negativo para a pesca que realizamos; quando conseguimos pescar em equipa, trocar impressões sem pensar em ser melhor que outro mas em aprender com ele, independentemente do suposto nível que possa evidenciar; e, se ainda conseguimos acabar uma jornada de pesca, sentar à mesa e, frente a um delicioso manjar, por nós capturado há para aí uma hora ou duas, analisar e concluir sobre o dia... Então pescar; parece algo que pode transcender significativamente o acto em si. Já para não falar do que nos pode enriquecer quando transpomos para a vida tais comportamentos. Se é que a vida e forma de estar de cada um, não influirão, com algum peso, a nossa forma de estar na pesca? Parece-me que sim!?

"Ah Bom!!! Olha para ele, para aqui com ideias de pesca e não sei quê... Ou apanhaste raspas, ou se não, mostra lá mas é o peixinho"!!! Poderão comentar alguns leitores!?

A verdade, no entanto, é que estas últimas três jornadas trouxeram-me tanto gozo que me apetece partilhá-lo, quer com os meus companheiros de pesca, quer com aqueles de vós a quem tal interesse. Vamos em frente!

As condições climatéricas indicavam que as passadas Quinta, Sexta e talvez Sábado, permitiriam boas saídas e, quem sabe, capturas a condizer. Importante, no entanto, era ir!
Estando lá, preparando, saindo para o mar e pescando, tudo estava em aberto. Mais que não fosse, a antecipação do que poderia acontecer já me alimentava a alma.

Quarta Feira, fim de tarde calmo, temperatura amena, chegada a Sines seguida de transporte de materiais, roupas e comida para o barco. Preparação deste e montagem de canas para o dia seguinte; tudo precedido do abandono do relógio em local longínquo. Excelente!!!

Trabalho feito, rabinho lavado e ala para o Zé Beicinho procurar as "sopas"... Um queijinho; umas azeitonas; uma saladinha de chocos com tinta, acabada de fazer; vinho da casa (Pias); tudo já na companhia do meu amigo Zeca, companheiro de sempre lá por aqueles lados e, de última hora, para a jornada de Quinta Feira. Sim... Isto de ter amigos que não se importem de dar uma ajuda nuns arranjos lá pelo barco e de andarem para a pesca em horários das onze e meia... Um quarto para a uma, não é para todos! Pessoalmente, congratulo-me por os ter!

Trabalhos realizados, saída para a pesca por volta da uma da tarde, procura de pesqueiro ali por perto tentando maximizar o tempo útil de pesca e, após as operações iniciais de sondagem e fundeio, vá de pescar!

Sinceramente, esperava mais do pesqueiro, tanto pela época, quanto pelos sinais de sondagem e toques sentidos, mas, entre um ou outro Parguito, um Sargo que tinha a medida certa para ser o meu jantar e a Bica do Zeca que se mostra em seguida...


... Nada mais conseguimos! Mas digam-me lá: quanto vale aquela paisagem da imagem de entrada, tirada durante a volta ao porto, olhando tudo, sentindo tudo... O barco, a esteira, canas, carretos... E o Sol, cujos raios teimavam ainda em espreitar por entre as nuvens deste fim de tarde? Milhões... É o que vos digo!!!
Depois... Bem, depois ainda tinha pela frente o Sargo para degustar, conversa pela noite dentro e... Mais dois dias para pescar, olhando cada momento como se de o último se tratasse. Bom... Adiante!

Os meus amigos Brás e Fernando Soeiro, chegaram por volta das oito, tão cedo... Mas tenhamos bom senso... Eu consigo ir pescando com alguma frequência, eles pescam de vez em quando! Há que ter respeito por isso e proporcionar-lhes o máximo de tempo, o que fiz com todo o gosto!

Procurámos as Douradas em pesqueiros ainda não testados nesta época, mais fundos, mais longe. Os sinais estavam lá, deu-se o fundeio e pesca para a frente.

Três pescadores, características diversas, eu e o Brás procurando as Douradas; o Fernando, procurando o peixe da sua vida! Bonito!

A sardinha e o caranguejo a descerem alternados procurando os bichos; os três pescadores olhando as iscas ou o que delas restava, respectivamente na descida e na subida, tentando perceber o que as teria roubado ou mastigado, trocando resultados, ideias... Dizendo uns aos outros o que se faria em seguida, sempre pendentes das iniciativas de cada um e de todos os resultados a bordo, até à chegada da primeira recompensa... O Fernando com este Requeime que de imediato suscitou o paladar de cada um de nós, atendendo às qualidades gastronómicas de tal exemplar, todas gostosas... Massada, escalado e grelhado, tantas outras! Tão bom que é!


