quarta-feira, 13 de abril de 2011

Pescar em "zona de conforto"...


O que é isto da "zona de conforto"?

Alguns poderão pensar que tem a ver com cadeiras de recosto e canas abandonadas em acção de pesca... mas não!
Para mim, a dita zona, tem mais a ver com não ir muito longe, onde talvez devesse para aumentar as hipóteses de capturas maiores atendendo à época; não pescar muito fundo; não procurar muito, mas bem; de preferência, um daqueles pesqueiros que se situam em zonas tão acidentadas que, mais cedo ou mais tarde, nos podem trazer surpresas gratificantes; e, principalmente, não ir muito cedo, dando tempo ao corpo de se preparar para uma acção de pesca intensa, em que são os sinais que dão o mote para a rapidez das trocas de isca com duas canas a funcionarem em simultâneo,  montagens e iscadas diferentes, atenção colocada nas ponteiras, enquanto se gerem os tempos de preparação de iscas de modo a que ambas estejam continuamente activas lá no fundo, conseguindo que a que pesca na mão, nunca esteja fora dela, enquanto tem isca. Não é difícil, mas exige controlo de tempo, controlo dos movimentos e dos espaços a bordo, tendo em conta uma colocação, de tudo o que é necessário, em locais certos, de fácil acesso, para um circuito curto e eficaz de movimentos que permita conseguir uma rapidez controlada e sem stress.

Terminados os principais trabalhos da feira, estava a precisar disto. Por um lado, da calma da viagem para Sines, do sono embalado, da inexistência de horários ou compromissos, dos convívios sem horas; por outro, da acção de pesca pensada, dura e, na medida do possível, gratificante.
É caso para dizer: procurei e encontrei tudo o que mais desejava nestas jornadas que vos descrevo!

Então e os grandes... já se esqueceu? Questionarão alguns de vós!

Nunca me esqueço! Na verdade trabalhei para eles. Mas, para ser sincero, talvez se tenho ido mais fora a coisa se tivesse dado... não fui! Paciência! Vou para a próxima, com cabeça mais limpa e o corpo mais descansado.

A navegação levou-me à zona eleita! Sondei em torno dela! Passo um pontão, outro e ainda outro, até que me aparece aquela imagem de sonda, que abre esta entrada, na base de um deles. Preferia que não fosse tão compacta... imagens mais separadas, com amarelos, laranjas e vermelhos, costumam ser melhores indicadores de peixe maior, mas, o que ali aparece não engana... há actividade no pesqueiro!

O Meio dia já era passado e acção de pesca precisava-se!

Paro o barco, coloco o cursor do GPS em cima do ponto onde estou e limpo os traços de rumo que sempre tenho activos. É hora de perceber a deriva e aproveitar o tempo em que a deslocação do barco me dará o rumo desta.
Tiro as canas dos caneiros, fixo estes na inclinação de trabalho e monto as chumbadas nas canas, uma com dois anzóis e outra, só com um, montado em estralho de 2 metros e tal.
Coloco a caixa de sardinhas congeladas junto ao balde com água salgada, onde algumas já vieram de viagem, descongelando. Retiro seis delas e corto-as às postas; mais duas, às quais corto só o rabo.
Isco a cana de mão com postas e a que vai estar a pescar no caneiro (só com o estralho comprido) com uma sardinha inteira. Tenho as canas prontas a entrar em acção e isca a postos para não ter cortar mais logo em seguida, o que me permitirá ir cortando mais isca enquanto as baixadas descem, sem correr o risco de ambas as canas estarem abandonadas em simultâneo lá no fundo, o que não me permitiria actuar sobre a cana de mão no caso de interlocutor mais malandro.
Falta preparar o ferro e colocar tudo a jeito para o largar sem delongas.
Espreito o GPS e já lá tenho o traço de deriva desenhado, dizendo-me que, considerando a relação: rumo traçado / comprimento do traço / tempo despendido nas preparações, a deriva está na direcção do vento e a aguagem é muito pouca ou mesmo nenhuma. Aproo contra o rumo, passo o bico do pontão, largo o ferro e controlo o cabo largado, tendo em conta o ponto onde quero ficar. Deixo o barco rolar com a deriva até se ferrar no fundeio, olho a sonda e lá está tudo no sítio, considerando a marcação de peixe e a profundidade onde se encontrava na primeira passagem. Perfeito!

