domingo, 17 de fevereiro de 2008

Outras histórias... Outros locais... Outras Técnicas... Outros peixes!

Ilhas Canárias, Fuerteventura, Verão de 1998!

As férias, tão bom! Nem sempre as passei em Sines!

Outros locais foram alvo da nossa curiosidade, minha e da minha família! Havendo algumas sobras daquilo com que se compram os melões, conjugamos o verbo "ir" com facilidade! Nem sempre é possível, mas, quando tudo se alinha, lá vamos nós procurar outros modos de vida, outras diferenças! E o que se aprende nessas idas, com o espírito muito português, de integração e relacionamento com outras gentes, talvez uma das nossas características mais reais e conseguidas ao longo da história!

Este arquipélago é procurado por muita gente, nomeadamente as illhas mais badaladas, Gran Canária, Tenerife e Lanzarote, esta última, habitat do nosso prémio nobel da Literatura, José Saramago. Um homem com o seu feitio que devemos respeitar, pela grande obra mais ou menos polémica que foi desenvolvendo, devidamente reconhecida pelo referido prémio, independentemente de sermos ou não seus leitores assíduos.

Não escolhemos nenhuma destas ilhas! A vontade de ver outras coisas, de aliar a pesca e o mergulho aos passeios e descoberta, e, as leituras recentes da revista espanhola Pesca a Bordo, da qual sou leitor assíduo há anos largos; identificava Fuerteventura como uma ilha com menos turistas, lindas praias, gastronomia agradável, muita pesca... e com vários pontos interessantes de mergulho! Ouro sobre azul! Toda a gente poderia decidir o que fazer, atendendo à calma e à oferta apresentadas!

Juntámo-nos três casais, mais os filhos e materiais necessários e andámos! Com aquele ar de: "P'a onde vais"? "Vou p'a festa"!

Saltando alguns promenores, o Adalberto e o Eduardo, meus amigos de longa data, iam com intenções sérias de mergulhar e eu, bom, o que acham? Para além da praia e de estar na galhofa com toda a gente, só pensava em ir pescar! Partilhando essa vontade com o meu "sobrinho", o João, filho do meu amigo Eduardo, cuja vontade de pescar aparece com fulgor quando está ao pé de mim! Porque será?

Como de costume, sem saber muito bem o que ia encontrar, carreguei uns "companheiros" especiais: a minha Cobalt da Byron, uma cana de médio spin com 2,70 metros, com longa história e muitas provas dadas, ao fundo, a lançar e sei lá mais o quê; um incontornável PENN 8500 SS, carregadinho de Platil Souverin, de 0,40 cm, novinho em folha; e, uma pequena caixa de acessórios, anzóis, algumas rapalas, destorcedores para peixitos maiores..., etc..

Chegámos à ilha, acomodámo-nos e fomos explorar as hipóteses, procurando colmatar todos os gostos existentes no grupo, particulares e de conjunto, podendo dizer-vos que os encontrámos! Também, somos todos pessoas fáceis de contentar, pouco esquisitos e com vontade de nos relacionar-mos, aprender e experimentar o que de novo sempre aparece a quem não vá unicamente procurar compras, centros comerciais e afins!

Estabelecemos os nossos planos de acção, decorrentes das estratégias anteriormente descritas, e, a partir deste momento, passo a contar-vos o que aconteceu com a pesca; saltando os copos, os passeios, as comesainas, os molhos, o cabrito e todos os lugares que visitámos, normalmente, pouco procurados pelo turista mais vulgar!

Descobrimos que ao Norte da ilha, na povoação de Corralejo, tudo se conjugava, para as várias acções, sendo o local que mais procurámos e onde, eu e o João, marcámos a nossa primeira embarcada!

Não se pode considerar que fosse caro! 5000 pesetas (+/- 6.200$00 ou 31 euros actualmente), entre as 8.30 e as 16.00 horas, com material de pesca e lanche almoçarado a bordo! Uma pechincha! Mesmo comparando com o que, na altura, já se pagava cá pelo "burgo"!

A pesca seria variada; entre atum, em barco fundeado com engodo, fundo ou corrico; dependendo das condições que se apresentassem!

