A evasão inesperada é sempre uma boa sensação... mas, para além desta, ir para onde quer que seja sem qualquer tipo de compromisso próximo, sentindo-nos donos do nosso tempo, a solo, gozando a nossa privacidade, são para mim um conjunto de circunstâncias que marcam momentos muito próprios, quando não raros, nas nossas vidas cheias de horas, compromissos, negociações, alterações de última hora e não sei quantas mais variações aceites por força do hábito e certamente, na sua maioria, dispensáveis.
A questão é que, invariavelmente, só depois de gozados estes momentos apuramos o sentido crítico para o conjunto de chatices com que nos habituámos a viver por força das diversas relações estabelecidas como base de sobrevivência neste mundo de "homens". Mas adiante...
Se conjugado com a evasão, temos na mira a pesca, também ela sem grande preocupação com horas e depois de mais de um mês e meio sem molhar o "dito cujo", então parece que todos os sinos do carrilhão se balançam em uníssono tocando música celestial. À falta de sinos, por não caberem no carro, fizeram-me companhia o Bob Marley, os Dire Straits, a Tina Turner..., enfim, gente do meu tempo.
Resumindo... uma delícia de viagem acontecida na passada Quarta Feira, sendo que, quanto mais me aproximava de Sines, com maior intensidade os pensamentos na pesca e no mar, para além dos relacionados com a condução calma, me povoavam a "caixa dos pirolitos"... tão bom!
Relembrei pescarias nesta época do ano, respectivos pesqueiros mais produtivos, não muito afastados, recentes e mais antigos, tentando eleger face às condições de mar e vento esperadas qual o primeiro a sondar e onde eventualmente fundear caso as marcações de sonda indicassem boas hipóteses de sucesso, tirando mentalmente alguns apontamentos.
A manhã do dia seguinte, embora cinzenta, acordou calma e pelo mexer do barco na amarração, tudo indicava que a vaga lá fora já tinha diminuído para níveis de conforto interessantes.
O meu amigo João Martins chegou, ultimámos os preparativos finais e andámos para o mar, tranquilamente, aquecendo a máquina antes de ir para a velocidade de cruzeiro, enquanto trocávamos impressões sobre o primeiro pesqueiro a testar sob a égide de indecisões decorrentes das alterações que os fundos possam ter tido por via das últimas agitações marítimas, tentando enquadrar estas com as habituais movimentações dos peixes na presente época.
Certezas... não as havia, mas sabíamos ser recorrente que peixe maior nesta época, tende a estar mais fundo e consequentemente mais afastado de terra, excepção feita a Sargos e às Douradas dispersas da época de acasalamento que poderão andar mais perto de terra e em fundos menos importantes.
Decidimo-nos por uma zona de pesqueiros que não visitávamos há muito tempo, onde outras pescas de qualidade já tinham tido lugar e para lá nos dirigimos.
Os fundos aparecerem no ecrã da sonda mostrando alguma actividade, principalmente onde caíam levemente, dos 60 para os 68 metros, fazendo com que arriscássemos o fundeio para testar a zona.
As iscadas de sardinha, assentaram lá em baixo e passado pouco tempo, sem que nada o fizesse esperar, cai um parguito pequeno, seguido de um outro ainda mais pequeno que o primeiro, ambos devolvidos ao mar de imediato.
As previsões mostravam-se interessantes, fazendo-nos pensar que os avós destes primeiros "vermelhuscos" pudessem vir também a comparecer, mas, não passaram de isso mesmo... previsões!
Claro que na altura não o poderíamos saber, atendendo a que os sinais continuavam interessantes com algum roubo de iscas e a subida de umas quantas Choupas azuis de tamanho considerável, o que íamos encarando como um mal necessário até que outros maiores e de cor diferente chegassem ou se decidissem.
A nossa insistência continuou até que o pesqueiro, em vez de melhorar, piorou, atingindo um ponto em que, durante espaços cada vez maiores, já nem as iscas comiam, indicando tal comportamento que os peixes que procurávamos e mesmo aqueles que de vez em quando subiam não estavam a reagir bem ao nosso trabalho, não estavam lá ou procuraram entretanto locais mais interessantes. Eram quase duas horas da tarde e evidenciava-se a necessidade de tomar decisões.
O tempo útil de pesca é, nestes momentos, um dos factores de peso a ter em consideração, atendendo a que uma má aposta certamente colocará em causa o sucesso da pescaria obrigando-nos a equacionar por exemplo que se fizermos uma deslocação longa, gastamos tempo; se o pesqueiro onde fundearmos precisar de ser trabalhado, mais tempo ainda necessitaremos; se nos afastarmos do porto, para além do consumo de combustível, maior será o tempo a despender na volta a casa e consequentemente, caso optemos por conjugar todos os factores apontados, estaremos a diminuir significativamente o tempo em que as nossas iscas actuam no fundo.