Seguiu-se mais pesca! Os Parguitos e alguns dos seus irmãos mais crescidos entravam espaçados, substituindo aquelas que procurávamos. Paciência... Não entram Douradas, mas os primos não se negam.

Foram entrando espaçados, enquanto o barco circulava em volta do fundeio, fruto duma leve aguagem para Sul e da brisa fraca e inconstante em intensidade e rumo que se fez sentir ao longo de todo o dia.

Certo é que a zona provou ser passeio de Douradas que acabaram por entrar em número de três,  à sardinha e quase seguidas, sendo o melhor exemplar a capturada pelo Brás que abaixo se apresenta!


Eu capturei outras duas, um pouco mais pequenas mas, assim como chegaram, também desapareceram;  mal grado as várias tentativas e a atenção redobrada colocada no acto de sentir e  ferrar,  assim como as alterações contínuas entre iscadas de caranguejo e sardinha, deixando-me a pensar sobre as razões de tal comportamento.
Por um lado, estivemos tanto tempo por ali e nunca entraram; por outro, embora o barco tenha rodado, manteve-se tempo suficiente em cima da zona onde as capturámos para que outras entrassem. Então porque não entraram? Talvez a zona esteja a iniciar-se como zona de concentração, ou talvez não!? Veremos em outros dias!
Entretanto, o Fernando capturava mais um Pargo, também com Caranguejo.


Não parávamos de pescar e a coisa compunha-se com mais um Pargo maiorzito que entrou à minha baixada e que não fotografei na altura, sendo a figura central da composição da pesca final, conforme se pode ver, tirada que foi a foto, antes da saída do pesqueiro, uma vez mais, com o Sol já a fechar portas neste dia pequeno, fruto da Estação do ano que se aproxima e coadjuvado pela mudança de hora.


Não tenham ideias... Pesado o peixe, tínhamos 23 quilos e qualquer coisa, mesmo com o maior exemplar e sem contar com o gelo que se encontra por baixo e de cuja altura é testemunha aquela lata de refrigerante.
Mas digam lá se não é uma pesquita composta!?
O segundo dia já ia a dois terços... Ainda faltava a conversa do costume e uma canjinha de Pombo Bravo que antecederia mais uns quantos, estufados; cortesia de pessoal caçador que param lá pelo Zé e resolveram convidar-nos, a mim e ao Fernando Fontes, companheiro pescador e doente por Pescar!

Obrigado oh pessoal da caça! Um dia destes calha-me a mim dar o peixe e convidar-vos! Não perdem pela demora!

Mas a pesca não acabou por aqui... É que viemos para o porto e o encontro ocasional com o Paulo Benjamim, outro "doente", ainda deu conversa até tarde! Ora digam lá se isto é ou não pesca?
Cá para mim é... E da pesada!!!

Nasceu o terceiro dia, ameaçador, indicando que não pescaríamos até tarde, fruto da mudança de tempo esperada e já com o vento de SW entrado, avisando-nos que o Windguru tinha lá as suas razões. No entanto, a vaga de NW era baixa e espaçada e o tipo de vento assegurava-nos alguma certeza no fundeio, pois a sua costumada precisão, quanto a regularidade e intensidade, parece ser razoavelmente controlável.
Uma coisa era certa... Nada de ir para muito longe e sentidos atentos a mudanças bruscas, aconselhavam-se ao longo de toda a acção.
O que pensava, transmiti aos meus companheiros: o Nuno, o Tó Zé e o João Maria que vinham esbaforidos por pesca, embora este não se apresentasse como o melhor dos dias para colocarmos em prática tudo o que gostaríamos. Logo se veria!?

