Muito trabalho, pouca pesca e alguma manutenção extraordinária do barco, têm-me arredado aqui deste outro vício. Com algum sofrimento, é verdade, mas a vida é o que é, não nos permitindo, por vezes, dar atenção ao que mais gostamos.
Mas cá estou eu, neste feriado em casa, a tentar cumprir com o prometido no que respeita a este tipo de pesca, falando alto sobre o que já vi, li, experimentei, e continuo a experimentar, nesta área da pesca lúdica embarcada.
Ao pretendermos iniciar-nos neste tipo de pesca teremos que ter em conta um conjunto de variáveis enorme que condicionará o tipo de material a adquirir e muitos dos conceitos que anteriormente desenvolvemos enquanto pescadores de fundo em embarcação fundeada. Assim vejamos:
- Deixamos de apresentar ao peixe, comida verdadeira cujo formato, cheiro e apresentação, só por si, constituem pontos de interesse suficientes para o ataque esperado, com o mesmo objectivo: o ataque! Em alternativa, apresentamos-lhe algo que através de cor, reflexos e movimentos imprimidos, supostamente surtirá o efeito pretendido.
- O barco já não vai estar fundeado, mas sim à deriva sobre os locais pretendidos, implicando o conhecimento aprofundado destes e do tipo de leituras de fundo que supostamente se apresentam como mais favoráveis, assim como, o controlo sobre a velocidade da deriva imposta pelas correntes e ventos dum determinado dia.
- Será da nossa inteira responsabilidade a escolha de materiais (canas, carretos, amostras, decorações, montagens...,); tendo em conta os formatos, cores e pesos das amostras; as profundidades em que estamos a pescar; o estado do tempo e do mar; e, os movimentos que queremos imprimir, por acharmos serem estes os mais adequados à provocação daquele ataque brutal que pretendemos.
O movimento:
Os peixes, atendendo ao ambiente hiperbárico em que se movimentam e para o qual estão perfeitamente adaptados, movimentam-se normalmente em velocidades regulares, mais lentas, ou mais rápidas, dependendo da espécie, só alterando a regularidade destas velocidades, ou os comportamentos, para: comer, fugir, procriar ou, caso estejam feridos ou doentes. A manutenção dos movimentos regulares referidos, quer de presas quer de predadores, assentam em objectivos relacionados com a economia de energia.
No caso dos predadores, na sua constante procura de comida, a relação entre o gasto energético e as calorias conseguidas é uma lei inalterável, indicando que uma presa que fuja e pare, de forma constante e irregular, ou que evidencie comportamentos desequilibrados e fora do normal, alternados com os anteriores, despertará com facilidade o interesse de qualquer predador, atendendo a que se apresentará como uma presa fácil, cumprindo assim os requisitos para o ataque que se pretende, caso a desconfiança não se instale por razões que não controlamos.
Estes acontecimentos podem dar-se em toda a coluna de água, em qualquer profundidade, dependendo da existência de actividade que pode ser verificada pela sonda ou por sinais à superfície.
No primeiro caso, a sonda mostrará, de preferência, bolas de comedia espalhada por baixo, acima do fundo e eventualmente com uns pontinhos vermelhos no meio e à volta dela. No segundo caso, os sinais serão peixe a fugir à superfície, bandos de aves sobre estes, não sendo raro os golfinhos estarem a comer em cima e pargos a comer por baixo, mesmo em profundidades relativamente importantes.
Assim, chegados ao local, verificado o interesse deste, devido aos sinais fornecidos, há que determinar o sentido da deriva, dirigir a embarcação no sentido contrário, para um ponto para além daquele onde detectámos a comedia. Neste ponto, largaremos as amostras procurando a profundidade adequada e começando a imprimir-lhes os movimentos necessários:
- O movimento de fuga poderá ser feito através do enrolamento mais ou menos rápido e irregular da linha ou, pela elevação ampla duma cana de 3,00 ou mais metros.
- Os movimentos de desiquilíbrio, poderão ser feitos por enrolamentos curtos com a cana elevada, seguidos pelo baixar e elevar irregular da mesma ou de outras formas que cada pescador poderá testar, por exemplo, movimentando a amostra à superfície e vendo o comportamento desta.
- Poderão ainda ser feitos movimentos de cana e carreto que englobem os dois anteriores.
As amostras:
Quem pretender dedicar-se a esta pesca, deverá, ao adquirir amostras, ter em conta que:
- Não pode, não deve e não vai conseguir comprar ou usar tudo o que o mercado lhe oferece, mesmo que vá muitas vezes ao mar
- O movimento é imprimido pelo pescador, logo, mesmo uma amostra que não tenha um grande comportamento, essa característica poderá ser contrabalançada pelos movimentos que o pescador lhe imprima.
- Cada amostra poderá ser decorada (artilhada) de várias formas, para além do seu formato inicial.
- Qualquer amostra em qualquer dia, poderá resultar mesmo quando já a pusémos de parte.
- É conveniente ter algumas amostras de cores e formatos variados, tendo o cuidado de levar para o mar duas de cada tipo, para o caso de perder uma que está a resultar.
- Os anteriores pontos não pretendem ser limitação à aquisição de novos materiais já testados com bons resultados, mas, a amostra perfeita, não me parece que exista e as variáveis são tantas que devemos testar bem o que já temos antes de embarcar em toda a publicidade que nos é fornecida.
Este conjunto apresenta cores formatos e consequentes capacidades de movimentação que, aliadas às decorações que se podem diversificar, formam um grupo equilibrado, considerando as regras a cumprir no que respeita às escolhas de amostras a utilizar, tendo em conta as cores e luminosidades do mar e do ar, em determinado dia.
Segundo a maioria dos entendidos, as regras, de forma um pouco simplista, são:
- Água clara e dia claro, amostras claras. Água escura e dia escuro, amostras escuras.
- Imitações de alguns peixes (cavala, sardinha, peixe piça...,), tendencialmente funcionam bem.
- Caso as regras anteriores não funcionem, as amostras contrastantes com as cores da água do mar e do ar, muitas vezes com cores e formatos que nos parecem estapafúrdios, são por vezes as que funcionam.
O que é certo é que as cinco amostras que vos apresento, todas apanharam peixe ao longo de um dia, do qual eu contarei a história, lá mais para a frente, porque não me vou esquecer dele nunca mais, por razões que compreenderão.
Claro que se estivermos vários pescadores com amostras diferentes e com montagens como aquela do "Pargo do meu contentamento", as hipóteses de encontrar a amostra e/ou montagem certa, para a hora e dia em que estivermos, aumentam significativamente.
Relativamente a este tema, eventualmente intervalando com alguma pescaria que por aí apareça, penso colocar três entradas, pela ordem seguinte:
- Pesca à Zagaia - Canas, Linhas e Carretos - onde serão justificadas várias opções.
- Pesca à Zagaia - As decorações nas amostras - funções e materiais.
- Pesca à Zagaia - Uma história para rir ou talvez não!
Um abraço a todos os leitores.
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