Com base nos considerandos anteriores, resolvemos então aproximar de terra para uma outra zona onde nesta altura do ano, embora não sejam habituais as capturas de Pargos grandes, já o mesmo não se poderá dizer dos Sargos de tamanho aceitável, assim como, das Douradas que entretanto dispersaram dos locais de acasalamento.
Ferro levantado, eis que navegámos para a zona escolhida, a uma milha do porto, 52 metros de profundidade, sobejamente conhecida, onde a sondagem nos mostrou marcação digna de fundeio que rapidamente efectuámos.
Após deixarmos as iscadas chegarem ao fundo, durante algum tempo, nada aconteceu, o que não costuma ser um bom sinal neste pesqueiro, mas os dados estavam lançados e havia que aguardar.
Durante perto de uns 30 minutos nada capturámos, mas de vez em quando tínhamos uns toques interessantes que em nada se assemelhavam a peixe miúdo e que nos cortavam postas ao meio ou roubavam uma ou outra posta de Sardinha. Desconfiámos...
Certo é que, a espaços mais ou menos regulares e sem roubos de peixe miúdo, começaram a entrar Sargos, intervalados com Douradas que compuseram a caixa que vos deixamos em imagem.
A manhã do dia seguinte, embora cinzenta, acordou calma e pelo mexer do barco na amarração, tudo indicava que a vaga lá fora já tinha diminuído para níveis de conforto interessantes.
O meu amigo João Martins chegou, ultimámos os preparativos finais e andámos para o mar, tranquilamente, aquecendo a máquina antes de ir para a velocidade de cruzeiro, enquanto trocávamos impressões sobre o primeiro pesqueiro a testar sob a égide de indecisões decorrentes das alterações que os fundos possam ter tido por via das últimas agitações marítimas, tentando enquadrar estas com as habituais movimentações dos peixes na presente época.
Certezas... não as havia, mas sabíamos ser recorrente que peixe maior nesta época, tende a estar mais fundo e consequentemente mais afastado de terra, excepção feita a Sargos e às Douradas dispersas da época de acasalamento que poderão andar mais perto de terra e em fundos menos importantes.
Decidimo-nos por uma zona de pesqueiros que não visitávamos há muito tempo, onde outras pescas de qualidade já tinham tido lugar e para lá nos dirigimos.
Os fundos aparecerem no ecrã da sonda mostrando alguma actividade, principalmente onde caíam levemente, dos 60 para os 68 metros, fazendo com que arriscássemos o fundeio para testar a zona.
As iscadas de sardinha, assentaram lá em baixo e passado pouco tempo, sem que nada o fizesse esperar, cai um parguito pequeno, seguido de um outro ainda mais pequeno que o primeiro, ambos devolvidos ao mar de imediato.
As previsões mostravam-se interessantes, fazendo-nos pensar que os avós destes primeiros "vermelhuscos" pudessem vir também a comparecer, mas, não passaram de isso mesmo... previsões!
Claro que na altura não o poderíamos saber, atendendo a que os sinais continuavam interessantes com algum roubo de iscas e a subida de umas quantas Choupas azuis de tamanho considerável, o que íamos encarando como um mal necessário até que outros maiores e de cor diferente chegassem ou se decidissem.
A nossa insistência continuou até que o pesqueiro, em vez de melhorar, piorou, atingindo um ponto em que, durante espaços cada vez maiores, já nem as iscas comiam, indicando tal comportamento que os peixes que procurávamos e mesmo aqueles que de vez em quando subiam não estavam a reagir bem ao nosso trabalho, não estavam lá ou procuraram entretanto locais mais interessantes. Eram quase duas horas da tarde e evidenciava-se a necessidade de tomar decisões.
O tempo útil de pesca é, nestes momentos, um dos factores de peso a ter em consideração, atendendo a que uma má aposta certamente colocará em causa o sucesso da pescaria obrigando-nos a equacionar por exemplo que se fizermos uma deslocação longa, gastamos tempo; se o pesqueiro onde fundearmos precisar de ser trabalhado, mais tempo ainda necessitaremos; se nos afastarmos do porto, para além do consumo de combustível, maior será o tempo a despender na volta a casa e consequentemente, caso optemos por conjugar todos os factores apontados, estaremos a diminuir significativamente o tempo em que as nossas iscas actuam no fundo.
Com base nos considerandos anteriores, resolvemos então aproximar de terra para uma outra zona onde nesta altura do ano, embora não sejam habituais as capturas de Pargos grandes, já o mesmo não se poderá dizer dos Sargos de tamanho aceitável, assim como, das Douradas que entretanto dispersaram dos locais de acasalamento.
Ferro levantado, eis que navegámos para a zona escolhida, a uma milha do porto, 52 metros de profundidade, sobejamente conhecida, onde a sondagem nos mostrou marcação digna de fundeio que rapidamente efectuámos.