O pesqueiro escolhido, mostrava bons sinais, embora o fundeio se apresentasse com algumas dificuldades, atendendo a que, pela disposição dos fundos, a deriva do quadrante Norte seria preferível para o fundeio. Com a deriva rápida de SW existente, tornava-se difícil encontrar pedra rija e com altura que permitisse colocar o ferro e fundear a preceito.
Abreviando, no primeiro fundeio a coisa não correu bem!
Primeiro foi a bóia que levanta o ferro, calculo que por nó feito à pressa - má conselheira - se desatou e foi com o vento. Não fora o Paulo Benjamim, a pescar por perto, ter a gentileza de sair do pesqueiro e a recolher, o trabalho de içar ferro mais tarde tornar-se-ia certamente muito mais penoso. Obrigado Paulo!
Logo a seguir o ferro soltou-se do fundo, o barco saiu do pesqueiro e tivemos de reiniciar toda a manobra de fundeio. Desta vez não arrisquei, o tempo de pesca certamente que não seria muito e importava que o utilizássemos da melhor forma. Por tal, passei a pedra rija para Norte, procurando a sua base, pensando que havendo Douradas e provocando-as, elas também apareceriam deste lado e o fundeio seria certamente mais seguro largando o ferro em pedra alta e rija. Assim o fiz e pode dizer-se que, atendendo ao estado do mar, ao tempo de pesca e à nossa vontade de pescar, até que a coisa acabou por não correr mal de todo!?

Os toques iniciaram-se fracos, mas roubando as iscadas alternadas de caranguejo e sardinha. Insistiu-se nesta última, esperando que o peixe ficasse mais agressivo, o que acontecia a espaços, entrando uma Bica aqui, um Parguito ali, animando os pescadores e promovendo maior atenção na acção de pesca, enquanto o SW ia aumentando, dificultando o sentir e até a ferragem no momento certo.

A pesca desenrolou-se desta forma, sendo que os peixes que se capturavam não excediam o tamanho da Bica que o Nuno aqui mostra.


Ou desta, capturada pelo Tó Zé:


Então, numa luta conhecida, eis que o João Maria tira a primeira Dourada, daquelas de dose. O entusiasmo aumenta com o Tó Zé a tirar mais um Parguito, acrescido com a perspectiva de entrarem mais primas. E entraram... Cabendo-me o maior exemplar. Esta que vos apresento!


No total saíram seis, antes que o aumento do vento e do cachão por ele criado nos indicasse que era hora de içar ferro e procurar a calma do porto, atendendo ao desconforto instalado que, não sendo perigoso, não contribuía para a continuidade do gosto por pescar e isso era coisa que nenhum de nós queria... Perder tal gosto!

Chegámos calmamente ao porto, por volta das 15.00 horas e a pesca continuou quando o Tó Zé pronunciou as palavras mágicas: "Olhem lá... E se tirássemos uns peixes, falássemos com o Zé Beicinho e fôssemos fazer um lanche ajantarado?"
A proposta foi aprovada por unanimidade (até parece que era difícil...), tratámos do barco, arrumámos tudo, arranjámos a Dourada grande e andámos para o Zé Beicinho, não sem antes lhe telefonar para lhe dar notícia das nossas intenções e saber se tal era possível. Tragam isso! Respondeu de imediato. Ou não fosse também pescador e não lhe desse um gozo danado aproveitar aquelas horas mais mortas para tratar de tal petisco e participar das conversas.

O bicho foi entregue e a mesa posta! A conversa fluiu e chegou o momento solene: a travessa com o petisco devidamente assado e escalado com coentrinho, alho e as batatas!? Huuuummmm...


O pormenor objecto da nossa pesca e motivo de aumento da salivação:


Os alegres comensais, com ar de quem pensa: tira lá a foto depressa que temos de comer e conversar, pois amanhã é Domingo e na Segunda pouco tempo teremos para nos lembrarmos disto.


O petisco, estava delicioso; a companhia, excelente; a conversa de topo... Como passam rápido estes momentos de pesca!?

Agora digam lá: Será que a pesca acabou quando as baixadas saíram por completo da água, ou quando, com pesar, nos despedimos com um "até à próxima"?

E os momentos que aqui passo a falar convosco... Será que também terão algo a ver com o assunto?

Deixo-vos com o relato, a reflexão, as perguntas... Esperando contribuir para a ocupação de algum do Vosso tempo livre e desejando que tenham uma boa semana.

Boa noite a todos os leitores

13 comentários:

António Vinha disse...

Olá Ernesto

- Não a pesca não acabou quando as pescas sairam da água assim como espero que não tenha acabado quando acabámos de saborear a mágnifica dourada.

- Jornadas de pesca boas, não são só aquelas que dão peixe, são também as que dão são convivio, e ao mesmo tempo alimentam a amizade.

Obrigado Ernesto
TóZe (Évora)

Marco Aurélio disse...

boas Ernesto
mas que rica geleira composta quase só por vermelho.

boas pescarias

João Martins disse...

