domingo, 17 de fevereiro de 2013

A cor vermelha em pesqueiro novo!


Peixes em tons de vermelho, com olhos do tamanho de cápsulas de cerveja ou maiores... adoro!

Mas tanto ou mais que a sua captura, são os esforços que se desenvolvem na sua procura que me apaixonam, tanto em momentos menos bons, quanto em momentos de sucesso; principalmente quando esse sucesso se baseia na procura de novos fundos, no aproveitamento de condições de mar e vento ideais para explorar zonas específicas, adequadas a cada época, e, nas decisões que se tomam quanto a fundeio atendendo à actividade observada nas imagens que a sonda nos devolve, permitindo-nos operações de fundeio em que ficamos a pescar mesmo onde queríamos. Isto é, depois de analisar jornadas menos produtivas quanto a resultados, época do ano e condições de mar e vento em que foram realizadas; esperar um dia em que as condições sejam favoráveis, adequar a procura em função da análise anterior, insistir em locais desconhecidos e profundidades diferentes, até encontrar um fundo com bom aspecto, fundear bem e... ter sucesso.

Mas chega de introdução e passemos ao relato.

Este início de ano tem sido pródigo em dias que não permitem ir ao mar. Se por um lado é bom por permitir a renovação necessária, por outro, não permitindo uma regularidade de saídas, quebra o ritmo de pesca, principalmente no que se refere aos locais onde o peixe "habitualmente" pára.
A palavra entre aspas, colocada de propósito, é um perigo no que se refere à procura de peixe, muito porque os hábitos do peixe, prendendo-se essencialmente com a alimentação e em alturas específicas  com a reprodução, variarão por norma em função das deslocações do peixe alimento que, por sua vez, serão ditadas pelas condições determinadas por correntes, temperaturas e outras, existentes no meio aquático, muitas delas que não conseguimos dominar, obrigando à regularidade de saídas na procura dos locais onde possam prevalecer determinados "hábitos" de passagem de peixe, em determinada época do ano, mas no entanto sujeitas à alteração dos tais "hábitos". Valham-nos as capacidades de ter em conta estas possibilidades e de saber ler a santa sonda, para não falar naquelas de, em acção de pesca, entender as reacções do pesqueiro e proceder em conformidade, pensando sempre que estes peixes de maior porte, normalmente, não andam por lá ao monte, nem se atiram a qualquer isca ou formato de apresentação da mesma.

Das reflexões produzidas, parece poder entender-se que os tais "hábitos" normalmente verificam-se em determinadas épocas, mas de ano para ano, podem alterar-se significativamente tanto no que respeita a profundidades, quanto a zonas de pesqueiros, obrigando a uma procura contínua tendo em conta as variabilidades referidas, pior ainda em fases de transição climatérica ou nos momentos em que o peixe tende a afundar ou vir mais à terra.
Não há hipóteses de o descobrir, senão indo e experimentando em pesqueiros diversos ou procurando novos, mesmo correndo riscos de insucesso.
Em determinadas alturas deste processo de procura, poderemos dominar, durante períodos relativamente longos, os locais e tendências do peixe, sabendo que mais cedo ou mais tarde tornaremos ao processo, devido à contínua mudança de condições a que o meio aquático está sujeito.
O domínio sobre os factores apresentados e consequentes hipóteses de sucesso, tende a aumentar com a regularidade de saídas, coisa que nem sempre se consegue.

Este conjunto de factores justifica, de algum modo, resultados das últimas saídas, relativamente intervaladas, em fase de transição, correndo riscos de não capturar e chegando a esta última, Sábado, dia 16 de Fevereiro, deste ano da crise dos ladrões de 2013, em que, acompanhado dos companheiros Tózé e João Maria, resolvemos procurar novos pesqueiros, mais fundos, atendendo à época e conseguindo alguma recompensa.