Lá fomos no primeiro dia, sem levar qualquer material, no intuito de percebermos como a coisa funcionava, guardando outras decisões para próximas saídas, em função do que encontrássemos nesta!

Eu já conhecia este tipo de pesca, das leituras efectuadas em revistas espanholas, mas, cada terra com seu uso, e, pelo preço que estávamos a pagar, achei "muita parra, pouca uva" e não me enganei! Então como era?
Saíamos uns sete ou oito no barco, um Faeton com uns nove metros e tal, e dirigiamo-nos a uns locais perto de terra, onde se apanhava a isca, constituída por boga pequena viva que se apanhava da forma que passo a explicar!

Faziam engodo com pão demolhado e sardinha, numa pasta consistente, poitavam o barco não muito longe de terra, colocavam dentro de água um enxalavar com uma boca aí de 1,50 metros e atiravam bocados da pasta de engodo, de modo a que a aguagem os levassem em direcção à boca do enxalavar! Isto era feito regularmente, não tardando a aparecer grandes cardumes das tais bogas, comendo a pasta em direcção à boca do enxalavar que aguardava pacientemente até ser subido, capturando a quantidade necessária para o dia de pesca, quantidade essa, já do conhecimento do mestre, o Pepo, homem com os anos e as marcas suficientes para saber o que fazer!

Arranjada a isca, deslocávamo-nos para fundos mais importantes, perto do início dos abismos existentes à volta da ilha e iniciáva-se a acção de pesca, para a qual nos eram distribuídas as canas, carretos e montagens! Aqui é que a coisa era para o lado do estranho!

As canas eram "paus" com 1,80 a 2,10 de comprimento, duras e velhas como espadas ferrugentas!

Os carretos, quase todos verticais de tambor fixo e com ar de quem tinha visto melhores dias e de óleo já nem se lembravam!

A montagem, um estralho com 1 metro, tendo um anzol 2/0 empatado e um destorcedor para ligar ao fio do carreto, tudo com ar de quem já tinha ido à "guerra" e sobrevivido com ferimentos vários e graves! Pensei para comigo: então pelo dinheiro que estás a pagar, querias o quê? E ri-me para dentro, lembrando-me da minha caninha, carreto e material que tinha deixado lá no apartamento!

Mais me ri quando nos disseram para iscar uma boga viva pela zona da barbatana caudal e lançar-mos à água, esperando que aparecessem os atuns de dois três quilos que as abocanhariam sem parcimónias!

Lançar!? Pensei! Com estas canas? Até onde?

Falei com pescadores habituais que iam a bordo e que me disseram que aquilo resultava, mas que hoje os atuns não vinham ao engodo, constituído pela mesma pasta para as bogas, de alguns bocados de sardinha que se iam atirando pela borda fora e por algumas bogas vivas que, após levarem um aperto, eram atiradas semi mortas em torno do barco! Azar! Disse para comigo! Logo hoje que nós viemos! Mas ainda bem que vim! Se é assim? Para a próxima não me enganam! Trago o meu material e vamos ver o que acontece!

E foi! Nem um peixe entrou a bordo! valeu pela experiência, passeio de barco e o almoço que não era mau!

Os acontecimentos e posterior conversa com o mestre, indicaram-nos que aquele era o tipo de pesca que todos os barcos de aluguer faziam por ali, embora havendo outros barcos de particulares que iam para mais longe e faziam a coisa mais à séria! Compreendemos que pelo preço praticado, não era correcto pedir mais e o Pepo convidou-nos para pescar com ele dois dias depois, o que acabou por não acontecer, devido a uma suposta manutenção do barco!

Ficámos em terra e procurámos outro barco, onde marcámos a próxima saída que se realizaria três dias depois, sabendo que as condições, práticas e pagamento eram os mesmos, portanto, adequados à nossa classificação de turistas pouco endinheirados e capazes de tudo para apanhar uns peixes durante estas férias.

