quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Fim de Semana de 22 e 23/11/98 e... As Chumbadas Coloridas!

Mais um fim de semana em que não contava ir, mas fui!
Sábado, cheguei a Sines por volta do Meio Dia e encontrei-me com o Tavares com quem tinha, por telefone, combinado esta pesca de última hora.
Preparação de barco para a esquerda, iscas para a direita, montagens à mistura e canas armadas; saímos para o mar eram perto das duas da tarde, dirigindo-nos a um pesqueiro ali perto, na disposição de gozar a tarde no mar, com ou sem peixe, mas com todos os sentidos de pescador em alerta vermelho.
Iniciámos as hostilidades e, ao fim de uma hora e tal de esforço contínuo e conversas pelo meio, entra aquele bicharoco, da foto de entrada, ainda a saltar nas mãos do feliz contemplado. Feliz... Não propriamente pelo tamanho da captura mas por, uma vez mais, sentir que a poitada do barco, a leitura de sinais, a regularidade e velocidade da descida das iscas e a insistência teimosa, davam os seus frutos, deixando tudo em aberto para a entrada de coisa maior.
Tudo se desenrolou muito rápido!
Logo em seguida, entrou a Dourada que se vê abaixo e a vida sorria-nos!
Entraram, outra mais pequena e um Pargo para aí com 1,500 kgs. Não parava! Era isca para baixo, peixe para cima!
O Tavares apanhou outro Pargo igual ao anterior e o Sargo que mostra aqui em baixo, tudo isto para aí em 20/30 minutos. Alucinante!
Principalmente, se pensarmos no tempo que estivemos para ali a ser roubados indecentemente.

O Sol já se mostrava vermelho, como que incomodado por ver tanto peixe a sair e escondia-se na linha do horizonte, dizendo-nos talvez que o nosso tempo tinha acabado e eram horas de voltarmos ao porto, pois o jantar estava assegurado.

Não acreditámos no sol e insistimos, mas, ele tinha razão!

A satisfação reflectia-se nas nossas caras enquanto rumávamos a terra, com a promessa de que iríamos comer o Pargo e a Dourada das fotos, os dois maiores, com mais uns companheiros, escaladinhos na brasa, os peixes claro!

Não os pesámos, mas éramos seis à mesa e ainda sobrou para mais um que a nós se juntou! Só têm de calcular pesos...

Conversa de pesca, mais um copo ou dois e ala para a cama que o dia seguinte prometia!

Uma vez mais se revelou acertado o provérbio Português que diz: "Promessas não pagam dívidas"!

Nada fazia esperar o que aconteceu no dia seguinte! Há muito que não acontecia!

Fui com o meu amigo Cruz, também com convite de última hora e, digo-vos meus amigos! Não fora o Pargo de 2,600 kgs que caíu à cana dele, sem que nada o fizesse esperar e seria a pior pesca que teria feito, a bordo do meu barco, nos últimos tempos!

Tirando o referido Pargo, figurante na imagem superior, entraram algumas choupas, uma Dourada pequena e uma Sargueta ou duas, a maior parte delas devolvida à procedência!
Já olhei para a Lua, para as marés, para os registos que guardo de outras pescas boas e menos boas e não consigo explicar como ou porque aconteceu! Simplesmente aconteceu!

Mudanças de sítio, diversificação das iscas e formas de iscar, aumento e diminuição dos estralhos, mudança da cor das chumbadas, enfim... Nada resultou, excepto um dia de pesca, bem passado e cheio das recordações que ambos guardamos de tantas horas no mar que passámos juntos.

Outros dias e outras pescas virão, sendo que talvez num desses dias, numa dessas pescas, venhamos a entender o que se passou nesta jornada.

Entretanto, já que falei no assunto, aproveito e vou dar resposta ao comentário do meu amigo João Martins, feito na última entrada, sobre a explicação das chumbadas de cor, sendo que a minha favorita é a vermelha, rugosa e com uns pequenos brilhantes incorporados nesta cobertura feita com mestria por outro amigo, o Nuno Paulino.

Numa entrada não muito lá para trás, já avancei com as principais razões que me levaram a usar estes afundadores hidrodinâmicos, rugosos e coloridos. Prendiam-se essas razões, mais com a apresentação diferenciada das habituais chumbadas com aquela cor cinzenta, específica do material de que são feitas, do que, propriamente, pelo poder de atrair peixe ou coisa que o valha!

Entretanto, por acaso, num daqueles dias de vento que foram quase uma constante deste verão que acaba de se finar, queimando tempo de férias, fui passear a um passadiço alto lá do Porto de Recreio de Sines, por volta do Meio dia, na mira de observar alguns peixes de qualidade que costumam por ali deambular.

Do alto da posição que a altura do passadiço permite, olhando o fundo, este parecia deserto, nada mexia por ali, parecendo-me tal situação pouco provável.

Disse para comigo: em algum lado andarão!

Com o intuito de os atrair, voltei atrás, fui buscar uma pedra do tamanho dum punho fechado e deixei-a cair, sabendo que o movimento atrai, por norma, os nossos "amigos". Não me enganei!

Enquanto a pedra descia, ele era Sargos, Cavalas e até um Robalo; apareciam de todo o lado, em direcção à pedra, da qual, se desinteressaram completamente assim que verificaram ser aquilo a origem das vibrações causadas, sem sequer se dignarem investigar mais perto e tornando a desaparecer em seguida.

