sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Material, resultados..., complicamos, simplificamos, ou nem por isso?


O Porto de Recreio de Sines, à popa, o motor a aquecer antes de acelerar em direcção ao pesqueiro previamente escolhido, e a minha consciência a moer-me sobre a escrita no blogue, os amigos, ou nem tanto, que há muito não me ouvem..., mas porque raio, logo agora que vou pescar, me fui lembrar disto?
Talvez porque se sente a falta do que se gosta, talvez porque se sentem algumas obrigações, talvez até, neste momento de descontracção, só meu, a escrita tenha sido um complemento em falta para que o estado de graça fosse completo!?

Não adianta, nem se justifica, começar a desfiar razões sobre tanto tempo sem escrever e, muito menos, desculpas. Tinha de vos contar a minha vida toda e não é para isso que me visitam. Portanto, vamos mas é falar de pesca.

O tema que escolhi, sendo importante, em termos de escrita e até de discussão presencial, não me é grato. Escolhi-o talvez por acontecimentos e conversas recentes, ou até por penitência.
Por tal, vou tentar ser breve e nem pensem que vou fazer uma entrada como aquela que mais se lê neste blogue - Material de Pesca..., uma dor de cabeça - e que, em termos de conceitos e processos, continua, na minha opinião, perfeitamente actual.

O principal objectivo desta entrada é tentar poupar passos a pescadores menos avisados, reflectindo sobre a influência do material nos nossos sucessos ou insucessos, face a outros factores que poderão ser tão mais importantes, mas cuja discussão me parece menos usual, podendo as mais habituais trocas de ideias sobre materiais em uso, de algum modo, escamotearem variáveis tão importantes como a escolha do pesqueiro, o fundeio correcto, as iscas e formas de iscar, ou, quanto a mim, bem mais influentes, os comportamentos dos pescadores em acção de pesca.

As reflexões vão iniciar-se pela escolha dos fios - multifilares e monofilares - essencialmente no que respeita a espessuras e qualidades a utilizar para determinadas técnicas de pesca embarcada, e também nos anzóis - tipos e tamanhos - situando-me essencialmente naquela que mais pratico: no mar, ao fundo, em embarcação fundeada.

Antes de avançar, importa referir que fios e anzóis participarão de uma montagem que, por sua vez, se aplicará num carreto e numa cana, ou pesca de mão, com uma chumbada no fim, formando o que defino como "Conjunto de Pesca"(CP). Por tal, não se poderá falar de fios e anzóis, sem abordar algumas características dos restantes materiais que complementam o conjunto, não esquecendo o factor mais importante: o homem, ou mulher, que vai usá-lo, suas preferências e comportamentos em acção de pesca..., complicado!?

Certo é que..., para podermos simplificar, teremos primeiro que complicar, se não muito, pelo menos um pouco.

A qualidade de um fio, seja ele mono ou multifilar, ou de qualquer anzol, deverá sempre ser a melhor possível face aos preços que cada um pode ou acha que deve pagar, exceptuando talvez os monos usados para base de enchimento de carretos, ou aqueles para servirem para fiel da chumbada.

No que respeita às escolhas de espessuras / resistências de fios, e dos tamanhos e formatos de anzóis, vejamos alguns fundamentos possíveis que, conjugados, proporcionem o equilíbrio dum CP, em acção, e minimizem as hipóteses de perder o peixe da vida.

Fundamentos relativos a escolhas de qualidades, espessuras / resistências de fios:

Os fios a adquirir deverão, quanto a elasticidade / rigidez, adequar-se ao CP, com o objectivo de cumprirem, o melhor possível, quatro funções:
- apresentar bem a isca;
- sentir;
- ferrar;
- lutar com o peixe até que o coloquemos no poço do barco.

