domingo, 9 de maio de 2010

Programação, opções, adaptações…

Zona Sul

Para nós, pescadores, um dia de pesca parece ser sempre o culminar de um conjunto de desejos sobre os quais cismamos nos intervalos em que não pescamos, pensando sempre o que, como e onde, poderemos fazer para que tais desejos se tornem realidade.

O conjunto de pensamentos descritos, implicam programação que dependerá certamente dos nossos objectivos de pesca, das condições de mar e vento que se apresentarem e dos companheiros com quem vamos partilhar o dia de pesca.

Por sua vez, a programação inicialmente delineada, a época do ano e os exemplares que procuramos, determinarão as nossas opções, mais ou menos correctas, no que se refere a escolha de pesqueiros, tendo ainda em conta que algumas adaptações poderão ter lugar, ao longo do dia, dependendo dos sinais e resultados que se forem obtendo e considerando todas as outras variáveis referidas.

Quinze dias se passaram sem pesca, sempre à espreita de uma oportunidade que surgiu na Sexta Feira, 7 de Maio.

O Windguru, acompanhado ao longo da semana, acabou por “dizer” que, dos dias possíveis, considerando as minhas disponibilidades, a Sexta Feira seria a melhor hipótese.

Ora neste dia, as Provas de Aferição na escola, sem que me tivessem escolhido para aplicador, e a consequente ausência de aulas, abriram-me uma janela para a pesca e claro… Vamos embora para Sines!

Ainda mal tinha decidido a ida, quando encontrei um amigo de longa data, o João Amador, a quem há muito tinha prometido uma pesca nos “Alentejos” e que, estando de férias em conjunto com o Luís, seu genro, comigo formavam a equipa despreocupada, embora ansiosa, para uma pescaria a bordo do Makaira.

Estavam reunidas as condições que permitiam a programação, senão vejamos:

Data: 7 de Maio de 2010

Local: Sines

Objectivo: pesca ao fundo, em embarcação fundeada, procurando exemplares maiores, Pargo e Dourada de preferência.

Condições de mar esperadas: calmo até às 12.00/13.00 horas, com vento a levantar-se, moderado a fresco, a partir desta hora.

Características dos companheiros de pesca: mais familiarizados com a pesca aos diversos que com a pesca direccionada a exemplares maiores. Calmos, sem pressas e com vontade de ir a todas.

Iscas a utilizar: Sardinha como base, Camarão e Lula para percepção de toques, detecção de sinais, alternativa à Sardinha e, eventualmente,  para adaptar a pesca aos companheiros, no caso de não se conseguirem exemplares maiores em tempo útil; considerando como definição deste último, aquele tempo que decorre entre o início da pesca e preparação do pesqueiro com a Sardinha, até ao momento em que os resultados comecem a indicar que dificilmente entrará peixe grande.

Caracterização da época do ano: considerando jornadas em épocas anteriores, tenho esta época como intermédia, ou seja, época do ano em que os maiores exemplares, tendendo a ainda se concentrarem por fora, poderem já correr esporadicamente os mares de terra. Problema é que mares de terra… Há muitos!

Com todos os anteriores considerandos na cabeça, arranquei para Sines na Quinta Feira à noite, após jantar, com intenções sérias de ainda beber um copo com o Zé Beicinho antes de andar para o barco, onde me esperavam as tarefas de o preparar e ao meu material de pesca, assim como, fazer pescas suplentes para exemplares maiores, prevendo a sua utilização pelos meus companheiros, assim o entendessem.

Cumpridas as tarefas referidas, foi vez de consultar os rascunhos guardados algures na minha massa cinzenta, abrir o GPS e, olhando a carta em pormenor, tentar optar pela zona a iniciar a pesca, tendo em conta:

- Os mares de terra, a Sul, com resultados muito variáveis nesta época, permitiriam pescar o dia todo mesmo quando o vento levantasse.

- Os mares mais fora, podendo oferecer mais segurança quanto a capturas, devido ao vento que se esperava, poderiam obrigar a sair mais cedo, não permitindo fazer pesqueiro, ou pior, ter de sair quando este estivesse feito.

- Os companheiros que iam comigo, assim como eu, não são pessoas que gostem de estar no mar a levar tareia.

Os anteriores pressupostos decidiram-me!

