domingo, 11 de maio de 2008

Pesca Embarcada... um pouco mais de história!


As condições climatéricas não deixam fazer história!

Há que recorrer à história antiga e dar-vos a conhecer um pouco mais de mim, revendo de alguma forma o que eu próprio de mim penso e lembrando outros tempos em que, podendo haver mais peixe, o conhecimento sobre as eventuais capturas, era também menor!

Lembro-me de acampar em tróia, com os meus pais, quando era permitido!

Passávamos lá os três meses de verão, eu a minha mãe e o meu irmão, entre amigos; enquanto o meu pai ia e vinha para Setúbal, trabalhar todos os dias, podendo assim assegurar o nosso bem estar e o dele nos curtos fins de semana que começavam ao Sábado depois de almoço, se não tivesse de fazer horas a mais na oficina de Cunhos e Cortantes que começava a render alguma coisita, atendendo à indústria conserveira ainda em alta na zona!

As preocupações nunca o abandonaram, mas, sempre que podia, lá estava ele conosco, sempre presente ao fim de cada dia e no fim de semana!

Tinha para aí os meus 7 ou 8 anos e adorava ver os pescadores a pescar de costa! Ele era Robalos, ele era Douradas! Peixes grandes que eu não conhecia, mas que me habituei a perceber quando estavam em vias de sair para a terra, através dos movimentos violentos das ponteiras das canas que empunhavam como se disso dependesse a sua vida! E que bonito a atenção com que trabalhavam aqueles caniços de bambu e o brilho dos olhos deles quando finalmente tiravam aqueles exemplares!? Adorava expiolhá-los o mais perto possível, o que não era fácil, já que a presença próxima de gaiatos pequenos, era coisa com que não simpatizavam! Mas tanto que eu gostava de os ver!!!

E os caçadores submarinos que eu via atirarem-se ao mar a partir da praia!? Já não saía dali, acompanhando, com o olhar, as suas natações, esperando que saíssem e talvez me achassem digno de os ajudar a transportar as capturas que traziam!? Talvez um dia algum me ensinasse alguma coisa que me permitisse ser como eles quando fosse grande!?

Estes não se importavam! Aceitavam a ajuda e conversavam comigo e com outros gaiatos que acorriam a ver o espectáculo de Santolas, Linguados, Raias, Chocos... Meu Deus! Tanta coisa!

Aprendi cedo a perceber se uma Santola estava cheia ou vazia, muito porque, depois de os ajudar diziam-me: "escolhe a que quiseres"!

Ao que eu retorquia: " posso levar uma qualquer"?

"Claro", respondiam!

"Mesmo aquela ali, a maior"!?

"Concerteza que sim"!

Eu achava estranho o sorriso malandro com que me viam correr para o maior macho que tinham trazido, mas só percebia quando chegava à tenda todo satisfeito e via a minha mãe olhar para mim a rir, e, dizendo em seguida: oh Ernesto! Lá foste outra vez trazer a Santola maior e mais vazia que o homem apanhou! Então eu não te disse já que as melhores são as mais pequenas! Oh filho! Nem tudo o que luz é ouro!

Oh mãe! Pois é! Lá me esqueci outra vez!

Aprendi que era preferível dizer ao pescador: "O Sr. Não se importa e escolhe-me aí uma que esteja mais para o cheinho"? Eles acharam graça e ensinaram-me a escolher as melhores e a deitar as vazias ao mar para que continuassem a cumprir os seus ciclos mais vazios ou mais cheios, a par com tudo o que teriam de fazer durante eles, até que, fossem apanhadas cheias!

A possibilidade de acampar em Tróia terminou, tinha eu os meus 11 anos, e, daí até perto dos 22, os contactos, com a pesca e a caça submarina, perderam-se um pouco; embora o "bichinho" tivesse ficado por cá! Mas tanto que aprendi enquanto estive por Tróia e tanto que desconhecia quando finalmente me reiniciei nas lides, com a caça submarina primeiro, e, já bem mais tarde, com a embarcada à séria!

Saltando algumas pescas embarcadas com 26 homens a bordo, no barco dum mestre amigo; a minha transição da caça submarina para a embarcada, deu-se quase sem que me apercebesse!

Abreviando! Tinha, na altura (92), um barco semi-rígido de 4 metros, com um TOHATSU de 40 CV e, a partir do momento em que levei por brincadeira a minha mulher à pesca, ela gostou!

