quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Momentos... "Dourados"


A época esperada por tantos de nós, pescadores, já chegou!

É tempo de Douradas, já para não falar dos primos, os Pargos, que sempre acompanham de perto os supostos momentos de amor, quais "voyeurs", não sei se bem ou mal intencionados, mas penso que muito interessados em tanto comer que aparece naquelas zonas específicas de concentração... iscas, engodos e muito peixe miúdo que por lá anda à farta, beneficiando da abundância e claro... sofrendo assiduamente percalços em formato de dentes de outros ou de anzóis afiados, estes últimos a que os maiores também não ficam impunes, dependendo das mãos que estiverem na extremidade oposta.

Uma coisa é certa... ainda bem que os estados do mar e do vento, habitualmente nesta época, não se parecem com a foto de abertura, caso contrário os tais percalços seriam ainda mais assíduos, muito por via dos anzóis afiados, já que os dentes de outros são certamente uma constante lá pelas profundezas.

Foi em tal ambiente sazonal que este Vosso companheiro, lá esteve uns quatro dias da semana passada, tentando usufruir das características do momento, com condições de mar e vento que raro permitiram um dia de pesca inteiro, sem que o mar nos amassasse ou a regularidade de capturas ao longo do dia fosse mais prolongada que uma ou duas horas.

No entanto alguns peixes se capturaram, muito por via dos fundos que a sonda nos mostrava, fazendo-nos acreditar que eram os ideais para tentar as nossas amigas e alguns primos, assim como pela persistência empregue na tarefa... e que boa esta é!

A época das Douradas traz também consigo um pormenor ao qual sou um pouco, para não dizer:.. muito avesso, nomeadamente, a tendência para a concentração de barcos em determinadas zonas!

Questionarão alguns de vós e com certa razão: querias o quê? Se é "ali" que está a dar, havemos de ir pescar onde?

Ao que retorquirei: pode ser verdade!?
No entanto, tendo em conta as deslocações e comportamentos das Douradas até e durante esta época do ano e considerando resultados anteriores no mesmo período, acho que posso dizer que há muitos "alis"!

O problema é que aquele "ali", parece-me, apresenta-se como o aparentemente mais fácil, por indicadores de superfície de que de facto "ali" elas estão; noutros locais, tem de se procurar e acreditar que também lá podem estar, sondar, fundear e tudo fazer para que ataquem as nossas iscas. E isto já se torna mais complicado pela simples razão de nada estar à superfície que indique que aquela zona é uma "ali"!?

Não pretendo com isto dizer que não vou pescar em zonas de concentração, mas quando o faço, afasto-me tanto dos outros barcos que chego a ter dificuldade em perceber quantos pescadores estão a bordo, preferindo não capturar, a incomodar quem quer que seja na sua acção de pesca, quer por possível influência no comportamento do peixe pela proximidade do barulho e outras acções do barco, quer até por saber que o pescador de quem me aproximei, caso deixe de capturar, ficará sempre sem saber se tal facto se deveu a uma interrupção natural dos ataques ou a distúrbios causados por tal proximidade. E isso, meus senhores, é coisa a que não gosto de ser sujeito, obrigando-me também a não criar tal sujeição a outros.
Não pretendo com tais afirmações criticar seja quem for, mas... são feitios!

Certo é que, afastando-me e procurando as profundidades e tipos de fundos amplamente divulgados em outras entradas sobre este assunto, sempre acabo por capturar alguma coisa de jeito, assim como, aumentar significativamente a quantidade e qualidade das zonas de pesca e pesqueiros à minha disposição. Foi rápido e fácil? Não, não foi!!! Mas tem muito sinceramente valido a pena!

Com base em tudo isto, foram-se quatro dias de pesca.

Na tarde em que cheguei ainda lá fui, e, as capturas de dois Sargos, uma Dourada e um Parguito, deram unicamente para abrilhantar um jantar técnico, com o meu amigo Fernando Fontes, antecedente da jornada seguinte em que ambos desfrutaríamos do mar e, supostamente, dos peixes.

