Boa noite leitores mais pacientes.
Iniciei-me com as pescas há já alguns anos, primeiro com a submarina onde ainda fiz alguns brilharetes, depois interrompi. Família, trabalho, formação contínua..., até que comprei o meu primeiro barquito, um semi-rígido, com intenções de recomeçar a pesca submarina a sério, mas acabei por me virar para a pesca embarcada que desenvolvo até hoje, muito devido ao meu hábito, já antigo, de me dedicar de alma e coração a uma actividade de cada vez, nas várias áreas em que me movimento.
Em todo este tempo, sempre me dediquei a observar tudo o que à minha volta acontece e a registar, ora mentalmente, ora por escrito, os acontecimentos e experiências mais significativas, para continuamente poder estudá-los, revivê-los e, quiçá, melhor os compreender.
Iniciei o meu primeiro contacto com as douradas, ainda na minha fase da caça submarina, na Praia da Cordoama, numa caçada excepcional, em conjunto com o meu amigo Carlos Cruz, num mês de Setembro de há tantos anos que até me custa dizer a data!
Estes contactos e aquisições, foram-se repetindo sempre na mesma época (Setembro) e em locais idênticos, não muito longe de terra, em fundos mistos com pedra alta e esburacada, no meio das laminárias pouco densas e perto de zonas de areia com comedia agarrada ao fundo.
Na minha fase de pesca embarcada, que iniciei em Setúbal, onde vivo, tive os primeiros encontros com este espárido (deixa cá pôr uma palavrita mais cara) no rio Sado, também entre fins de Agosto e início de Novembro, tornando-se difícil apanhá-las assim que caíam as primeiras chuvas e perdendo-lhes o rasto após esta altura, à excepção de uma ou outra que se apanhava na pesca de mar embarcada, do "tudo o que vem à rede é peixe", embora com a medida mínima, coisa que me prezo de sempre ter cumprido, não por ser legalista, mas porque de peixe frito, só gosto de carapau pelim.
Entretanto, nas minhas visitas habituais ao mercado de Setúbal e em conversas com os profissionais, apercebia-me que, entre fins de Setembro e inícios de Novembro, aconteciam capturas importantes desta espécie, pelos "rapas", em fundos limpos mais afastados da costa e acabava-se a história, excepto noutros locais do país, conforme vim a saber posteriormente.
Ainda em Setúbal, por volta do ano de 1998, as "moçoilas" foram descobertas, pelo Zé Carlos e o irmão, em quantidade assinalável, num local denominado "Vereda do Mar dos Pargos", cujo fundo é constituído por pedra forte e alta, rodeada e intervalada por fundos brandos e entralhados, onde para além de douradas, se apanham besugos e pargos de bom tamanho durante a época que decorre entre início de Novembro e fins de Janeiro, prolongando-se, em alguns anos, até Fevereiro.
Do acompanhamento, participação e resultados obtidos em várias pescarias direccionadas para esta espécie e da informação recolhida que apontava para capturas idênticas em vários locais do país e em pesqueiros diferenciados na zona de Setúbal, Espichel, Sines..., parece poder dizer-se que as Douradas, entre Setembro e Fevereiro se movimentam gradualmente da costa para fundos de 60 a 100 metros, seguindo os seus instintos de alimentação e procriação, primeiro numa fase de pequenos cardumes que se alimentam junto à costa e que, conforme vão aumentando, se dirigem para fora, originando concentrações importantes com o objectivo da procriação, atendendo a que a maior parte dos exemplares capturados na fase funda, estão gordos e a rebentar com ovas enormes.
Nesta digressão abrem-se, sucessivamente, hipóteses de boas capturas, começando no Surf Casting, passando pela pesca profissional e terminando na pesca embarcada em barco fundeado. Claro, que nada do que foi dito é assim tão linear, em termos de datas e das respectivas formas de pescar, mas não parece andar muito longe.
Declaro ainda, que tudo o que anteriormente referi se baseia na minha observação e acção de pesca, carecendo de fundamentação científica, embora os resultados obtidos, em Setúbal, Norte do Espichel e agora em Sines, possam permitir a informação desfiada.