Influência da elasticidade e da rigidez dos materiais no desempenho das funções do CP:

CP com mais elasticidade:
- tende a apresentar melhor a isca, tendo em conta que esta ficará sujeita a menos movimentos bruscos não controlados, tanto no que respeita aos movimentos de fundo que o mar sempre imprime, quanto aos do próprio barco, quando sujeito a vagas largas e altas, ou de cachão de vento;
- assegura uma luta mais equilibrada e segura com qualquer tipo de peixe, nomeadamente com exemplares de maior porte;
- diminui a capacidade de sentir os toques do peixe;
- diminui a capacidade de ferragem, ao aumentar o esforço para a efectuar, tendo em conta que a cana terá de ser elevada a altura superior, e por vezes, até coadjuvada com algum enrolamento prévio do carreto, para contrapor a elasticidade do fio;
- permite trabalhar com a embraiagem do carreto mais fechada, atendendo a que a elasticidade do conjunto colmatará melhor possíveis falhas do material, do pescador, ou de ambos, principalmente no que se refere a lutas com exemplares de maior porte.

CP mais rígido:
- nas mesmas condições de mar e vento, e pelas razões opostas à elasticidade, tende a não apresentar a isca tão bem, a dificultar a luta com um exemplar de maior porte, mas sem dúvida que sentirá muito melhor e ferrará com maior rapidez, e menos esforço, que um conjunto mais elástico. Verdade também que, no caso de determinados peixes, em determinados dias, e condições de mar e vento, embora este tipo de CP possa sentir e ferrar melhor, pode também acontecer a um pescador menos avisado que, ao sentir o primeiro toque, tente ferrar demasiado rápido e tire continuamente a isca da boca do peixe.
- Em oposição a um conjunto mais elástico, obrigará obviamente a diminuir a pressão da embraiagem do carreto.

Porque de fios se trata, relativamente à elasticidade ou rigidez destes, tenhamos ainda em conta outras reflexões:

- Um maior comprimento de um mesmo fio, fará com se sinta mais a sua elasticidade, mesmo que seja um fio rijo.
- Um menor comprimento de um mesmo fio, fará com que se sinta mais a sua rigidez, mesmo que seja um fio macio.
- Dois cortes de comprimentos iguais, de um determinado fio, da mesma marca, mas em diâmetros diferentes, será mais elástico o que tiver menor diâmetro.
- Em luta com um peixe, e com nós iguais, um maior comprimento de um determinado fio, tenderá a partir mais tarde que um menor comprimento do mesmo fio, devido ao aumento de tempo  necessário para que atinja o limite da sua elasticidade.

Importa também referir que as reflexões acima assumem a sua notoriedade, essencialmente nos monofilamentos, em nylon ou fluorocarbono, sendo muito menos perceptíveis nos multifilares.

Considerando a conversa desfiada, parece-me  importante que as escolhas dos materiais que vão compor os nossos conjuntos de pesca se direccionem na procura do equilíbrio entre elasticidade e rigidez, face às nossas opções de pesca. Para tal teremos em conta, não só os fios, seus comprimentos, diâmetros e potências, assim como as canas, e a forma como regulamos a embraiagem do carreto.

Um CP, para"diversos", ou maiores exemplares, ao fundo, em embarcação fundeada, é, hoje em dia,  normalmente composto pelos seguintes elementos:

Cana: mais rija, ou menos rija, com acção de ponteira, ou acção progressiva, telescópicas ou de encaixe, com comprimentos variando normalmente entre os 2,70 e os 4,00m.

Carreto: adequado ao que se pretende capturar, às profundidades em que se pretende pescar e à frequência com que se pesca, tendo em conta o dispêndio monetário a efectuar.
A regulação da embraiagem deverá ter em conta:
- a elasticidade / rigidez do CP;
- a potência do ponto de ligação mais fraco;
- os objectivos de captura, em termos dos tamanhos dos exemplares;
- as preferências do pescador;

Os fios a aplicar no carreto:

Base de enchimento: monofilamento, em nylon, que, iniciando o enchimento da bobina, tem com única função criar uma base segura de aplicação do fio principal, assim como, colmatar diferenças entre a capacidade da bobina e a quantidade de fio principal que temos disponível, sem emendas. Este primeiro fio não vai participar na acção de pesca, pelo que pode ser de fraca qualidade. Quanto ao diâmetro poderá ser maior que os que a seguir se aplicam, tendo em conta, algum aumento de potência face à rara possibilidade de um dia, um determinado peixe levar tanta linha que lá possa chegar.