As opções de pesqueiros seriam os mares de terra, algures naquela área que mostro na carta que abre a entrada. Com mais ou menos capturas, estaria garantido um dia calmo de pesca e mais uma experiência quanto ao comportamento daqueles pesqueiros nesta época intermédia.

As pescas estavam feitas, as canas montadas, as iscas encomendadas, a opção tomada… Era chegado o momento de sossegar, olhar a noite, ouvir os sons e procurar o “vale dos lençóis”, permitindo que o relaxamento que se segue ao trabalho feito, induzisse o sono seguido, quieto, reparador… “Caí que nem tordo”!

O telemóvel tocou avisando a chegada dos meus companheiros, nesta manhã de Sexta Feira ainda calma, mas com prenúncios de vento. Buscámos as iscas, comemos e andámos para o mar, não muito longe, não muito fundo, sondando pelos 32 metros e encontrando uma marcação de peixe suficientemente interessante para um fundeio que se deu sem percalços, certinho, em cima da que parecia a melhor marcação e cumprindo com as opções tomadas.

Trabalhámos o pesqueiro com a Sardinha que, ora era comida, ora não. Intervalámos com as outras iscas (Lula e Camarão), sentindo mais agressividade dos toques neste caso, sinalizando muito peixe mas de boca pequena para os nossos anzóis.

O tempo passou, as iscas eram roubadas e os grandes não entravam; ao contrário do vento que fez a sua aparição na hora esperada, indicando a correcção das opções tomadas quanto à escolha do pesqueiro.

Entraram dois Parguitos pequenos, algumas Sarguetas e uma ou outra Choupa, enquanto o vento aumentava mais, dizendo-nos: ainda bem que não foram lá para fora… A esta hora já preparavam a volta.

A determinada altura entrou-me outro Parguito e, para variar, a Saima pequena que aqui se vê:

SaimazitaA esperança voltou quanto ao aparecimento de melhores exemplares mas, assim como voltou, se foi desvanecendo pela ausência de melhores toques, pouco interesse do peixe na Sardinha e consequente ausência de capturas.

O pesqueiro não estava a resultar quanto aos nossos principais objectivos, havia que mudar ou adaptar a pesca, sob pena de continuar o resto do dia, com uma ou outra entrada de peixe melhor, intervalada com muito roubo de isca, mais ou menos intenso, tornando a pesca “mole” e pouco motivadora.

Mudar de local pareceu-me pouco viável, atendendo às escolhas, limitadas pelo vento que só permitiria ir ainda mais para a terra, quando o pesqueiro onde estávamos até indicava peixe, embora não o que queríamos. Optámos por adaptar, assumindo a derrota quanto a capturas maiores e pescando aos diversos, esperando que de entre estes, alguma coisa melhorzita aparecesse.

Mudámos para anzóis mais pequenos, linhas mais finas, estralhos mais curtos e pasme-se… Pescámos aos diversos!

O Camarão e a Lula assumiram-se como actores principais pendurados nos nossos anzóis e as Choupas, Sarguetas, alguns Sargos perto do 0,5 quilo, assim como, mais uns 4 ou 5 Parguitos, começaram a entrar de forma intensa e regular nos nossos anzóis, animando o final do dia de pesca.

Aqui se vê o Amador com um exemplo de Parguito, capturado nesta 2.ª fase de pesca, adaptada às circunstâncias proporcionadas pelas condições do dia e pelas opções por nós tomadas “in extremis”.

Sarguito AmadorFazendo um balanço do dia de pesca, pode dizer-se que:

- O pesqueiro foi bem escolhido, atendendo às condições esperadas de mar e vento, permitindo-nos fazer pesqueiro e manter-mo-nos a pescar, mesmo quando o vento e a ondulação aumentaram significativamente.

- A zona, sendo habitualmente frequentada por exemplares maiores a partir deste mês, sabia-se que poderia ou não apresentar melhores resultados, atendendo a estarmos no início da época mais profícua.

- As tentativas de fazer entrar peixe maior no pesqueiro foram até mais insistentes que habitualmente, mas o facto é que não entrou ou deu qualquer sinal.

- Não se sabe se a Sardinha por ser magra embora fresquíssima, não terá tido influência negativa no chamamento dos grandes, até pelo pouco interesse que os pequenos por ela demonstraram.

- O pesqueiro revelou-se bastante interessante para quem se dedique a pescar aos diversos.

