O Porto de Sines ficou para trás, na passada Segunda Feira, após uma "rapidinha" de Domingo à tarde, em que capturámos dois Parguitos, de quilo e quase dois, entre as 16.00 e as 17.30, ali perto, só para abrilhantar o jantar técnico que antecederia um dia de pesca séria com o objectivo Douradas, de preferência "granditas" e, quem sabe, algum primo de respeito.
O pesqueiro, seria procurado algures na nossa proa...
... Onde as nuances, entre o Mar e o Céu, de tons variados, ameaçadores e belos; apelavam à contemplação permitida pela calmaria do mar e a navegação direita, sem percalços, indicadora de uma jornada de pesca calma e talvez produtiva, eventualmente salpicada de chuvadas passageiras contidas naquelas nuvens que manchavam o nosso rumo.
As previsões não apontavam muita água, mas, para já, ela salpicava os vidros, com bátega grossa, embora espaçada.
O GPS indicou a chegada à zona eleita, havia agora que sondar, tentando encontrar o melhor pesqueiro e esperando que, após estas três semanas de interregno, com mau tempo e festas pelo meio; não se tivessem alterado os locais e comportamentos dos exemplares procurados.
Fundos conhecidos apareceram na sonda, em torno de pontos previamente marcados... Aquele ali, o outro acolá, mais a Sul; ainda o outro e à volta destes, até que se encontraram as imagens de peixe agarrado ao fundo, com outros espalhados por cima, em zona de fundos mistos, à queda de uma embeirada, até ao momento desconhecida, embora no coração da zona procurada. Estava eleito o pesqueiro!
E a deriva... Que rumo terá?
De S/SE! Respondeu-nos o traço do GPS, após o tempo em que tudo preparámos: libertar o ferro e o balão, cortar Sardinha, preparar Caranguejo, aplicar as chumbadas nas baixadas, calibrar os ângulos dos caneiros, colocar as canas a jeito, desimpedir o poço... Até que as condições estivessem todas reunidas para aproar ao rumo da deriva, passar por cima dos sinais, procurar um bico a seguir e largar o ferro, esperando ter as continhas todas certas!? E estavam! Só faltava iscar e deixar cair as pescas ao fundo, aguardando os sinais e tudo o resto que poderia consolidar o conjunto de trabalhos feitos e daqueles por fazer... A pura acção de pesca!
Eram 11.00 horas... Que belo horário de trabalho!?
Os toques iniciaram-se tímidos, quase imperceptíveis; as iscas chegavam cá acima, meio comidas e nós insistímos! Umas vezes comiam a de baixo, outras a de cima, depois as duas e ainda outra vez uma só delas, até que a cana do João vergou, cabeceando desenfreada e indicando luta mais dura que terminou na captura do Pargo que nos mostra.
Depois desta captura, tudo mudou!
Os toques eram mais atrevidos, embora pequenos e intermitentes e as iscas eram consumidas ao minuto, sem que qualquer outro peixe subisse a bordo, indicando talvez que aquele Pargo estaria por lá, interessado nas nossas iscas e contendo os impulsos gastronómicos dos "gaiatos" que, após os termos libertados de tal ameaça, se sentiram à vontade para depredarem as nossas iscas sem contemplações. Malandros!
Mas nós gostamos deles, pois, embora chatos, tudo indica que nos asseguram: a engodagem da zona, pelo que espalham por ali; e, as vibrações derivadas do frenesim de alimentação; ambas atractivas para predadores de maior porte.