Claro que, o sucesso na caça submarina, implica uma continuidade de prática regular que eu não conseguia! Isto, aliado a poder levar a minha mulher a praticar; quando dei por mim, começava a ter mais vontade de pescar com cana do que de caçar e até a ter mais sucesso, o que acontece até ao momento!

Comecei na minha Terra, Setúbal, como a maioria, a pescar aos diversos, mas, talvez devido ao hábito de capturar maiores exemplares, que se verificava na caça submarina, cedo os procurei na embarcada, o que se tem vindo a verificar, como se pode perceber na foto que inicia esta entrada, num dia (97) em que fui só, e, capturei aqueles cinco Sargos Veados e o resto dos peixitos que por lá se veêm!

Neste dia, lembra-me de chegar a terra e de um dos pescadores que foi ver a pesca comentar: "o quê!? Só apanhaste isso?"

Digo-vos meus amigos, fiquei sem palavras!

Continuei! Li! Observei! Fui aprendendo!

1998, As Douradas começam a apanhar-se em Setúbal!

Aqui vos deixo a minha primeira ida às Douradas, sendo que, a cara de "toino" que apresento nesta foto, corresponde à alegria destas capturas, às quais se seguiram muitas outras, algumas já referidas na entrada, lá para o início do blog, "Eu e as Douradas".


Entretanto, já tinha mudado de barco! O semi-rígido tinha pouco espaço para a pesca embarcada e eu queria mais! Muito mais!

Li o livro "Espadartes de Sesimbra" do Dr. Arsénio Cordeiro que relata os tempos áureos dessa pesca ali naquela zona; comecei a informar-me e a ler sobre pesca grossa; e, o sonho começou a querer transformar-se em objectivo, sendo que esta transformação não se chegou a dar como gostaria, muito devido ao tempo e dinheiro disponíveis; embora lá tenha ido, ali por Setúbal, sendo que o melhor exemplar, conseguido em território nacional, foi o Anequim que se pode ver na foto que se segue!



Corri algum mar, gastei muitas horas tentando maiores ali por Setúbal, mas algo faltava! Tintureiras... Anequins... Atuns pequenos ao corrico... mas, aquele... o muito grande... esse ainda não o apanhei!

Nesta procura incessante, intervalada pelas pescas "fáceis"... Sarguetas, Besugos, Parguetes... Meu Deus! Tanto que não sabia... tanto que ainda não sei!

A idade aumentou e, pensando na reforma e nas pescas vindouras, adquiri o presente barco, antes que fosse tarde demais!

Devido ao seu tamanho (7,35 mts), não era fácil tê-lo em Setúbal, pelo que o coloquei em Sines, em 2002! Uma das melhores opções que fiz, no que há pesca diz respeito! E o que tenho aprendido... e o que sinto ter para aprender!?

A pesca de fundo, a zagaia e a pesca grossa, à qual penso tornar, encontram, a partir de Sines, todos os fundos e oportunididades necessários a qualquer pescador que queira "maiores"! Aqui, tão perto de quase tudo!

Haja tempo, vontade de procurar e alguns tostões!

Algo do que se tem passado com "a minha pesca", já é do conhecimento de muitos dos que aqui vêm, de forma mais seguida ou intervalada!

Não pensem que quando lá cheguei, comecei logo a apanhar peixe grande e grandes pescarias! Levou o seu tempo! Procurou-se muito, sem andar a perguntar a este ou aquele e sem andar atrás fosse de quem fosse!

Na entrada que está lá para trás, "À procura de pesqueiros", é possível entender o que tem sido!

Temos que ouvir as dicas e procurar por nós! Comparar os locais, as iscas, as montagens, as imagens de sonda, sei lá!? Tanta coisa que em determinada altura do ano resultou melhor ou pior, sem nunca deixar de pensar que os fundos mudam, as épocas nem sempre começam à hora marcada, os fundos produtivos de um ano podem não ser tão férteis em outro, e, principalmente, não acreditar em pescadores que tenham muitas certezas!

A imagem abaixo, ilustra o melhor possível, a primeira "boa" pesca que fiz em Sines, em Setembro de 2002, ainda em vida do meu amigo Rogério!

Não me esqueço que, a pescar ao fundo, ele tirou neste dia, um Pargo de 1,5 kg e um Robalo do mesmo peso, em simultâneo! Sendo que o Pargo vinha no anzol de cima e o Robalo no anzol de baixo! Isto a 36 metros de profundidade, num fundo de entralhados!

