domingo, 27 de julho de 2008

Ferro de Fundear: Grampolim!

Fim de semana espectacular!
Eu e a minha mulher fomos para Sines! Pescar, curtir um Sol, petiscar por aqui e por ali e... Também o Festival das Músicas do Mundo fez parte deste nosso tempo, sem outras preocupações que estarmos bem!
Pescámos no Sábado... Pesca com saída tardia e volta cedo, como gostamos! Pescámos bem! Não muito... Cinco Sargos, entre os 0,700 e 1 kg; quatro Parguetes e uma dúzia de Carapaus! Não capturámos nada de nota, para além de um dia de mar espectacular e estarmos juntos! Não há foto que explique isto sem faltar à verdade! Também... Não é relato para expor por aqui!
Por tal, e no sentido de também convosco manter alguma fidelidade, andei às voltas sobre o que escrever!? Entretanto, uma simples pergunta, de um conhecido de Sines, sobre o meu ferro de fundear, fez-me pensar sobre as alterações que já sofreu ao longo de anos... De ferros perdidos, unhas partidas, cabos cortados em pontões altos e sei lá mais o quê... pensando então que talvez vos sirva que vos conte do meu Ferro de Fundear, o qual vos apresento na foto inicial!
Pela zona de Setúbal, este tipo de ferro denomina-se Grampolim! Sendo que as suas principais características são: Fixar-se bem em fundo rochoso e, forçado pelo barco, abrir as unhas e soltar-se, sem nessecidade de outros truques mais ou menos complicados... Mais ou menos fiáveis... Obrigando a que tenhamos à mão um conjunto de materiais que teremos de testar para que o ferro acabe por se soltar com facilidade e manter-se agarrado em qualquer situação aceitável de mar e vento!
Não uso corrente, nem fiel, atendendo a que, se o ferro estiver dimensionado para o barco, aguenta-o e solta-se quando é necessário! Se não... Tudo o resto me parecem situações paralelas com interesse duvidoso... Não por achar isto ou aquilo, tecnicamente falando, mas pela experiência ao longo dos anos, sendo que, o actual ferro, já trabalha há dois anos e meio sem que se tenha sequer partido uma unha!
Não o pesei! Sei simplesmente que aguenta o meu barco; aquele que se vê no lado direito da página principal, medindo 7,35 mts e pesando 2.700 kgs!
É um ferro de construção simples, com um varão maciço de inox, de 40 mm de diâmetro e 80 cm de comprimento, onde foram soldadas cinco unhas, também em inox, com 12 mm de diâmetro e 50 cm de comprimento, sendo que, 5 cm, se perdem na soldadura encostada ao longo do varão! No "rabo" do ferro foi soldada uma argola, também executada em varão inox de 12 mm de diâmetro, para efeito de ligação ao cabo de fundear.
Inicialmente, esta era a construção do ferro, ao qual amarrava cabo de fundeio de 8 mm de diâmetro, assegurando assim um cabo não muito resistente à agua, mas, suficiente para lidar com o fundeio! Vejamos as alterações que foram produzidas e cujos resultados, em uso, se tem vindo a revelar positivos!
Um dos problemas a resolver foi o das unhas partidas! De tanto as abrir e tornar a fechar, em cada muda de local de fundeio, uma delas partia-se, seguindo-se mais outra e... Outra; sempre pela área da soldadura que, por muito cuidada que seja, sempre enfraquece o material na zona. Isto de três em três meses, em alturas de pesca mais intensa, obrigando a levar o ferro ao "médico"!
Esta situação resolveu-se, conforme se vê na foto abaixo, aplicando as argolas, soldadas entre si com pequenos troços, formando espaços onde passam as unhas e correndo livremente ao longo destas.
Modo de aplicação: As chapas triangulares de 3 mm de espessura e 5 cm de lado, são soldadas em cada unha, uns 5 cm abaixo da ponta!
Vantagens: As unhas nunca dobram ou endireitam junto às soldaduras! Podemos mudar os pontos de dobragem, movendo a argola mais para baixo ou para cima, com pequenas pancadas dadas com o tubo que, normalmente, se utiliza para endireitar ou dobrar as unhas!
Desvantagens: Não as encontro!
Há quem solde uma argola às unhas, acima da zona das soldaduras ao varão, mas só está a criar outra zona de enfraquecimento.
Vejamos outra alteração!
Imaginemos um pontão alto ou baixo que tem peixe na embeirada do lado do vento! Neste caso, teremos que largar ferro afastados do pontão, por vezes em zona de limpo ou entralhados, sendo que as unhas simples não terão largura suficiente para se manterem agarradas em fundos mais brandos! O mesmo se verificará em fundos "sujos", sem consistência para que o ferro prenda só com as unhas simples.
A solução encontrada foi, soldar uns triângulos de chapa às unhas do ferro, aumentando assim a capacidade de assegurar o fundeio, como se pode verificar na imagem seguinte.
O afastamento da ponta decidiu-se para que se possa endireitar a unha com um tubo simples, não tendo este afastamento influência no acesso da chapa ao fundo, no caso de um fundo brando, em que o ferro, ao cair, afundará na areia ou lodo com alguma facilidade. Esta opção, evita também o uso de um ferro para cada tipo de fundo, desde que, não haja muito vento no momento do fundeio. Neste caso, dever-se-à deixar o ferro cair no fundo e dar-lhe tempo a enterrar-se antes de lhe aplicar tensão, fazendo-o posteriormente de forma progressiva.
Chamo a atenção para as pontas das unhas que, propositadamente, foram arredondadas e lixadas por razões de segurança a bordo, caso alguém caia ou roce inadvertidamente sobre o ferro. Nunca deixou de agarrar por isso!
Outras alterações foram sendo realizadas, como por exemplo o cabo de fundeio, inicialmente com o mesmo diâmetro até ao ferro e sem qualquer protecção, fez-me perder um ferro por se cortar num pontão mais alto onde fundeei!
Resolvi a situação, aplicando uma ponteira de cabo, de 14 mm de diâmetro, num comprimento de 16 metros, protegida em 10 metros, por mangueira plástica de diâmetro imediatamente superior ao diâmetro do cabo.
Modo de aplicação:

  1. Liga-se o cabo de 14 mm ao cabo principal de 8 a 10 mm, através duma costura de uns 25 cm de comprimento, de modo a salvaguardar as diferenças de diâmetros.

  2. Introduz-se o cabo na mangueira, usando uma guia feita com fio de nylon e uma chumbada subcomprida que se faz passar primeiro. É aconselhável molhar o cabo com água e sabão antes de proceder ao enfiamento.

  3. Na ponta que vai agarrar ao ferro faz-se uma costura com sapatilho como mostra na foto acima.

  4. Coloca-se a argola que vai permitir aplicar a bóia de levantamento do ferro e aplica-se o cabo ao ferro, através de manilha que deverá ser bem apertada com um alicate.
Nota 1: Caso não saiba fazer as costuras no cabo, recorra a um velho marinheiro que, certamente, não se fará rogado a dar-lhe uma ajuda! Principalmente se lhe solicitar que o ensine em vez de que seja ele a fazê-lo!
Nota 2: A argola grande com uma pequenina soldada que se colocou, solta no cabo, destina-se a aplicar a bóia que nos vai permitir subir o ferro e que, no meu caso, prefiro que esteja sempre no cabo e não na bóia! Isto porque, nesse caso, a bóia terá de estar ao sol, degradando-se facilmente.
Finalmente, a bóia de elevação do ferro!
A única alteração feita, traduz-se no envolvimento com cabo de 4 mm, em rede, ligado ao cabo de 8 mm que suporta um mosquetão inox, também de 8 mm, cuja função é de aplicação à argola de levantamento mostrada na foto anterior; precisamente naquela pequena argola que lhe está soldada.