As iscas alternavam-se da Sardinha para o Caranguejo e vice versa, mantendo sempre uma maior insistência na Sardinha, atendendo à suposta maior capacidade de atracção e também tendo em conta resultados anteriores, por aqui apresentados, indicadores de efectividade face ao seu parceiro de iscadas. Tudo era roubado, embora o Caranguejo levasse um pouco mais de tempo, deixando-nos sem perceber o que por lá andaria, já que nada se capturava, embora tudo se tentasse, quer ao nível das iscadas, em qualidade e forma; quer ao nível das reacções aos toques, mais rápidas ou deixando comer; até que... Já perto da uma da tarde, sinto um toque duplo, relativamente leve, arrisco e ferro alto! A cana dobra, enrolo linha e começa aquela luta conhecida, violenta, de cabeçada continua, não muito prolongada nos exemplares menos grandes... Uma Dourada, sem dúvida! A primeira do dia! Finalmente...
Tudo parecia bater certo!? Restava saber se só lá estaria aquela ou se a coisa era para continuar!? Era sim Senhor!
Os toques eram menos perceptíveis! As fulanas só caiam ao Caranguejo, mesmo no anzol de cima e os tamanhos subiam de tom, assim como a violência das lutas que se foram prolongando a bom ritmo!
A seguinte, já mais crescida não tardou a subir!
O João não se fez rogado e bateu-se com outra!
As capturas de Douradas sucediam-se, oscilando entre o quilo e meio a dois quilos, intervalando com um ou outro Parguito de porte idêntico ao que apresento em baixo!
A nossa acção não parava, já as capturas intervalavam mais, indicando talvez uma de duas coisas: ou o pesqueiro estava a esmorecer, ou, quem sabe, entrariam maiores... Por vezes acontece!? Esta foi uma delas!
Dois toques! Ferragem alta! Cana dobrada, parecendo não querer descolar do fundo, recuperação de linha e início da luta, agora com as tais pancadas, intervaladas com algumas saídas importantes de linha... A coisa compõe-se! Pensava eu para dentro, enquanto aguentava a braço as investidas da "moça" que pesou para cima de dois quilos...
... Não se comparando em nada com a maior luta, um pouco mais tarde; a oferecida pela sua irmã mais velha, já com três quilos bem pesados que me fez pensar várias vezes, se não teria sido melhor ter mudado o estralho, eventualmente já cansado de tanto trabalho! Mas não! O material aguentou-se, o pescador também e tudo correu pelo melhor!
Aqui estão as duas manas mais velhas! Bonitas não são? Muito mais que o outro animal que as está a segurar!
As horas tinham passado sem darmos por elas, o peixe fazia um volume que, embora controlado visualmente, importava pesar. Não queríamos de forma alguma estragar tal jornada com eventuais infracções à lei, mas, verdade seja dita, se não temos decidido a pesagem neste momento a coisa dava-se! Senão vejamos:
Peixe lavado; dois maiores exemplares retirados; os restantes colocados numa rede; rede pendurada no gancho da balança; esta levantada e suportada a custo e olhos postos numa leitura que dizia: 19,680 kgs... Mesmo à conta!
Olha se temos continuado a pescar!?
Observámos o Sol que já se aproximava do mar, olhámos as horas verificando que batiam as cinco da tarde, sorrimos satisfeitos e, sem mais delongas, ajeitámos o poço do barco, alámos ferro e rumámos ao porto, comentando a pesca de sorriso aberto e brilho no olho. Jornadas assim fazem destas coisas!
Mas, para além das capturas, importa relembrar as escolhas feitas, em função dos sinais observados, analisados e testados ao longo de toda a acção e que certamente estiveram na origem do sucesso de mais esta jornada.
Há que guardar mais este ficheiro no computador que se encontra debaixo do chapéu e, porque não, também neste onde me encontro a partilhar convosco mais esta jornada de pesca.
São horas de jantar uma daquelas Douradas, já em casa, aguardando bom tempo!
Depois da refeição e ainda com o gostinho algures no palato, revejo o texto e deixo-vos o relato para que tenham com que se entreter até que a prática torne a ser possível.
Boas leituras e que o tempo nos deixe pescar, são os meus sinceros votos!
Boa noite!
10 comentários:
Boas Ernesto,
Mais uma boa pescaria para não variar a coisa.
Parece que a partir de terça feira, a coisa se vai compor para a dita.
