O vento não estava lá! Quer olhando o molhe Oeste, a estibordo; quer o de Sul, a bombordo; a calma imperava nesta manhã tardia da passada Sexta Feira, dia 4 de Fevereiro. Só as curvas que se viam no horizonte, lá fora, nos falavam da vaga alta e espaçada que encontraríamos em novos pesqueiros, aqueles que procuraríamos neste dia.
Mas, estou a iniciar a história a meio. Tudo começou, de facto, no passado dia 29 de Janeiro, ao fim da tarde, terminada que estava a Cerimónia de Abertura dos 9os Jogos do Sado... aquele projecto de actividades náuticas e outras, em que me continuo a empenhar, apoiando um grupo de colegas meus da Câmara Municipal de Setúbal, sendo que, este ano, vai ter pesca! Depois conto por aqui.
Cerimónia terminada, era hora de andar para Sines, jantar com o amigo João Martins e preparar o dia seguinte, Domingo, em que eu, o Zé Manel, o Rodrigues e o Zé Beicinho; iríamos cumprir promessa feita, de apanhar peixe para assar no forno que alimentasse umas catorze almas, malta amiga lá da terra.
Sinceramente, sabia da promessa, mas que eram tantos é que não fazia ideia!?
Descansou-me o Zé Beicinho, quando me disse que já tinha preparado um entrecosto, caso a coisa desse para o torto, mas, o desafio estava lançado e não sou homem de virar costas.
A época não é das melhores para nos metermos em aventuras destas! As Douradas estão possivelmente em dispersão, os Pargos têm de ser procurados e garantias de pescarias, ainda por cima de peixe para forno, não são coisa de assumir.
Várias estratégias se começaram a delinear na minha mente... vou aqui, vou ali, pode ser que sim, pode ser que não... pára Ernesto! Volta à terra e pensa o que farias, antes de pensar em apanhar peixe de forno para aqueles mamíferos todos! Não te esqueças que está lá o entrecosto!
A minha consciência não perdoa! Põe-me no sítio certo rapidamente!
Analisei a época e várias questões se me colocavam: por um lado, ainda não tinha provas de que as Douradas (peixe de forno) já tivessem abandonado completamente os locais de concentração; por outro lado, mesmo que elas não estivessem por lá, atendendo à qualidade dos fundos, os "primos" (também peixe de forno) poderiam não andar longe; e, para além disso, só indo lá e experimentando poderia tomar outras atitudes, supostamente mais racionais e concretas.
Os pensamentos pararam antes de chegar à zona de pesqueiros, onde as tarefas de procurar, sondar e fundear, relegaram para segundo plano o jantar prometido. Havia que pescar! Esse era o objectivo e a ele nos dedicámos com afinco, esperando sempre os toques mágicos de peixe graúdo.
Não vieram! Mas os Parguitos, de quilo ou pouco mais, foram subindo, como não me querendo deixar mal visto perante os comensais convidados.
As horas foram passando, o pesqueiro mostrando sinais cada vez mais fracos e a necessidade de mudar de zona a evidenciar-se a melhor opção a ter em conta.
Nestas alturas fico sempre sem saber se a mudança será a melhor atitude a tomar, mas, os companheiros já estavam a esmorecer e nem que fosse só por isso, a mudança valeria a pena! Mudámos!
Viemos mais para terra, onde os Sargos de bom tamanho (de forno) também se afiguravam uma alternativa a ter em conta, considerando que pouco faltava para alimentar os tais catorze mânfios.
E entraram... vários deles! Sendo o Veado do Zé Manel (Veado, o Sargo! Nada de confusões!) a cereja no topo do bolo, no que ao jantar de peixe no forno respeitava, para além de ser o primeiro que o meu amigo capturou em toda a sua vida. Aí está ele! Bonito, não é?
O Domingo estava feito e a Segunda e Terça, se bem que com vento Leste fresco, prenunciavam dois dias de pesca à terra, com poucas hipóteses de grandes capturas, já que os brutos, nesta altura do ano, costumam procurar maiores profundidades, sendo esporádicas as capturas ali encostadas aos molhes, únicas zonas onde o vento nos permitiu pescar na Segunda e na Terça, mesmo assim permitindo-nos alguns exemplares agradáveis, como este do João, na Segunda:
Também este meu, no mesmo dia:
Mais esta Douradita tresmalhada, na Terça:
Ainda este Sargo ao João, no mesmo dia, entre outros do mesmo quilate.
Tarefas agendadas e algumas reuniões fizeram-me voltar a Setúbal, Quarta e Quinta Feira, com a promessa de tornar a Sines, Sexta, Sábado e Domingo para aproveitar o bom tempo que se avizinhava, pescando muito; chegando nesta altura ao meio da história, prenunciado pelas fotos de abertura.
