sábado, 30 de outubro de 2010

Fiabilidade... Comportamento de pesqueiros... Outras condicionantes...


Pôr do Sol, mar calmo, a porção do varandim do barco a dizer-nos onde estávamos nesse fim de tarde, em que pensámos, conversámos, agimos, pescámos, capturámos... Reflectindo sempre sobre os sinais, acções e resultados dos dias anteriores, terminando satisfeitos, em contemplação do que nos rodeava, por imposição da beleza com que o Astro Rei mais uma vez nos presenteou.

Os dias de pesca desenrolaram-se entre Quarta Feira (20) e Sábado (23).

Quarta à tarde fomos zagaiar até ao fim do dia, Quinta, Sexta e Sábado dedicámo-nos à pesca de fundo com o barco fundeado.
As intenções eram: procurar, testar, experimentar, tentar perceber,... Com algumas capturas que, de algum modo, fundamentassem raciocínios em que baseámos as nossas escolhas de pesqueiros, a acção de pesca e outras atitudes que nos pareceram adequadas conforme se alteravam as condições em cada local onde fundeámos.

A zagaia de fim de tarde de Quarta ofereceu-nos sinais desinteressantes, muito trabalho, prolongando-se quase até à noite...


... Não fora o pequeno Sarrajão, da foto abaixo, em seguida libertado, mais uma grade entraria para a história dos esforços com zagaia.


Na Quinta Feira, as Douradas e Pargos foram procurados fora, à terra, em entralhados perto de pontões altos e também naqueles isolados no meio de terreno mole, considerando as habituais deslocações da época, mas, nem os sinais de sonda, nem os sinais conseguidos em acção de pesca se mostravam efectivos.
A dificuldade em encontrar fundos interessantes, fundear em cima deles, manter o barco no local de fundeio e, consequentemente, confiar na acção de pesca, foram uma constante ao longo do dia, muito devido a ventos que, embora fracos, variavam assiduamente em intensidade e direcção, coadjuvados por aguagens, também elas variáveis, em cada local, nos seus rumos e intensidades.
Abreviando... Nos pesqueiros que testámos, sem aguagem, o barco andava à roda, o peixe dava  sinais fracos e não subia;  em outros, com aguagem, o barco ficava certinho, os sinais não eram grande coisa e o peixe continuava a não subir.
Estávamos chateados? Nem pensar! O dia estava espectacular e as experiências e análises não paravam.
Entretanto a tarde caía, peixe a bordo nem vê-lo... Faziam-se horas de procurar um pesqueiro, supostamente fiável e tentar capturar o jantar, porque isto de comer experiências e análises também não nos pareceu grande coisa.

Lá fomos em demanda do tal pesqueiro "supostamente fiável"... Mas o que é isto?

Considerando a procura direccionada para predadores, o tempo de pesca restante e resultados anteriores, entre outros factores... As hipóteses de um pesqueiro ser fiável, parecem aumentar significativamente em zonas onde habitualmente existam ou se formem, a qualquer momento, concentrações de peixe miúdo.
As condições para que tal aconteça, tendem a criar-se, com maior facilidade, em fundos acidentados, ou seja, cheios de pontões altos, não muito distantes entre si  e intervalados por entralhados ou terrenos mais macios, cruzados normalmente por "suas majestades", em direcção às sombras das bases dos pontões a partir de onde terão mais facilidade em iniciar a sua acção de caça, surpreendendo os "alegres incautos" de baixo para cima.
Verdade também que caso tais "personagens" não compareçam, será sempre possível encontrar "secretários de estado" ou "assessores" que não tendo a sua envergadura, nos proporcionarão algum deleite quando os caçamos nós.
Nesta altura do raciocínio já nos dirigíamos para uma zona deste tipo, onde fundeámos e, expectantes, iniciámos a acção de pesca.
A aguagem estava instalada, diminuindo de intensidade, e, os toques apareceram, aumentando de interesse com a diminuição desta, permitindo-nos capturar um Parguito e uma boa Sargueta, já muito perto da noite, pelo que nos vimos forçados a voltar ao porto, para tratar de nós e decidir o que fazer no dia seguinte. Para todos os efeitos, este foi o único local onde tivémos sucesso, coisa que teria de saltar para a mesa do jantar na hora da dissecação técnica do dia.

