terça-feira, 10 de maio de 2011

Alguma pesca e... muito turismo!


O Makaira olha para mim e goza-me, sabendo de antemão que estes meses de Abril, Maio e Junho, são aqueles de maior dificuldade em controlar o nosso tempo de pesca! Sacaninha...

Ora porque as variações climatéricas chocam com os dias livres, ora porque as actividades em que me envolvo alteram datas e não me deixam ir, ora porque os aniversários de família, também muito concentrados na época, dão uma ajuda... certo é que o controlo dos dias de pesca escapa-me muito para além do que gosto.
Nada de diferente do que acontece a muitos outros companheiros a quem estas dificuldades ainda apoquentam mais. Não me estou a queixar e seria até um desrespeito para muitos dos que me lêem por certamente conseguirem muito menos disponibilidade que eu para o exercício desta nossa maluquice!? Maus hábitos... é o que é!

Outro factor que nesta época não vem a nosso favor, é o controlo das condições de mar e vento, sendo que a fiabilidade dos sites meteorológicos torna-se mais complexa também derivado da instabilidade natural da época... tem vento, não tem vento, chove, não chove... mal me quer, bem me quer!? Enfim... tudo a ajudar os acontecimentos dos passados dias 4, 5 e 6 que eram para se esticar até 8, mas apontaram mais cedo o caminho de casa.

Quase três semanas sem pescar, para além de me fazerem uma comichão danada, instalavam-me um turbilhão de estratégias no "alto da peúga", assim como, capturas de peixes e até monstros marinhos, certamente inexistentes. Uma parvoíce... talvez aceitável!?

A pressa e a vontade de pescar eram grandes, levando-me a conseguir sair antes da hora do almoço de Quarta Feira, dia 4, em direcção a Sines, onde me aguardava o João Martins, com aviso para uma rapidinha de fim de tarde.
Saímos para o mar já eram quatro da tarde, com aviso do Zé Beicinho para não pescar a Norte, sabendo-se já que a estação de tratamento, possivelmente por incúrias sucessivas de alguém ou de alguns que certamente nunca serão responsabilizados, tinha deitado hidrocarbonetos para o mar, tornando intragável o peixe daquela zona.

Procurámos os pesqueiros de Sul, afastando-nos o mais possível, tendo em conta o tempo disponível, a época e etc.. Sondámos, poitámos e pescámos, assistindo ao normal roubo de iscas, à subida de Bogas fisgadas pelos sítios mais impróprios e à não entrada de peixe algum de qualidade.

Um Carapau Azul pequeno que se deve ter deslumbrado com o brilho de um anzol já desiscado e em movimento, ofereceu-se como isca viva para a cana que vinha montada para o efeito e, iscado pelo nariz, desceu às profundezas procurando interessar algum interlocutor mais avantajado, enquanto o trabalho com a sardinha continuava intenso, promovendo grande frenesim lá onde tudo acontecia.

As horas passavam, as Bogas subiam, o adiamento dos sonhos de capturas de grandes monstros já se vislumbrava no horizonte até que... a cana de isca viva dobrou-se, beijou fundo a linha de água e começou a deixar sair linha com velocidade significativa.
A adrenalina aumentou, a cana de mão foi para o caneiro, a da isca viva saiu do seu a custo e iniciou-se a luta!

O peixe levava linha, parava e levava outra vez, até que, antes de lhe conseguir ganhar espaço, algo partiu, deixando a pesca leve e a consciência pesada, aguardando para ver qual a falha cometida. Logo hoje... dia em que esta captura salvaria a honra do convento.

A subida da linha mostrou a asneira... tinha partido pelo nó de ligação entre o multi e o mono. Lembrei-me então que o deveria ter substituído, considerando que já tinha pescado da última vez, tendo sido sujeito a várias tracções importantes, nomeadamente aquelas promovidas pelos arrochanços.
O sentimento de falha por excesso de confiança tem-me acompanhado, assim como um outro que roça a estupidez. Porquê multi filamentos para pescar com isca viva? Não me parece que se justifique!
A função mais importante, não será certamente sentir, mas sim amortecer em luta até à superfície e, para tal, o mono cumpre todas as necessidades sem nós pelo meio.

Não sabia? Certamente que sim! Mas então... a pressa era tanta em ir para o mar e iniciar a pesca que, para não gastar mais tempo, usei a cana que estava mais à mão com o carreto mais a jeito, montado inadequadamente para o efeito! É bem feito! Não tinha que facilitar!
Um Badejo, daqueles que parecem Bacalhaus, foi a única coisa de jeito que entrou a bordo, para além da companhia do João Martins, de uns bocados bem passados e de uma estalada de luva branca, bem merecida. Obrigado peixe!

