sábado, 27 de setembro de 2008

As Lulas da "Vereda"... Ou terão sido da "Pedra da Achada"?

Estou de sequeiro!
As Razões... São as que já sabem!
Não me contenho e tenho que escrever por aqui um pouco, mesmo que isso me roube algum tempo precioso, mas, não o é este também? Acho que sim!
Vou-vos contar uma história, verdadeira, de há alguns anos!
Mais uma que me ensinou! Sobre a pesca... Os pescadores... Os conceitos!
Corria o mês de Outubro, do ano de 1996, dois anos antes de se dar com as Douradas na "Vereda do Mar dos Pargos", pesqueiro agora famoso e concorrido dos mares de Setúbal.
Eu e o meu amigo Edmundo, um dos poucos que me ensinou sem nunca me enganar, e, também dos poucos que me mostrou outros mares e outras formas de olhar a pesca!
Fomos no barco dele, sendo a primeira vez que pesquei na "Vereda"; na altura, um pesqueiro frequentado por muito poucos pescadores desportivos de Setúbal, muito devido à distância que se entendia ser muita, naquele tempo, também ao desconhecimento e à pouca vontade de procurar novos locais, sem os conhecer, arriscando uma "má pesca"... Coisa habitual em muitos de nós!
Para que fiquem com uma ideia, a "Vereda", é uma zona de pedra, com pontões que, do lado de terra, vêm dos 59/60 para os 69/73 metros de profundidade, sendo que, do lado de mar, as mesmas alturas de pontões, podem cair para 80 a 90. Isto numa área subcomprida e irregular com mais ou menos meia milha de largura e uma de comprimento, orientando-se este, no sentido NW/SE, mais ou menos, situando-se o centro desta zona, a mais ou menos 4,5 milhas da Costa de Tróia.
Digo-vos! É um pesqueiro com características de fundo fabulosas e com fundos à volta que oferecem um sem número de hipóteses para a aplicação de técnicas variadas em momentos ou épocas também diversificados.
Fomos pescar aos "diversos", como é uso dizer-se agora; já na altura, com uns anzolitos e estralhos um pouco maiores e mais compridos que os usados pela maioria dos nossos comparsas. Já tinhamos a mania que os "grandes" andavam por lá e nós não os sabíamos pescar... Mas tentávamos, mesmo que isso nos obrigasse a mudar iscas incessantemente.
Verdade... Verdade... Não pensávamos muito a coisa! Era mais um sentimento latente, indicativo de que algo de diferente poderia vir a acontecer!
Iniciámos a pesca que rolou calma, ao longo do dia, com capturas "diversas"!
Parguete daqui, Bica dacolá! Mais umas Sarguetas grandes e uns Besugos de se lhes tirar o chapéu, entravam espaçados; não cansando nem chateando, atendendo ao ritmo a que as capturas aconteciam. Pode dizer-se que estava ali uma bonita pesca, sem a excepcionalidade que sempre se procura.
Até que...
... Aí pelas cinco horas da tarde, quando já tinhamos falado em ir finalizando a pesca, eu, ferro um peixe pequeno, lá pelos 73 metros, começo a subi-lo, e, a meio caminho, sinto um daqueles puxões inesperados e brutais, seguindo-se uma luta pesada e bruta que acabou com a fuga do que quer que tivesse originado aquilo!
Subi a linha, descoroçoado e sentido que o peixe pequeno ainda lá vinha! Pensei para comigo: tinha de ser! Vejam lá se esta miséria fugiu?
O peixe era uma Andorinha ou Bigorrilho... Aqueles rosados e em tons de lilás que pouco apreciamos quando nos aparecem, mas, este valeu ouro pela falta de carne em forma de bico que apresentava no meio do corpo, o que constatei com alguma estranheza que se desvaneceu quando, o meu amigo Edmundo, muito mais conhecedor, gritou: Epá... Estão Lulas a meia água!
Ele, rapidamente, trocou o estralho de cima por outro com um "palhaço" côr de laranja! Eu, sinceramente, fiquei a ver!
Assim que a baixada dele desceu, nem passou dos 30 metros, ficou logo a pairar! Ele ferrou! lutou! E, a primeira Lula, do tamanho de um braço de adulto, subiu para o barco!
Eu reagi! Larguei a cana, e montei uma pesca de mão que sempre se levava, na altura, com um palhaço igual e uma chumbada a 1,5 metros do estralho.
