terça-feira, 30 de outubro de 2007

Dei com Eles! - 30/Março/2007


Esta semana a coisa tem estado complicada... trabalho por todo o lado, e tudo para ontem, muito computador, pouco tempo dormido, enfim... a "escravatura" a que infelizmente nos vão habituando. É assim... não se pode ter tudo.


Mas cá estou eu, a falar pelos cotovelos e, porventura, a contar mais do que deveria. Mas também, se eu não contar nada, qualquer dia dá-me para aí qualquer coisa má e ninguém fica a saber o que, por cá, fiz na pesca.

Os "três cheirinhos" com que vos presenteei nas anteriores entradas, são resultado de muita procura, paciência e desaires anteriores, atendendo a que, nas épocas entre Maio e Dezembro, tenho conseguido boas capturas de peixe "crescido" (criado... como dizem em Sines), mas entre Janeiro e Maio para além dos Besugos, Sarguetas, Choupas e alguns Sargos; não tinha conseguido, até agora, capturas de nota, nomeadamente de Pargos, uma das espécies da minha eleição.

São lindos, lutam duro, não é fácil dar com eles, e, com a idade que os que mostrei têm, certamente já cá deixaram muita descendência.


Das experiências realizadas, resultados obtidos e leituras efectuadas sobre esta espécie, parece poder dizer-se que estes bichos procuram fundos onde exista comedia com fartura, comedia esta que se encontra, normalmente, em fundos ricos de pequenos seres que por sua vez constituem a alimentação dos pequenos peixes, crustáceos e moluscos que fazem as delícias deste nosso "amigo".
Sabe-se que as correntes marítimas trazem nutrientes de toda a espécie (plancton, ovas de posturas de outros peixes, pequenos crustáceos, peixes minúsculos...), ora, parece natural que grande quantidade, destes pequenos animais se deposite nos acidentes submarinos que se lhes deparem pelo caminho, onde encontram abrigo e comida, servindo também eles de pasto aos tais pequenos peixes que por sua vez alimentarão os exemplares que procuramos.

Decorrendo da prosa desfiada, que certamente estará incompleta, e para não tornar isto numa acção de formação para dormir, teremos que procurar os tais acidentes submarinos, de tamanho significativo, com entralhados à volta e com marcações de comedia cuja intensidade das cores, apresentada pela sonda, até façam doer a vista.

Calculando que a temperatura da água tenha alguma influência, entre outras (muitas) variáveis, convém procurar estes locais, nesta altura do ano, em profundidades para além dos 70 metros, visto que, em zonas menos profundas, não se têm verificado resultados significativos.
Encontrado um bom local (ver entrada "À Procura de Pesqueiros 1.ª Parte"), onde e como fundear?


Onde?


Após sondagem cuidada sobre e em torno do pontão ou pontões que formam o pesqueiro, devemos localizar a parede mais rica em comedia que, de preferência, deverá mostrar marcação de peixe desde o fundo.
Encontrada esta zona, deveremos fundear para que as nossas iscas se possam colocar ao fundo, relativamente perto da parede, ou em entralhados próximos, mesmo que estes mostrem um pouco menos de comedia.

Como?


Encontrado o local onde se quer colocar o barco e enquanto se prepara o ferro, deve-se tentar perceber o sentido para onde o vento e/ou a corrente nos levam (deriva), o que se pode fazer, marcando dois pontos em terra que alinhados com o barco formem um ângulo mais ou menos recto ou deixando o GPS aberto e, aumentando-lhe o zoom (caso tenha carta), verificando posteriormente qual o sentido da linha que traça.
Estamos agora prontos para largar ferro.

Vamos para cima do pontão, aproamos o barco no sentido contrário ao da deriva, procuramos fundo um pouco acidentado, para além dele, tendo sempre em conta o cabo que temos de dar e... ferro ao fundo!
Chegado o ferro, damos algum cabo, vamos-lhe colocando tensão e assim que prender corrigimos o fundeio, controlando a marcação de peixe e profundidade através da sonda.


Chegou a hora de pescar e o tempo de falar sobre iscas, canas e montagens.

As iscas:


- Sardinha fresca da noite anterior, de preferência;
- Cavala acabada de apanhar ou também da noite anterior;
- Bomboca e lula, se fosse fácil, era bom que fossem frescas mas congeladas também servem!
Estas foram as iscas que levámos, no entanto o caranguejo e a lula viva (ou muito fresca), são iscas com provas dadas neste tipo de pesca.


Relativamente a estas duas jornadas de pesca, foram a sardinha e a cavala que apanharam os melhores peixes, iscadas como mostra a foto que inicia esta entrada.