Saímos pelas 08.30, quase de madrugada, para um mar calmo e estanhado, abrilhantado por uma leve brisa de Sueste, óptima para aproar o barco e mantê-lo quieto, desde que não existisse nenhuma aguagem contrária ou atravessada que fizesse variar a posição de fundeio em conjunto com possíveis variações da intensidade do vento que não eram esperadas. As condições ideais para ir procurar um pouco mais longe e mais fundo.
Navegámos para Oeste, procurando uma zona de pontões altos, ladeados por entralhados, em profundidades compreendidas entre os 80 e os 100 metros de profundidade. Chegámos, determinámos a deriva do barco e iniciámos a sondagem. Primeiro num pesqueiro já conhecido que não me agradou, tanto pelo aspecto da actividade que me pareceu essencialmente de peixe miúdo, quanto pela dificuldade, para não dizer impossibilidade de lá fundear, atendendo ao rumo da deriva. Estas condições levaram-me a alargar a procura na zona, batendo-a em rumos paralelos e perpendiculares que me levaram para bem longe do que já conhecia por ali, assim como à descoberta de um novo pesqueiro que se apresentava a jeito para o fundeio e cuja imagem de sonda me agradou, tanto pela configuração de fundo, quanto pelas imagens de actividade observadas. Era ali! Estava decidido!

Após o fundeio, percebemos que tudo estava de feição, até uma leve aguagem que corria no mesmo rumo do vento. Uma beleza... só faltava pescar, coisa que de imediato fizemos, até porque... "cheirava a peixe". Não sei explicar as condições em que a anterior expressão me vem à cabeça, mas o certo é que muitas vezes funciona, talvez quando tudo está a bater certo, como por exemplo: um dia excelente, procura nova, pesqueiro novo com muito bom aspecto, fundeio certinho, aguagem qb, estão a ver... aquela ponta de aguagem que não incomoda nada e só pode levar os cheiros e as vibrações a "quem de direito", enfim... tudo a favor.

As iscas desceram, os toques iniciaram-se, leves, discretos, sem roubos completos de iscas que se iam repondo com a velocidade permitida pelos 87 metros de profundidade.
As Pataroxas iniciaram as hostilidades, com aquele toque característico que só engana às primeiras, revelando-se depois, numa luta relativamente pesada e desinteressante. Seguiram-se os Safios, um ou outro, para o lado do pequeno, atendendo à espécie e de imediato devolvidos à procedência. Ou vinha grande, ou não vinha!

Hora e meia de pesca já decorria, quando um toque disfarçado me fez levantar a cana forte e alto, pensando  em mais um Safio mas, a cabeçada seguinte felizmente desenganou-me... Safio não corre daquela forma nem cabeceia assim. O Pargo batia forte e pesado, como é normal nestas profundidades, fomos lutando, vencendo a distância até à amura do Makaira e à foto para a posteridade, com aquele seu vermelho bonito.


As hostilidades mais sérias tinham-se iniciado, a tensão sentia-se a bordo, esperando que aquele não estivesse só e, na verdade, não estava.

As iscas repuseram-se, desceram, foram roubadas, tornaram a subir anzóis limpos, iscaram-se, desceram, mais um toque e mais um Pargo em luta. Desta vez mais pequeno, mas de bom porte, sem direito a foto imediata... não havia vagar.

Não eram passados cinco minutos e foi a vez do Tózé, com outro também mais pequeno, mas também suficiente para colocar um sorriso na face, contrastante com a cara séria que colocou para a foto.


A coisa corria bem, o "cheiro a peixe" já era real e a luta calhou desta vez ao João Maria, com bicho maior, aliás o maior que alguma vez tinha capturado na sua vida e com o qual, para além das várias futuras refeições possíveis, passou à história em imagem...


A atenção a bordo sentia-se... tudo estava concentrado e começaram a subir Safios continuamente libertados, excepto um deles, com 8,900kg que guardámos, enquanto se esperava nova entrada de Pargos, o que infelizmente não sucedeu, embora se tentassem vários formatos de iscadas, ao fundo e à chumbadinha.
As horas correram rápido, demasiado rápido, como sabemos que correm sempre que fazemos algo que gostamos, até à chegada ao porto de recreio e às imagens finais, nomeadamente a seguinte onde me encontro com os meus dois "companheiros de refeição".


Fica agora a pergunta: porque não entraram mais Pargos?

Várias hipóteses podem ser apreciadas, por exemplo:

1. Só conseguimos atrair aqueles, ou só aqueles andavam por ali!? Sinceramente duvido. O tipo de pesqueiro, a profundidade, a época do ano, a aguagem leve e a continuidade de roubo, entre outras possíveis, formavam um conjunto de factores tendentes a manter interessados ou a chamar mais "vermelhuscos".

