terça-feira, 30 de outubro de 2007

Competição! Porquê assim? - 29/Abril/2007


Cá estamos para mais conversas, pensamentos e reflexões.

Acabo de chegar de Sines, onde passei um fim de semana diferente e muito bom. Fui com a minha mulher e tudo se passou calmamente, sem pressas, sem stress, com pequenos almoços compridos, elaboração cuidada das pescas, algum "deixa andar" com a procura de iscas, ou seja, foi todo um tempo em que a expressão "logo se vê" imperou.

O que se viu foi um dia de mar espectacular, isca de má qualidade e pouco peixe.

A "patroa" que só vai quando o tempo já aquece e está habituada a peixe de qualidade, agradeceu, e, entre alguma pesca, bons petiscos, etc..., descansámos e parámos de pensar em trabalho e em todas aquelas coisas chatas com que a vida teima em nos brindar.

Assim que cheguei a casa vim ao blogue e visitei os meus amigos da pescadesportiva-pt, onde, entre outros, deparo com o artigo sobre a notícia saída no Correio da manhã acerca da lei da pesca e da tomada de posição da Federação face às regras que à competição dizem respeito.
Tudo isto me fez pensar, resolvendo reflectir sobre a competição e alguns conceitos que em torno desta se desenvolvem. Algo que já há algum tempo penso fazer, sem saber se o deva ou não!?
Mas que raio, porque não!? São só pensamentos e reflexões.

Deveria talvez começar por citar alguém importante e avançar com uma definição daquelas que levantam os rabos das cadeiras e fazem ouvir um ensurdecedor barulho de mãos a bater em mãos, mas não. Vou antes tentar ser o mais lógico que consiga no presente momento.

Em termos de objectivos de competições, vejamos:

Atletas que competem em corridas, nos lançamentos, nos saltos, procuram a excelência nos melhores tempos e distâncias atingidos, treinando e desenvolvendo métodos, técnicas e estilos que, servindo outros, serão posteriormente melhorados, vindo a permitir que esses tempos, técnicas e estilos se modifiquem e promovam a obtenção de cada vez melhores marcas.
O mesmo acontece nos desportos colectivos, no automobilismo, ciclismo, etc..

Os jovens olham para estes atletas e aceitam de imediato a excelência que estes representam, sendo este um exemplo fácil de seguir, despertando neles certamente a vontade de um dia poderem vir a cometer feitos idênticos ou até superiores.

Se olharmos para um Campeonato Mundial de Caça Submarina, é hábito o atleta antes da pesagem, tirar uma foto com todo o peixe que apanhou, porque, senão me engano, o peso mínimo é de 750 gramas.

Olhemos agora para um Campeonato Mundial ou outra competição de nível mais restrito de Pesca de Alto Mar em Embarcação Fundeada.

Para melhor ilustrar o que pretendo, quando em 2006, aconteceu o Campeonato Mundial da Competição referida, fui ver uma pesagem e, cheio de curiosidade pelo seu comentário, levei comigo a minha mulher.
Assim que chegámos ela olha à volta, vê uns sacos de rede amarelos dentro de umas caixas, perguntando-me de imediato onde é que estava o peixe.
Depois que lhe disse que aquilo era o peixe, ela aproxima-se mais e ao reconhecer o conteúdo dos tais sacos comenta em seguida: "aquilo deitamos nós ao mar quando vamos à pesca", então isto é que os campeões apanham?

Bom..., é evidente que não quero com isto ridicularizar a actividade, nem os pescadores que a praticam, o que explico com o que aconteceu em seguida.

Saídos do local, dirigimo-nos a uma esplanada ali perto onde lhe expliquei que aquela modalidade era extremamente difícil e altamente exigente atendendo a que:

- Os pescadores em causa tinham que se adaptar a uma variedade enorme de locais, espécies, tipos de fundo e adaptar a sua técnica tendo em conta o estado do tempo e do mar, o local escolhido por um mestre que não conheciam de lado nenhum, usarem todos a mesma isca e um conjunto de dificuldades sem conta que os obrigam consecutivamente a alterar as baixadas e as formas de explorar os fundos que lhes calham por sorteio em cada embarcação.

- Os pescadores em causa tinham de experimentar os locais em dias anteriores tentando conhecer melhor os fundos e as espécies que os habitam, de modo a maximizarem a sua pesca tendo em conta as características encontradas e as regras do Campeonato que, tendencialmente, priviligiam a quantidade de unidades capturadas acima do peso mínimo e não a captura de exemplares maiores.

- Os pescadores em causa encontram portanto a excelência, na velocidade a que conseguem capturar os peixes que estiverem na zona. Isto não é fácil, e exige certamente materiais de qualidade superior e capacidades físicas e psicológicas especificas e de difícil aquisição.

Após esta explicação algo simplista seguiu-se o comentário "Sim, de facto tanto trabalho para apanhar aqueles peixes, só quem tenha mesmo muito gosto pela pesca".

O que quero referir, com a anterior ilustração, é que os resultados obtidos na maioria dos dias de pesca de competição me parecem difíceis de aceitar, na medida em que, a excelência para a maioria dos pescadores parece sediar-se no peixe "maior da vida", no troféu..., e agora como é que vamos explicar a um novato que a excelência não está aí, mas sim, num saco de rede cheio de peixinhos que de troféu só alguns têm a cor?
Como vamos mostrar a pesca a um miúdo que se inicia?
Mostramos-lhe primeiro os pequenos, depois os grandes e a seguir sugerimos-lhe que volte a apanhar pequenos se quiser fazer competição, ou não lhe mostramos os grandes? Não sei!?

Eu compreendo os pescadores de competição e acho que só se adaptaram às regras e muito os respeito pela tenacidade e capacidades que desenvolveram, mas fico a pensar na seguinte questão: o que estes indivíduos não seriam capazes de mostrar se as regras fossem outras?

É estranho..., então a competição não se devia adequar àquilo que mais diz aos pescadores, a conquista de maior e melhor?
Não devia também estar completamente ao lado da lei, no que respeita ao tamanho mínimo?
Então porque é que responsáveis federativos apoiam tamanhos abaixo do mínimo para efeitos de treino?

Possivelmente estarei muito enganado com os conceitos de pesca da maioria dos pescadores?
Ou então estou a tocar em algo intocável?
Ou então nenhuma das afirmações anteriores é verdade..., nem um bocadinho?
Se calhar estou baralhado, ou até senil!?
Preciso que me tirem desta confusão!

Enquanto isso não acontece, deixo-vos com a foto do coitado do melhor exemplar deste fim de semana maravilhoso.


PS: os outros seis peixes que apanhámos, embora um pouco miseráveis, estavam todos bem acima da medida mínima.

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