Não me esqueço também que esta foi a última vez que pescou comigo!

Pareceu-me uma estranha pesca, sem saber que seria a última que faríamos juntos!

E, finalmente, apresento-vos, na foto que se segue, o primeiro Pargo de mais de 5 kgs (5,750), apanhado em Sines que, como não podia deixar de ser, se ferrou na cana do meu amigo Albino!
Devem estar a conhecer os "artistas" habituais daquelas pescas, como a do 1.º de Maio e tal...
Não há dúvida, se eu acreditasse no factor sorte, muito mais do que acredito, trazia-os sempre comigo!
Por curiosidade, eu, nesta altura (Set/2003), achava que tinha "descoberto a pólvora" com o uso da Bomboca inteira como isca, o que, claro, acabou por se verificar um erro crasso no ano seguinte! Outras histórias que hei-de contar!

Muito fica por dizer! Notas soltas que, reunidas no seu todo, deixam margem para que se entenda a necessidade de procurar e de entender a pesca, não como a repetição do que outros já fizeram, mas como algo que, partindo de algumas dicas e juntando o estudo das variáveis mais influentes, nos permita usufruir o gozo de irmos, por nós, edificando o conhecimento sobre esta actividade tão gratificante.
Pela parte que me toca, espero que os escritos por aqui desenvolvidos, não mais que a minha pesca, permitam poupar algum tempo àqueles que se iniciam neste percurso!? Entretanto, vou continuar a percorrer o caminho da Zagaia (talvez lhe devesse chamar Jigging...), que iniciei no passado ano, entremeando com umas pescas ao fundo, e, com o olho no sonho da pesca grossa!
Quanto a dúvidas sobre o que por aqui vai, contem comigo para a análise conjunta destas, nunca com uma resposta peremptória, seja negativa ou afirmativa sobre as mesmas.
Boa noite a todos os leitores!

9 comentários:

João Rosa disse...

Boa Noite amigo Ernesto
Esta suas recordações ajuda-nos a passar o tempo com prazer redrobado de quem já por muito passou nesta arte de lazer, costuma-se dizer que todos os pescadores são pessoas optimistas e de boa vontade. Continue a escrever estas suas crónicas mesmo em tempo adverso, que com prazer as lemos.
Obrigado eum abraço.
joão Rosa

Anónimo disse...

Boas Vizinho Ernesto,
Em primeiro lugar, este blog já merecia um Globo de Ouro, por estas crónicas magníficas.;)
Agora fora de brincadeiras, nunca deixe de escrever...
Bem, quanto á História, eu desde muito pequeno que também me interesso pela pesca, isto porque sou descendente de Pescadores, Pai , tios, etc, sempre adoraram pescar.
Quanto á história dos barcos, a minha ainda é recente:
Começou há perto de 5/6 anos, o primeiro barco que o meu pai comprou, um fibramar de 4,5 metros com um motor mariner de 40 CV para darmos umas voltinhas na barragem (Barragem vale de Gaio/Trigo Morais - Torrão), assim foi, "voltinha praqui, voltinha pralí", pescarias e tal, e é aí que surge o meu primeiro vício a sério, a Pesca ao achigã embarcada(que ainda dura).
No verão de 2004, eu e a minha familia, fomos passar férias pa Sines e o meu Pai decide levar o barco.
Barco na Marina e começaram a acontecer as saídas "madrugadouras", sempre pó mesmo pesqueiro, bico do molhe principal.
Estas saídas só duravam a manhã, porque à tarde começava-se a levantar as "Nortadas" e era demais pó nosso barquito, mas ainda se apanhava algum peixe, Safias, Fanecas, Choupas, etc..
Foi aí que começou outro Vício (este ainda maior), a pesca embarcada de Mar, vá comprar material, iscos e muito mais.
Fizemos algumas saídas na Maritimo-turistica, Miragem, bem sucedidas até, e o vicio nao parava de crescer.
Foi já no inicio de 2007, que o meu pai decidiu investir num barco que aguentasse mais mar, um Valliant 5,20 mts. com um motor de 60 CV , Belas pescarias que fizemos nesse barco, até chegámos a ir aos besugos. lol
Um bom Barco para aguentar mar, mas tinha um problema, a falta de espaço para arrumar material, que cada vez era mais, chegávamos ao final do dia , nao sentíamos nem as pernas nem braços , nem nada.lol
Teve de ser, Vendemos o Barco e foi já este ano que comprámos um cabinado, um Benneteau Antares 6, com motor interior, com muito mais espaço para arrumar a tralha (por mais que seja o espaço, nunca chega), demos-lhe o nome de Xarrama (rio que passa perto do Torrão).
Barco na Marina de Sines e já algumas pescas feitas, algumas boas, outras menos boas, mas dá sempre pa divertir e ficar mais tempo no mar.
Como podem ver a minha experiência no mar não é muita, mas a vontade de aprender é...tudo tem o seu tempo.