Fiquei a pensar nisto, enquanto dava mais uma volta por ali, cavaqueando com quem aparecia e dirigindo-me em direcção ao barco, onde sempre arranjo algo com que me entreter.

Chegado à embarcação, dou de caras com as chumbadas coloridas que estão por ali sempre à mão e surgiu-me instantaneamente a ideia de experimentar o que os nossos amigos fariam se eu atirasse a chumbada em vez da pedra! Já tinha com que me entreter!

Corri, com uma das vermelhas, direitinho ao ponto de observação, apercebendo-me que o falso deserto estava como antes e, sem demora, perdi o amor a um euro e qualquer coisa e atirei a chumbada para o fundo!

Os "artistas" apareceram rapidamente e, para meu espanto, primeiro os "miúdos" depois os "graúdos"; os primeiros com algum frenesim e os segundos com um pouco mais de calma, todos foram ao local onde a chumbada caíu, investigaram-na durante alguns segundos e foram-se retirando, reagindo mais lentamente nessa retirada, considerando o acontecido com a pedra.

O que dizer?

Não sei se foi pela cor!? Não sei se foi a rapidez superior de descida que, não lhes tendo dado tempo à observação, obrigou a que investigassem mais de perto!?

O que sei é que o fizeram!

Não sei se a 50, 70 ou mais metros, as reacções serão as mesmas!?

O que sei é que o movimento também acontece e a curiosidade dos nossos "amigos" é uma constante que devemos explorar, podendo contribuír para esta, qualquer coisa diferente e não agressiva que por lá caia.

Já capturei grandes e pequenos com vermelhas, azuis e vermelhas com branco misturado! Serão os brilhantes incorporados que fazem a diferença? Não faço ideia!

Assim como, também não sei se os teria apanhado mais cedo ou mais tarde com as cinzentas ou qualquer outra coloração.

Para todos os efeitos, pelo sim pelo não, vou-as usando! Mais as vermelhas, talvez...

Se esperavam uma fórmula secreta relacionada com as cores das chumbadas que só atraísse aqueles maiores de que gostamos, lamento desapontá-los!

Até ao momento, só os tenho conseguido capturar com muito trabalho, muita paciência, muita perseverança e muita pesca! Também com montagens, iscas, canas e carretos diversificados! Também em pesqueiros mais à terra, mais fora, mais a Norte, mais a Sul, testados sempre que posso em diferentes épocas.

Talvez um dia descubra a fórmula secreta... Mas, se isso acontecer, habituado como estou a tudo ser difícil, vai-se ver, nem vou dar por isso!

Boa noite a todos os leitores!

3 comentários:

Anónimo disse...

Viva Ernesto, vamos lá fazer a avaliação do Professor
Estou à vontade, claro, porque nem pertenço à área da Embarcada, não sou titular nem tenho mestrado de Pesca!
No relato e noutros para trás, saltam-me desde logo dois factos:
Um, é o cenário da pesca. Costa bem visível, Sines ou arredores muito nítidos, sinal inequívoco de grande proximidade, em flagrante contraste com a reacção de gente que tem algum conhecimento da zona e a quem conto os seus pargos e douradas: “Lá longe, não?...”
Outro, são as horas da pesca. Madrugada é uma palavra que consta do seu vocabulário mas que quase não faz parte do blog. Pequeno almoço bem comido (quando não é o almoço…) e… vamos a isto!
Acho que temos um herege a sério na embarcada…

Quanto às chumbadas, gostei do relato dos peixes curiosos
No mergulho e na caça também vêm normalmente espreitar fora das tocas quando identificam movimento e cor
Os brilhantes, talvez eles os associem às escamas de um peixe e sejam mais efectivos a profundidades onde as cores se perdem e a luz é escassa mas existe
Acho que são o seu quebra-cabeças no equipamento da pesca
Fico à espera dos progressos das suas investigações sobre chumbadas em parceria com o amigo Nuno Paulino, o Doctor…

Não lhe dou nota porque para o Excelente, mais que merecido, tenho que assistir a duas ou três aulas suas…
Eu sei que ainda não assisti por minha culpa! Mas neste caso não dispenso e são bem vindas estas formalidades…

Grande abraço

João Martins
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Anónimo disse...

ora aqui esta algo de interesse ja varias pessoas escreveram sobre as chumbadas, mas pouca coisa clarificaram.
Pessoalmente eu uso so as chumbadas em estado normal, sem cores, e com relativo sucesso, noto que apos uma leitura mais atenta e recordando aquilo que li a questao dos fundos em si tem relevado ser um factor importante, mais a norte e a sul. O local de pesca usual Sesimbra tem fundos diversos mas nao noto que faça diferença a cor,tambem nao pesco especificamente a eles. Mas sera algo a experimentar num proxima opurtunidade.
Uma vez mais um execelente texto.
Um abraço e esperemos que este mar revolto nos traga algum peixe, para minha proxima saida dia 8 vou ver se elas estao por lá

Anónimo disse...

Viva Ernesto
Pois a beleza desta actividade está exactamente em não haver fórmulas que resolvam as equações da pesca. Só através da paciência e de uma análise e avaliação dos nossos resultados é que vamos tendo hipótese de diminuir as probabilidades de insucesso.

Abraço
Paulo karva