A preparação do dia seguinte, tendo em contra os recentes acontecimentos, apontava dois caminhos:
- Procurar outros pesqueiros, mais perto, mais fora ou mais longe.
- Apostar naquele último pesqueiro (o tal fiável...) e, atendendo aos sinais e condições, tentar perceber o seu comportamento ao longo de todo um dia, independentemente de capturar ou não.

A primeira opção, tendencialmente, implicaria maior gasto de tempo, combustível, assim como, diminuição do tempo útil de pesca, atendendo às condições verificadas, diversas e pouco habituais nesta época do ano.
A segunda opção, supostamente, garantir-nos-ia o inverso, com a vantagem de entendermos o comportamento de um pesqueiro, supostamente fiável, ao longo de um dia em que, tudo o indicava, seríamos sujeitos a pescar com aumentos e diminuições de aguagens, já que, segundo o Windguru, o vento se manteria relativamente estável.
Estava decidido... No dia seguinte, iríamos dissecar aquele último pesqueiro até à exaustão.

Saímos para o mar, na Sexta, à hora habitual - nove e meia/um quarto para as onze - iniciando a acção de sondagem em toda a área, não sem antes perceber a deriva do barco que, pela direcção e velocidade verificadas, indicava aguagem relativamente forte na mesma direcção da brisa que se fazia sentir, assegurando-nos um fundeio certo, compensada que fosse a deslocação do ferro na descida, por força da aguagem existente, de modo a que caísse onde se pretendia.

Escolhemos um fundo a 52 metros, entre pontões que se elevavam aos 39, pela proa; e, aos 42, pela popa; o que permitiria colocar o barco em cima do primeiro bico, esperando que a aguagem deslocasse as nossas baixadas para o intervalo ou, dar cabo logo que a aguagem diminuísse, caso tal viesse a acontecer.


A força da aguagem, obrigava-nos a usar chumbadas de 200 grs e a travar a linha na descida para que não fosse parar a Porto Côvo. Os toques eram variáveis e pouco consistentes, com roubos incompletos, mas sempre roubando algo, o entusiasmo era grande e esperavam-se grandes coisas, mas... Foi trabalho e mais trabalho, durante todo o Santo Dia.
As horas passavam, a acção era constante, variando iscas e formas de iscar, colocando as baixadas mais perto e mais longe, sem que se conseguisse uma captura decente, para além de raras Choupas ou Sarguetas pequenas que subiam esporadicamente, normalmente ferradas por fora da boca, onde os anzóis 4/0, tinham dificuldade de entrar. Não desistimos! Já que tínhamos esperado e labutado tanto tempo, importava ver o comportamento do pesqueiro para o fim de tarde que se aproximava, limitando em tempo a demanda de outros pesqueiros.

Eram quatro e tal da tarde, quando a aguagem perdeu intensidade iniciando-se, quase de imediato, alterações significativas nos toques que se sentiam.

Um pequeno toque, um pequeno peso, uma pequena luta e eis que capturo isto:


Uma Andorinha, também conhecido por Bigorrilho ali para os lados de Setúbal, peixe indicador de que estamos talvez demasiado encostados à pedra.
Lembrei-me que a aguagem tinha quase parado e que o barco deveria ter deslizado para cima da pedra, o que a sonda me confirmou assim que a liguei, indicando-me os 45 metros. Demos cabo até que o barco se posicionou na base do pontão, aos 52 metros, onde a marcação tinha melhorado significativamente.
O entusiasmo entrou em alta e aconteceu o que se esperava, os toques eram intensos, a isca desaparecia rapidamente e o João entrou em luta com um exemplar maior... Um dos "secretários de estado" vestido a preceito de prata e cinza...



Logo em seguida foi a minha vez de capturar outro, mais austero numa vestimenta cinzenta e negra...


E foram entrando em ritmo acelerado mais alguns destes exemplares que poderiam ter estado encostados à pedra, no lado contrário à aguagem onde, supostamente, se formarão remansos que lhes evitarão gastos supérfluos de energia, de tal modo que não saem de lá para comer postas de Sardinha na zona de força da corrente... Dá muito trabalho!
A tarde já ia no fim, a acção continuava e não deixou de aparecer mais um convidado, bem mais colorido de vestimenta, gordo e anafado, com luta dura lá ao fundo, esmorecendo na subida, talvez por excesso de tecido adiposo, merecendo a foto abaixo.