Fio principal: multifilar entrançado, com a melhor qualidade possível e espessura / resistência adequadas, que será amarrado à ponta da base de enchimento e encherá, quase na totalidade, a bobina do carreto, assegurando a rigidez necessária às funções a que se destina.
Pela sua rigidez, este tipo de fio assegura o melhor desempenho no que respeita às funções sentir e ferrar, em oposição às funções apresentação da isca e luta.

Ponteira de amortecimento ou Chicote: Corte de monofilamento de boa qualidade, com diâmetro e potência suficientes que lhe permitam lutar com os peixes que procuramos.
Um comprimento adequado à elasticidade que pretendermos ter, face ao equilíbrio do CP, colmatará a rigidez do multifilar e contribuirá para uma melhor apresentação de isca e um bom desempenho em luta com um exemplar de maior porte. Tudo isto, colocando minimamente em causa as funções sentir e ferrar.

Madre da baixada: Corte de monofilamento de boa qualidade, de potência igual, ou inferior, à do fio da ponteira de amortecimento, com comprimento adequado ao conjunto de estralhos que vai levar, tendo em conta os comprimentos e intervalos necessários para que os anzóis de baixo não cheguem às inserções dos estralhos de cima, ou ao elemento de ligação com a ponteira de amortecimento.

Estralhos: Cortes de fio de boa qualidade, de potência igual ou inferior ao da madre da baixada, com comprimentos que se entendam serem os mais adequados.

Tendo por base o acima descrito, as técnicas que pratica, os exemplares que procura, a frequência com que pesca, as condições variadas de cada jornada e o investimento a que se dispuser, entre outros factores, um determinado pescador poderá então optar de várias formas:
- adquire e prepara um conjunto mais rígido;
- adquire e prepara um conjunto mais elástico;
- adquire e prepara um conjunto intermédio;
- adquire e prepara dois conjuntos, um, mais elástico, e outro, mais rígido;
- adquire e prepara conjuntos diversos, tantos, quantas os que achar necessários para cobrir, com eficácia, as variáveis descritas;

Independentemente do que decidirmos adquirir e preparar, qualquer conjunto pode ser adaptado, independentemente de alguns elementos fundamentais, mais ou menos rijos. Isto é:

- podemos colmatar a rigidez duma cana, usando tipos e comprimentos de monofilamentos que tornem o conjunto mais macio, ou seja: não esquecendo a potência necessária do monofilamento, se, por exemplo, aumentarmos o comprimento da ponteira de amortecimento, conseguimos amaciar o CP. Acção contrária, pelas mesmas razões, aumentará a rigidez de um conjunto elástico.

Se formos atrás de modas e comprarmos continuamente o que está na berra, todos estes factores tendem a complicar as aquisições e preparações de conjuntos. Podemos no entanto facilitar..., se entendermos adaptar o que já temos, recorrendo a materiais actuais, bem escolhidos, que pelas suas características, poderão resolver as nossa necessidades.
Não critico nenhuma das opções - complicar ou simplificar - vou limitar-me a falar das minhas, com base nas observações efectuadas e resultados obtidos.

Os anzóis..., tamanhos e características:

Se falar de fios é complicado, quando passamos aos anzóis, nem sei que diga.

