domingo, 2 de dezembro de 2007

Douradas! Conhecendo e... Persistindo!?

Douradas! A época em que elas se juntam fundo já começou, abrindo para a pesca embarcada hipóteses de boas capturas que, no entanto, nem sempre se verificam, o que nos aconteceu, este fim de semana quer na Sexta quer no Sábado!
Pior que isso, é que, na tentativa de capturar esta espécie, por vezes, "perde-se o burro e as canastras" como refere o ditado popular! E porquê?
Tendencialmente procuram-se zonas onde habitualmente "elas" se concentram; os barcos são muitos; uns engodam outros não; o que, em conjugação com aguagens, ventos cruzados ou a inesistência destes e a água parada, parece contribuir significativamente para um aumento da intervenção do factor sorte!
Aí ficamos mais abandonados e sujeitos a capturas ou insucessos muito mais aleatórios, no que respeita a esta espécie. Para além disso, a espera das "desejadas" prolonga-se, o tempo útil de pesca vai passando e quando damos por nós, o dia chegou ao fim e não procurámos outras opções, quer em termos de locais quer em termos de outras espécies.
Razão têm os profissionais de Sines que, quando se apercebem que as Douradas já chegaram às suas zonas de concentração, montam de imediato as suas "empostas" que constam da colocação, no local escolhido, de uma ou mais bóias amarradas a três ferros que fundeiam de modo a formar uma pirâmide triangular; sendo os ferros os vértices da base, as bóias o seu vértice superior e, os cabos que os ligam as respectivas arestas.
A montagem referida permite-lhes manter o barco fundeado com duas ou três amarrações, não se movendo do local engodado consoante as variações de ventos e correntes que possam ocorrer ao longo do dia.
Esta aparelhagem de fundeio, fica por lá durante toda a época permitindo que mantenham o pesqueiro engodado de dia para dia, o que, consequentemente, mantém as "raparigas" interessadas no local e assegura com mais ou menos assiduidade as capturas desejadas.
Esta acção limita as hipóteses dos pescadores lúdicos, pois o engodo mantém as Douradas naqueles locais, e, não havendo aguagem a coisa parece complicar-se por várias razões:
1. As Douradas estão debaixo dos engodos e os lúdicos deverão respeitar as distâncias legais para com as embarcações profissionais.
2. Não é fácil encontrá-las noutros locais, pois as quantidades de engodo que são depositadas nestes, são um forte atractivo e parecem condicionar as zonas mais próximas, em distâncias consideráveis.
3. Para os lúdicos, fazer um pesqueiro idêntico nas mesmas zonas, não será fácil, atendendo a que não vão lá com a mesma frequência e dificilmente conseguirão, num só dia, a intensidade de engodo necessária, mesmo largando dois ferros (um pela proa e outro pela popa) de forma a manter-se mais ou menos no mesmo local, atendendo às variações do mar e do vento já referidas. Para além disso, largar dois ferros e levantar, num só dia, convenhamos que é uma trabalheira desgraçada, obrigando a uma "logística" muito chata, com ferros, cabos, cestos para os cabos e... Sei lá o que mais!
Posto isto, parece poder dizer-se que ficam em aberto duas hipóteses:
1. Se houver aguagem, colocarmo-nos à distância, na linha do engodo já existente e aguardar que a esteira deste nos traga as capturas tão desejadas! Aqui para nós, a época passada tive belíssimos resultados, utilizando este critério!
2. Procurar um fundo típico, afastado algumas milhas dos locais que referi, e, criar o nosso próprio pesqueiro a solo e com as iscas que levamos, o que, a bem da verdade, ainda não fiz em Sines por algum comodismo que também influi na utilização dos dois ferros!
Armado destes pretensos conhecimentos, da isca necessária (carangueijo e sardinha) e da habitual calma preguiçosa; lá me dirigi, a um dos locais de eleição geral, onde as nossas interlocutoras se costumam concentrar, assim como alguns barcos de lúdicos e profissionais espalhados por aqui e por ali!
Parei o barco, afastado da confusão e, verificando que não havia aguagem, resolvi procurar um fundo com boa marcação e tentar a sorte!
Encontrei! Fundeei! E, assim que as pescas chegaram ao fundo, começou a acção que se iniciou com o Alfaquim da foto que abre esta entrada!
Continuei! Os Besugos e Carapaus começaram a entrar, primeiro timidamente e depois em grande algazarra! E eu sempre à espera daquela paragem, deste tipo de peixe, que costuma anteceder a entrada de peixe de outra qualidade! Mas não! Nada! Só Besugos e Carapaus! Não é que não goste! Mas, o objectivo não era esse e só podia encarar estes peixes como um mal necessário! Não o entendam como presunção, mas sim como opção!
Talvez por esta minha atitude, fui castigado com uma diminuição do vento e consequente rotação do barco que fez com que mudasse de fundo e já nem Besugos e Carapaus apanhasse!
Mudei de local, tornei a mudar! E, a pesca de Sexta Feira, terminou assim!
Bom! Não propriamente, pois o tal Alfaquim foi arranjado, cortado às postas e cozido com todos, para gáudio de alguns comensais (moi incluido) que, enquanto faziam as honras da boa mesa, falavam de pesca até à exaustão! Assim, qualquer insucesso perde a sua razão de existir!
Chegou o Sábado, com os meus amigos Raimundo, Vitor e Pedro, já conhecidos de outras pescarias e o Amorim, um novo companheiro, conhecido aqui das andanças da net que, no seu barco e em companhia da sua filha, a Catarina, nos resolveu acompanhar em mais esta saída.
Conversámos e resolvemos, talvez com a atração das Douradas "fáceis", voltar ao mesmo local do dia anterior! Erro! Direi mesmo, erro crasso!
O vento era pouco e passou a nenhum, assim como a aguagem que também variou de pouca para zero, e, assim como as Douradas, apanhei uma na linha da aguagem em que passava o engodo dos outros, mas assim que esta parou, nada! Nem Douradas, nem Besugos, nem qualquer outra escama! "Gandas toinos"!
A coisa estava complicada! Eram quase duas horas da tarde e tinhamos uma Dourada, um Besugo, dois Carapaus e algumas Cavalas grandes a bordo, para além de boa disposição e alguma fome.
A boa disposição devia-se, em grande parte, por sabermos que a Catarina, no outro barco, tinha apanhado o seu primeiro Pargo e, a fome, foi assunto que resolvemos de imediato, parando a acção de pesca e estendendo as "iguarias" compostas de frango do campo, confeccionado em versões variadas, qual delas a mais saborosa! Grandes mulheres! As dos pescadores!
O almoço terminou e, com algum esforço, mudámos de pesqueiro e continuámos a luta pelas Douradas que se continuou a revelar infrutífera, muito devido à contínua rotação, paragem e reinício do vento!
Eram três horas! Decidi dar a volta ao assunto e dizer: Companheiros! Está na hora da mudança! Vamos mas é largar isto e procurar outros mares e outros peixes ou então nem peixe temos para o jantar!
A conversa de político, gasto e cansado, resultou! Onde vamos? Onde não vamos? Já sei! Vamos lá, ao pesqueiro onde, faz duas semanas, apanhei os Pargos grandes!
Chegados ao local, sondei e encontrei outra vez aquela marcação! Acelerei os processos! Eram 15.30 e o dia já estava a ficar curto! ferro ao fundo e vá de pescar!
Então, foi acontecendo! Primeiro pequenos toques, depois mais insistentes e a tirarem a pesca do fundo, o que, é típico das Cavalas que começaram de imediato a subir!
Todos refilámos! não queriamos tanta Cavala! Umas iam para a caixa, outras para a isca e outras libertavam-se!
De repente, quando nada o fazia esperar, um afundanço da cana do Pedro assegura-nos que nem só de Cavalas estava aquele fundo repleto, também havia outros interessados nos nossos pedaços de sardinha e cavala fresca! E cá está o primeiro, o da foto abaixo, um "Bandeireiro"! Parece-me que afinal ainda vamos ter peixe que se veja!