Ora viva, Ernesto
Desta vez tivemos que esperar pouco pelas notícias!
Para os mais incrédulos (ainda haverão?...) este documento ilustra na quase perfeição (perfeição é lá estar... hehehe) o que são as magníficas jornadas de pesca em Sines
Até já tenho saudades do Makaira!

Abraço JM
.

Unknown disse...

Dos melhores momentos na pesca é o almoço a bordo. E quando se chega a terra é altura se houver tempo para isso de ir molhar a garganta e o pessoal ver o que se passou de bom ou de mal. Agora 3 dias seguidos de pesca é que dão cabo do pessoal que só para o mês que vem é que lá vai. Isso não se faz!

Rebolo disse...

Boas Ernesto. mais uma arca com uma cor tão bonita.
Parabéns pela pescaria, para variar:)
Também concordo que a pesca não acaba ai, pelo menos para alguns de nós, que tanto gozo têm em contar e recordar os momentos passados.
Continuação de boa semana.
Forte Abraço

Anónimo disse...

Olá Ernesto

Palavras para que ! Foi tudo como descreveu se Neptuno não estivesse um pouco enfadado até o Makaira vinha mais muito mais pesado , mas o toque final foi a Mestre , custamos a dar conta da Dourada e não ficamos a olhar uns para os outros mas sim Fartinhos .

Mas como na caça , a pesca é feita de momentos inesqueciveis e as capturas fica em outro nivel , mas gustei muito de pescar aquela Bica , deu luta

Abraço Nuno MIra

Anónimo disse...

Ora viva bom dia, "mestre" Ernesto,

É sempre, para mim, um imenso prazer poder privar com o meu amigo, quer seja em conversas técnicas quer seja em jantares técnicos, como muito propriamente o amigo João Martins os classifica, quer seja em ação de pesca, ou ainda como neste caso a ler os seus relatos, ainda mais porque posso, de alguma forma, acompanhar de perto alguns deles, só isto já é bastante para reconfortar a alma de pescador que há cá dentro, ou melhor são o comprimido para esta minha "doença" de pesca(hehehe).

Um grande abraço,

Fernando Fontes

Anónimo disse...

Viva pessoal!
Eu também acho que a pesca não é só o acto de pescar. Para mim divide-se em três partes:
1) O antes - onde se espalham os materiais e se fazem 2 ou 3 baixadas e se sonha com os peixes do dia a seguir...;
2) A pesca em si - (que começa às 7 horas à espera que os pastéis de nada saiam do forno, se bebe o café com toda a calma do mundo, seguido de uma passagem pela lota para arranjar isca e ver aquele peixe todo, se fala com um e outro, só porque sim, seguido da ida à marina para aquecer o motor e montar tudo) onde se apanham, ou nem por isso!, os peixes e onde se comem os patéis, as bifanas e a tal cerveja gelada e onde se sonda, fundeia, se pesca e pensa como vai ser;
3) Pós pesca - que começa com a lavagem do barco, arrumação, amanho do peixe, banhito e as tais bebidas frescas e a comida divina que nos solta a língua e nos obriga a falar de pesca até mais não.
Isto é um dia de pesca, onde muitas vezes, o ponto 2 é o menos importante (embora todos nós gostemos de apanhar peixe!!!) e o que dura menos tempo.
Por isto tudo: Ernesto, estou contigo! Sou dos teus!
Ah, sobre a pesca os meus sinceros parabéns.
Sobre os dias, a minha INVEJA, por não ter estado lá.
Um abraço
João Carlos Silva

Fishbone Shirts disse...

Gosto sempre muito do que aqui leio e vejo!

Abraço
Fishbone Shirts

Ernesto Lima disse...

Viva Fishbone!

Grato pelo comentário!

Abraço

Fernando Encarnação disse...

Viva Ernesto.

Pescar é tudo isso...

Dizer mais o que?

Bom pesca como já nos habituaste.

A pesca não é só apanhar peixe, é partilhar esses momentos só ou acompanhado e levar para o almoço ou jantar a continuação da jornada...

...gastronómica.

Grande abraço

Ernesto Lima disse...

Viva Fernando!

Grato pelo comentário!

Nem mais!

Pescar e só pensar na acção em si, parece-me curto, com tanto que se pode desfrutar em volta.

Abraço

Ernesto

Ernesto Lima disse...

A todos agradeço os comentários!

Abraço

Ernesto