Lá fomos então no dia seguinte, o primeiro realmente inteiro, em demanda de cores da moda (dourado e vermelho) para zona pouco frequentada, ou, melhor dizendo, nada frequentada. Éramos nós o barco, o mar e os peixes que entraram quase seguidos (4 Pargos maiores que quilo e duas Douradas de tamanho idêntico) ao fim de algum tempo de preparação do pesqueiro e que rapidamente deixaram de cair nas nas nossas armadilhas por via do vento que nos empurrou para longe do "mel".
A nova poitada, não se revelou produtiva e neste caso o erro, penso, foi completamente meu. Isto porque, deveria ter tentado ficar no mesmo pesqueiro, mas, vendo outro ali perto com boas marcações, por ele optei, diga-se de passagem bem mal!
Acabei por ficar sem saber se este último valeria a pena em próxima visita, assim como, se o anterior continuava produtivo.

Questionarão alguns de vós: então e mudaste porquê?

A razão prende-se com as circunstâncias que passo a descrever:

- É normal que um pesqueiro, mesmo revelando-se produtivo, ofereça intervalos sem capturas.
- Os intervalos referidos podem ter razões diversas: sentimos, mas não conseguimos ferrar; não sentimos, mas ficamos sem isca; algum predador maior entra e altera o ritmo de ataques, acabando por não se interessar pelas nossas iscas...; ou, já estamos a sair do pesqueiro por rotação do barco e não nos apercebemos.
- Quando decidimos melhorar o fundeio, muitas vezes ficamos indecisos quanto à produtividade do anterior e, caso ali perto e em fundos idênticos se apresente outra boa leitura de sonda, a tendência é mudar e arriscar, o que podendo vir a resultar, pode também obrigar-nos a trabalhar de novo este pesqueiro, acabar por não conseguir grande coisa e ficar na dúvida sobre a continuidade do anterior.

Concluindo... para "espremer" e tentar perceber o tal primeiro pesqueiro, parece-me mais racional refazer o fundeio sobre esse, caso o novo rumo da deriva o permita.

O porto chamava por nós na hora da despedida e o dia seguinte talvez viesse a ser de descanso, atendendo à meteorologia esperada.

A manhã acordou acinzentada mas com o mar ainda calmo naquela hora em que gosto de ir (10.30/11 e tal). A previsão de vento de SW a aumentar, acompanhado de chuva criava-me alguma indecisão estando a solo, mas o bichinho foi mais forte e resolvi sair para pescar ali muito perto pensando uma vez mais no jantar, quem sabe o que cairia no prato!?

Chegado ao local, unicamente com cargueiros fundeados por companhia, atirei-me à pesca!
Inicialmente, num pesqueiro que ao fim de uma hora não me deu qualquer peixe de nota e foi esmorecendo em actividade; depois, em um outro, a uns 100 metros do primeiro, com tal frenesim que receei que as bogas me comessem o fundo ao barco. Insisti neste, esperando que "alguém" colocasse ordem naqueles "besugos brancos", o que acabou por acontecer, enquanto o vento aumentava e as nuvens se formavam, ameaçando a chegada da típica vontade do São Pedro no que se refere ao acto de "regar as plantas".
E foi-se dando... primeiro, uma Sargueta digna de ser comida que guardei, não fora o diabo tecê-las; depois, um Sargo, maior que a prima e que já me obrigaria a convidar alguém para jantar. Já o vento me mandava embora e entra uma Dourada de quilo e tal, obrigando-me a pensar que teria de aumentar os lugares na mesa, assim como a correr o risco de ter de lavar o barco à chuva se me alongasse na pescaria. Assim o fiz e, de repente, bumba! Vá de luta dura e comprida anunciadora deste Pargo com 3,750 kgs que, de uma vez por todas, me decidiu a desandar com pesca feita. Cá está ele!


Era hora! Andei para terra, amanhei o Pargo para guardar e os outros para degustar, lá pelo Zé Beicinho, com quem aparecesse; sendo os felizes contemplados: o Zeca e a Rosinda, gente boa e de conversa cheia. Uma delícia!