Finalmente e já de forma inesperada, eis que surge uma luta conhecida e pouco intensa dum aio de sua majestade que, gulosamente, se atirou a uma posta de Sardinha, das últimas que desceram, quer pela diminuição da actividade no pesqueiro, quer pela aproximação da noite que chegava a passos largos 


A intensidade destas duas horas de pesca, no que a capturas se refere, terminou conforme se tinha iniciado, rápida e abruptamente, dando indicações importantes sobre a influência da aguagem neste pesqueiro, assim como a sua fiabilidade, atendendo a que, no dia anterior, tínhamos cá chegado mais tarde e ainda se conseguiram duas capturas mesmo sem ter trabalhado o pesqueiro como  o fizemos durante todo este dia.

O regresso ao porto, veio cheio de conversa sobre o acontecido, antecipando já o dia seguinte, pensando no que fazer com o Raimundo, o Victor e o Pedro que me acompanhariam na jornada... Certamente voltaríamos a este pesqueiro para ainda melhor o perceber. Ficava no entanto a pergunta: valeria a pena vir para cá logo de manhã ou seria melhor procurar outros locais e marcar encontro com "eles" à mesma hora do dia seguinte?
Logo se veria à mesa do jantar que nessa noite seria extremamente técnico, pois à chegada encontrámos o Fernando Fontes e o Modesto, com quem combinámos a jantarada lá na Flor de Sines.

À falta do Zé Beicinho, encerrado para férias, fez o amigo Helder as honras da casa.

O jantar, para além dos Secretos de Porco Preto a preceito, foi delicioso...

O Fernando e o Modesto tinham ido também pescar, são gente que não gosta nada de falar de pesca,... Tal como eu e o João Martins!?
Aquilo foi pesqueiros, iscadas, materiais, visão e comportamento dos peixes, épocas melhores e piores e claro... Peixe com fartura, ou não fossem estas tertúlias os locais e momentos onde mais peixe se captura... Toneladas!!!

Mas de toda a conversa desenrolada, entre outras muitas coisas, ficou a dica do Fernando, sobre alguns Sargos e Pargos que tinham capturado durante a manhã, ali mais à terra, longe das aguagens. Tal informação poderia complementar o dia seguinte, em termos de pesca. De manhã ia mais à terra e à tarde voltava ao mesmo pesqueiro, podendo talvez colmatar a hora do dia em que, por força da aguagem, esse poderia ser pouco produtivo. Estes os pensamentos que me acompanhavam enquanto procurava o vale dos lençóis e o descanso que o "cadáver" já me solicitava, não me permitindo sequer sonhar com qualquer tipo de peixe, só dormir profundamente!

A navegação da manhã iniciou-se calma, aquecendo motor em direcção à saída da barra, contemplando os faróis, os quais sempre olho como guardiões do porto, nutrindo por eles um respeito que não sei explicar. Resolvi apreciar as condições do pesqueiro do dia anterior, antes de tomar qualquer outra decisão, constatando à chegada a presença da corrente intensa e já conhecida. Disse-lhe até logo e segui para Sul, perseguindo a dica do Fernando.
Sondámos e fundeámos naquela calmaria dos 33 metros, não se passando muito tempo sem resultados.

Obrigado Fernando! Pensei para comigo.

Verdade é que todo este ano se tem apresentado com diferenças importantes quanto ao comportamento dos peixes no que respeita à frequência de pesqueiros, versus época do ano. Muitos pesqueiros que, nesta altura do ano, apresentariam poucas hipóteses de capturas, têm-se verificado a salvação em dias onde tudo falha, certamente devido às alterações verificadas indiciando uma vez mais que os conceitos que vamos desenvolvendo não podem nunca manter-se rígidos, sob pena de diminuirmos significativamente a nossa percentagem de sucesso.

Certo é que não tinham passado 10 minutos de pesca e já subiam Sargos a bordo.

O Raimundo estava desalmado... Aquilo era quase de seguida, embora os peixes não fossem de grande porte, deixavam no ar que algo maior poderia aparecer, tanto pelos toques quanto pela intensidade de pesca, onde entravam exemplares como este, entre dois ou três Parguitos:


Também o Victor apanhou o seu quinhão durante a manhã, tendo por exemplo o bicharoco que se segue.


