segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Informação, opções, Douradas... e alguns "primos".


O Outono invernoso está mais que instalado, agreste e molhado, oferecendo no entanto cores bonitas que vejo da janela do cantinho onde escrevo, e hoje, meus amigos, apetece-me divagar e escrever sobre as últimas pescarias, mais uma vez separadas, um mês, das anteriores.

Não está fácil voltar ao ritmo... coisas da idade!?

Considerando a Rosa dos Ventos, parece que a Norte, os meus velhotes; a Sul, os descendentes e a Este, algum trabalho, ocupam-me mais que antigamente, sem horários definidos, de tal modo que o mar e a pesca, a Oeste, para além de serem relegados para segundo plano, estão ainda sujeitos às condições climatéricas que, convenhamos, têm dado pouco descanso. Estou-me a queixar? Não Sr.! Ainda bem que os tenho a todos, sou necessário e vou pescando quando posso.

Quanto à pesca, sempre vão valendo os conhecimentos anteriores e a vontade de reflectir continuamente sobre o que se pensa saber e o que, não se sabendo, possa ser tido em conta como factor importante, podendo transformar-se em suposta sabedoria futura.

A informação parece-me um factor bastante influente no que respeita às opções na escolha de pesqueiros, em qualquer saída para o mar. No caso de saídas muito espaçadas, significando que estamos mais tempo afastados da acção, torna-se tão mais importante, quanto maior tenha sido os espaço de tempo desde a última pescaria.

Mas que informação se procura?

Tal depende dos conhecimentos que temos de épocas, zonas de pesca mais produtivas em cada uma delas, exemplares que se pretendam capturar e certamente tipos ou técnicas de pesca que pretendemos usar.

Esta é uma época do ano produtiva na pesca embarcada ao fundo, em barco fundeado. Douradas e Pargos tendem a frequentar os mesmos pesqueiros, rodeados por outras espécies de menor porte médio, como Sarguetas, Besugos, Choupas, entre outros. Não se pense, no entanto, que é chegar  a determinado ponto de GPS onde se fizeram boas pescarias em épocas anteriores, largar ferro, iscar deixar cair as baixadas lá no fundo e encher a arca. O Pai Natal está a chegar mas os peixes procuram unicamente os seus interesses, principalmente comida e/ou procriação, nos locais mais propícios e estão-se borrifando para a época festiva e para o artista principal que muito preso, agora mais pela alegria da minha neta.

A panóplia de zonas de pesqueiros já testados em épocas anteriores idênticas ou outras zonas de fundos do mesmo tipo, farão agora todo o sentido como locais a explorar, pois os peixes que procuramos poderão estar algures, em determinado ponto de uma delas... mas qual?
O que sabemos de pesca, da zona onde a exercemos e de outros pescadores, desportivos e profissionais, contribui fortemente para a capacidade de saber procurar a informação e assim conseguir responder melhor à questão anterior.

Portanto, relativamente a informação e após caracterização da época, parece-me importante recolher dados sobre:

- Profundidades e tipos de fundos onde se têm conseguido capturas
- Técnicas em uso, tanto na pesca desportiva, quanto na profissional
- Iscas mais produtivas

Para recolher informações fiáveis, importa que já tenhamos dado informação fidedigna e que sejamos conhecidos por tal, recorrendo a estes companheiros que sabemos pescam mais ou menos como nós, assim como sabermos "ler nas entrelinhas" quando conversamos com outros.
A visita a mercados que têm peixe da zona e saber o que os profissionais das várias artes andam a capturar, e como, são também dados importantes para a nossa avaliação do momento e consequente tomada de decisão sobre a escolha de pesqueiros.

A informação é portanto uma parte importante da preparação da pesca, ainda mais quando estamos afastados da acção há tempo significativo.
Aceito que aqueles de vós que não têm barco próprio possam não se preocupar muito com isso, atendendo a que, se vão em MT, confiam que o mestre saberá o que fazer. Mas, na verdade, mais e melhor informação não nos pesa e saber, também não ocupa lugar. Quem sabe um dia não venha o barco!?

Considerando o referido, que conhecimentos e informações poderão ter sido importantes para a escolha de pesqueiros das últimas saídas, nos passados dias 22 e 24 de Novembro?

Considerando a procura de exemplares de Pargos e Douradas, é importante saber-se que, nesta época, as Douradas poderão estar já em locais de desova, algumas estarão ainda em deslocação para eles, importando tentar perceber qual destas duas variáveis poderá ser no momento a mais verdadeira. Quanto aos Pargos, tendem a aparecer nas zonas onde as Douradas andam ou se concentram, talvez mais nestas últimas, ou, caso estejam em deslocação, onde se conseguem fixar por força de engodos ou das iscadas em uso.
Para tentar discernir sobre tal, procurei saber se já estavam muitos profissionais com bóias fixas e engodo em zonas onde habitualmente o fazem nesta época, principalmente para a pesca da Dourada, assim como, se outros pescadores, principalmente desportivos, a pescarem normalmente fundeados, teriam conseguido capturas e em que zonas.