A acção de pesca inicia-se, largando primeiro a cana que vai pescar abandonada no caneiro, aquela só com um estralho e sardinha inteira. Deixo sair linha durante alguns momentos, largando em seguida as iscas da cana de mão, conseguindo assim assegurar que quando a primeira chegar ao fundo, tenha tempo de tirar a folga do fio e travar o carreto, antes que as iscas da cana com que vou pescar ao sentir cheguem ao fundo. Quero saber se roubam e, eventualmente, qual a qualidade dos ladrões!
Toda a acção continua desta forma, ao longo de todo o dia, tentando assegurar que não falte comida lá em baixo quando aqueles que se procuram derem um ar da sua graça! Foi assim... Quinta e Sexta Feira, a solo, com saídas tardias, muita sardinha, muita acção, muita boga pelo olho, pelo rabo (delas ...claro!) e algumas boas recompensas nos intervalos; como esta Dourada...


... seguida de imediato por outra e logo por mais Bogas ferradas por qualquer lado, a certa altura incomodadas por este Sargo Veado:


O dia correu sempre a este ritmo infernal, proporcionando, no final, esta composição bonita, onde um ramalhete de 5 ou mais kgs ficaria a matar. Mas não me queixo!


A Sexta Feira foi outro dia, quase tirado a papel químico, não fora as Douradas terem sido mais pequenas, o Sargo Veado maior e a captura de dois "artistas" iguais à amostra... Zeus Faber, do latim que dá um ar entendido a qualquer pescador!?


Ainda este Serrajão, resolveu entrar à bruta, predispondo-se a petisco lá no Zé Beicinho e claro... motivo inicial de conversa que iniciando-se pela culinária, logo derivou para a pesca e "mentiritas" do costume.


Muito bom! Direi mesmo: excelente início após interregno e... em "zona de conforto"

O Sábado e Domingo, também tiveram pesca!

No Sábado com o Raimundo, o Victor e Pedro, com resultados menos profícuos, calhando-me o melhor exemplar... este Sargo:


Não acertámos com o primeiro pesqueiro e o vento que entrou no fim de tarde, tornou a pesca tão incómoda que, não fora umas Sarguetas, de tamanho que há muito não via, ali ao abrigo do molhe Sul e a coisa mal dava para o jantar.

Finalmente o Domingo, com o Zeca e o Zé Beicinho!

Sou sincero... não fora ser o único dia em que o Zé pode pescar e melhor seria ter ficado em terra.

O vento era muito, correspondendo às previsões. A época não é a ideal para pescar ali encostado, já que o peixe maior tende a frequentar os mares de fora. Por tal, valeu mais pela companhia, almoço a bordo e alguns peixes, principalmente Sargos; do que pela pesca em si, considerando os objectivos que sempre estão na nossa mente... os grandes!!!

Quatro dias de encher o papo! Acho que merecemos, eu e os meus amigos, sem desprimor para outros que até possam merece-lo mais. Mas sobre isso, não posso fazer grande coisa!

Vem aí bom tempo! Estou quase a ir outra vez! Depois conto!

Boa noite a todos os leitores

7 comentários:

Rebolo disse...