Ficaria esta entrada incompleta, sem uma descrição técnica e de alguns pequenos truques que tenho utilizado, com sucesso, quando me dedico ao prazer constituído pela captura de peixe tão nobre e lutador, cuja posterior degustação acompanhada da conversa sobre as proezas/desaires do dia, tornará perfeita qualquer jornada de pesca.
Retornando à época de 98, em Setúbal, quando se deu com este "material", meus amigos... vou-vos contar.
Èramos 4 ou 5 barcos, numa área com um "diâmetro" para aí de 3/4 de milha, onde o fundo estava carregado de douradas, esfomeadas, penso eu, para ingerirem as calorias necessárias à desova que se aproximaria.
Fundeava-se o barco em cima de bicos a 68 metros de profundidade e dava-se cabo até que a sonda marcasse os 82 a 84 metros. Preparavam-se duas canas, uma mais rija e outra mais macia; nesta altura, ainda usava uma de 2,70 e outra de 3,30, com acções diferentes. Nestas canas montavam-se baixadas com dois estralhos de 0,40, com 45 a 50 cm de comprimento, onde se montavam anzóis n.º 1, dos tais "torcidos". Iscava-se com caranguejo e bomboca e deixavam-se as iscas chegar ao fundo, aumentavam-se as tensões às canas e, com elas nos caneiros, em dias de mar calmo, esperava-se ver um pequeno balançar da ponteira e era enrolar à pressa e levantar agressivamente as canas acima da cabeça (na altura não se pescava ainda com multifilamento).
Quando isto acontecia, era, como hei-de dizer... orgásmico.
Os bichos não tinham menos de 2 kgs, estávamos a lutar com uma e já víamos a outra cana a adquirir outro animal. A adrenalina envolvia-nos de tal forma que até se sentia o cheiro no ar. Já para não falar de quando entrava algum pargo com a sua forma característica de enfiar a ponteira da cana dentro de água, enfim... momentos inesquecíveis.
Claro que as notícias correm depressa e a cada pesca que lá se fazia, aumentavam o número de barcos e o número de pescadores, muitos, mais "apanhadores de peixe", e as coisas alteraram-se...!
Quem lá chegasse, procurasse o seu pesqueiro, fundeasse e começasse a apanhar douradas, sabia que de imediato teria companhia de quatro, cinco, ou mais embarcações, cheias de gente que de pesca sabia muito pouco, que largavam ferros à nossa volta, a distâncias que não lembra ao diabo, quase sendo necessário colocar defensas.
Isto não tinha nada a ver comigo e comecei a pensar que embora as douradas adorassem a "Vereda do Mar dos Pargos", naquela época do ano, elas não tinham chegado ali a voar e com certeza haveriam outros pesqueiros, com características idênticas e consequentemente apelativos para as "raparigas". Deitei-me à carta (AP5) estudei bem o tipo e enquadramento daquele fundo e procurei outros idênticos, que encontrei. Principalmente na zona do Cabo Espichel, onde aprendi que a pesca à dourada, nesta época, já se praticava há muito tempo noutros locais do país e que a facilidade inicial de captura, em Setúbal, parecia dever-se à ausência desta prática na zona.
Até 2000 pesquei por ali, conseguindo boas pescas, quer de douradas quer de outras espécies, até que adquiri este último barco e, em boa hora, me estabeleci pescador lúdico, no Porto de Recreio de Sines.
Na primeira época em que pesquei em Sines, posso dizer-vos: ouvi dizer tanta coisa diferente sobre as Douradas que parecia que nunca na minha vida tinha feito tal pesca. Cada terra com seu uso.
No entanto, a bicharada segue, por norma, os seus instintos e de facto elas fazem lá o mesmo percurso, diferindo as técnicas e formas de abordagem dos pescadores da zona, assim vejamos:
* Os pescadores profissionais de Sines são os primeiros a procurá-las e a encontrá-las, criando os seus próprios pesqueiros em zonas diversas e habituais, relativamente a diferentes momentos na mesma época.
* Montam bóias com vários ferros e asseguram-se que os pesqueiros estão sempre engodados. Isto cria condições adversas para os pescadores lúdicos que terão maior dificuldade em encontrar Douradas fora destas zonas, muito engodadas, e, terão de manter distâncias legais dos pesqueiros assinalados por bóias dos profissionais que a isso têm todo o direito. Caberá aos lúdicos procurar alternativas fora da "molhada".