2. Após a entrada do último Pargo, verificou-se um aumento significativo dos ataques de Safios, muitos deles tão grandes que tínhamos dificuldade em os retirar do fundo, ou cortavam os estralhos de 0,42 e 0,50mm. Agora, aqui em terra, pergunto-me se os Safios, atendendo ao seu tamanho, não terão ganho em concorrência com os Pargos, na aproximação às nossas iscas!? Isto porque só levámos Sardinha, o que, nestes pesqueiros mais fundos, pode ser um erro, atendendo a que a gulosice dos Safios por esta isca é conhecida e caso tivéssemos Caranguejo, Camarão e Lula, talvez, a ser verdade, os Pargos tivessem outras hipóteses!? Não se sabe... mas para a próxima logo se vê?

Uma pena o tempo ter piorado para este Domingo. Para todos os efeitos, foi uma pesca como se gosta, com bons exemplares e em novo pesqueiro que muito ainda terá para dar. Outros relatos se esperam dele.

Até lá, uma boa noite a todos os leitores.

11 comentários:

Os Pescas disse...



Boas grande ernesto , mais uma vez, excelente relato amigo e fico muito feliz por te ver activo e feliz mais os teus companheiros de pesca..:-)
Um grande abraço e até breve amigo.

Luis Malabar

ntyper disse...

Amigo ernesto mais do que um exelente relato,um dia ainda maior,quer pelas conclusões e "licões"dai retiradas mas principalmente pelo tempo passado e neste caso muito bem passado com quem faz valer,os amigos,é realmente um prazer vir aqui ao seu espaço e ler estes relatos que para mim são poesia um grande abraço.
PS:realmente foi uma pena o domingo não deixar lá voltar queixo me do mesmo,mas mais e melhores virão!!!!

António Vinha disse...

Olá Ernesto
- A má cara apresentada na foto é "talvez" devido à troika. Mas sabes (Penso que sabes) que é mesmos só a cara.
Magnifico relato e mágnifico dia de pesca onde eu fui um dos previlegiados.

Obrigado.

Ernesto Lima disse...

Viva Pessoal!

Grato pelos comentários!

Ao Tózé:

Ao menos enquanto conseguirmos ir pescando e pelo menos quando se apanham uns peixitos, há que não lembrar desses animais e dos amigos que têm por cá.

Abraço

Unknown disse...

Agora já vi! Estou impressionada com a beleza das presas e com a paixão da descrição. Um abraço amigo

Ernesto Lima disse...

Viva Maria!

Grato pelo comentário!

Na verdade, lá pelo Facebook, gosto de brincar, falar das actividades e etc., mas o meu verdadeiro cantinho, sem dúvida que é por aqui.

Abraço amigo

Anónimo disse...

Seguindo eu blog praticamente desde o inicio acho que é justo dizer que a tua pesca está sempre em evolução, aonde vai chegar não sei mas que só está ao alcance de alguns só! Parabéns pela dedicação e pela maneira como vives a pesca e nunca é demais agradecer a partilha. Muito bom Filipe

Pedro Franco disse...

Boas Ernesto,
após algum tempo sem fainas, ai estão de volta os grandes relatos e grandes fainas, bons peixes companheiros, desta ficaram as duvidas das possíveis razões do desaparecimento dos pargos, quem sabe se da próxima a conversa não é outra.
Um abraço e boas fainas

Enzo Bertran disse...

Olá Ernesto, sou brasileiro e tenho um site com pontos de pesca por todo Brasil. Gostaria de saber se você tem interesse em escrever uma matéria para nós publicarmos? Tinha pensado em algo relacionado a navegação.

Site:
Create a website

Se tiver interesse, entre em contato pelo "Fale Conosco"

Ernesto Lima disse...

Olá Enzo!

Grato pelo comentário.

Sobre o que me pede... o tema é muito vasto.

O que pretende?

Navegação relacionada com a pesca?

Navegação procurando pesqueiros?

Navegação de lazer?

Cuidados a ter durante a navegação de lazer ou pesca?

Tem muita coisa... pode especificar?

E qual o objectivo?

Abraço

Bruno Mendes disse...

Mais um belo dia de pesca e boa companhia e uns peixinhos para animar a malta :)
Mais um belo relato quase consiguimos estar la tambem.

Um abraço Ernesto.