Chegámos, na hora e dia combinados, efectuámos o pagamento e embarcámos, não sem antes, quer o mestre quer o marinheiro, terem tecido comentários mais ou menos jocosos quanto às capacidades da minha cana e carreto, o que me fez pensar que ou os peixes seriam enormes ou aquela gente era da idade da pedra! Esperei para ver!

O barco era um catamaram velhote e lento, mas robusto! Os procedimentos para captura da isca e distribuição do material de pesca, sucederam-se, qual fotocópia da pesca anterior, tendo eu indicado ao João que escolhesse a cana menos parecida com um "pau" e com o melhor carreto possível. Montei as rabeiras para nós conforme o que tinha visto utilizar, com anzóis meus, novinhos, de boa qualidade e aguardei!

Fomos para o local de pesca e, barco fundeado, começou a distribuição dos lugares para pescar!

Éramos uns dez a bordo, oito para pescar e dois acompanhantes, sendo que o poço do barco estava cheio de gente, preferindo eu, ir pescar sózinho para o meio do barco a estibordo que, não sendo o sítio mais confortável, me assegurava liberdade de movimentos e uma posição mais alta, permitindo-me apreciar o que se passava, assim como ter uma melhor visualização do fundo!

E os atuns apareceram! Rapidamente! Assim que começaram a engodar, só se viam "torpedos", por todo o lado!

Os outros companheiros de pesca, com aqueles "paus" que lhes deram, limitavam-se a colocar a boga dentro de água ali perto do barco, dando linha e esperando que estas fossem nadando e que algum atum se atirasse o que aconteceu uma ou duas vezes, sendo estes literalmente rebocados para cima! Eu, do local onde estava, observando antes de pescar, apercebia-me que os atuns não se chegavam muito, mas que, assim que o marinheiro atirava algumas bogas vivas previamente aturdidas por um pequeno apertão que lhes dava, nos locais onde estas caíam, viam-se de imediato os ataques vorazes da "bicharada"! Ai é!? Pensei!

Pedi uma boga e isquei-a perto do rabo! Esperei que o marinheiro fizesse o seu regular "lançamento das bogas", e, fiz o meu lançamento quase em simultâneo com ele! O que esperava aconteceu! Assim que tocou a água, foi de imediato atacada, deixei levar um pouco e ferrei! Com força!

Os atuns andavam entre os dois e os quatro quilos e o PENN cantava que nem um desalmado! A cana dobrava toda, mas trabalhava-os lindamente, cansando-os até os trazer à borda onde o marinheiro e o mestre os embicheiravam, visto que eu, onde estava, só poderia conduzi-los na sua direcção, devido à falta de manobra que o meu local permitia.
A coisa continuou e eu apanhei 9 atuns de seguida, para espanto do resto do pessoal que já não pescava, só tirava fotos aqui do "tuga", feito homem "com um olho em terra de cegos"! Sim, porque tirando eu e o João que capturou alguns, pescadores a bordo, eram poucos! No fundo, era tudo pessoal que se tinha ido divertir! De pesca via-se que a experiência era muito pouca e os barcos de aluguer estavam preparados para isso, não para pescar a sério! Senão, veja-se o que aconteceu a seguir!
Estava eu na minha azáfama contínua com os atunzitos, quando, de repente, vejo uma sombra enorme sair debaixo do barco! Um tubarão enorme, estava por ali, à espreita da sua oportunidade com os atuns que deambulavam com o frenesim da comida que o engodo atraía! Ao vê-lo, gritei: Tiburon! Tiburon! Assustaram-se primeiro, depois o mestre reagiu indo buscar uma cana de Big Game, com um carreto de tambor rotativo, maltratado como todos os outros, com metade da linha que podia levar, e, pasme-se, monta-lhe um anzol para aí 2/0, fininho, com um cabo de Inox, aí de 0,50 cm! Eu nem queria acreditar!
Perguntei-lhe! Então não tem nada maior? Ao que me respondeu! Não! Não estava a contar com isto!
Pensei para comigo, incrédulo... Então um barco de aluguer, num mar daqueles, com clientes, não tinha mais que aquilo!?
O bicho tinha para cima de duzentos quilos! Era uma coisa enorme e o que tinhamos para tentar capturá-lo eram anzóis para a Dourada e cabo de Inox para a Anchova! Como era possível?
Bom! O mestre lá montou o anzol e lá o enfiou num grande filete de atum, largando-o ali, não muito longe do barco! Não demorou nada! O bicho comeu, primeiro devagar, dando pequenos tirões na linha, com é hábito dos esqualos! Depois começou a levar linha parecia um comboio, nada o parava, e nós sem linha e com um anzol daquele tamanho! Claro, assim que travámos o carreto, a luta desenrolava-se e ao fim de algum tempo o anzol desferrava-se de tão fino que era! O mestre repetiu a manobra e a perda deu-se outra vez! De ambas as vezes quiseram que fosse eu a trabalhar o bicho, como se vê na foto de abertura, mas, trabalhar como, se não tinha linha ou anzol capaz de tal proeza!
Largámos o bicho e deixámo-lo banquetear-se com os atuns, o que começou a fazer, ali mesmo nas nossas barbas! Está bem tubarão! Desculpa lá qualquer coisinha!
A pesca acabou e o marinheiro preparou o melhor atum frito com cebola que jamais degustei! Viemos navegando para a terra, comendo e conversando sobre os acontecimentos do dia, com os outros e entre nós!
Chegámos e tirámos as fotos da praxe, eu e o João com alguns dos atuns que capturámos, como podem ver na foto abaixo!