A escolha dos anzóis dependerá sempre, entre outros possíveis, dos seguintes factores:

- Qualidade superior, procurando o menor peso para o mesmo efeito.
- Adequação aos exemplares que se procuram.
- Adequação à montagem em uso. Em montagens de anzol único num estralho, ou líder, o anzol tenderá a ser maior do que se montarmos dois anzóis em tandem no mesmo estralho, ou líder.
- Adequação à técnica em uso. A pescar à chumbadinha, atendendo ao tamanho das iscadas, com um anzol, ou dois, em tandem; anzóis direitos e mais abertos tendem a prestar melhores serviços no caso dos Pargos, quando iscando com sardinha ou cavala. Já no que se refere às Douradas, iscando com caranguejo, anzóis um pouco mais pequenos, tipo chinu tendem a melhorar resultados.
- Adequação às iscas e formatos de iscadas. Ter em conta as reflexões nos pontos anteriores.
- Adequação face à espessura / potência das linhas (estralho ou líder) em uso. Montar um anzol 5/0, ou maior, num estralho 0,30, ou mais fino, não tem grande lógica. Em fios mais grossos e rijos, os nós em anzóis de argola são mais fiáveis.
- Versatilidade face à maioria dos factores acima descritos. Parece difícil, mas existem anzóis no mercado que, pela variedade de tamanhos, formatos e resistências, se adequam a quase todas as situações. Tal permite-nos, eventualmente, reduzir o número de tipos e marcas a adquirir, garantindo a operacionalidade que pretendemos.

Face ao descrito, importa encontrar um equilíbrio entre fios e anzóis quanto a comprimentos e espessuras ou potências, no caso dos fios, e, entre formatos e tamanhos, no caso dos anzóis, não esquecendo a adequação aos conjuntos de pesca escolhidos, e aos nossos objectivos de captura. Depois, temos de pescar e adaptar o nosso comportamento às condições de pesca com que nos depararmos, em determinado dia. Quer isto dizer que:

1. Não existem conjuntos de pesca infalíveis.
2. Desde que tenhamos um conjunto de pesca actual, minimamente aconselhado, quando não capturamos, as razões raramente estarão sediadas no material, antes..., na nossa incapacidade de nos adaptarmos a ele, face às condições do dia; na escolha de pesqueiros; nas rotações que o barco dá, quando fundeado; na escolha das iscas e formatos de iscadas; ou até, na frustração de não sabermos como lidar com situações de insucesso. Por tal, na grande maioria dos casos, não valerá a pena culpar o material e ir à corrida comprar igual ao do fulano que capturou..., melhor será tentar perceber, com o nosso material, como lidar com situações idênticas.
O mesmo sucede em dias que tudo corre bem, capturamos, estamos felizes, tudo funcionou e o material que usámos é o melhor do mundo, ou..., terá unicamente ajudado, num dia em que todos os outros factores estiveram a nosso favor?

Penso que dá para entender que já testei muito material, gastei mais que o necessário e bati muitas vezes com a cabeça na parede, factos que me permitiram as reflexões produzidas, assim como ter, há algum tempo, um conjunto de opções de material, relativamente simples, que adequo, mas pouco altero.

Como fui alterando o material:

Levei o meu tempo a ir contra o que estava mais instituído..., fios finos e anzóis pequenos, mas:

- os peixes que se soltavam, tudo indicava, porque agarravam a isca e os anzóis, mas não se ferravam por falta de tamanho adequado;
- os dias de peixe miúdo que roubava iscas e também não ficava nos anzóis, ainda que pequenos;
- os peixes que se perdiam porque os fios finos, por mais que se trabalhasse a embraigem do carreto, ou partiam por falta de resistência, ou permitiam que o peixe se desferrasse por demasiadas hipóteses que o tempo de luta lhe dava;
- os embrulhos de linha que estralhos mais finos tendiam a provocar. mesmo com sistemas efectivos que tendiam a evitar estas torções;
- a escolha  de iscas maiores, que pediam anzóis de tamanhos acima e consequentemente fios que se lhes adequassem;
- a percepção de que com materiais mais pesados e iscas maiores e diversas, as capturas de peixe maior eram mais regulares e frequentes, mesmo face a outros pescadores a pescarem mais fino. Isto, sem exageros.
- a constatação de que estralhos mais compridos, para além de afastarem as iscas das madres e inserções de estralhos, tendem a acompanhar melhor os movimentos do mar e consequentemente a apresentarem melhor a isca, assim como permitirem que peixes mais desconfiados comam, sem sentirem as prisões iniciais dos iscos;
- a constatação de que mesmo os peixes, na gíria, mais "mafiosos", como sargos, douradas e até os famigerados besugos, caíam tão bem a anzóis e iscadas grandes, e linhas mais grossas, por vezes até melhor, comparativamente a quem decidia montar um conjunto de pesca, todo malandro, "especial besugo", ou o que lhe queiram chamar;
- a constatação de que, na maioria dos casos, a conjugação entre os comportamentos dos pescadores, em acção de pesca, e os posicionamentos no barco, face às condições de mar e vento, mais que os materiais em uso, eram nitidamente as variáveis mais influentes nas capturas...;