As pescarias da primeira metade tinham deixado notas importantes quanto à fiabilidade das zonas até agora pescadas, onde a concentração de Douradas seria o objectivo primeiro. Tudo indicava portanto a necessidade de procurar melhores exemplares, diversificando zonas que, considerando a presente época, teriam de ser mais profundas ou com sinais e provas dadas em épocas anteriores e, de preferência, novas ou pouco testadas.
Esta momento da época, a que gosto de chamar "de transição", já era esperado... e esta cabecinha que não pára, já há algum tempo se tinha lembrado duma zona intermédia, onde há alguns anos atrás, com menos conhecimento adquirido, tinha capturado alguns exemplares esporádicos, não tornando a visitá-la desde essa altura. Pensei para comigo que era chegado o momento de lá voltar, equipado agora com outros saberes e supostamente com visão mais arguta.
A zona não é muito pescada... raramente se vêm barcos por lá, quer de recreio, quer profissionais, mas o certo é que, o que me lembrava sobre as caracteristicas de fundo e as habituais concentrações de comedia por aqui e por ali, impelia-me a procurar, sondar e pescar na área. Os acontecimentos, os sinais, as capturas..., ou ausência de tais, logo diriam de sua justiça!?
Caracterizando a zona pela carta, ela é formada por uma "língua" de zona limpa, paralela à costa e entre duas zonas de grande concentração de pedra.
Caracterizando os fundos pela sondagem; sensivelmente de Noroeste para Sueste, ela começa nos 54/60 metros e, numa extensão de quase uma milha, vai apresentando pontões não muito altos, intervalados de limpos e entralhados, aumentando esta profundidade para perto dos 78 metros na zona mais a Sueste, onde inicia uma subida leve, calma e regular, outra vez para perto dos 60 metros no lado de terra.
As características para originar depósitos de comedia e consequentes cadeias alimentares, estão lá, em vários locais da zona. Resta procurá-los, fundear e pescar onde nos parecer mais adequado, em cada dia de pesca, segundo os sinais de sonda e as condições que se apresentem, nomeadamente no que se refira a direcções e intensidade de aguagens, caso estas se verifiquem.
Com este amontoado de ideias fervilhando debaixo do cabelo (ainda não tinha colocado o chapéu...), na companhia do João Martins e do Mar, orientei o Makaira para a zona, imobilizei-o à chegada e esperei para ver para onde derivava. A deriva era muito lenta de Leste, donde soprava uma brisa leve, mas suficiente para nos aproar quando fundeássemos, embora a vaga fosse alta e de rumo inverso. Aguagem... zero!
Iniciei a sondagem a partir do lado Noroeste, correndo a zona e ziguezagueando no sentido da deriva, sempre que encontrava algum pontão. Até que, para aí a meio da distância a percorrer, por volta dos 64 metros, aparece uma marcação bonita que percorro em vários sentidos, apercebendo-me que estava sobre uma beirada de pontão que subia aos 57 metros, mostrando comedia por todo o lado. Não vamos mais longe... É já aqui! Comentei com o amigo João e vá de fundear.
Agora só havia que acreditar e insistir, tendo em conta os sinais retribuídos pelos nossos interlocutores, já que o local não oferecia outras garantias para além dos sinais de sondagem.
As montagens iscadas desceram e os primeiros toques levaram o seu tempo a acontecer, mas foram crescendo de intensidade e o nosso amigo João Martins começou a dar neles... Parguito daqui, Parguito dali, até à luta melhor do dia, com este que se apresenta e que se não tinha uns 3,000 kgs, andava lá muito perto.
As pescarias da primeira metade tinham deixado notas importantes quanto à fiabilidade das zonas até agora pescadas, onde a concentração de Douradas seria o objectivo primeiro. Tudo indicava portanto a necessidade de procurar melhores exemplares, diversificando zonas que, considerando a presente época, teriam de ser mais profundas ou com sinais e provas dadas em épocas anteriores e, de preferência, novas ou pouco testadas.
Esta momento da época, a que gosto de chamar "de transição", já era esperado... e esta cabecinha que não pára, já há algum tempo se tinha lembrado duma zona intermédia, onde há alguns anos atrás, com menos conhecimento adquirido, tinha capturado alguns exemplares esporádicos, não tornando a visitá-la desde essa altura. Pensei para comigo que era chegado o momento de lá voltar, equipado agora com outros saberes e supostamente com visão mais arguta.
A zona não é muito pescada... raramente se vêm barcos por lá, quer de recreio, quer profissionais, mas o certo é que, o que me lembrava sobre as caracteristicas de fundo e as habituais concentrações de comedia por aqui e por ali, impelia-me a procurar, sondar e pescar na área. Os acontecimentos, os sinais, as capturas..., ou ausência de tais, logo diriam de sua justiça!?