A pesca compunha-se mas, tal como o Fernando tinha referido, por volta do meio dia o pesqueiro foi esmorecendo. Pensámos que ainda se revigorasse, mas não!
Os toques foram diminuindo de intensidade, até que se chegou ao ponto de nem sequer tocarem nas iscas o que sugeria fortemente a procura de outro local de pesca.

Pelas posições dos barcos fundeados, face ao vento, percebia-se que lá no pesqueiro do dia anterior  se mantinha a aguagem, parecendo-nos cedo para lá retornar. Procurámos terra onde não tivemos melhor sorte, embora tenham entrado um ou outro peixe daqueles que não procuramos, como Sarguetas ou Choupas com medida. No entanto, a irregularidade e falta de intensidade dos toques não auguravam melhores sortes. Tínhamos testado, não funcionou e era hora de procurar o pesqueiro do dia anterior, esperando que os comportamentos fossem idênticos... E foram! Direi mesmo, quase a papel químico, excepto no que tocou ao tamanho e quantidades de peixe face às espécies capturadas.

Ora vejamos!

A minha curiosidade relativamente a este pesqueiro, prendia-se com as condições que iria encontrar na mesma hora; na verificação da alteração das mesmas, em tempo; e, na correspondente resposta que nos traria em termos de capturas.

Chegámos, sondei, vi os sinais e fundeei no mesmo local, apercebendo-me da mesma aguagem e dos mesmos sinais do dia anterior.
A primeira diferença revelou-se à chegada quando, quase de imediato e ainda com forte corrente, se dá esta captura do Raimundo... Um Sargo legítimo de bom porte.


Pensei que tudo se tinha alterado, mas não! Este Sargo estaria possivelmente de chegada e não resistiu à posta de Sardinha "gentilmente" oferecida.
Durante algum tempo e até que a aguagem começou a perder intensidade os sinais ficaram tal e qual como no dia anterior e assim continuaram quando aquela diminuiu, quase à mesma hora, oferecendo-nos então capturas, agora de Sargos e Pargos, os primeiros em menor quantidade e do tamanho que o Victor vos mostra...


Os segundos em maior quantidade e no tamanho que me coube mostrar... 


Voltando à análise da fiabilidade de tal zona de pesqueiros, considerando resultados anteriores e os que acabo de vos relatar, pode inferir-se que ela é de facto real, pela estrutura e variedade de fundos, pela extensão, pela profundidade... Tendo em conta que em 52 metros de água, tudo pode acontecer de forma mais significativa que a 22 ou muito mais fundo. É ainda uma profundidade confortável para pescar com quase todo o tipo de condições que permitam estar no mar.
Sem dúvida que estará condicionada em determinados dias e horas, conforme ficou demonstrado nestas jornadas, quer pelos condicionalismos observados, quer por outros que no futuro lá se instalem. Tudo indica que em qualquer época, em qualquer dia, em determinada hora; em algum lugar desta zona, acabarão por se capturar alguns bons exemplares, mesmo daqueles que mais queremos. Cabe-nos procurar, testar e  analisar nesse sentido.

A noite aproxima-se, a pesca por hoje acabou. Já icei o ferro e estou de volta ao porto...


... Deixando-vos estas reflexões e esperando que tais vos preencham alguns dos momentos em que estariam a pescar, caso o tempo o tivesse permitido neste último fim de semana de Outubro.

Divirtam-se!

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Desabafos, antecipações, reflexões e... Algum peixe!


As vidas mudam e novos equilíbrios se constroem, buscando a adequação a novos formatos, horários, exigências... Colmatando até, a ausência ou diminuição dos dois últimos, situação que, como devem calcular, acontece por exemplo a quem se reforma e, ainda mais, se o faz com alguma revolta, de uma profissão da qual até gostava, mas onde qualquer progressão, por mais ou melhor que trabalhe, lhe está limitada; e, estimados leitores, o tempo não pára!