O envolvimento da bóia com a rede, maximiza a área de distribuição da força aplicada sobre esta e evita que rebente a zona plástica onde normalmente se aplicam os cabos neste tipo de bóia.
E pronto! Cá está o meu Ferro de Fundear que durante maior período de tempo está em funcionamento sem qualquer arranjo ou modificação, assim como a bóia que o suporta no levantamento! E se ele se agarra em qualquer tipo de fundo!!!
Quando não se agarra, é porque também não está tempo para pescar!
Espero que vos sirva! Em caso de dúvidas, cá estou para completar com mais informação!
Os conhecimentos adquiridos que vos passo, foram conseguidos com o apoio de outros amigos, pelo que, não posso terminar sem deixar aqui os seguintes agradecimentos:

  • Ao Paulo, hoje mestre dos Ferry-boats, em Setúbal, que me ensinou a fazer as costuras nos cabos, já há alguns anos.

  • Ao Fernando, marinheiro do Porto de Recreio de Sines, pelo apoio na manufactura da rede que envolve a bóia de levantamento do ferro.

  • Finalmente, aos meus amigos Zeca e Tavares, pelo apoio na manufactura do ferro de fundear.
Vou de férias... Para Sines... Amanhã! Finalmente!
Depois conto!
Boa noite a todos os leitores!
PS: As medidas referidas, não são "nariz de santo", são simplesmente as que uso! Deverão ser adequadas a cada barco e, mesmo para um barco idêntico, poderão variar, embora ache que qualquer variação a introduzir deverá ser por excesso e não por defeito.
Modo de aplicação: Soldam-se as unhas (direitas) ao varão, divididas regularmente no diâmetro deste! Tiram-se as medidas das argolas e elaboram-se estas! Enfia-se o dispositivo pelas unhas até ao local onde pensamos dobrá-las, longe das soldaduras, e, efectua-se a dobragem!

6 comentários:

Ricardo Silva disse...

Viva Ernesto!

Lembro-me perfeitamente que a primeira de muitas e grandes ajudas e conselhos que me deste nestas coisas foi relativamente ao ferro e ao processo de fundear.

Até nos termos encontrado naquele espaço maravilha do Mário e ter recebido explicações de ambos ao vivo nunca tinha percebido muito bem a utilização da bóia como auxílio no levantamento do ferro.

Este teu, mais uma vez fantástico e didáctico artigo, fez-me relembrar esses episódios.

Um Grande Abraço e Boas Férias.

Ricardo Silva

Anónimo disse...

Boas Amigo Ernesto.

Mais um Grande Artigo...Fantástico!!

Foi um Prazer conhecê-lo...Pode ser que nos encontremos entretanto.

Boas Férias e vá escrevendo.

Abraço

Anónimo disse...

Viva Ernesto
Mais um grande manual sobre equipamento, neste caso o ferro de fundear. Parabéns.

Abraço e Boas Férias

Paulo karva

Daniel Pedro Silva disse...

Boas Ernesto

O meu ferro estava igual ao do ernesto mas em ferro das Obras. Com uma Pequena - que após este artigo - Passou a grande diferença

A minha argola das unhas está soldada. claro que já só tem 2 das 4 unhas de origem. Tal como Diz partiram pelas Soldaduras.
Realmente é mesmo o ponto fraco.

Um Abraço e Boas Ferias

PS: Não se vá esquecendo do Blog.... ;) LOL

Anónimo disse...

Viva Ernesto!

Como já e do conhecimento de todos aqueles que visitam este blog. A qualidade dos artigos e sempre 5 estrelas.

Mais uma grande liçao sobre esse grande mundo que é a pesca embracada.

À muito que nao comentava o seus artigos, estou em Barcelona a trabalhar.O tempo é pouco, e pescar à mais de 4 meses que nao sei o que é isso!!!

As minhas ferias aproximan-se e o destino vai ser também Sines (Pescarias !!!! Praia).

Um Abraço, Boas Férias,

Até Sines

Rui Viegas

Ernesto Lima disse...

Viva Pessoal!

Grato pelos Vossos comentários!

Tenho o PC comigo e vou tentar dar-vos novas, sempre que valer a pena ou quando a inspiração estiver em alta! Lol

Abraço!

Ernesto