O Sábado acordou feio, com pouco vento e um enchio que se sentia no porto, indicador da vaga prenunciada pelo Windguru, fazendo com que eu, o Tózé e o João Maria, ainda hesitássemos antes de fundear e já perto do pesqueiro escolhido.
A vaga era larga, de NW, para aí com três ou mais metros, atravessada com os restos do cachão de SW deixado pelo vento da noite e, sinceramente, não estava agradável.

Ainda nos passou pela cabeça desandar para terra, mas, já que ali estávamos e confiando na meteorologia, lá se procurou, se encontrou e se aguardou que as coisa melhorassem... pescando.

Até que não correu mal de todo, atendendo a que em dias destes, caso o peixe esteja malandro e estava, as dificuldades são acrescidas.
O tempo passava, o vento ia acalmando e a vaga alta e larga ia-se tornando aceitável, embora obrigasse a amplos movimentos de cana no sentido de a acompanhar para manter a chumbada quieta no fundo, permitindo a captura de algumas Douradas e Pargos que iam caindo a espaços e acabando por construir a pesca razoável embora sem exemplares de destaque que abaixo se pode ver.


Dias destes, são bons para aprender... a sondagem tem de ser cuidada, atendendo a que a vaga nos dá leituras de fundo que podem tornar-se confusas e o fundeio tem de ser muito bem calculado, atendendo a que, devido à altura da vaga, mais cabo deve ser dado que o habitual,  criando folga suficiente para evitar que o ferro se solte com as subidas e descidas contínuas do barco.
O mais chato é que tudo o acima referido tem de ser feito em contínuo e forte balanceio, tendendo à aceleração de todo o processo, o que não nos trará qualquer vantagem... mais vale sofrer um pouco mais e não ter de repetir tudo de novo nestas condições.
Mas meus amigos, sinceramente, são daqueles dias em que prefiro ficar ali pelo porto, olhar as gaivotas e os peixes em torno do barco, falar com este e aquele, ir até ao computador, fazer umas montagens e... quem quiser que sofra!

Não fora os meus amigos terem vindo de longe para pescar comigo e tinha-me borrifado na pesca, pois é tareia a mais para o meu gosto.

Mas lá está... o Domingo estava prometido ao Zé Beicinho e ao Zeca, a vaga mantinha-se, o Sol deu um ar da sua graça e até parecia que o vento de terra (NE) não faria grande mal. Foi verdade até por volta da uma da tarde, depois disso o malandro do Deus Éolo deu-lhe forte e feio, de tal forma que o barco subia e descia na vaga, atravessando-se a esta e quase fazendo 90º ao cabo, ora a bombordo, ora a estibordo. Mau... francamente mau!

Mesmo assim, ainda se capturaram nove douradas, cabendo a maior ao Zé Beicinho que lá se limpou de outras três perdidas, após ferradas. Acontece facilmente com condições destas.

Cá está ele, com a maior do dia!


Concluindo... condições difíceis, dias incompletos, boas sondagens, bons fundeios, boas companhias e... algum peixe!

Não dá para queixas, antes para as análises e reflexões produzidas.

Esperam-se outros dias, melhores ou piores, e, a 17 de Dezembro, o tal workshop onde finalmente conhecerei alguns de vós.

Uma boa noite a todos os leitores.

13 comentários:

Anónimo disse...

Muito Bom! Parabéns e obrigado pela partilha!

Ernesto Lima disse...

Viva Sr.(Sra.) Anônimo(a)

Grato pelo comentário!

Cumprimentos

Ernesto

António Vinha disse...

Olá Ernesto

- Parece que não fui só eu e o João a ficar com os ossos todos "sacudidos".
Sei que só saíste porque "estes" alentejanos apareceram, e pela minha parte, ficam os agradecimentos. Mas sabes como é... tu pescas 4 dias numa semana e nós 1 dia no mês e às vezes nem isso.
Por isso, por te obrigar a pescar mais um dia que a conta, merecemos bem ficar com os ossos... olha nem sei bem onde.