No sentido de recolher as informações descritas, socorri-me de pessoal amigo, a quem por norma também dou "dicas", ficando a saber que poucos eram os profissionais a pescarem com fundeios fixos e que se tinham verificado capturas significativas de Douradas, já ovadas, e Pargos, em zonas mais baixas (+/-50m), com alguma regularidade.

Tais informações eram indicativas de que, pesasse embora poderem já existir algumas concentrações de peixe em locais de acasalamento e desova, o grosso poderia andar ainda em deslocação para estes. Considerando ainda que, nomeadamente as Douradas, por vezes se fixam durante algum tempo em certos locais de passagem, a opção foi procurar uma zona com estas características, de preferência com poucos ou nenhuns barcos fundeados, em acção de pesca.

Perguntar-me-ão... então e não se informou sobre nenhum ponto de GPS mais concreto?

Ao que responderei não, essencialmente por três razões:

1. Quem mo desse, eventualmente estaria lá a pescar ou poderia lá chegar e o ponto que lhe deu trabalho a encontrar estava ocupado.
2. As zonas de pesqueiros estão normalmente "carregadas" de pontos de GPS.
3. Tenho sonda e gosto de procurar os meus próprios pesqueiros, nas zonas quentes de cada época, de preferência com poucos ou nenhuns barcos, em acção de pesca por lá.

E foi assim que escolhi uns fundos brandos, entralhados, típicos de Douradas e Pargos, considerando a época e as informações, numa zona de 46 a 50m que já me deu muito peixe e onde há muito não pescava.

O GPS indicou-me que chegara e a sonda iniciou o seu trabalho, revelando estruturas já conhecidas e movimento de peixe agarrado ao fundo, aos 50m, na base dos pequenos pontões que raramente se elevavam aos 46.
Eleito o pesqueiro onde queria actuar com as iscas, sucedeu-se o que seria o único fundeio deste primeiro dia, após interregno, iniciado com sinais de toques tímidos a início, um pouco mais insistentes pouco tempo depois, revelando-se um pesqueiro em que sem roubos de isca muito rápidos, iam entrando exemplares de qualidade, principalmente Douradas, com alguns "primos" de porte aceitável, pese embora iscadas de Sardinha e Caranguejo que procuravam maiores.

Deixemos falar as imagens...

O Luís, com uma das suas Douradas:


O Eduardo, também dando um ar da sua graça:


O Tózé, com o maior exemplar do dia:


Ainda o Tózé, com o maior Sargo:


A foto de grupo, onde se vê que o peixe miúdo raramente se atreveu a atirar-se às iscas.


Foi um dia bonito, em que o barco não saiu do sítio até às 15.30 horas, permitindo trabalhar o pesqueiro, com a Sardinha e o Caranguejo, sendo que o peixe caía regularmente em ambas as iscas, com iscadas diversas quanto a tamanho e posicionamento dos iscos.

O Domingo, 23, surgiu meio nublado, a ameaçar chuva que não se fez rogada a partir das 12.00 horas, significando dia de espera e conversa de pesca com amigos, enquanto se aguardava pela Segunda Feira, 24, onde segundo o Windguru se esperava melhor tempo e mais uma pescaria.

Saímos por volta das 09.00, uma hora que ninguém desconfia, com um ventinho moderado de Este que se esperava cair ao longo do dia, o que se veio a verificar.

Tendo em conta as informações e resultados anteriores, era obrigatório sondar o pesqueiro onde tínhamos estado no Sábado, tendo em conta que o peixe se movimenta e, muito provavelmente, poderia não oferecer as mesmas condições, situação usual quando se verificam deslocações de peixe, nesta ou em qualquer outra época do ano.

A sonda mostrou isso mesmo... na verdade, as marcações de peixe quase não existiam no pesqueiro e mostravam-se pouco interessantes, perto e em torno deste. Havia que procurar melhor, alargando rumos na zona.

Naveguei primeiro a Norte, depois a Sul, percorrendo a zona, mas, só para Oeste, a uns 500m, se encontrou um fundo interessante que conjugava imagens de vida com estruturas interessantes, oferecendo ainda uma boa hipótese de fundeio face à deriva de leste, pois permitia largar o ferro num pontão aos 46 metros e deixar o barco cair para um fundo brando, aos 52, situado entre vários bicos de pedra com uma proximidade interessante, ou seja, nem muito perto, nem muito longe, assegurando principalmente que aqueles que procurassem comedia, a encontrariam em torno, com opção de escolha pelas nossas iscas, mais ou menos centradas entre bicos.