... portanto, entre outras observações, tudo o acima referido, coadjuvado pelos resultados que se foram obtendo, levaram a concluir que:

1. A introdução contínua de variáveis, ao nível de novos materiais, sem variações significativas de espessuras ou tamanhos, para além de não permitirem testes efectivos sobre as que se abandonavam, de algum modo escondiam a influência de outras variáveis tão, ou mais importantes.
2. As variáveis mais influentes nas capturas não estavam essencialmente centradas no material em uso.
3. Os fios e anzóis, respectivamente, mais grossos e maiores, com iscas adequadas, melhoraram nitidamente a qualidade de capturas.

Num exemplo extremo de adaptação, que, de algum modo, sempre tenho presente, deixo-vos saber o seguinte:

Os pescadores profissionais de Sines, de há muitos anos, e até aos dias de hoje, pescam às douradas nesta época, fundeados, com engodo de caranguejo, linhas de mão, em monofilamento de 0,80, madre de 0,60, um anzol em cima para peixe menor e, com um estralho de baixo, bem comprido, em 0,50/0,60, onde aplicam um anzol sempre maior que 4/0, iscado com caranguejo. E meus amigos, capturam douradas à séria, ao fundo e a meia água, usando chumbadas que, em muitos casos, chegam às 400g.

O material que usam é o mais adequado? Certamente que sim, face às adaptações aos seus hábitos, ao número de pescadores a bordo (1 a 2), aos barcos que usam, e à forma como escolhem, fundeiam e trabalham os pesqueiros eleitos.

Alguns de vós poderão questionar-se:

Olha o gajo..., então se aquela forma de pescar é assim tão produtiva, porque é que ele não faz o mesmo?

A quem tais dúvidas assolem, passo a explicar:

- não sou pescador profissional, pelo que não posso escolher um pesqueiro, fundear uma bóia, com três ferros e com o nome do barco que chega a ficar semanas no mesmo local, legalmente respeitada quanto a distâncias, por outros pescadores profissionais, ou lúdicos;
- não dá jeito nenhum, com 3 ou 4 pescadores a bordo, ter 100 metros de fio a passear dentro do barco, sujeito a ventos e consequentes embrulhadas, pelo que uso os meus conjuntos de pesca com cana, carreto e etc.;
- na qualidade de pescador lúdico, tenho de procurar os meus pesqueiros, fundear correctamente, e, no caso do barco rodar durante a jornada, se necessário, tornar a posicioná-lo de modo a que as minhas iscas actuem onde devem, devido à impossibilidade de, como os profissionais, bastar folgar um dos cabos e caçar dois dos outros, ou vice versa, para ficarem sempre posicionados no local mais quente.

De qualquer modo, tal não implica que ande sempre a mudar de material, só porque num dia ou outro, a coisa não me saiu bem. Na verdade, também a eles acontecem dias em que nada funciona, mas, regularmente, as capturas acontecem.

Tendo em conta a conversa desfiada, eis os materiais que actualmente, e já há alguns anos, uso:

Canas para fundo e chumbadinha:

- 7EVEN,  CARSON e BARROS Fundeado XB 3,30, todas entre os 3,30 e os 3,70 metros, de 3 partes com ponteiras, já descontinuadas, com acções progressivas mais para o lado do rijo.
A Stell Power, devido ao seu peso, uso-a essencialmente para pescar à chumbadinha, ou com isca viva, apoiada no caneiro.
A 7EVEN e a CARSON vão a todas e, destas 3 canas, nenhuma tem menos de 8 anos, e, não digam a ninguém, mas ainda tenho uma 7EVEN, igualzinha, oferecida por um amigo, quase a estrear. Já a BARROS é recente.