* Estes homens, que muito respeito, põem constantemente em causa as técnicas que se apregoam, pois montam pescas de mão, com monofilamento de 0,80, estralhos de quase uma braça, de 0,40 a 0,50, chumbadas de 200/300 grs e apanham douradas ao anzol, com uma velocidade que faria corar de inveja os campeões de pesca de mar, embarcada, a apanharem "ganopas" e "piças", com materiais que custam os olhos da cara. Conseguem ainda manter a engodagem pelo método do "Pára Quedas", sobre o qual falarei em entrada específica.
As circunstâncias descritas, fizeram-me apanhar secas monumentais à procura de pesqueiros fora das aglomerações de barcos em acção de pesca, com consequentes insucessos que acabei por ultrapassar nas duas últimas épocas. Tendo sido, esta última, a mais rica quanto aos exemplares capturados.
Resumindo... queria pescar longe de outros barcos mas o peixe estava concentrado com a comedia originada pelo engodo e a coisa não funcionava por dificuldade em criar os níveis de engodagem próprios necessários, pelo que havia que aproveitar o que já estava feito.
Considerando que o engodo se espalha e que, havendo aguagem, ele se deslocará no sentido desta, começei por procurar fundos característicos a 100/200 metros dos grupos em acção de pesca e na direcção da aguagem, aproveitando assim os fluxos de engodo e capturando os exemplares que por ali vagueiam em busca de alimentação. Claro que, é por vezes necessário, ter paciência e aguardar, porque os exemplares levam algum tempo a aparecer, sendo normalmente de bom tamanho.
As montagens são parecidas com as dos pargos. Uso duas canas, neste caso com multifilamento nos carretos de ambas e com uma ponteira de 15/20 metros para o amortecimento em luta.
Os estralhos são de 0,35 e 0,40, respectivamente, na cana ao sentir e na cana a pescar sózinha cuja baixada costumo elevar do fundo a +/- 5 metros. Nos dois casos, os comprimentos dos estralhos variam entre 0,60 e 1,00 metros.
Quanto à isca, embora a bomboca funcione bem, é de facto o caranguejo que efectua, na generalidade, a maioria das capturas. Ora descascado, partindo o miolo em dois e iscando no mesmo anzol, ora inteiro, iscado por trás, enfiando o anzol entre o casco e o corpo, saindo ao meio do caranguejo, por baixo e ao centro das patas. Esta última maneira de iscar aplica-se mais na cana a pescar no caneiro ou quando vamos almoçar, pois assegura que peixe que lá vai é grande e interessado, abocando sem cerimónias, na maioria das vezes.
É uma pesca dura, pois estamos normalmente a profundidades médias de 80 metros e, ao mínimo toque, era uma vez a isca, obrigando a contínuas subidas e descidas do material. Toda esta acção, como se pode imaginar, se torna ainda mais complicada em dias de mar mais revolto.
Poder-se-á perguntar, então porque é que não se isca sempre o caranguejo inteiro?
A razão parece ter a ver com o "frenesim da comida".
Das experiências realizadas, fica-se com a ideia que o peixe miúdo que por ali anda não vai ao caranguejo inteiro, não criando a excitação necessária para o aparecimento dos maiores exemplares.
Importa ainda saber que se o caranguejo partido vier chupado, as douradas não estão lá. Se desaparecer rapidamente, a ferragem foi tardia. Se vier inteiro, mas completamente amassado, tentámos ferrar cedo demais. Experimentem e digam-me se não é assim.
Bom... esta é a minha história com as Douradas que espero não ter ainda acabado!
Eventualmente não terei sido muito explicito nalgumas matérias. Se criei dúvidas, sabem onde me encontrar. Perguntem que eu respondo, assim me seja possível!?
PS: deixo-vos com a foto acima, tirada nesta última época, no fim de semana antes do Natal. Já foi... ao Sal!
Desculpem lá os óculos da foto, eram os únicos que haviam à venda ali nos ciganos amigos, do Ferry Boat em Setúbal. E o Sol estava-me a incomodar!