Talvez por estarmos numa zona mais limpa, a timidez inicial nos ataques às nossas iscas revelou-se mais prolongada que no dia anterior, mas as notas de peixe maior estavam presentes, essencialmente pelas postas de Sardinha que, quando comidas, vinham cortadas pelo meio e não mordidas em torno, este último, sinal evidente de "gaiatos" a penicar.

Após um ou outro Carapau, o primeiro exemplar subiu a bordo, eventualmente curioso por se comparar com o meu pé.


O pesqueiro, logo após, deu um ar da sua graça com a entrada de uma ou outra Sargueta e Besugos. Melhor sinal da qualidade do local, não seria de esperar, aguardando-se por tal, entradas de "gente" possante, mais cedo ou mais tarde.

Eventualmente, num caso destes, muitos companheiros nossos apostariam na pesca aos Besugos que teimavam em se ferrarem nos nossos anzóis, 4/0 e 6/0, com iscadas grandes de Sardinha e Caranguejo. Mas não eram Besugos que queríamos.

Variei, no anzol de baixo, entre iscadas de meia Sardinha e três postas que eram devoradas a espaços, trazendo um Besugo de vez em quando e falhando muitos, sempre à espera de interessar um "cliente" de maior porte, até que... a coisa acabou por se dar numa iscada de três postas que, chegada ao fundo, ao contrário de outras, esteve intocada mais tempo que o normal, fazendo-me desconfiar e ferrar,logo que senti três toques intensos e com intervalo superior àquelas tremideiras do peixe miúdo.
O "fulano" sentiu o ferro e cabeceou fundo, iniciando depois uma corrida em direcção a Porto Côvo... bonito!
Depois, com calma e entre corridas, acabou por deixar os seus 5,300 kgs tirarem foto comigo.


A coisa estava a correr bem, o pesqueiro activo, mas Douradas... nada. Só os Besugos continuavam a subir intervalados com uma ou outra Sargueta pelo meio.

A acção continuou e sai a 1.ª Dourada ao Zé Beicinho, dando uma nota de que eventualmente a hora delas tinha chegado. Esta ideia instalou-se ainda com mais pertinência nas nossas mentes quando, pouco tempo depois me sai outra, esta com direito a foto e medida...


... pensámos bem e tudo indicava que sim, mas o certo é que, para além de um Pargo de quilo e tal que saiu ao João Martins, nada mais entrou por ali. Pior ainda quando o barco rodou por via do vento Norte de fim de tarde, tirando-nos do sítio e deixando-nos com poucas perspectivas sobre refazer o fundeio, considerando o adiantado da hora.

Para todos os efeitos a pesca estava feita, o dia bem passado e a noção de que as informações retiradas, entre outros factores, valeram a pena.

Fica a foto descansada com os meus três exemplares, num dia que se espera repetir, nunca igual, mas parecido ou até melhor... porque não? 


Quanto às Douradas, tudo indica que a informação foi bem interpretada, considerando que no primeiro dia conseguimos fixá-las na zona de passagem, o que não conseguimos no segundo, ou eventualmente não estaríamos no melhor local para as fixar. Dificilmente o saberemos.

Uma coisa é certa, na próxima vez valerá talvez a pena procurar já zonas onde possam estar fixas, tanto por tal ser normal no mês de Dezembro, quanto pelo comportamento evidenciado nestes dois dias. Esperemos que seja para breve.

Até lá, uma boa tarde a todos os leitores. 

4 comentários:

António Vinha disse...

- Olá Ernesto
Mais um magnifico relato. Parabéns pelas pescarias.

Abraço

Ernesto Lima disse...

Viva Tózé!

Grato pelo comentário e parabérns também para ti... Eheheheheheh

Abraço

Edgar disse...

Amigo Ernesto Lima, gostaria de entrar em contacto consigo para lhe colocar uma questão. Não consegui encontrar no entanto nenhum email de contacto.

Se puder envie-me um email para elorga@gmail.com que lhe irei responder.

Muito obrigado,
Edgar Lorga

Unknown disse...

Boas

Bonito relato, como de costume!

Gostei especialmente da introdução, a analogia à rosa dos ventos, muito bom...

Como de costume também, a informação precisa dos pesqueiros a selecionar, ainda que não sirvam na minha zona, fico com a sensação que, até eu, conseguiria capturas dessas...

Parabéns e obrigado pela partilha.

Abraço,
Roberto Vicente