domingo, 10 de fevereiro de 2008

Histórias... Pouco contadas!

Bonito Pôr do Sol! Belo mar! Boa cana ainda a pescar!
A calma e os elementos reveladores da actividade! O mar! A cana! As horas em que ainda lá se estava! E o que aconteceu ao longo do dia? Terá sido tão calmo quanto a imagem? Não, não foi!
Na última vez que fui, tinha decidido mudar de pesqueiros, deslocando-me mais para fora, já que todos os sinais têm indicado que os maiores exemplares estarão em digressão para locais com maior profundidade.
Este fim de semana fui na Sexta, já tarde, mas ainda fui pescar, tendo capturado três Sargos, uma Dourada e um Pargo, tudo entre o quilo e o quilo e meio, isto entre as quatro e meia e as seis da tarde, num mar calmo, à paciência, sempre devolvendo os "pequenos" ao mar, ali muito perto dos molhes do porto de Sines.
As perspectivas estavam todas sediadas no Sábado! Na procura! Na mudança! Cheirando sempre a captura de maiores!
Combinámos tudo, ao jantar, eu e o Zeca! As iscas! As horas! Os pormenores! E fomos sonhar, com os contornos do fundo, as comedias e as formas como os predadores se movimentarão em torno destas, aguardando a sua oportunidade, tentando nós perceber como lhes oferecer manjares suculentos e mais fáceis de consumir que os que lhes são habituiais.
Saímos de manhã, não muito cedo e dirigimo-nos a um pesqueiro com provas já dadas em épocas anteriores, mas onde, devido à configuração dos pontões de pedra que o constituem, a manobra de fundear é extremamente sensível, raramente se conseguindo fazê-lo à primeira, com garantias aceitáveis de ficar no melhor local, sem que o ferro se perca ou vá à garra.
O vento E/SE era fraco a moderado, o mar estava calmo, percebeu-se que não existia aguagem, mas, a direcção em que soprava não era a melhor, já que teríamos de fundear em paralelo com os pontões que se orientam na mesma direcção e que, caindo em alcantilado na sua zona mais produtiva, caso o fundeio não se faça com alguma certeza, cria situações de pescarmos ora a 50 ora a 80 metros, dependendo dos desvios que o vento provoca no barco. Isto, por ser esse o desnível existente entre o fundo e o cimo destes pontões. Imaginem os leitores, o que se pode esperar desta configuração!? Uma maluquice! Principalmente, depois de já termos sondado e verificado a quantidade e a forma reveladas pelos sentidos figurados da sonda! Estávamos em brasa!
O primeiro fundeio deixou-nos mais afastados do que gostaríamos, mas tentámos na mesma! As iscas iam e vinham, primeiro intocadas, depois com pequenas mordidas, tornando ao estado de intactas! A coisa não estava a correr bem! "Bora" Zeca! Vamos fazer outra emposta!
Içámos o ferro e vá de sondar! Vá de alinhar! Vá de largar! Mais uma tentativa e repete-se o insucesso da primeira, ao contrário! Demos demais para cima da pedra e agora estamos em cima do bico! Dias há em que é de tentar cá em cima, mas a leitura da sonda não mostrava que o peixe andasse por ali.
Outra vez! Manobra de levantar ferro! Proa para Bombordo da bóia que o levanta! Navegar até que chegue à bóia e lá fique preso! Voltar para trás, recolhendo o cabo! Manobra esta feita centenas de vezes! Mas, alguma vontade de ser mais rápido! Excesso de confiança! Ajuda do vento... e, sem querer cansar-vos com mais detalhes, cabo do ferro trancado no hélice! Já estamos lixados! Comentei com o Zeca! Ficámos com cabo por um lado, ferro e bóia do outro e tudo ligado por baixo do barco! À volta do hélice! Bonito!!!
Avaliámos a situação!
O motor é interior, a transmissão feita por linha de veio, sendo que, qualquer operação a realizar junto ao hélice, implicará subir o barco a seco ou mergulhar debaixo deste! A coisa estava feia! Ainda bem que estávamos afastados de terra e o vento levava para fora! O contrário teria forçosamente de originar reacções mais rápidas, como por exemplo, cortar o cabo cá em cima, amarrar o outro ferro e fundear rapidamente! Não era o caso!
O tempo estava bom! O barco derivava para fora, tocado a vento! Havia tempo para tudo! Excepto para pescar!
Fui buscar o fato de caça submarina que sempre se encontra a bordo, prevendo situações deste tipo, vesti-o! Coloquei barbatanas, cinto de chumbos, óculos e respirador, pensando para comigo: que raio de maneira de relembrar os tempos de caça submarina!
Pedi ao Zeca que preparasse um cabo para me lançar, não fora acontecer que, por qualquer imprevisto, me largasse do barco e não o conseguisse tornar a agarrar, devido ao vento que, não sendo muito, seria o suficiente para criar uma situação deste tipo, e lá fui para baixo do barco, medir as acções a tomar!
Ao primeiro mergulho, pareceu-me ser fácil desenrolar o cabo sem o cortar, mas, após algumas voltas tiradas, concluí que teria de o cortar e emendá-lo posteriormente, o que fiz de imediato, não sem que tivesse de realizar meia dúzia de mergulhos!
Terminada a tarefa, emendei o cabo e olhei para as horas! Era uma e tal da tarde, estávamos fartos de trabalhar, cheios de fome e sem um peixe a bordo, mas felizes! Eu tinha feito "burrada"! Da grossa! O Zeca tinha um dedo um bocado dorido, derivado de o cabo lhe ter escapado da mão quando se enrolou no hélice, mas, o problema estava ultrapassado, o petisco estava a bordo a olhar para nós e a rir-se! E, devido ao adiantado da hora e a tudo o que já se tinha passado, o que viesse de peixe era bem vindo! Já não esperávamos nada! Só queríamos um resto de dia calmo e sossegado! São assim as prioridades!
Fundeámos outra vez, mais ou menos bem, na mesma zona! Pusemos as canas a pescar nos caneiros e fomos comer! Calmamente! Deliciando-nos com cada bocado de carne frita à alentejana e com cada golo de cerveja que passava pelos "garganetes" e o peixe sem picar, lá nas canas! Vai-se ver também está a almoçar, pensei eu, sem me aperceber que as iscas que lá estavam em baixo, supostamente também deveriam ser parte da sua alimentação; o que pelos vistos não era verdade!
O tempo passou! O almoço terminou! O peixe não comeu e claro, não ficou! Levantámos ferro outra vez, com a mesma manobra, pensada, como normalmente o é! Excepto aquela anterior que nos tomou uma parte importante do nosso dia de pesca, mas não o gozo de um dia no mar!
O tempo que sobrava, já não permitia grandes procuras! Lembrei-me dos Sargos do dia anterior e fomos para lá ver se apanhávamos o jantar, sem intenções de, caso não desse, tornar a mudar para outro local que não o nosso lugar vazio lá do porto de recreio.