Iniciei-me com as pescas há já alguns anos, primeiro com a submarina onde ainda fiz alguns brilharetes, depois interrompi. Família, trabalho, formação contínua..., até que comprei o meu primeiro barquito, um semi-rígido, com intenções de recomeçar a pesca submarina a sério, mas acabei por me virar para a pesca embarcada que desenvolvo até hoje, muito devido ao meu hábito, já antigo, de me dedicar de alma e coração a uma actividade de cada vez, nas várias áreas em que me movimento.
Em todo este tempo, sempre me dediquei a observar tudo o que à minha volta acontece e a registar, ora mentalmente, ora por escrito, os acontecimentos e experiências mais significativas, para continuamente poder estudá-los, revivê-los e, quiçá, melhor os compreender.
Iniciei o meu primeiro contacto com as douradas, ainda na minha fase da caça submarina, na Praia da Cordoama, numa caçada excepcional, em conjunto com o meu amigo Carlos Cruz, num mês de Setembro de há tantos anos que até me custa dizer a data!
Estes contactos e aquisições, foram-se repetindo sempre na mesma época (Setembro) e em locais idênticos, não muito longe de terra, em fundos mistos com pedra alta e esburacada, no meio das laminárias pouco densas e perto de zonas de areia com comedia agarrada ao fundo.
Na minha fase de pesca embarcada, que iniciei em Setúbal, onde vivo, tive os primeiros encontros com este espárido (deixa cá pôr uma palavrita mais cara) no rio Sado, também entre fins de Agosto e início de Novembro, tornando-se difícil apanhá-las assim que caíam as primeiras chuvas e perdendo-lhes o rasto após esta altura, à excepção de uma ou outra que se apanhava na pesca de mar embarcada, do "tudo o que vem à rede é peixe", embora com a medida mínima, coisa que me prezo de sempre ter cumprido, não por ser legalista, mas porque de peixe frito, só gosto de carapau pelim.
Entretanto, nas minhas visitas habituais ao mercado de Setúbal e em conversas com os profissionais, apercebia-me que, entre fins de Setembro e inícios de Novembro, aconteciam capturas importantes desta espécie, pelos "rapas", em fundos limpos mais afastados da costa e acabava-se a história, excepto noutros locais do país, conforme vim a saber posteriormente.
Ainda em Setúbal, por volta do ano de 1998, as "moçoilas" foram descobertas, pelo Zé Carlos e o irmão, em quantidade assinalável, num local denominado "Vereda do Mar dos Pargos", cujo fundo é constituído por pedra forte e alta, rodeada e intervalada por fundos brandos e entralhados, onde para além de douradas, se apanham besugos e pargos de bom tamanho durante a época que decorre entre início de Novembro e fins de Janeiro, prolongando-se, em alguns anos, até Fevereiro.
Do acompanhamento, participação e resultados obtidos em várias pescarias direccionadas para esta espécie e da informação recolhida que apontava para capturas idênticas em vários locais do país e em pesqueiros diferenciados na zona de Setúbal, Espichel, Sines..., parece poder dizer-se que as Douradas, entre Setembro e Fevereiro se movimentam gradualmente da costa para fundos de 60 a 100 metros, seguindo os seus instintos de alimentação e procriação, primeiro numa fase de pequenos cardumes que se alimentam junto à costa e que, conforme vão aumentando, se dirigem para fora, originando concentrações importantes com o objectivo da procriação, atendendo a que a maior parte dos exemplares capturados na fase funda, estão gordos e a rebentar com ovas enormes.
Nesta digressão abrem-se, sucessivamente, hipóteses de boas capturas, começando no Surf Casting, passando pela pesca profissional e terminando na pesca embarcada em barco fundeado. Claro, que nada do que foi dito é assim tão linear, em termos de datas e das respectivas formas de pescar, mas não parece andar muito longe.
Declaro ainda, que tudo o que anteriormente referi se baseia na minha observação e acção de pesca, carecendo de fundamentação científica, embora os resultados obtidos, em Setúbal, Norte do Espichel e agora em Sines, possam permitir a informação desfiada.
