domingo, 24 de fevereiro de 2008

Nostalgias!

Estes fins de semana consecutivos de mau tempo, acabam comigo!
Valeu neste último, o aniversário da minha filhoca e estar com a minha neta mais tempo que o habitual, assim como, confraternizar com quase toda a família, o que nos proporciona sempre bons momentos!
Mas chegou o fim do dia! A televisão prende a atenção durante uns momentos, mas a aproximação de mais uma semana de trabalho, a falta de acção, a visita inconsciente à salinha onde estão os materiais, as revistas e as cartas de pesca (o meu covil), transportaram-me para outros momentos, outras acções e para as fotos antigas, carregadas de significado.
Cada imagem ou grupo de imagens tem uma estória! Talvez por contar!?
Como as duas que hoje apresento!
Ambas conseguidas no mesmo dia, lembram-me a minha última fase de pesca, quando ainda pescava em Setúbal! Lembram-me o barco que tive antes deste! Lembram-me o meu amigo Rogério que já não está entre nós, levado antes de tempo por um "caranguejo" que ninguém quer apanhar!
Ao lembrar-me de tudo isto, fico primeiro triste, depois nostálgico e finalmente feliz!
Triste pelo meu amigo; nostálgico pelos bons momentos e experiências de pescas excepcionais que juntos tivemos; e, finalmente, feliz porque ainda as posso contar e ter perspectivas futuras de melhores dias!
Então lembro-me daquele dia, no fim do verão de 2000, em que fomos pescar ao tubarão, fundeados com engodo, ali para a costa de tróia, lá longe, num dia de nevoeiro, com mar calmo e um silêncio que nos mantinha calados pela beleza contida nos pequenos ruídos provocados pela água a deambular ao longo do casco, pelas Cavalas que marulhavam à superfície, comendo pequenos troços da Sardinha do nosso engodo que por ali flutuavam!
De repente um esvoaçar mais forte seguido de outro! Olhámos! E, com espanto, observamos dois pombos correios que esvoaçam sobre o barco, pairando sobre este, parecendo, à sua maneira, avaliarem a situação, e, possivelmente, achando-nos com ar de boa gente ou unicamente pela necessidade de sobrevivência, poisam na proa e observam-nos como que tentando perceber as reações por eles provocadas.
Confesso que, embora já tivesse ouvido relatos semelhantes, fiquei surpreendido! Olhei para o Rogério e, pela sua reacção, apercebi-me que não era o único! Rimos! Nervosos!
Imaginem a situação!
Estávamos envolvidos pela bruma e pelo silêncio! Nós! Os pombos! As pescas na água aguardando a picada inicialmente leve, normalmente seguida de uma corrida violenta características de um esqualo, e, já não pensávamos em mais nada; senão em, qual o comportamento a ter com os nossos companheiros alados! Bonito!
Foi a nossa vez de avaliarmos a situação!? Optámos pelo relacionamento!
Calculando que poderiam ter sede e fome, improvisámos bebedouro e comedouro com bases cortadas de garrafas de água. Deitámos água numa, miolo de pão e bolo seco noutra, colocando-os o mais perto dos nossos "amigos", tendo em conta as distâncias que os poderiam assustar, evitando movimentos bruscos e afastando-nos para que pudessem comer sem que se sentissem ameaçados pela nossa proximidade.
Um dos pombos dirigiu-se de imediato e sem precauções evidentes, para as nossas ofertas, comendo e bebendo até à saciedade! O outro, coitado, não saía do lugar onde poisou, encolhido e aparentemente sem acção! Preocupou-nos! Deixando-nos sem saber que fazer!
Resolvemos aproximarmo-nos e chegar-lhe água e comida mais perto, mas não reagiu, semicerrando os olhos como quem necessita descanso, sendo a comida algo que de momento não lhe interessava! Tememos por ele! Continuámos a pesca deixando-os à vontade lá pela proa!
Com tudo isto, tinhamos quebrado a corrente de engodo necessária à atração dos tubarões e possíveis atuns com que tinhamos sonhado, toda a semana, enquanto preparávamos esta jornada, mas já nem pensávamos nisso! O pombo cansado, mexeu-se! Comeu, bebeu! Descansou mais um pouco! E, assim que o nevoeiro levantou, ambos levantaram vôo e afastaram-se rapidamente sem olharem para trás ou esvoaçarem em torno, direitos ao seu objectivo, para nós desconhecido e pouco importante, sentindo-nos bem unicamente por os termos ajudado, ambos fazendo votos sinceros para que o alcançassem.
A pesca em si, tinha perdido o sentido! Eram as imagens que tinham tomado o lugar primordial deste dia! Já tinhamos que contar! Mas não tinha acabado!
Apareceram os golfinhos, de repente! Vindos do azul! Talvez tenha sido o Sol!? Talvez os cardumes de peixe miúdo atraído pelo nosso engodo!? Nunca o soubemos!
Mas o espectáculo que nos proporcionaram, em torno do barco, não tinhamos ainda observado!
Não estavam a comer! Brincavam somente!
O tempo que por ali estiveram foi muito! Foi divertido! Arrancaram-nos gritos de entusiasmo, palmas até! Parecíamos dois gaiatos num espectáculo com bilhete pago! Mas não! Estávamos em pleno mar! Sós! Com os golfinhos!
Acreditámos, na altura, que tinha sido uma recompensa pela forma como recebemos as aves, tendo o Rei Neptuno, que tudo observa, enviado os golfinhos para nos agradecer a nossa forma de estar no mar! Não sei! Talvez o meu amigo Rogério, lá na estrela em que vive, já tenha certezas!? Um dia vou estar com ele e, concerteza, falaremos sobre o assunto! Sinceramente, não tenho pressa!
Boa noite a todos!