À chegada, o mestre veio ter comigo, olhámo-nos nos olhos e percebemos os pensamentos um do outro! Ele percebeu que eu tinha já feito alguma coisa à volta da pesca e que tinha percebido que aquele barco estava mais preparado para levar curiosos da pesca que pescadores. Eu percebi que aquele pescador estava envergonhado por não ter os materiais que poderiam ter transformado aquela pesca em outra pesca! Compreendomo-nos mutuamente! No fundo, ele era empregado do dono do barco, um Inglês que nos recebeu à chegada e que não me pareceu nada preocupado com os desaires do dia! Quis foi levar os atuns para grelhar, no seu restaurante, para os seus clientes também ingleses, sedentos de peixe acabado de apanhar!
Despedimo-nos! Ele dizendo-me: que a minha cana era muito boa! Eu dizendo-lhe: belo dia de pesca que tivemos hoje! Ao que me respondeu, com ar resignado: poderia ter sido melhor! Tenho de ir comprar material!
Acredito que foi!
Claro que esta conversa foi toda em Espanhol!
As férias rolaram, as estórias aconteceram e foram contadas à exaustão entre nós, chegando ao fim como tudo na vida!
Ficaram os conhecimentos e as experiências de outras vivências, em outros locais... em outras pescas... com outros peixes!
Boa noite!

5 comentários:

Amorim disse...

Nunca mais leio este blog antes de ir prá cama.......é que foi toda a noite a pescar atuns, e o pior foi o cross que fiz até á loja P... para comprar um anzol grande a ver se segurava o tubarão, assim não dá, um homem acorda estafado, hehehe. Continua a brindarnos com estas histórias maravilhosas de mar e verdade, todas as mentes abertas te agradecem.

Aquele abraço

Amorim

Anónimo disse...

Viva Ernesto.
Mais uma bela história de pesca. Também tenho umas aventuras além fronteiras, pescando com paus, turista é assim mesmo, julgo eu. LOL

Abraço
Paulo karva

Anónimo disse...

Viva Ernesto Lima
Recordar é também viver!
Ainda hei-de ler aqui um relato da captura de um "tiburon" sineense...
Estará próximo?
Um abraço

João Martins

Anónimo disse...

O Drag do Penn têm um som inconfundivel, adoro estas histórias !!

Ps: prepara as Zagaias.

Daniel Marques

Ernesto Lima disse...

Viva a todos!

Grato pelos Vossos comentários!

Amorim, sonhar é bom! Mas não precisas correr! Lol

João, não te sei responder! Depende do que a zagaia der este ano! Acho eu!

Daniel, o que é que achas que estive a fazer durante o fim de semana? Lol

Abraço a todos!

Ernesto