Carretos:

- Cabo 60 da Quantum, o que mais uso a pescar na mão, muito maltratado e capaz de tudo. O 1.º que apareceu à venda em Setúbal, penso que há mais de 8 anos.
- Banax Mighty 2000, também oferecido, uso para a Chumbadinha e nunca se queixou, tendo em conta a sua relação preço/qualidade.
- Daiwa BG 4500, faz parelha com o Cabo 60.
- Penn 8500 SS, uso essencialmente para pescar com isca viva, apoiado no caneiro. Tem 22 anos.

Multifilares:

- Corstrong da Cormoura, 0,27, o que mais tenho usado nos últimos anos, sem qualquer problema. Ultimamente, estou a mudar para fios com cores variadas, pelas vantagens que apresentam relativamente à percepção da quantidade de linha que está na água, e não devido a qualquer outra razão. Nestes fios coloridos tenho o Sufix 0,24, num carreto, e estou agora também a experimentar o Daiwa J-Braid x 8, em 0,24, muito devido à qualidade que parece ter e ao preço acessível. Se este fio se comportar, usá-lo-ei o máximo de anos possíveis.

Monofilares:

Ponteira de Amortecimento:

- Gorila da Tubertini UC-4 0,45, tanto para o fundo quanto para a chumbadinha.

Madre da baixada para pescar com dois estralhos:

- Gorila da Tubertini UC-4 0,45, ou 0,50. Isto porque, quando me falham as linhas dos estralhos, em fluorocarbono, faço estralhos com o Gorila 0,50 e capturo na mesma. Não faço com o 0,45 porque se embrulha com facilidade.

Estralhos:

- flurocarbono P-line 100%, 0,41, ou Asso 100% 0,45. Na falta destes, uso mesmo o Gorila UC-4, em 0,50.

Bases de enchimento de carretos e fiéis da chumbada:

- qualquer 0,40 da colecção de fios da treta que, em tempos, desnecessariamente experimentei e já não uso.

Comprimentos e adequações:

Ponteira de amortecimento: 12 a 15 metros, dependendo da profundidade a que pesco. Se pesco menos fundo, aumento o comprimento, porque é mais fácil sentir em menos profundidade e porque preciso de mais amortecimento em luta, atendendo a que menos profundo, as lutas são mais vivas e brutais.
Quando pesco mais fundo, diminuo o comprimento da ponteira de amortecimento, porque preciso de sentir melhor e porque as lutas são menos vivas e mais pesadas, levando-me, por vezes, a aumentar os diâmetros para 0,50, principalmente quando a pescar perto de estruturas altas.

Madre da baixada: entre 120 e 150cm, dependendo do tamanho dos estralhos.

Estralhos de cima: 60 a 80cm

Estralhos de baixo: 80 a 100, por vezes 120cm

Nota 1: Sobre as variações dos comprimentos dos estralhos, tendo cada vez mais a ir para os mais compridos, independentemente das condições que se apresentem e principalmente se houver aguagem.

Nota 2: Uso as mesmas espessuras e comprimentos, independentemente das profundidades a que pesco, desde os 20 até aos 100 ou mais. Por vezes, quando o peixe miúdo é muito e só sobem bogas e cavalas, corto o estralho de cima, aumento o comprimento do estralho de baixo para 150cm, ou mais. Aumento também o tamanho do anzol e isco com sardinhas inteiras ou outras iscas fortes, como Lula, Cavala..., etc., deixando comer à vontade. Nesta situação, tal adaptação tem resultado com regularidade.

Anzóis pesca ao fundo com dois estralhos, ou chumbadinha com montagem tandem:

- Hayabusa FKS 130, em uso há mais de 14 anos.
- Barros Gora-EN, uso recente, escolhido por ser de argola, barato, resistente e um pouco mais aberto que o Hayabusa,
- Asari ANOS, em uso também há bastante tempo.