8 comentários:

Amorim disse...

Boa tarde Ernesto
Mais uma magnífica história que encanta todos os que "sentem" o mar, obrigado por as partilhares connosco.
Começo agora a entender o porquê dos teus sucessos na pesca, afinal não é só mestria, os Deuses gostam é mesmo de ti. (só podem né?)hehehe

Aquele abraço

Amorim

Anónimo disse...

Viva Ernesto.
Muito bonita história, contada com mestria e sentimento. É sempre bom recordar os bons momentos e as dádivas dos Deuses.

Que eles estejam sempre contigo.

Abraço

Paulo karva

Anónimo disse...

Bonita memória e muito bem contada a história.

Cumprimentos
Sérgio

Anónimo disse...

Nostalgias ou Momentos da vida de um homem. Que contados desta maneira superior, nos tocam profundamente, fazendo vir ao de cima as recordações de outras tantas nostalgias por nós vividas.

Obrigado amigo, este teu espaço é um oásis neste estéril deserto em que vivemos!

Abraço!

Mário Baptista

Anónimo disse...

Viva Ernesto Lima
Quando iniciei a leitura, julguei que era desta que iamos ter o grande combate!
Em compensação deu-nos o prazer de saborear um dos seus melhores textos
sempre que o lemos, tem o dom de nos deixar enredados num turbilhão de ideias
Gosto do tom suave como trata a morte e de como a vai vencendo com a alegria de estar vivo
Um abraço

João Martins

António Simões disse...

Sim...O Ernesto melhora de dia para dia, as suas narrativas,percorrendo o espaço e o tempo da leitura nos timings quase perfeitos.É uma estória (ou historia)(raio de acordos ortográficos..) muito bonita. Alicerçada na amizade e saudade de um Amigo que partiu(como a nós todos nos tocou alguma vez na vida). Também para mim este espaço do Ernesto é o meu barco da tranquilidade, quando ando mais nostalgico e pensativo.
Pura magia.

Obrigado Ernesto
António

Ernesto Lima disse...

Viva pessoal!

Grato pelos Vossos comentários!

Não sei explicar porque escrevo o que escrevo e como escrevo!

Não sei bem o que procuro ou se procuro alguma coisa!

Sinto-me bem quando o faço!

Sinto-me bem quando vos oiço!

Adoro pescar! Adoro viver, falar e conviver!

Limito-me a falar sobre tudo isso!

Um abraço para todos!

Ernesto

Ricardo Silva disse...

Viva!

Este é sem dúvida um daqueles espaços mesmo agradáveis de se visitar. Dá gosto "ouvir" quer o protagonista do espaço quer os "comentadores" habituais. Só falta mesmo a possibilidade de se poder partilhar uma cervejinha entre duas histórias :-)

Abraços!

Ricardo Silva