Espero que sim para poder continuar a ver as primas e os primos ai de baixo, já que aqui em cima, não os consigo convidar a vir até a minha embarcação.
Coisas de quem sabe certamente.
Boas pescas e forte abraço.
Boa noite,
Os meus parabens pela pescaria e votos de bons petiscos com elas. Cheguei a pensar que ja se tivessem ido embora mas pelos vistos não. Oxa-lá se mantenham por cá mais uns dias a ver se ainda apanho alguma mas mais encostadinhas, até aos 20m :)
quando poder veja o meu blog que tenho lá um pequeno agradecimento.
E bons petiscos!
Olá Ernesto.
muito eu gosto de ler os teus relatos cheios de tudo...com pescarias brutais...
apesar de ultimamente não comentar muito continuo a ler os espectaculares textos que deixas a quem por cá gosta de passar.
continuação de boas pescarias.
1 abraço
zé
Olá Ernesto
- Bom ANO 2011 para ti a para a tua família.
Quanto à pesca: ERNESTO...ERNESTO!!!
Quem sabe sabe e o resto é....
Obrigado por mais esta mágnifica crónica.
Até breve (espero)
Estou desejando.
Toze (Évora)
Viva Pessoal!
A todos agradeço os comentários!
Ao Tiago:
Quem não sabe hoje, vai aprendendo e sabendo amanhã, até que... Lá vem grande!!!
Ao Pessoal da Apneialusa:
Nesta altura, já é possível que as fulanas andem dispersas por todo o lado, embora ainda com concentrações importantes mais fundo.
Ao Zé:
Não te preocupes com os comentários homem! E ainda bem que contribuo para o teu bem estar. é bonito de ouvir!
Ao TóZé:
Companheiro! O tempo e a disponibilidade é que mandam... Por mim, íamos pescar já amanhã!
Assim que pudermos, estamos lá!
Abraço a todos.
Boa noite Ernesto
Já vi que os dias de chuva são bons dias de pesca .E as dourads parecem que foram asopradas por uma palhinha - como se fazia as rãs . e os vermelhos tambem não faltaram ao "rendez vous " , mais um grande dia no Atlantico . A malta já está em picos para a primeira saida de pesca de 2011 .
Um abraço e BOM ANO
Nuno Mira
Viva Ernesto
Outra bela página. Uma entrada no seu new style (hehehe) e tudo o resto é sumo!
Quando quiser recordar esses dias de pesca venho aqui e volto a vivê-los
Grande abraço e um duplo obrigado, pela pesca e pela escrita
João Martins
.
Difícil de passar despercebido no mundo dos blogues este seu espaço... Muito emotivo de ler, pois quando se chega ao fim, ficamos com a nítida sensação de que soube a pouco...
Parabéns!
Votos de um excelente ano!
Abraço
Pedro
Aos mais recentes participantes, agradeço os comentários!
Ao Nuno Mira:
Estás mesmo em pontinho de rebuçado para mais uma pesquita... Já faltou mais. Vamos ver o que os Deuses Neptuno e Éolo nos deixam fazer!?
Ao João Martins:
Essa do new style, não sei se gostei!? Ehehehe
Mas tá bem, pronto!
Ao Pedro Galante:
Sinto-me bem por, o que vou escrevendo aqui, vos distrair e envolver na pesca e emoções que ela nos pode despertar.
Quanto ao seu blog, também me parece que não deve e certamente não passa despercebido neste mundo virtual! Os meus parabéns!
Já cá canta nos links e penalizo-me por só agora o ter feito.
Abraço A todos
Estou com o João Martins: este teu "new style" aliado ao sumo com que nos vais brindando deixa-me sempre com água na boca à espera de mais uma das tuas aventuras apesar de as ouvir quase sempre na primeira pessoa.
Que continues assim por muitos anos, embora se isso acontecer possa constituir um sério perigo para os grandes exemplares do mar de Sines...
Abraço
Nuno Paulino
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