Caracterizando a zona pela carta, ela é formada por uma "língua" de zona limpa, paralela à costa e entre duas zonas de grande concentração de pedra.
Caracterizando os fundos pela sondagem; sensivelmente de Noroeste para Sueste, ela começa nos 54/60 metros e, numa extensão de quase uma milha, vai apresentando pontões não muito altos, intervalados de limpos e entralhados, aumentando esta profundidade para perto dos 78 metros na zona mais a Sueste, onde inicia uma subida leve, calma e regular, outra vez para perto dos 60 metros no lado de terra.
As características para originar depósitos de comedia e consequentes cadeias alimentares, estão lá, em vários locais da zona. Resta procurá-los, fundear e pescar onde nos parecer mais adequado, em cada dia de pesca, segundo os sinais de sonda e as condições que se apresentem, nomeadamente no que se refira a direcções e intensidade de aguagens, caso estas se verifiquem.
Com este amontoado de ideias fervilhando debaixo do cabelo (ainda não tinha colocado o chapéu...), na companhia do João Martins e do Mar, orientei o Makaira para a zona, imobilizei-o à chegada e esperei para ver para onde derivava. A deriva era muito lenta de Leste, donde soprava uma brisa leve, mas suficiente para nos aproar quando fundeássemos, embora a vaga fosse alta e de rumo inverso. Aguagem... zero!
Iniciei a sondagem a partir do lado Noroeste, correndo a zona e ziguezagueando no sentido da deriva, sempre que encontrava algum pontão. Até que, para aí a meio da distância a percorrer, por volta dos 64 metros, aparece uma marcação bonita que percorro em vários sentidos, apercebendo-me que estava sobre uma beirada de pontão que subia aos 57 metros, mostrando comedia por todo o lado. Não vamos mais longe... É já aqui! Comentei com o amigo João e vá de fundear.
Agora só havia que acreditar e insistir, tendo em conta os sinais retribuídos pelos nossos interlocutores, já que o local não oferecia outras garantias para além dos sinais de sondagem.
As montagens iscadas desceram e os primeiros toques levaram o seu tempo a acontecer, mas foram crescendo de intensidade e o nosso amigo João Martins começou a dar neles... Parguito daqui, Parguito dali, até à luta melhor do dia, com este que se apresenta e que se não tinha uns 3,000 kgs, andava lá muito perto.
O pesqueiro não enganava, os peixes bons iam subindo até perto das 13.00/13.30 hora a partir da qual, a actividade praticamente morreu. Podíamos ter insistido, esperando o fim de tarde, mas a paciência tem limites, outros locais mais perto de terra também poderão trazer surpresas de fim de tarde, assim como, viagem rápida de regresso que sabe bem quando os sabores dos jantares técnicos já começam a sobrevoar as cabecinhas destes pescadores viciados em conversa e boa mesa.
Chegámos ao novo pesqueiro, fundeámos, e, entre alguns Sargos de quilo, ora a um ora a outro, o João Martins captura uma novidade para o jantar, o Serrajão que mostra abaixo!
Chegámos ao novo pesqueiro, fundeámos, e, entre alguns Sargos de quilo, ora a um ora a outro, o João Martins captura uma novidade para o jantar, o Serrajão que mostra abaixo!
Luta dura, comprida, mas gratificante! Pois, após escalado e convidado para o jantar técnico, com a ajuda e habitual originalidade do Zé Beicinho no que a temperos se refere, assim se apresentou à mesa, relegando a conversa técnica para segundo plano, pelo menos enquanto tivemos barriga para o saborear. Uma delícia!
Após a degustação, analisámos o comportamento do pesqueiro e o nosso comportamento em acção de pesca, concluindo que a zona teria mais para dar, o que se veio a verificar no Sábado e Domingo, em que o pesqueiro manteve os mesmo sinais - primeiro entraram os de quilo ou pouco mais e depois os maiores, nem todos capturados - e nos devolveu alegrias, como se pode ver no relato fotográfico que se segue:
No Sábado, o Filipe com este de 5,540 kgs.
Ainda no Sábado, o João com este Sargo Veado, já em segundo pesqueiro, pois o dos Pargos, desactivou-se por volta das 14.00 horas, um pouco mais tarde que no dia anterior.
No Domingo, o Zé Beicinho, com este de perto de dois quilos.
Na mesma jornada, eu a fechar as hostilidades com este que pesou 4,000 kgs certinhos.
Embora os comportamentos do pesqueiro tenham sido idênticos, importa referir que o Domingo foi o dia de sinais mais fracos, inclinando-me eu para razões relacionadas com o isco utilizado... sardinha fresca e magra, no Domingo; em vez da congelada e gorda que usámos Sexta e Sábado.