Pois é... Aqui o "blogueiro" resolveu sair e procurar outra vida. Sim, porque a antecipação nestas coisas sai cara, principalmente a quem não é político ou gestor público, obrigando a outras escolhas que preencham o tempo e, se possível, equilibrem o erário familiar onde, sanguessugas, criminosos de colarinho branco e outros bichos matreiros, continuam a causar estragos de monta.
Não me estou a queixar! Acho que tenho alguma noção das dificuldades porque muita gente está a passar e sem qualquer perspectiva futura, mas para todos os efeitos, sei que aquilo que decidi deixar (?)  que me retirassem permite pagar a alguém mais novo que ocupe o meu lugar e, para além disso, libertei o actual governo ou outros vindouros (coitados...) da obrigação de me pagarem o que seria devido ou, melhor dizendo, o que entendessem, independentemente do tempo completo de serviço e dos descontos efectuados. Aqui para nós, acho que isto ainda não fica por aqui... Logo se vê!?

Só não me conformo com uma coisa... Enquanto professor, ao longo dos anos e em conjunto com os meus colegas de outras disciplinas, contribuí certamente para a formação de alguma desta gente que nos governa. Atendendo aos resultados, duas ilações entre outras posso retirar:
- No que respeita aos valores e capacidades que lhes possa ter passado relativamente ao seu futuro contributo para a sociedade, certamente... Fiz mal o meu trabalho!
- Quanto aos valores e capacidades relacionadas com a auto promoção e auto etc., não me lembro de lhes ter ensinado nada disto, mas o que é certo é que os "moços" discorreram ou tiveram quem os ensinasse melhor.

Para todos os efeitos, não estava lá a ser necessário para nada e o melhor que tenho a fazer é mesmo... dedicar-me à pesca, de preferência ainda mais que o que já me dedico, não tendo estado esquecida mas de algum modo afectada pelos últimos acontecimentos.

Desabafos à parte, vamos então voltar ao assunto de que trata aqui o local!

O mau tempo que se fez sentir, representado na imagem de abertura, aliado às questões introdutórias, teve algum peso na ausência da actividade prática, sendo que a teórica esteve sempre presente antecipando o tão desejado momento de voltar às lides que agora não têm obrigatoriamente de ser efectuadas ao fim de semana... Qualquer dia serve, desde que os elementos o permitam. Não é bem assim, mas... Mais ou menos!

Certo é que, depois de "arrumar a casa", fruto das alterações, dei-me a um luxo que há muito não me era permitido, quer por falta de tempo, quer por falta de espaço de trabalho.

O tempo disponível e as arrumações pós reforma permitiram que a mesa do meu cantinho, ficasse finalmente  com o espaço suficiente para espalhar por lá aquilo que gosto, assim como, visualizar a carta que a forra e estudar, calma e antecipadamente, os muitos pesqueiros ainda por explorar. Uma delícia!

Então, no passado Sábado, enquanto ouvia o vento e a chuva fortes e após decidir que pescaria na Terça, Quarta e Quinta feiras que se avizinhavam, ao fundo e com zagaia; procurei os materiais e espalhei-os à vista, antecipando o que faria com eles e achando que o momento merecia ficar para a posteridade. 


As montagens seriam o passo seguinte, após mirar tudo o que dispunha perante os meus olhos. já sem me lembrar da "bicharada matreira" que nos suga.

As imagens proporcionadas por anzóis, destorcedores, caixas, caixinhas...


Ferramentas de corte, de defesa destes, para agarrar pequenos e maiores materiais, fios, fiozinhos...


Atirei-me às montagens, ordenando materiais para baixadas da cana a pescar na mão, da outra no caneiro e ainda daquela outra com isca viva...


Observando outros já montados, lembrando mentalmente as animações possíveis imprimidas por movimentos variados...

Fazendo acabamentos em novas "artes" e... Sempre olhando tudo, como se fora a primeira vez que vislumbrasse tais conjuntos.

Que bom é antecipar... Mesmo que os resultados posteriores não se revelem grande coisa!
E o peixe que capturamos mentalmente enquanto o fazemos... Um delírio!

Mas passemos à realidade prática! Ou não foi para isso que antecipámos!?