E a coisa funcionou! Nem muito, nem pouco! Apenas o suficiente!
Algumas Sarguetas e Sargos de bom porte, como aquele que o Zeca mostra na foto acima, não muitos, mas os necessários para nos limparem a alma, relativamente aos acontecimentos do dia!
Eu fiquei-me pelos mais pequenos, assumindo o castigo merecido pela falta de cuidado que tendo sido resolvida, sem dúvida, poderia ter trazido outros problemas em outra qualquer situação!
A foto de abertura é reveladora de mais um dia diferente, representando para mim, a calma e a contemplação, muitas vezes necessárias, para que as acções, num dia de pesca de mar e em muitas outras situações das nossas vidas, decorram como esperado ou se resolvam quando o não são!
Boa noite!

6 comentários:

MR disse...

Pois é, são imprevistos que acontecem, gostei mais uma vez do relato, vou lendo e aprendendo, porque de embarcada não percebo nada, nunca fiz. boas continuações de pescarias e venham dai esses relatos.

Miguel Reis

Ricardo Silva disse...

Viva Ernesto!

Achei este último artigo muito importante!

Relembra-nos que quando vamos à pesca há muita coisa que tem que funcionar correctamente para além da própria pesca em si, e como devemos estar preparados para lidar com falhas.

Sim, porque se isto pode acontecer a alguém com uma experiência destas quem sou eu para acreditar que não me poderá acontecer a mim...

Grande Abraço!

Ricardo Silva

Anónimo disse...

Olá Ernesto.
Então este fim de semana a coisa esteve um pouco complicada? Foste posto á prova pelos Deuses dos Mares, mas no fim o importante foi que a situação foi controlada e resolvida e no final do dia até acabaram por apanhar uns bons peixes. Melhores Marés viram.

Abraço
Paulo karva

Anónimo disse...

Viva Ernesto!

Enfim, um dia de pesca para relembrar como uma experiência que não queremos que aconteça, mas que por alguma razão nos acontecem!

Mas são estas experiências que fazem com que o ser humano se torne mais astuto e mais apto a resolve-las. A vida é uma experiência e por vezes somos postos a prova.

O importante é Viver e sentir que somos capazes de resolver e aprender com as nossas lides. E continuar a desfrutar deste maravilhoso desporto que é a Pesca.


Um Abraço

Rui Viegas

Anónimo disse...

Caro Ernesto, a mim aconteceu-me o mesmo ha 15 dias com o cabo no elice do mergus. Valeu o Edgar para dar reboque!
Quando assim for é para isso que servem os telemoveis e os companheiros da faina!
Um abraço
Eduardo / Edgar

Ernesto Lima disse...

Viva pessoal!

Grato pelos Vossos comentários!

Há que contar as más experiências! Poderão ser tão didácticas quanto as boas!

Quanto ao pessoal do "Mercus" e do "Vem Daí", grato pelo apoio e solidariedade! Contem comigo para o que for necessário!

Abraço a todos!

Ernesto!