Mas... oh Ernesto.... grande dia de pesca pá. Peixes... Mar... boa companhia... do melhor.

Até à próxima compnheiro.

Tóze

João Martins disse...

Viva Ernesto
Andam por Sines dias difíceis de pesca, com variáveis muito confusas e instáveis
Apesar disso, acho que é de salientar que conseguiu manter resultados de níveis muito aceitáveis
Interessantes as reflexões "laterais" que faz de comportamentos
No que respeita à manutenção ou não nos pesqueiros, regra geral (há excepções) sou adepto de que os "esprema" - mesmo que acerte com uma mudança, apenas fica com dois pesqueiros parcialmente estudados no seu registo estatístico.
E se este é importante na sua pesca e nos resultados que consegue!

Abraço JM
.

BRUNO MENDES disse...

Ora viva Ernesto !!! Mais umas pescas e uma fotos a condizer :)

Essas reflexoes sao as razões que nos levam a gostar da pesca por ser uma incerteza nada nos garante que corra tudo como o planeado.
Vento, aguagem,ondulaçao,fundear, e sondar sao tudo factores que podem e pesam no final do dia, mas tb se nao for assim nao tinha piada.
Isso agora quer é continuaçao de analise e "aulas praticas " EHEHE

BOAS SAIDAS PRO MAR E COM ALGUM PEIXE TB ;)

Anónimo disse...

Ao fim de umas quantas visitas a este post (deves ter reparado pelas entradas) decidi deixar-me levar pelo que me chamou logo à atenção na 1ª visita. Trata-se da tua foto de entrada. Tu sabes, este é o tipo de coisa que gosto de observar e esta tua foto indica bem que o Pescador que nos relata as suas peripécias sabe o que faz. Assim, cana ao alto, preparado para a luta, seja um peixinho ou um peixe a sério. Já reparaste a quantidade de gente que se vê em barcos a pescar com a cana paralela à água? E pior, a trabalhar o peixe, em luta, na mesma posição?? E se o peixe luta a sério? Ah, ok, acontece um "azar", fruto da falta de poder de manobra que uma posição baixa nos tira. Gostei!
Abraço
João Carlos Silva

Ernesto Lima disse...

Viva João!

Grato pelo comentário, e por duas razões:

Em primeiro lugar pelo acto em si; em segundo, pela observação que revela, por um lado, as capacidades de pescador de quem comenta; e, por outro, a capacidade de observar e dizer abertamente o que pensa, realçando para outros, os pequenos pormenores!

Obrigado João Carlos!

Abraço

Anónimo disse...

pois é.. pequenos ou GRANDES pormenores, faz toda a diferença! compram-se boas canas etc, mas é preciso deixá-las trabalhar! bem como o restante material, aprendam com mestre! (já sei que não gostas que te chamem mestre mas é a vida!)

Ernesto Lima disse...

Viva Sr. Anônimo!

Grato pelo comentário, exceptuando aquela coisa do mestre...

Quanto ao anonimato acho que houve o esquecimento de colocar o nome por baixo, pois a escrita tem para aí qualquer coisa de conhecido...

Quanto à questão das canas e outros que tais, costumo dizer qualquer coisa parecida com isto: "O material é muito importante, mas... não faz de ninguém pescador".

Abraço

carretas para barcos disse...

Oi Ernesto, pesquisei sobre sites de pesca e achei o seu blog. Achei muito legal. Parabéns pela iniciativa.

Abraço
Wanessa Cristina

Ernesto Lima disse...

Olá Wanessa Cristina!

Grato pela atenção!

Cumprimentos

Ernesto

Anónimo disse...

Olá Ernesto! Concordo plenamente que o material nao faz de ninguem pescador, nem sequer é o mais importante, mas quando este se junta ao resto faz a sua parte e ajuda! ainda bem que reconheces a escrita, fico contente por isso! Cumps dum Fiel seguidor deste magnifico blog!

Ernesto Lima disse...

Viva Sr. Anónimo!

Concordo plenamente!

Quanto à escrita parece-me conhecida mas sinceramente não consigo identificar!

Abraço