Ficaria esta entrada incompleta, sem uma descrição técnica e de alguns pequenos truques que tenho utilizado, com sucesso, quando me dedico ao prazer constituído pela captura de peixe tão nobre e lutador, cuja posterior degustação acompanhada da conversa sobre as proezas/desaires do dia, tornará perfeita qualquer jornada de pesca.
Retornando à época de 98, em Setúbal, quando se deu com este "material", meus amigos... vou-vos contar.
Èramos 4 ou 5 barcos, numa área com um "diâmetro" para aí de 3/4 de milha, onde o fundo estava carregado de douradas, esfomeadas, penso eu, para ingerirem as calorias necessárias à desova que se aproximaria.
Fundeava-se o barco em cima de bicos a 68 metros de profundidade e dava-se cabo até que a sonda marcasse os 82 a 84 metros. Preparavam-se duas canas, uma mais rija e outra mais macia; nesta altura, ainda usava uma de 2,70 e outra de 3,30, com acções diferentes. Nestas canas montavam-se baixadas com dois estralhos de 0,40, com 45 a 50 cm de comprimento, onde se montavam anzóis n.º 1, dos tais "torcidos". Iscava-se com caranguejo e bomboca e deixavam-se as iscas chegar ao fundo, aumentavam-se as tensões às canas e, com elas nos caneiros, em dias de mar calmo, esperava-se ver um pequeno balançar da ponteira e era enrolar à pressa e levantar agressivamente as canas acima da cabeça (na altura não se pescava ainda com multifilamento).
Quando isto acontecia, era, como hei-de dizer... orgásmico.
Os bichos não tinham menos de 2 kgs, estávamos a lutar com uma e já víamos a outra cana a adquirir outro animal. A adrenalina envolvia-nos de tal forma que até se sentia o cheiro no ar. Já para não falar de quando entrava algum pargo com a sua forma característica de enfiar a ponteira da cana dentro de água, enfim... momentos inesquecíveis.
Claro que as notícias correm depressa e a cada pesca que lá se fazia, aumentavam o número de barcos e o número de pescadores, muitos, mais "apanhadores de peixe", e as coisas alteraram-se...!
Quem lá chegasse, procurasse o seu pesqueiro, fundeasse e começasse a apanhar douradas, sabia que de imediato teria companhia de quatro, cinco, ou mais embarcações, cheias de gente que de pesca sabia muito pouco, que largavam ferros à nossa volta, a distâncias que não lembra ao diabo, quase sendo necessário colocar defensas.
Isto não tinha nada a ver comigo e comecei a pensar que embora as douradas adorassem a "Vereda do Mar dos Pargos", naquela época do ano, elas não tinham chegado ali a voar e com certeza haveriam outros pesqueiros, com características idênticas e consequentemente apelativos para as "raparigas". Deitei-me à carta (AP5) estudei bem o tipo e enquadramento daquele fundo e procurei outros idênticos, que encontrei. Principalmente na zona do Cabo Espichel, onde aprendi que a pesca à dourada, nesta época, já se praticava há muito tempo noutros locais do país e que a facilidade inicial de captura, em Setúbal, parecia dever-se à ausência desta prática na zona.
Até 2000 pesquei por ali, conseguindo boas pescas, quer de douradas quer de outras espécies, até que adquiri este último barco e, em boa hora, me estabeleci pescador lúdico, no Porto de Recreio de Sines.
Na primeira época em que pesquei em Sines, posso dizer-vos: ouvi dizer tanta coisa diferente sobre as Douradas que parecia que nunca na minha vida tinha feito tal pesca. Cada terra com seu uso.
No entanto, a bicharada segue, por norma, os seus instintos e de facto elas fazem lá o mesmo percurso, diferindo as técnicas e formas de abordagem dos pescadores da zona, assim vejamos:
* Os pescadores profissionais de Sines são os primeiros a procurá-las e a encontrá-las, criando os seus próprios pesqueiros em zonas diversas e habituais, relativamente a diferentes momentos na mesma época.
* Montam bóias com vários ferros e asseguram-se que os pesqueiros estão sempre engodados. Isto cria condições adversas para os pescadores lúdicos que terão maior dificuldade em encontrar Douradas fora destas zonas, muito engodadas, e, terão de manter distâncias legais dos pesqueiros assinalados por bóias dos profissionais que a isso têm todo o direito. Caberá aos lúdicos procurar alternativas fora da "molhada".