Cumprimentos,

Daniel Rodrigues

vildor disse...

Ernesto, sabes que sou um rapaz novo(acho que ainda posso dizer isto...) mas só espero ser pelo menos um bocadinho como tu quando for grande(ou mais para os lados da tua idade... ).

Apesar de saber que negas sempre este tipo de adjectivos, és um grande pescador, um excelente escritor\cronista e acima de tudo, um Homem com um coração do tamanho do mundo.

Um abraço ;)

Ernesto Lima disse...

Viva Pessoal!

Vocês assim obrigam-me a trazer duas caixas de guardanapos de papel, aqui para o pé do PC! Lol

Grato pelos Vossos comentários!

O que me parece acontecer é que gosto mesmo do que por aqui faço! Divirto-me à séria!

Se, ainda por cima, me fazem sentir útil, mais me divirto!

Não sei para onde vou! Mas que estou a adorar... sem dúvida que sim!

Obrigado a todos pelos Vossos exageros! Lol

Abraço

Ernesto

Amorim disse...

SENHOR Ernesto, contradizendo o ditado; "Tarde e a más horas", comecei realmente tarde mas em boa hora porque te conheci, não fosse esse feliz acaso e ainda andava a apanhar miudeza com vontade de mudar, sem saber como.As tuas histórias ilustram bem, porque és o ser humano que todos admiram, uns silenciosamente, outros aproveitando todas as oportunidades que surjem para o fazer. A orijem dos simples e humildes dá muitas vezes, seres que com uma enorme dignidade veem a ser grandes SENHORES.

Aquele abraço

Amorim

Anónimo disse...

Viva Ernesto.
Vai lá buscar mais um guardanapo de papel. LOL
Na realidade cada vez que aqui venho ler as tuas histórias/relatos saio de cá como se estivesse lá a vivê-las.
Hoje neste teu percurso histórico fizeste-me sentir criança, rapaz, homem e pescador.
Muito obrigado por me teres feito sonhar.

Grande abraço amigo.

Paulo karva

Ricardo Silva disse...

Viva Ernesto!

Na verdade também não sei dizer do que gosto mais: se dos relatos actuais e do permanente "pensar a pesca" ou se destes pequenos episódios que vão desvendando a forma como essa atitude se foi cimentando!

Acho que se complementam e é um prazer ler ambas!

Grande Abraço!

Ricardo Silva

Anónimo disse...

Caro Ernesto Lima,
Chamo-me Carlos Glória e sou um dos moderadores do fórum do Big Game Clube de Portugal. Temos um amigo comum, o Carlos Cruz, que é o meu companheiro de pesca grossa. Foi ele que me falou no seu blog, e não tem perdão só agora o ter feito. Estou absolutamente esmagado com os seus relatos. Não sou pessoa de elogio fácil, mas a qualidade da informação, a belíssima literatura e o seu sentir da pesca de fundo deixaram-me estarrecido.
Tenho alguns conhecimentos técnicos na área da pesca grossa aos peixes de bico, tendo tido alguns êxitos com a ajuda (e o entusiasmo) do Carlos Cruz. Tenho nesta pesca uma noção razoável do que procuro, onde e porquê. Nunca consegui no entanto “perceber” a pesca de fundo embarcada. Claro que, como todos, tenho feito algumas capturas interessantes ao fundo, mas bastou-me começar a ler os seus escritos para ter a percepção do muito do que me escapava.
Obrigado pelos seus escritos e continue porque tem mais um leitor ávido.

Carlos Glória

Ernesto Lima disse...

Viva Carlos!

Quem está estarrecido com o comentário sou eu! Lol

Não é falsa modéstia! É mesmo e só a admiração de alguém que se diverte a pescar e a escrever achando normal o que faz!

Fico muito satisfeito que os meus escritos despertem sentimentos e promovam algum conhecimento sobre esta nossa actividade!

Para si e para todos os que por aqui andam, comentando ou não, um grande abraço!

Ernesto