segunda-feira, 3 de março de 2008

O Pargo e o Peixe Piça!

Até que enfim! Já estava a desesperar!
Chuva e mais chuva! Vento e mais vento! Faz falta, eu sei! Mas, aquela pontinha de egoísmo, tipicamente humana, faz-nos esquecer a necessidade destas variações que vão assegurando os equilíbrios da natureza, malgrado os maus tratos que nós lhe infligimos em nome de um conjunto de conceitos de qualidade duvidosa.
Esquecemo-nos muitas vezes que, estes tempos de paragem, servem muito bem a reflexão, aguçam as vontades de melhor fazer e aumentam significativamente o prazer pela actividade, contribuíndo para um bem estar superior quando retomamos a prática.
Historicamente, este fim de semana, fica marcado pelo vento que se fez sentir com mais força que o apregoado pelos sites menos falíveis e, pela dificuldade das capturas realizadas, pondo à prova as capacidades dos pescadores, atendendo ao muito trabalho, muita paciência e muita perseverança que se evidenciaram um conjunto essencial na obtenção dos resultados conseguidos, suficientes, quanto a mim, mas áquem de outros já obtidos com muito menos trabalho.
Sexta Feira à tarde, decidi que iria zagaiar um pouco! A época não é das melhores para o local eleito, mas não me apetecia, tendo em conta o tempo útil de pesca, ir muito longe ou usar isca, o que me obrigaria a lavagem de barco e tal... Não! Tinha de passear e limpar a cabeça das loucuras semanais do trabalho! Apanha-se, tudo bem! Não se apanha, tudo bem na mesma!
Lá fomos, eu e o Amorim que se iniciava nestas lides!
Conversámos, preparámos, zagaiámos! Sonda para esquerda, GPS para a direita, amostras de uma cor e de outra! Passa por cima do bico, não passa! E, o tempo correu, calmo, cheio de conversas e trocas de impressões, com volta ao porto, preparações para o dia seguinte, jantar, mais conversas, volta ao barco, execução de baixadas e dormir!
A Sexta estava feita! O dia seguinte preparado! A transição, do stress da semana para a calma da pesca, tinha acontecido sem que disso nos apercebessemos! Já estávamos noutra dimensão! Pessoalmente, após esticar o esqueleto, "caí que nem um tordo"!
Manhã de Sábado, encontrámo-nos ao pequeno almoço com o Raimundo e o Vitor, tratámos de tudo e mar com eles!
Objectivo: ir lá para fora onde os grandes poderiam estar!
Lá fomos, acompanhados do vento que, à chegada ao pesqueiro, já de si concorrido demais para o meu gosto, levantou com mais força impedindo a manobra de fundeio e, consequentemente, a concretização das ideias que levávamos!
Viemos para a terra, procurando outros locais! O primeiro não resultou e o segundo também não! A coisa estava complicada! O vento não baixava, incómodo e aumentando as dificuldades na manobra de fundeio! Desistimos de novos locais, apostando em local mais conhecido e abrigado a que corresponde a imagem de sonda que abre esta entrada, decidindo que seria aí que pescaríamos, naquela zona baixa a seguir ao pontão que se vê, e, onde tentaríamos tudo até à exaustão! Assim fizémos e não nos arrependemos!
Iniciámos a acção e "eles" iniciaram o roubo! Nós mudávamos, alterávamos as iscadas e as formas de ferrar! Mas então, as bocas que lá andavam eram pequenas para as nossas iscadas e anzóis! Insistimos e as bocas maiores apareceram! Algumas que procurávamos e outras que nem tanto!
Os Sargos e as Choupas, de bom tamanho, intervalavam as descidas e subidas infrutíferas! Nesta labuta contínua, apercebemo-nos que os toques já não eram os mesmos e ficámos atentos!
Continuou! Sargo aqui, Choupa ali! Tenho uma ferragem maior, nada de mais, mas o suficiente para perceber que o pesqueiro se estava a compôr! Luto! Não muito! E tiro o exemplar da foto abaixo! Uma Saima com 1,300 kgs!