Atirei! E Zás! Aos trinta metros, mais ou menos, a linha ficava a boiar! Ferrava-se e parecia que a pesca ficava arrochada no fundo, o que não podia ser, pois estávamos a pescar a 73 metros!
E, aquilo continuou até às 7 horas da noite... Pesca para baixo! Lula para cima! E que Lulas... Bichos com 50 e mais centímetros!
As Lulas foram pegando cada vez mais fundo, até que a coisa parou... Ou quase, e, decidimos que já chegava!
No fim, quando tivemos tempo de olhar para a pesca feita, tinhamos Lulas por todo o lado!
Enchemos duas caixas da lota, mais uma caixa de esferovite das grandes e ainda trazíamos um balde quadrado, onde encaixámos as Lulas com os rabos para baixo e cabeças para cima, arrumadinhas e encostadas entre elas, fazendo lembrar um balde com flores!
Enquanto rumávamos ao porto, conversávamos sobre o assunto, num misto de entusiasmo, admiração por tal pesca em lugar e profundidades inesperadas, e, nervosismo pela recepção que sabíamos, iríamos ter na chegada à doca, quando o pessoal, que certamente já acharia estranha a nossa demora, visse a carga que trazíamos!
Chegámos! Fizemos o nosso papel de: ah e tal... Apanhámos uns peixes! Mas aquilo via-se ao longe! As Lulas estavam frescas e brilhavam na noite! Espectáculo!
As caras dos pescadores que nos aguardavam, pareciam poemas! Nunca mais me vou esquecer... Aliás, essa é uma história que ainda hoje se conta de quando em vez lá pelas tertúlias do Clube Naval Setubalense.
Mas ainda não acabou!
Recuperada a surpresa do pessoal que por ali estava, não demorou muito que não saísse a pergunta sacramental! Então, onde é que apanharam isso, oooh?
Dissemos abertamente onde tinha sido e como tinha sido, contando a história com todos os pormenores, e... A maioria dos presentes, não acreditaram em nós! Nem quanto ao local, nem quanto à profundidade nem quanto à forma como tinha acontecido! Estranho... Não é?
Soubemos que no dia seguinte, muitos barcos se dirigiram à "Pedra da Achada", um pesqueiro mais a sul e à terra, conhecido como muito bom de Lulas nessa época do ano; pensando eles que seria aí que teríamos feito tal pesca!
Várias elações se poderão tirar desta história/relato!
O mar tem muito para nos oferecer e é a nossa mania de que já dominamos muita coisa que, muitas vezes, pode limitar a nossa pesca, ou seja, poderemos ter peixe por baixo do nosso barco e não o tiramos porque, simplesmente, não sabemos!
Fazer o que muitos já fizeram é uma forma de aprender, mas a posterior procura com o nosso cunho pessoal, raciocínio próprio e experiências novas, pode trazer-nos surpresas bem agradáveis!
Não acreditar nas pequenas sortes que acontecem a alguns e não querer assumir que o iniciado que apanhou melhor peixe que nós, na sua primeira pesca, possa ter feito algo de diferente que resultou, parece-me um erro crasso! Esses, poderão ou não, ser pormenores que nos faltavam... Há que analisar as razões humildemente!
Um pesqueiro, por muito bom que seja e por razões diversas, nunca é garantia de uma boa pesca! As variáveis que condicionam a estada ou passagem do peixe e a vontade de comer as iscas que lhe apresentamos, poderão ser muitas. Consequentemente, o conhecimento e a atenção que colocamos na leitura dos sinais de sonda e naqueles oferecidos pela acção de pesca que desenvolvemos, parecem-me extremamente importantes.
Qualquer espécie que procuramos, poderá, por razões diversas, concentrar-se em um qualquer pesqueiro, mesmo que este, em nosso entender, não seja habitual, em determinada época. Isto obriga a que testemos, cada local eleito, com iscas e técnicas diversas.
Para terminar, por hoje... A regularidade diária de capturas, é talvez a maior dificuldade a ultrapassar por nós, pescadores desportivos. Penso que só a prática contínua, a mente aberta e a vontade de experimentar e testar situações novas, com base em conhecimentos anteriores, poderá proporcionar-nos alguma da regularidade procurada.
Boa noite a todos!