Boas Ernesto,
Queria eu ir para a caminha após fazer um novo post no meu blog e após o inserir vejo que à um minuto atrás lá tinhas colocado aqui esta ultima aventura.
Lá me fizeste adiar o sono com vontade de ler e a curiosidade habitual para os teus relatos e as tuas dicas.
Isto quem te ouve relatar estas jornadas até parece magia pura, simples e bem explicada mas a realidade é que a coisa não é bem assim, de facto a tua experiência é real e vê-se a olho nu.
Tudo parece simples para quem assiste ou para quem pensa que se trata de uma pesca de conforto, possivelmente sentado num sofá ou numa bela cadeira, mas a realidade é outra e mais uma vez, quem sabe sabe e o resto é conversa.
Bela variedade de peixe e ainda por cima uma pesca em zona de conforto.... essa é nova :)
Não me fiz ao mar lá fora no sábado pois as previsões de vento eram fortes quer para a tarde de sábado quer para o dia de domingo e pelos vistos ainda bem, pois segundo os teus relatos não foi muito bom nessas alturas.
Abraço e continuação de boas pescas.

Bruno disse...

é sempre bom te lo de volta aos relatos habitues de pesca e conforto :) aliar estas duas palavras é obra.
A pesca como sempre com bons exemplares e diversificada o que so por si é sempre bom .
Esperemos por melhores tempos e que os peixes andem por lá, seja em zona de conforto ou nao.
Eu vou tentar ir "afinando a minha tecnica " que isto da cana nova ta dificil dar com o momento exacto.
Boa continuaçao de pescas :)

João Martins disse...

Viva Ernesto
Num mundo de pescadores e outros mentirosos, em que os grandes são estes últimos e dos primeiros há bastantes e honrosas excepções, é espantoso como tem a coragem de nos relatar com a máxima fidelidade a sua pesca ao ínfimo pormenor
Já assisti noutras saídas a tudo aquilo que agora escreveu, um regalo para os olhos
É tão fácil pescar e tão bonita a pesca quando se chega a esse apuro de estilo!
E aprende-se tanto se se souber ler e sobretudo ver...

Abraço
João Martins
.

António Vinha disse...

Olá Ernesto

Conforto? Sozinho? Barco? Duas Canas? Tanto Peixe? Hummmm. Não me parece. Parece sim uma grande "trabalheira", mas o meu amigo agora está habituado a estas coisas que parece "conforto". Mas pronto... cada um é como cada qual.

Conforto seria!!!
Barco, Cerveja Fresca, Duas "senhoras generosas" isso era conforto... agora 2 canas.. Oh Ernesto...

Estou a brincar contigo pá. Bem hajas por mais esta magnifica partilha e... até sábado.

Ernesto Lima disse...

Viva Pessoal!

Grato pelos comentários!

Nada é fácil na vida ou na pesca!

Às vezes, muito raramente, caímos em cima de um pesqueiro e tudo corre sobre rodas... o peixe sobe a curtos espaços e de bom tamanho, com uns maiores pelo meio, mas, na maioria dos casos temos de labutar e é para isso que temos de estar preparados.

O peixe da vida, há-de ser sempre maior que o anterior e vai aparecer quando menos o esperarmos, talvez porque trabalhámos para isso!?

Relativamente ao conforto, a visão do TóZé é muito bonita! Lolololol

Abraço

Nelson Silva disse...

Boa tarde,

Em primeiro lugar os parabens pela feira, com muita pena minha não me foi possivel ir, fica para a próxima...

Ora ai está, finalmente mais um daqueles relatos magnificos que nos deixam com "água na boca".

Estes relados demonstram-me precisamente aquilo que sinto, o prazer da pesca, a magia da pesca, o prazer e a magia da pesca com amigos!!!

Obrigado pela partilha, cá espero deste lado por mais umas pescarias...

http://momentos-de-pesca.blogspot.com/

Ernesto Lima disse...

Viva Nelson!

Grato pelo comentário e Bem Vindo aqui à página!

É essa a forma como estou na pesca e é um prazer encontrar quem partilha as mesmas ideias sobre ela!

Estive a ver o seu blogue, sinceramente gostei e já coloquei o link aqui na zona dos amigos com blogue.

Continuação de pesca e boas capturas.

Abraço