Arrisco tal argumento, atendendo a que, o tempo, a ausência de aguagem, a direcção do vento, a hora em que rondou... tudo foi quase tirado a papel químico nos três dias.
Domingo, foi o dia em que o peixe menos se interessou pela sardinha e mais espaçado entrou. Não seria a gordura a fazer falta? Não sei!
Não nos demos mal!? E isso diz-nos que o pesqueiro está em alta!
Com tudo o referido, pode dizer-se que enchemos o papinho... de pesca, de peixe e de conversa bem comida e bem regada.
Se não bastasse, temos rumo inicial definido para as próximas, assim que o mar e os afazeres o permitirem.
Veremos!? Mas duas experiências têm de ser feitas: levar sardinha fresca e congelada, testando as duas; e, ficar lá o dia inteiro, mesmo que o pesqueiro esmoreça a determinada hora... só para ver o que acontece!?
Claro que tudo isto pode decerto cair por terra. Dificilmente as condições do pesqueiro serão as mesmas, em jornadas futuras e os testes perderão fiabilidade.
Neste caso poderá dizer-se: quem testou... testou! Quem não testou... testasse!
Por estas e por outras, é que a pesca... é linda!
Até à próxima entrada!
Uma boa noite a todos os leitores.
8 comentários:
Boa Noite Mestre Ernesto
Como diria um conhecido meu que foi a caça e caçou varios passaros de diferentes cores e tamanhos " caçada tropical " e consigo e os seus amigos foi tambem foi uma pescaria tropical , só falta as bogas e manuel moura guedes e seus amigos pampos , já achava falta nas suas cronicas Pescatórias .
Espero encontrar alguns compar-sas desses a proxima volta no Makaira .
Um abraço Nuno Mira
Pois é Ernesto, uma bela variedade de espécies nos apresentas aqui.
A pesca é linda sem duvida, em especial a que nos apresentas quer pelas capturas quer pelo convívio.
Já que estás a fazer testes com sardinha aproveito para te colocar uma questão que me esqueci de te perguntar.
Uma duvida que tenho em relação a sardinha congelada.
As sardinhas congeladas que tenho conseguido arranjar ultimamente são bem gordas, tão gordas que na zona da barriga, se cortar como costumas fazer não consigo iscar correctamente nos anzóis 2/0.
Será que neste caso devo iscar tipo filete?
Só me tem acontecido do meio da sardinha para a frente, onde o diâmetro da sardinha quase nem parece um sardinha mas um peixe maior.
Abraços
Bom dia Professor,
puxa! Estou cansado com a leitura. Mais parece que estive a ver um filme do Indiana Jones! Dos bons!
A fotografia do sarrajão escalado abriu-me o apetite e ainda são 11,30 h. Esse peixinho também é divinal, e bastante mais saudável, comido crú em filetes fininhos e molhados em molho de soja. Já experimentei a iguaria e é 5*.
Um abraço do seu aluno
Pedro
Viva Pessoal!
Grato pelos comentários!
Ao Nuno Mira:
Pois é companheiro. assim que pudermos estamos lá, com "pesca tropical ou não"! Ehehe
Ao Tiago Rebolo:
Pois é Tiago... o problema dos filetes é que há dificuldade em mantê-los no anzol, muito mais se as sardinhas forem congeladas. O problema para mim resolve-se aumentando o tamanho dos anzóis.
Uso o Hayabusa Pró-Value nº.18 (4/0), no anzol de cima; e, o nº. 20, 6/0, no anzol de baixo, ou equivalentes.
Ao Pedro:
Pois é Pedro, aquilo de facto feito como dizes é francamente bom! Mas assim, sinto-me mais no alentejo! Ehehehehe.
Abraço a todos!
Boas Ernesto
- É um animo para mim ler este relato de pesca. Faz amanhã um mês que estas mãos tocaram na cana de pesca.
- Estou a precisar do Makaira, do Ernesto e dos outros amigos para limpar a minha "cassete" e tentar esquecer este mês de Fevereiro que não tem sido fácil.
- Ernesto o meu forno é pequenino.
Obrigado amigo por mais esta partilha.
Toze (Évora)
Viva TóZé!
Grato pelo comentário!
Quanto ao mês de Fevereiro... há momentos em que só quem está neles é capaz de avaliar!
Quanto a pescar... o tempo é Rei e Senhor e o resto está nas nossas mãos!
Quanto ao tamanho do forno... Pode sempre cortar-se o bicho ao meio!? Eheheheheh!!!
Forte Abraço
Lindos exemplares. O Sargo veado é um dos meus peixes de eleição. Adoro vêr as fotografias do seu blogue. Parabens. Abraço e venham mais.
Filipe Condinho.
Viva Filipe!
Grato pelo comentário!
Abraço
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