A labuta estava a dar frutos! O pessoal estava entusiasmado! Continuámos, sucedendo-se as capturas de peixe criado, como dizem em Sines!
Nisto, sinto primeiro dois toques ligeiros, depois um puxão mais forte, levanto a cana e o peixe acompanha, enrolo linha e sinto o peixe a acompanhar! Enrolo mais rápido e ele contínua a acompanhar! Até que chego para aí aos 30 metros, num fundo de 51, e, a luta séria começa! O peixe que tinha sentido ferra-se de vez e a luta dá-se! Violenta! Mais pesada que o normal para um Pargo! Penso para comigo: que raio é que é isto!? Parece Pargo!? Mas ferra-se assim, tão alto!
Continuo a lutar, e ele aparece, um Pargo Dourado! Outro para juntar à família!
Vai enxalavar e para dentro do barco! Observamo-lo e deduzimos a história de tão bizarro comportamento!
Um peixe Piça, encontrava-se, atravessado pela barriga, no estralho do anzol que segurava o Pargo, permitindo as deduções que se seguem:
Parece poder dizer-se que os primeiros toques sentidos teriam sido o peixe Piça a picar ou já espetado no anzol, o que acontece com alguma frequência. Depois o peso originado pelo ataque do Pargo que, sentindo que lhe poderia fugir a presa, insistiu, acompanhando-a até à desistência imposta pela diminuição de pressão que lhe aumentou o volume da bexiga natatória e, aí, ferrou-se "à séria"! Proporcionando-me a luta e consequente captura! Ainda bem para mim! Ainda mal para ele! A cabeça já foi! Com aquele vinho e tal...
Cá está ele, na imagem que se segue! Pesou 4,020 kgs! Comprido, mas um pouco magro, talvez devido a desova recente.
Outras explicações poderão haver para comportamento tão atípico, por exemplo, teria seguido a presa, qual amostra de zagaia? Talvez!? Mas enquanto subia a pesca, tive sempre a sensação que tinha um peixe grande a acompanhar a subida! Posso estar enganado!? Se estiver, paciência!
Certo... Certo... É que tudo aconteceu e ele veio para cima! O resto, se verá! Outros dias! Outras ocasiões poderão dar resposta ao que aconteceu! Veremos!?
A pesca continuou! No mesmo tom, mas agora, cada peixe Piça que se apanhava era iscado vivo pelo lombo e usado como isca! Os meus companheiros estavam completamente entregues à tarefa de capturarem um Pargo maior, e, por duas vezes, uma o Raimundo e outra o Amorim, tiveram lá um peixe de respeito! Ambos os peixes levaram bastante linha e ambos cortaram o estralho com uma limpeza impressionante, levando a crer que talvez não fossem Pargos mas sim as Tintureiras que aparecem por ali nesta altura do ano. Não sabemos!? Mas achamos estranho que um Pargo corte a linha com tanta limpeza, sem que o estralho se apresente roçado! Mais uma dúvida que ficou!
Agora que o peixe Piça vivo funciona, não há dúvida! Só há que testar!
O Sábado chegou ao fim, o peixe foi pouco, mas bom! As experiências valeram pela riqueza e pelos entusiasmos provocados. Venham mais destes!
Chegou o Domingo!
Juntei-me com o Tavares, o Zeca, o Zé Beicinho e lá fomos à procura deles!
O vento ameaçava, mas deixou-nos ir lá fora, onde verificámos que o pesqueiro continuava concorrido, o que nos fez procurar ali à volta, poitando longe dos outros, num entralhado que parecia prometer devido a estar a 90 metros de profundidade, não muito afastado de um pontão que se eleva aos 49 metros e com uma leitura de sonda "indicadora de sucesso".
Apanhámos peixe em maior quantidade, Choupas e Sarguetas grandes, treze Parguitos entre os 0,800 e o quilo, mas, os grandes não apareceram! Quem sabe, não estariam lá à volta do pontão alto, comendo os "miúdos" que por lá costumam andar em quantidades impressionantes!
Erro meu, concerteza! Deveria ter insistido e procurado mais perto do pontão que, embora concorrido com outros barcos, tinha espaço por fora para que lá coubéssemos!
Verdade porém, só agora o posso saber! O local onde pescámos era novo e só os resultados obtidos me permitem falar como o estou a fazer e me permitirão alterar em outros dias... Outras pescas!
Valeu pela acção contínua, as picadas constantes e a regularidade das capturas, para não falar da carne de vinha d'alhos que estava deliciosa!
Continuemos! Gozemos os dias, os ditos, as estórias, os comes e bebes e, principalmente, as amizades antigas que se vão aprofundando, e, as novas que se vão gerando!
O mar; esse lá está, à espera que o entendamos e saibamos retirar-lhe as riquezas, respeitando-o!
Boa noite a todos os leitores!

8 comentários:

Anónimo disse...

Com que entao peixe pica hein...Hehehe.
Ate' me esqueci do cafe' ao ler tao
bom relato de pesca,mais uma vez se provou que quem procura encontra e
a recompenssa nao se deixa a esperar

Parabens Ernesto

FC

Filipecardoso disse...

Ate' com peixe-pica apanha Pargos
ta' boa sim sr: hehe
custuma-se dizer que cada qual tem o que merece,o amigo Ernesta nao poupa ressources a procura-los e eis a recompenssa...Boa

Parabens mais uma vez

FC

Anónimo disse...

Boa Ernesto. AO mmenos alguma coisa que nos anime desta desventura educativa. Nós fomos para Note. Bastante peixe mas pequeno. Besugos e muito aranha de quilo!Parece que desta vez convenci os meus camaradas a procurarmos outros pesqueiros e a levarmos outras viscas para próximaspescas.
Um abraço

Anónimo disse...

Sempre a aprender. Boa malha essa do peixe piça, foi como uma espécie de zagaia e das baratas. LOL
Bela pesca, belo relato, parabéns.

Abraço

Paulo karva

Amorim disse...

Quem disse que ver alguem apanhar peixes como deve de ser não dá felicidade ? humm,humm ??
Pois é, e quando esse alguem é quem nos tem ensinado quase tudo, então aí o gozo é quase como se tivessemos sido nós a apanha-los.

Obrigado Ernesto pela tua disponibilidade e paciência, não és só um grande pescador, és acima de tudo um ser humano com quem dá gosto conviver.

Aquele abraço

Amorim

MR disse...

Mais duas boas Capturas, e um excelente relato.
Parabens

luis caleiras disse...

ólá Ernesto
que bela historia, é um prazer poder partilhar esses momentos
continuação de boas pescas
um abraço

Ernesto Lima disse...

Viva Pessoal!

Grato pelços Vosos comentários!

Esta última semana e a passada, encheram-me de tantos afazeres que me foi impossível manter a escrita em dia!

Mas está para breve!

Até lá!

Abraço!

Ernesto