Resumindo e concluindo, pode afirmar-se que programámos, optámos e adapta-mo-nos bem, tendo em conta as condições do dia e os resultados que foram aparecendo, conseguindo um belo dia de pesca entre amigos, com capturas suficientes e de alguma qualidade, sem que, no entanto, tenhamos conseguido satisfazer os nossos desejos de maiores exemplares. Fica para outro dia!

Daqui envio um abraço ao João Amador e ao Luís que tiveram a serenidade de trabalhar e esperar os maiores, assim como, a capacidade de se adaptarem quando foi necessário. Quero ainda dizer-vos que foi uma pena não terem ficado para jantar… A Saima, escalada e grelhada na brasa, estava um espectáculo! Também isso fica para outro dia.

A todos vós que me lêem, espero que se divirtam e desejo-vos uma boa semana de trabalho.

Até outro dia!

7 comentários:

Anónimo disse...

Bom dia Professor,

que excelente, e mais uma vez, acertada leitura dos diversos factores que condicionam as nossas saídas para o mar. Para mim que estou habituado a pescar aos diversos, principalmente em Peniche, este pareceu-me um excelente pesqueiro, daqueles cada vez mais difíceis de encontrar.
Um abraço do seu aluno,
Pedro

Anónimo disse...

ola primo,poucas fotos mas seus comentarios,beleza da agua na boca.vou de ferias di24 de jn, espero que podemos fazer uma pescaria.

Luis Domingos disse...

Caro amigo Ernesto,esta foi sem sombras de duvidas uma experiencia a recordar por longo periodo de tempo. Pessoalmente, como ainda nao adquiri grande sabedoria acerca do assunto, fiquei deveras impressionado com a sua tactica de pesca, com professores assim, so poderemos evoluir a cada dia que passa. Obrigada pela experiencia.fica desde ja a promessa de para uma proxima ida, lhe fazemos companhia no jantar,assim me despeço, com um abraco, Luis Domingos.

Nuno Paulino disse...

Ainda me vais explicar qual é o truque para as Saimas...
Gostei de ver a cara de felicidade do João. Parecia um menino, hehehehe!
Mais uma lição não só de bem pescar mas essencialmente de bem programar e de ter a noção do que se está a fazer.
Abraço

João Martins disse...

Viva Ernesto
Com este documento e outros que vão surgindo por aqui nunca o futebol e a pesca estiveram tão próximos
A sua pesca é "special", um misto de táctica, técnica e arte em percentagens ajustadas em cada "partida"
E os resultados aparecem, têm que aparecer. Curiosamente até as paixões e ódios, como se viu na última entrada
O campeonato de 2010 tem-lhe dado boas saimas. Se acontecer fazer parte da equipa numa futura jornada vou tentar "marcar" pelo menos uma

Abraço JM
.

Eu Adoro o que Faço disse...

Boa tarde prof.

porque muito se aprende neste blog sobre pesca embarcada.
um autentico manual de bem pescar com resultados, este professor não se fica pela teórica, dá cartas principalmente na prática.

parabens Ernesto e obrigado por estes teus posts.

1 abraço

Ernesto Lima disse...

Viva Pessoal!

A todos agradeço os comentários e a todos peço desculpa por só agora responder.

Antes de mais, aos que me tratam por Professor... Epá, deixem-se lá disso! Lololol

Quanto ao Gustavo, até que foi engraçado o comentário, à parte a venda de frigoríficos que, convenhamos, não fica muito bem... Mas por ter a sua piada, fica aqui até à próxima entrada, a seguir à qual, será removido por razões óbvias.

Ao Luís:

Companheiro, folgo que tenham gostado, embora não tenha sido a pesca com que gostaria de vos ter presenteado... Foi a possível, considerando as opções e adaptações que fizemos.

Ao Nino!

Vamos ver companheiro o que se arranjará quando vierem. Se for possível, com certeza pescaremos juntos outra vez.

Ao Nuno:

As Saimas têm entrado todas à Sardinha e este ano há certamente uma "invasão"! Lol

Ao JM:

Já não chegavam os do "prof". agora tenho que apanhar também com essa do "special", era só o que me faltava... Daqui a pouco ando de sobretudo.
Não ganhem juízo não... Lololol

Ao Zé Kaywox:

Resultados, sempre ilustram aquilo que fazemos... Será que fizemos tudo para que fossem os melhores? Nunca saberemos! Lol

Abraço a todos!