* Estes homens, que muito respeito, põem constantemente em causa as técnicas que se apregoam, pois montam pescas de mão, com monofilamento de 0,80, estralhos de quase uma braça, de 0,40 a 0,50, chumbadas de 200/300 grs e apanham douradas ao anzol, com uma velocidade que faria corar de inveja os campeões de pesca de mar, embarcada, a apanharem "ganopas" e "piças", com materiais que custam os olhos da cara. Conseguem ainda manter a engodagem pelo método do "Pára Quedas", sobre o qual falarei em entrada específica.
As circunstâncias descritas, fizeram-me apanhar secas monumentais à procura de pesqueiros fora das aglomerações de barcos em acção de pesca, com consequentes insucessos que acabei por ultrapassar nas duas últimas épocas. Tendo sido, esta última, a mais rica quanto aos exemplares capturados.
Resumindo... queria pescar longe de outros barcos mas o peixe estava concentrado com a comedia originada pelo engodo e a coisa não funcionava por dificuldade em criar os níveis de engodagem próprios necessários, pelo que havia que aproveitar o que já estava feito.
Considerando que o engodo se espalha e que, havendo aguagem, ele se deslocará no sentido desta, começei por procurar fundos característicos a 100/200 metros dos grupos em acção de pesca e na direcção da aguagem, aproveitando assim os fluxos de engodo e capturando os exemplares que por ali vagueiam em busca de alimentação. Claro que, é por vezes necessário, ter paciência e aguardar, porque os exemplares levam algum tempo a aparecer, sendo normalmente de bom tamanho.
As montagens são parecidas com as dos pargos. Uso duas canas, neste caso com multifilamento nos carretos de ambas e com uma ponteira de 15/20 metros para o amortecimento em luta.
Os estralhos são de 0,35 e 0,40, respectivamente, na cana ao sentir e na cana a pescar sózinha cuja baixada costumo elevar do fundo a +/- 5 metros. Nos dois casos, os comprimentos dos estralhos variam entre 0,60 e 1,00 metros.
Quanto à isca, embora a bomboca funcione bem, é de facto o caranguejo que efectua, na generalidade, a maioria das capturas. Ora descascado, partindo o miolo em dois e iscando no mesmo anzol, ora inteiro, iscado por trás, enfiando o anzol entre o casco e o corpo, saindo ao meio do caranguejo, por baixo e ao centro das patas. Esta última maneira de iscar aplica-se mais na cana a pescar no caneiro ou quando vamos almoçar, pois assegura que peixe que lá vai é grande e interessado, abocando sem cerimónias, na maioria das vezes.
É uma pesca dura, pois estamos normalmente a profundidades médias de 80 metros e, ao mínimo toque, era uma vez a isca, obrigando a contínuas subidas e descidas do material. Toda esta acção, como se pode imaginar, se torna ainda mais complicada em dias de mar mais revolto.
Poder-se-á perguntar, então porque é que não se isca sempre o caranguejo inteiro?
A razão parece ter a ver com o "frenesim da comida".
Das experiências realizadas, fica-se com a ideia que o peixe miúdo que por ali anda não vai ao caranguejo inteiro, não criando a excitação necessária para o aparecimento dos maiores exemplares.
Importa ainda saber que se o caranguejo partido vier chupado, as douradas não estão lá. Se desaparecer rapidamente, a ferragem foi tardia. Se vier inteiro, mas completamente amassado, tentámos ferrar cedo demais. Experimentem e digam-me se não é assim.
Bom... esta é a minha história com as Douradas que espero não ter ainda acabado!
Eventualmente não terei sido muito explicito nalgumas matérias. Se criei dúvidas, sabem onde me encontrar. Perguntem que eu respondo, assim me seja possível!?
PS: deixo-vos com a foto acima, tirada nesta última época, no fim de semana antes do Natal. Já foi... ao Sal!
Desculpem lá os óculos da foto, eram os únicos que haviam à venda ali nos ciganos amigos, do Ferry Boat em Setúbal. E o Sol estava-me a incomodar!
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