As estratégias de procura e distribuição da aplicação de técnicas pelos dias disponíveis, também elas motivo de antecipação mais séria, definiam-se tendo em conta factos observáveis, como por exemplo:

- Quase um mês sem pescar, com um vendaval terminado havia dia e meio.
- Época normalmente rica, quer para a zagaia quer para os grandes ao fundo.
- Possibilidades de capturas mais fundas, atendendo a que o vendaval poderia ter incidido menos nessas zonas, mas... Possibilidades também de peixe grande ainda encostado a terra, procurando possíveis concentrações de peixe miúdo alimentando-se de nutrientes descobertos pelo vendaval, ali menos fundo.
- As Douradas que já poderão andar por lá e a necessária encomenda de Caranguejo que muitas vezes tem servido bem para os Pargos, nesta época.

E as perguntas que se colocavam:

Como gerir o tempo e o esforço? Onde começar? Que sinais aceitar? Que sucessão de pesqueiros, caso os primeiros não funcionem? Que iscas utilizar mais intensamente? Que? O quê? Onde? Como? Quando?

Tanta insegurança... Até parece que se ia pescar pela primeira vez!?
Mas é tão bom que assim seja!

As decisões iniciais tinham de ser tomadas e vá de Terça ao fundo, Quarta à zagaia e Quinta, outra vez ao fundo, caso a zagaia não produzisse ou os sinais não se mostrassem favoráveis. O que é isto de favoráveis?
Talvez não o sejam nos pesqueiros testados e os outros? Que raio! Assim nunca mais me decido!!!

O tempo que parecia inicialmente muito, tornava-se já curto e ainda nem tinha começado a pesca... Coisas das antecipações!

Finalmente e considerando que não se pode estar ou ir a todo o lado que se quer, em determinado espaço de tempo, ficou a opção já referida, acordada também com o companheiro João Martins que já se sente bem a fazer vários dias seguidos. Quem diria...

Na Terça Feira, a escolha de pesqueiros recaiu sobre zonas já conhecidas, nem muito baixas, nem muito fundas ou a virtude não estivesse no meio... Será verdade!
Por vezes é, outras... Nem tanto!

As aguagens deixadas pelo vendaval estavam instaladas! Rápidas, fortes e irregulares na sua força.
O peixe comia, mas os sinais eram dispersos, também irregulares e difíceis de entender, mal grado a insistência das duas a três horas em que testámos o primeiro pesqueiro.
A necessidade de mudar de local tornou-se óbvia e fomos mais para a terra e para  Sul, tentando fugir à aguagem e encontrar o que procurávamos, mas as condições eram idênticas, embora os toques, também irregulares, parecessem mais intensos e passíveis de nos darem alegrias que só vieram a verificar-se já no fim do dia, muito perto do Sol posto, quando entraram quase de rajada: uma Dourada pequena, um Sargo de quilo, uma Sargueta daquelas maiores e o Pargo que se mostra!


Este pesqueiro mostrava sinais interessantes... Ficavam no entanto as questões: melhoraria nos próximos dias por força da estabilização das condições de mar e vento ou seria a hora do dia a mandar? As temperaturas de 18º, a continuarem, fariam com que o peixe aparecesse por ali ou encaminhá-lo-iam mais para a terra? As aguagens diminuiriam de intensidade ou iriam manter-se? O peixe maior apareceria por lá, mesmo com aguagem ou procuraria zonas onde a ausência desta lhe permitisse caçar sem tanto esforço?

Questões sem resposta que só a volta aos mesmos locais poderiam talvez deslindar!

O assentar do jantar seria a melhor hora para falarmos sobre as incógnitas e talvez tomar decisões sobre o que fazer no dia seguinte, antes agendado para a zagaia.

Decidimos manter o plano inicial, pensando que seria dado o devido tempo ao mar, para se recompor das suas anteriores fúrias. Quem sabe, nos permitisse outras recompensas ao tentarmos outras técnicas, outras zonas!?

A manhã de Quarta, acordou calma, não nos colocando quaisquer limites à escolha de pesqueiros.

Amostras preparadas...


Cana e montagem em espera...


Procura de fundos, de sinais...


Muito trabalho de sapa, mas poucos sinais capazes de nos entusiasmar por mais fundos que corrêssemos e testássemos a toque dos movimentos imprimidos às amostras. Vai-se ver e não corremos aqueles que deveríamos, tendo por recompensas: um belo dia de mar, boa conversa e uma grade do tamanho do barco. Faz parte, em altas percentagens, quando se utiliza esta técnica.

O último dia aproximava-se! Havia que aproveitar cada bocado de conversa e decidir os pesqueiros a testar.