Todos começámos a sentir outros toques, diferentes, intervalados com as Cavalas sempre presentes!

O Pedro tira um Sargo, com quase um quilo, o Raimundo de imediato tira outro, este da foto que se segue, tirando pouco depois um outro pargo de 800 grs que não mereceu o estrelato! E continuou o frenesim! Iscas para baixo, Cavalas para Cima! Mais uma vez e eu tiro um Pargo com dois quilos e qualquer coisa, pouca!

E mais um do Vitor e mais dois Parguetes que já nem sei quem apanhou! Até que a noite veio! O frenesim diminuiu e nós, satisfeitos e ainda com as respectivas adrenalinas a voltarem aos seus valores normais, levantámos ferro e voltámos para o porto, onde limpámos, arrumámos, tirámos a foto com os melhores peixes do dia, havendo ainda tempo para terminar as iguarias e comentarmos mais este dia maravilhoso e certamente diferente, como o são, todos os dias de pesca! Entretanto, o Amorim veio despedir-se de nós, recebendo as felicitações pelo primeiro Pargo capturado pela sua filha que tivemos a honra de fotografar quando passaram por nós no último pesqueiro!

É com muito gosto que aqui coloco a foto que revela a alegria de pai e filha, num dia de novas experiências e de primeiros resultados!

Parabéns Catarina! Que esse seja o mais pequeno que apanhes, enquanto pescadora entusiasta que pareces querer ser!

Boa noite a todos leitores e, em particular, aos companheiros das duas jornadas!


PS: Sobre montagens para as Douradas, tipos de fundo e procura destes, consultar, lá para o fim dos artigos aqui do blog que se encontram em mês de Outubro, as entradas: "Eu e as Douradas" e "À Procura de Pesqueiros 1 e 2"

3 comentários:

Anónimo disse...

O peixe galo é um dos que me falta apanhar. Bonito exemplar.
Agradeço o link que meteu para o site. Se quiser passar por lá, nós agradecemos.

Amorim disse...

"ACREDITAR" é a palavra de ordem dentro do poço do Makaira,é isso mais toda a sabedoria e positivismo transmitidos pelo Mestre Ernesto que marcam a diferença.Por todos os conhecimentos já passados e pelos que ainda virão o meu publico muito OBRIGADO.
Não demora muito começa a circular um abaixo assinado para saír o tal livro, hehehe.

Um abraço amigo da Catarina e Amorim

Paulo karva disse...

Mais um relato Épico.
Vale sempre a pena tentar, apesar de estarem a comer de "faca e garfo". Finas as meninas.Hein!

Abraço
Paulo karva