A Quinta Feira, acordou prometendo proporcionar um dia mais comprido de pesca. agora já com edital postado à entrada dos passadiços do Porto de Recreio, avisando da proibição de pescar num raio de 5 milhas náuticas, com centro no local donde os tais hidrocarbonetos tinham saído no dia anterior, alastrando em manchas visíveis lá pela costa Norte. Que "animais" terão permitido que  tal acontecesse? Certamente racionais pois os outros não têm acesso a tais tecnologias. Adiante...

Andámos para mais longe, fugindo das tais substâncias, considerando ventos e aguagens observadas no espaço de tempo que controlámos e dando até mais distância... o seguro morreu de velho e a competência de quem falhou, nunca se sabe se será a mesma de quem avisou da falha e estabeleceu os limites. Valia mais prevenir.

As imagens de sonda não eram grande coisa na zona que procurámos. Arriscámos um pesqueiro que parecia activo e mais uma vez as Bogas tornaram-se donas e senhoras das iscas, sem que a sua acção predatória sobre as mesmas e os decorrentes sucos e vibrações espalhados, trouxessem outras capturas para além das agressoras, passadas que eram quase duas horas após o início da acção. Importava tomar uma atitude, o que fizémos levantando ferro e procurando pesqueiro mais profícuo

A sonda entrou em acção, correndo pesqueiros, mirando o fundo em torno de embeiradas de pontões... uns já conhecidos e outros nem tanto.
Lembrei-me entretanto que estava perto de uma cetomba leve que subia dos 64 para os 55 metros, numa distância considerável onde, em outras sondagens, já me tinha apercebido de uns pequenos pontões e covas ao longo da mesma. Verdade que nunca lá tinha visto grande marcação, mas o fundo tinha boas características e, por estar perto, havia que observar!

A inclinação leve começou a delinear-se, o primeiro pontão apareceu, seguido de cova e de um outro, sendo que, entre eles, apareciam aquelas marcações separadas, amarelas e verdes com um ou outro vermelho à mistura. Boa! É mesmo aqui que vamos tentar salvar a honra do convento! Pensei para comigo enquanto iniciava a manobra de fundeio.

A acção de pesca iniciou-se, até ver, com os mesmos resultados do anterior fundeio que se foi prolongando por tempo que pareceu mais longo do que de facto foi. Já se pensava em saltar fora, quando um toque um pouco mais intenso, revelou luta conhecida logo após ferragem. Uma Dourada com mais de um quilo tinha resolvido aderir à festa.

As hostes animaram-se e, logo a seguir, luta mais dura entusiasmou-nos, principalmente quando o Pargo com 2,500kgs subiu a bordo. Afinal os sinais não enganam, o trabalho ajuda e as coisas acontecem!

De forma intervalada fomos construindo a pesca jeitosa que aqui se mostra já dentro da geleira...


... e, também aqui no passadiço, onde se pode ter melhor ideia, dos principais interlocutores e do seu tamanho.


O pequenote, coitado, engoliu o anzol inteiro e não o conseguimos devolver. Uma pena!

Perguntarão alguns de vós... Então e aquelas fotos com o peixe na mão do pescador?

Na verdade, o tempo de pesca esgotava-se, maiores exemplares esperavam-se e só quando chegámos a terra nos lembrámos de tal. Fica para a próxima.

Importante mesmo é falar do processo: trabalho, procura, insistência... encontrando as razões de sucesso/insucesso decorrente de tais factores.

A satisfação levou-nos. a mim e ao João, ao jantar técnico, ao cacau de fim de dia ou noite, como queiram; onde a conversa sobre os acontecimentos do dia preencheu todos os momentos, prevendo já futuras jornadas e respectivas estratégias e alterações a operar. Uma delícia.

O dia seguinte seria para pescar, mas as indicações do Windguru não eram as melhores... vento do quadrante Sul a aumentar para a tarde, associado a algumas alterações no material de pesca que se evidenciavam necessárias e, convenhamos, alguma preguiça; proporcionaram um dia de turismo de marina, conversa de pesca e preparação de material, com condições que até acabaram por se evidenciar como boas para a prática. A opção, sinceramente, não foi a melhor, pois a partir daqui a coisa só piorou!

O Sábado estava combinado com os meus amigos de Évora, a quem, após consulta meteorológica, avisei que talvez não fosse o dia ideal para virem. Mas a vontade era muita e corremos o risco de preparar tudo para ir ao mar, mal sabendo que teríamos pela frente mais um dia de turismo.
O encontro matinal deu connosco a sentir o vento e a observar o movimento inusitado do Porto, cheio de pescadores que, como viemos a saber, já tinham saído até à boca da barra e voltado para trás. O mar não deixava, por força do tempo que tinha caído durante a noite e do vento de quadrante Sul que se fazia sentir. Nada havia a fazer, para além de falarmos de montagens, passear por ali, gozando a calma do local e pensar em marcar uma caldeirada lá no Zé Beicinho, quais turistas recém chegados.