Anzóis para chumbadinha, com montagem de anzol único:

- ainda uso os Kong da Hiro em tamanho 8/0. Quando acabarem tenho de procurar substitutos direitos, abertos e também grandes.

Tamanhos dos anzóis:

- Os tamanhos variam entre os 3/0 e 8/0. Os 3/0 e 4/0 para montagens em tandem; 5/0 e 6/0, para montagens de dois estralhos, com um anzol por estralho; e, maiores, para montagens de chumbadinha com anzol único.

Portanto, meus amigos, estes têm sido os materiais eleitos nos últimos anos, sendo que as marcas até podem mudar, mas os tipos e formatos vão-se mantendo.

Quando a pescar ao fundo, com estralhos, ou à chumbadinha, uso respectivamente as mesmas montagens para todo o tipo de peixe que procuro e, conforme os sinais dos toques e o que vai acontecendo ao longo do dia, vou adequando o meu comportamento aos conjuntos de pesca em uso, podendo também adequá-los, quanto a comprimentos, anzóis únicos, ou em tandem, pesos de chumbada, etc.. Desta forma, em conjunto com o tipo de materiais que ao longo do tempo elegi, adequo-me às restantes variáveis que são muitas, e quanto a mim, bem mais importantes, embora mais difíceis de entender e, consequentemente, dominar.

Certo é que, com base nas reflexões produzidas e nas escolhas efectuadas, a regularidade de capturas, mesmo neste ano da graça de 2016, em que a pouca frequência de pesca, por razões diversas, foi um caso nunca visto, ainda assim permitiu algum sucesso.

O Tózé, ali por alturas de Março:


Ainda o Tózé, no mesmo dia:


Douradas de verão, já ao lado do meu pé:


Pescarias pouco profundas de início de Verão:


Nem em Sines parei de trabalhar, raios partam isto:


Mais Douradas, ainda no Verão:


Olha..., Robalos também, ao fundo:


Parte de uma pescaria a solo:


Parte de outra acompanhado:


Mais outra..., no seu início:


Um Parguinho de fim de Verão:


Também um Robalito:


E por último, após um interregno de mais de um mês, com manutenção e arranjos de barco à mistura, eis, de 28 de Novembro, 2.ª feira, um moço mais crescido... 


..., acompanhado por outros, não muitos, nem do mesmo tamanho e qualidade.


É hora de voltar ao porto...


..., sem promessas de quando volto, mas com a vontade de que seja com a brevidade possível.

Sobre a presente entrada, não sei se demasiado comprida, espero ter-vos poupado algum tempo e dinheiro, assim como, ter passado a mensagem de que, para além do material que usamos, muitas outras variáveis poderão influir sobre as nossas desditas e os nossos sucessos, cabendo-nos talvez analisar melhor, antes de acharmos que o material nos faz pescadores, em vez de o olharmos como uma parte, que embora importante, não será certamente a panaceia para todos os nossos males, ou a principal razão dos nossos sucessos.

Os meus sinceros cumprimentos a todos os leitores

Abraço

Ernesto

6 comentários:

Anónimo disse...

Boas Ernesto,

Finalmente um post, ao fim de quase um ano de ausência! Obrigado! Calculo que não tem tido tempo, tendo em conta as várias atividades em que o amigo está sempre envolvido, nem para pescar, quanto mais para escrever...

Mais um grande post, muito completo e interessante. É sempre um momento bem passado o tempo que passamos a ler as suas "estórias", algumas delas já as li várias vezes, sem que me abboreça, e aprendo sempre em cada leitura.

Interessante essa "estória" sobre os pescadores profissionais de Sines, de pescarem Douradas com linhas de mão. Desconhecia isso.

Continue a escrever e a partilhar os seus conhecimentos com todos nós, seus fiéis leitores. Obrigado, uma vez mais. Um abraço, João Pinto

Ernesto Lima disse...

Viva João Pinto

Grato pelo comentário.