5 comentários:

Anónimo disse...

Bonita história de pesca, Mestre!!!!

As tuas conclusões/reflexões finais estão fabulosas e dizem tudo da "tua pesca". Bravo!!!

Abraço

Paulo karva

Anónimo disse...

"Fazer o que muitos já fizeram é uma forma de aprender, mas a posterior procura com o nosso cunho pessoal, raciocínio próprio e experiências novas, pode trazer-nos surpresas bem agradáveis!"

Não será isto a essência da vida?

O sequeiro ou a fase da gaivota fazem-te bem, aguçam-te o espirito,
para alem de contribuires para dar mais conhecimentos, a todos os que sentem a pesca doutra forma.

Epá escreve um livro, só com as histórias que tens para contar, irias ajudar muita gente, e não seria só na pesca de certeza!

Aquele abraço.

Amorim

Ernesto Lima disse...

Viva Pessoal!

Grato pelos Vossos comentários!

Quanto às conclusões/reflexões finais... São minhas! Cada um deverá analisá-las, segundo a sua experiência e resultados!

Quanto à "fase de gaivota"... Pode ser verdade? Mas prefiro a "fase de Alcatraz"... Esse procura peixe insistentemente, sobrevoando os mares!

Quanto a livro... Não penso nisso! Quero é pescar! Lol

Abraço!

Ernesto

Unknown disse...

Ora viva

Há muito tempo que "silenciosamente", como de certeza muitos outros, sigo o seu blog fascinado pelas pescas e sedento pelas preciosas dicas que vai passando.

Saindo do "silêncio", as primeiras palavras teriam de ser para lhe dar os parabéns por este espaço.

Ao ler este tópico mais antigo, reparei numa sua frase que me deixou a pensar:

"este valeu ouro pela falta de carne em forma de bico que apresentava no meio do corpo"

Ultimamente tenho tentado fazer algumas pescas com isca viva, nomeadamente carapau, e já por três ou quatro vezes reparo que o carapau volta para cima com falta de carne no lombo, mesmo atrás da cabeça (e sempre aí).

Ao ler esta sua frase, pensei: "será que a causa pode ser a mesma?"

Qual é a sua opinião?

Ou existe uma outra causa já conhecida para este facto, para mim, estranho?

Um bem haja e bons dias de mar

Luís

Ernesto Lima disse...

Boa noite Luís Rodrigues.

Grato pelo comentário e por ter ressuscitado esta entrada.

O que lhe aconteceu ao Carapau já me aconteceu também e depois de colocar um palhaço apanhei umas quantas Lulas.

Isto acontece se o bocado que falta ao Carapau é do tipo um bocado a menos que se vê foi retirado aos poucos... muito provavelmente terá sido Lula a Fazê-lo pois atiram-se à cabeça e começam a penicar a parte mole.

Já se for um bocado a menos com formato de boca de peixe, acoisa pode ser outra.

Uma boa opção - o Carapau - como isca viva. Aguenta muito tempo e tem um leque de predadores assinalável.

Força com a pesca

Abraço