Um passeio a Porto Côvo junto ao mar e o descanso lá pelo Makaira, completaram a manhã, da qual ficam algumas imagens elucidativas:

O TóZé, à sombra da "bananeira"...


O Nuno Mira, mirando o peixe que passeava ali perto do barco, querendo talvez capturá-lo todo, esperando alguma boa luta...


O João Maria, descansando a vista e o corpo. Trabalho não mata... mas maça muito!?


O trio, antes de sairmos para a caldeirada lá no Zé, em foto para a posteridade e talvez para lembrar que, em dias destes, talvez mais valesse ter-se ficado na cama... ou talvez não!?


Um conjunto de dias em que, a partir de Quinta Feira, as opções não terão sido as melhores no que à pesca diz respeito. Isto se a olharmos como o acto em si.
Já se acharmos que não é só isso, sem dúvida que ganhámos um tempo de qualidade significativo.

Esperemos que para a próxima haja mais pesca que turismo!?

Até lá, uma boa tarde a todos os leitores.

10 comentários:

António Vinha disse...

Olá Ernesto

- Bela jornada pá.
Começo-me a habituar ao pastel de nata e não quero outra coisa.

- Foi uma jornada diferente, falámos, compartilhámos vida e experiencias; e conviver com os amigos é sempre melhor que ficar na cama a pensar como teria sido.

Magnifica descrição nesta entrada (como de costume)das tuas jornadas de pesca e do passeio turistico no Sábado.

Já estou a aguardar pela próxima.
Fico à espera do convite.

Abraço
TóZe

Os Pescas disse...

Oi Ernesto

Para não variar mais um excelente relato.
Os meus parabens.
Um abraço,
Pedro ( PJPescador )

Os Pescas disse...

Olá Ernesto, lindos peixes. Gosto mesmo das tuas pescas. Um abraço amigo e venham mais. A moreia é o máximo, e tão saborosa...
Filipe.

Ernesto Lima disse...

Viva Pessoal!

Grato pelos comentários.

Estou neste momento a aguardar o almoço, seguido de reunião e depois... caminho do paraíso com ele.

logo conto!

Abraço

Anónimo disse...

Eh pá, eu não tenho pena! De ti... Para os amigos que vinham de longe é mau. MAs uma boa conversa, e ainda por cima, caldeirada no Zé, é muita bem melhor que ficar na cama. A ti, olha, a de 5ª feira e o bom ar puro e o sossego da marina e a companhia dos amigos, compensa tudo. A pesca de 5ª foi muito bos. Parabéns! Quanto ao acidente, tens ideia de como está? Ou o centro das 5 milhas?
Abraço e que venha o bom tempo para a malta apanhar sol e ganhar saúde.
Ah, parece que a moda do pastel de nata pegou... Ah ah
João

Ernesto Lima disse...

Viva João!

Grato pelo comentário!

Quanto ao não teres pena de mim... aceito completamente e até agradeço! Eheheh

A restrição mantêm-se, para já, até 13 de Maio.

O centro do raio de 5 milhas náuticas é na zona do cano, sensivelmente, 2,6 milhas a Norte do Farol do Molhe Sul, o que significa que mais ou menos a 2,5 MN deste poder-se-à pescar.

Abraço

PS: evitar Carapaus, Besugos e Bogas capturadas na zona ou até fora dela! Muito por serem peixes que tendencialmente de aproximam destas zonas.

Ernesto Lima disse...

Viva João... outra vez!

Quando me refiro a poder pescar 2,5 milhas Náuticas do Farol do Molhe Sul, entenda-se que esta distância será em direcção a SUL.

Abraço

marco disse...

Ora viva Sr. Ernesto,

para variar mais do mesmo,uma escrita contagiante, como sempre!

Aparte deste artigo e após ver os seus artigos referentes aos tratamentos "Barco" tenho uma questão visto que agora finalmente consegui o tão desejado lugar na marina. Ou seja vou ter que desvidrar o gel do casco, gostaria saber qual o grão(s) de lixa que devo de utilizar?

Conto com o seu precioso comentário

Atentamente

Marco Santana

Ernesto Lima disse...

Viva Marco!

Grato pelo comentário!

Quando desvidrei o meu, em novo, usei 250. Isto porque interessa não se retirar muito gel, já que este é a melhor protecção ao casco.
No entanto, também acho que torna o trabalho muito intenso e pouco produtivo, por tal e com algum cuidado, acho que 150 terá melhor rendimento.
De qualquer modo, acho que deverás procurar mais opiniões!

Abraço

Ernesto

marco disse...

Amigo Ernesto,

muito agradecido mais uma vez!!!

Cumpts e boas marés.