O maior Pargo foi apanhado na cana a pescar sozinha, com a 1.ª iscada à esquerda da foto.

A sardinha é cortada pelo início da barriga para que o peixe miúdo comece a criar movimento à volta da barriga (quando peixe maior não ia lá, a barriga vinha completamente limpa) e assim contribuir para a atracção. O anzol entra pela boca, sai totalmente através do olho e entra pelo lombo, envolvendo a espinha de forma a agarrar bem a isca.


O Pargo de 4,000 kgs e a Abrótea, foram apanhados pela 1.ª iscada de cavala à direita da foto.
Corta-se o filete inteiro de cada lado da cavala. Cada filete é cortado, longitudinalmente, a todo o comprimento, dividindo-se em quatro ou mais partes, dependendo do tamanho da cavala. Iscam-se estes bocados, cravando o anzol ao meio de cada um deles, uma única vez, enchendo-o o mais possível, ficando com aquele aspecto de espanador.

As duas iscadas do meio, apanharam doze pargos (nos dois dias) entre 1 e 2 kgs e uma Moreia com 3 kgs.

As iscadas de lula e bomboca, para além de Ganopas e Piças, apanharam algumas Sarguetas, Choupas e um Parguete para aí de 0,800 Kgs.

As montagens:


Uma cana de 3,00 metros, a pescar no caneiro, com um carreto 8500, equipado com monofilamento de 0,40, com uma baixada de dois estralhos de 0,40, com 50 a 60 cm de comprido, com anzóis 3/0.


Uma cana de 3,70, mais leve, a pescar na mão, com um carreto 6500, equipado com multifilamento 0,25 e ponteira de 15 metros de monofilamento 0,40, com montagem idêntica à anterior, variando os anzóis para 1/0.


A 1.ª iscada à esquerda da foto, foi usada na cana a pescar no caneiro; as outras iscadas foram usadas, em alternância, na cana a pescar à mão, por razões que se prendem com a facilidade do peixe miúdo roubar a isca que é muito inferior no primeiro caso.
Relativamente aos tipos de materiais, ver entrada "Os Materiais que Eu Uso".


Algumas considerações:


A existência de alguma aguagem parece ser positiva.
As canas mais tensas junto ao fundo, obtiveram melhores resultados.
Deixar o peixe comer durante algum tempo, sem ferrar, pareceu uma atitude favorável.


Alguns conceitos/comportamentos que limitam este tipo de pesca:


Ter demasiada pressa em fundear e iniciar a pesca.
Querer apanhar o peixe miúdo que lá está e desistir dos anzóis e iscadas grandes.
Irritar-se porque o parceiro do lado capturou um exemplar e ficar nervoso, mexendo muito a cana e alterando continuamente o modo de pescar.
Não ter paciência para esperar e mudar continuamente o tipo de iscas que foram roubadas.
Não acreditar no que está a fazer.
Reagir mal a azares, como fios emaranhados e coisas do género, entre outros...
Se o local tiver boas características e as iscas vierem comidas ou roubadas, dizem-me os resultados que é uma questão de tempo... nós estamos a caçar e o peixe tem de comer.
Finalmente, como última opinião desta entrada, fundear bem um barco deverá ser entendido como um acto de emboscada de um felino (atentamente, calmamente, lentamente), o resto acaba por vir.


O local:


Um monte submarino, alcantilado de um dos lados, que vem dos 90 para os 52 metros de profundidade, estando a comedia concentrada do lado alcantilado, desde o fundo quase até à superfície.
Já tinha vindo a este local várias vezes, sem nunca ter conseguido fundear bem, mas a teimosia de pescador é quase sempre frutífera.


Foi um dia para lembrar, em que se afirmaram os conceitos que tenho desenvolvido sobre a pesca, o que se verificou pelos resultados obtidos em duas jornadas consecutivas, num local que há algum tempo tinha como muito bom. Há que testá-lo em diferentes épocas, com diferentes técnicas, mas agora, vou ter que gozá-lo durante uns tempos.

 
Enfim... "Dei com Eles"!


Por agora fico por aqui, sempre disposto a responder às perguntas que possam fazer ou a receber dicas dos que as quiserem dar.

Depende só de quem estiver interessado e que queira aparecer por aqui.

Depois, é continuar a procurar, porque certamente este mesmo pesqueiro vai proporcionar-me derrotas inesquecíveis.

Um abraço a todos os leitores.




PS: a foto não está como eu gostaria, mas o tempo é pouco e, como se vê, foi feita posteriormente e um pouco à pressa. Espero que dê para perceber!?

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