Gostaria de corresponder um pouco mais à escrita, como já foi habiual, mas a coisa não tem estado fácil. Vamos ver o que vai dando.

Abraço

Ernesto

Anónimo disse...

Obrigado Ernesto,

Ultimamente ando com muitas dúvidas "existenciais" em relação à pesca. Tentei mudar as minhas montagens para tentar peixe melhor e tem sido uma miséria. Vou reler esta tua entrada e a outra que já tinha lido e começar do zero.

Tentei aumentar os estranhos consegui uma ou outra boa captura mas muito menos peixe em relação à restante malta..

Obrigado pela partilha.

Cumprimentos Filipe

Ernesto Lima disse...

Boa noite Filipe.

Grato pelo comentário e as minhas sinceras desculpas por só agora responder.

Sobre as capturas de peixe de melhor qualidade não se pode esperar que, não sei se é o caso, quem vá com menos frequência, em MT, ou mesmo em barco próprio, consiga uma regularidade, pois dependerá muito dos barcos em que vai, mestres, etc..

Quanto à questão das linhas tem situações que não compreendo, como por exemplo, numa determinada loja, um determinado cliente, há poucos dias, ir reclamar um multifilar 0,16, que partiu na pesca às Douradas. Mais ainda, este cliente estava a usar uma ponteira de amortecimento em mono de 0,50.

Se tivermos em conta um multifilar 0,16, que, lá por ser multifilar, mesmo de boa qualidade, não deixa de ser um cabelo que partirá ao nó logo que seja sujeita a um desgaste mais contínuo, penso que as pessoas têm de pensar um bocadinho.

Força na continuação das experiências.

Abraço

Ernesto

António José Lopes disse...

Bom dia Sr Ernesto


Comecei a ler comentários seus em alguns sites ate que o site o pesqueiro me trouxe ate aqui, ainda bem que me trouxe, o seu blogue ... Magnífico!!!

Tudo começou um dia, quando por mero acaso um amigo meu (pescador de rio) me disse. Tens o semi-rígido na barragem de Castelo de Bode só para o verão e os miúdos se divertirem, porque não utilizas no mar e fazes umas pescarias para te divertires! Eu que nem sei empatar um anzol e não entendo nada de pesca, será que vale a penas!? Ele só respondeu, quando começares vais ver. Ainda não comecei e já estou fascinado por este mundo.

Comecei a ler, a ver vídeos no youtube :), a ganhar o "vicio da pesca" e ainda não fui um dia sequer :), sou profissional de saúde, isto do covid e confinamento ufff :(

Tem dado para ler e comprar material, vou ser um frequentador / leitor assíduo do seu blogue .

Posso não apanhar nada, mas só o conhecimento e as experiencias, vão valer a pena.

Muito obrigado pelo seu blog e as as suas partilhas.

António José

Ernesto Lima disse...

Boa tarde António José Lopes.

Grato pelo comentário. Percebe-se que está mesmo apaixonado pela pesca. Siga em frente.

Sempre escrevi, muito mais porque gosto, ou para tentar desmitificar alguns "campeões" de certezas absolutas, do que na procura de protagonismo.

Entretanto a vida deu umas voltas e desde 2018 que nada escrevo por aqui; mas tem muita escrita, principalmente no que respeita a conceitos e processos, na área da Pesca ao Fundo, em Embarcação Fundeada, que, exceptuando alguns materiais agora ultrapassados ou descontinuados, se mantém completamente actual.

Também comecei há uns dois anos a derivar para o Slow Picth Jigging (pesca com zagaias, em movimento lento), o que de algum modo me tirou da zona de conforto e por aí ando, por vezes sem saber muito bem o que escrever e com alguma falta de paciência para o fazer. Tenho uma entrada iniciada que altero de cada vez que volto a ela, mas, com estas paragens, devido ao "bicho", tem-me faltado a frequência de pesca e a alegria da escrita.

Vamos ver o que dá..., talvez um dia destes saia por aqui mais qualquer coisa.

Obrigado pelo seu serviço na área da saúde e força para continuar.

Abraço

Ernesto