Continuar com a zagaia poderia ser uma boa opção mas, o bichinho da pesca ao fundo e a tentativa de perceber a evolução dos pesqueiros dois dias após o vendaval, deixavam-nos curiosos, assim como tentar perceber se os fundos de terra seriam ainda produtivos.
Estavam lançados os dados para uma pesca de fundo, testando primeiro a baixa profundidade e depois os pesqueiros do primeiro dia, começando naquele que nos deu peixe, decidindo depois em conformidade com os sinais.

A Sardinha e o Caranguejo seriam, uma vez mais, os escolhidos para o festim.

A Quinta Feira brindou-nos com mais uma manhã calma e um mar de prata com alguma ondulação larga, inofensiva, permitindo-nos escolher qualquer zona, sem restrições. Poderíamos ter escolhido qualquer local mais longínquo, mas e depois... Como perceberíamos se as condições se alteraram nos pesqueiros testados no primeiro dia? Como saberíamos se outros pesqueiros onde fôssemos, com melhores ou piores resultados, tinham estado assim nos dias anteriores? Que mais valias traria essa opção para a nossa base de dados?
Com tais pensamentos lá nos dirigimos para os mares dos 22 e 26 metros onde, para além de uma rede sem qualquer sinalização que se enrodilhou no ferro, obrigando-nos a esforços complicados para que nos víssemos livre dela sem o perder; nada capturámos, nada sentimos!
As iscas subiam e desciam intactas, não dando qualquer sinal de actividade, aliás confirmadas pela sonda que só no pesqueiro onde a rede se encontrava, mostrou sinais que afinal deveriam ser a própria rede na sua função predatória. Mais um teste, mais um falhanço redondo!
Havia que persistir e impunha-se agora, considerando as opções tomadas, voltar ao pesqueiro do dia anterior e testar a sua evolução.

Navegámos para lá, parámos e percebemos de imediato que a aguagem tinha diminuído significativamente de intensidade e alterado a direcção. Fundeámos, iniciando a acção de pesca.

Os toques começaram, cuidadosos e por vezes intensos, indicando talvez a presença de melhor peixe. Não passou muito tempo até que o João tirasse a primeira Bica, seguida passado algum tempo de uma outra tirada por mim. Depois um toque e uma luta pequena, ambos inesperados atendendo a que jamais tinha capturado Besugos naquele pesqueiro. Pois é... Besugos! Nunca os tinha visto por ali e já lá pesquei muitas vezes. Terão sido as alterações originadas pelo vendaval?
Certo é que, qualquer postinha de Sardinha pendurada no anzol 4/0, dava Besugo na certa, como este que mostra o João, inconformado pelo tamanho da captura, talvez até por algum desagrado que nutre por tal espécie, atendendo à facilidade com que se deixam capturar, pois até com meias sardinhas iscadas acabavam por ficar pendurados nos nossos anzóis. Grandes bocas têm estas saborosas "bogas vermelhas"...

Olhem só para a amostra!


Acabámos por nos ir livrando deles à força de iscadas de meia Sardinha, já que o Caranguejo nada capturava, embora tenham entrado mais duas Bicas e duas Douradas, uma com um quilo e outra com um pouco mais que escolheram a Sardinha, em detrimento da isca que supostamente mais gostam.
Não é novidade, mas dá que pensar!

Aqui está a maior delas, pequenita, palavra que parece delinear-se naquela expressão por baixo do bigode!?


A pesca terminava, indicando que cada dia que passasse poderia meter mais e melhor peixe neste pesqueiro e, quem sabe, naquele que primeiro testámos na Terça Feira.

Algo se pode talvez daqui concluir... Após vendavais tudo muda e, em cada dia que passa, as alterações verificam-se em cada pesqueiro mais afectado por estes ou, em cada pesqueiro habitual para uma época, donde o peixe grande pode desaparecer, voltando após alguns dias porque torna a ser mais interessante que aqueles outros que lhe ofereceram comida logo após vendaval, mas que foram "Sol de pouca dura". Será assim... Não será? Quem sabe?

Deixo-vos com estes desabafos, antecipações, reflexões e... Algum peixe; enquanto aguardo a próxima volta a Sines, onde espero encontrar outros momentos para convosco partilhar.

Até lá... Uma boa noite a todos os leitores.