Após deixarmos as iscadas chegarem ao fundo, durante algum tempo, nada aconteceu, o que não costuma ser um bom sinal neste pesqueiro, mas os dados estavam lançados e havia que aguardar.
Durante perto de uns 30 minutos nada capturámos, mas de vez em quando tínhamos uns toques interessantes que em nada se assemelhavam a peixe miúdo e que nos cortavam postas ao meio ou roubavam uma ou outra posta de Sardinha. Desconfiámos...
Certo é que, a espaços mais ou menos regulares e sem roubos de peixe miúdo, começaram a entrar Sargos, intervalados com Douradas que compuseram a caixa que vos deixamos em imagem.
Verdade que não conseguimos aqueles exemplares que sempre se procuram, mas também verdade que optámos bem considerando experiências anteriores face a épocas idênticas, fundeámos com correcção, interpretámos os toques e insistimos perante as dificuldades surgidas, conseguindo transformar mais um dia a nosso favor, sustentado pela caixa bonita e bem preenchida com que vos presenteámos.
Os peixes caíram a anzóis 5/0, tipo chinu e a isca mais produtiva foi a Sardinha, iscada conforme se pode ver na foto abaixo.
Importa referir que, da maneira como o peixe se comportou, tudo indica que quem para ali fosse pescar com anzóis pequenos e iscas de outra qualidade que não fosse a Sardinha, eventualmente capturaria Choupas e outros peixes, mas dificilmente Sargos e Douradas na quantidade e qualidade conseguida. Isto porque, atendendo à reacção inicial, parece poder dizer-se que a Sardinha começou por fazer pesqueiro, interessando peixe de qualidade que não andaria longe. Para além disso, também iscámos com Bomboca, Camarão e Lula, sendo que as poucas Choupas que entraram, caíram nessas iscas ou em iscadas mistas onde constavam, coisa que raramente aconteceu, quer com Sargos, quer com Douradas.
Na Sexta Feira ainda fomos, ao mesmo local, muito por se perceber que o mar e o vento possivelmente não nos deixariam pescar mais por fora, nem o dia todo, o que de facto aconteceu obrigando-nos a voltar para o porto antes que batessem as duas da tarde.
Mesmo assim ainda capturámos um Alfaquim, três Douradas, dois Sargos razoáveis e duas ou três Choupas dos quais não temos fotos.
Ficam as notas também para para vossa análise e reflexão.
Um resto de bom Domingo a todos os leitores.
8 comentários:
Tocaste num assunto que a mim que maioritariamente me dedico ao surfcasting me deixe muitas vezes a pensar, caio muitas vezes na asneira de diminuir o tamanho dos anzois para "ver" o que lá poderá andar, mas quem quer realmente peixe bom não pode ter dúvidas, anzol grande iscada farta e ir atrás deles.. não quer dizer que não saiam com anzol pequeno e com um isco mais "banal", mas estamos seguramente a diminuir as hipóteses de sucesso. Obrigado pela partilha. Filipe
Boa tarde Filipe.
Grato pelo comentário.
As questões relacionadas com os tamanhos dos materiais, terão normalmente a ver com os peixes que se procuram, as iscas que se usam e o processo de pesca que cada um adequa por si próprio, face à pesca que pratica, locais e épocas em que desenvolve a sua actividade.
Relativamente ao processo, na embarcada, a sardinha como isca não só faz (engoda) o pesqueiro, quando roubada por peixe miúdo, como captura peixe maior.
Portanto um anzol para iscar as postas como na figura, meia sardinha ou inteira tendencialmente deve ser grande, assim como para outras iscas, quando iscadas em formato também grande. As bocas dos peixes que se procuram dão conta da isca e do anzol facilmente.
Tudo depende ainda dos conceitos... Há quem diga: "... anzol pequeno também apanha peixe grande". Não discordo!
Face aos exemplares que procuro, prefiro no entanto o conceito: "... anzol grande também apanha peixe pequeno"
O que acabo de referir não pretende desconsiderar ou colocar em causa qualquer outro processo ou opinião, simplesmente, não me tenho dado mal com este que tenho vindo a desenvolver.
Caberá aos leitores analisar.
Abraço
Olá Ernesto
Se tu tens saudades, então imagina eu...Hiiiii bota saudade nisso.
Até breve... espero
Nota: É tudo contra nós os pescadores; Tempo, Governo e Peixes.
Boas amigo Ernesto,
Já tinha saudades destes teus relatos,os pensamentos desta vida cada vez mais exigente, mas tirando isso sabe sempre bem deliciar-me com as tuas pescarias e sonhar com o mar e os peixinhos.
Esta tua pecaria deixou-me a pensar nos sargos, pois é peixe que já não apanho à quase dois anos e não consigo entender o porque de não conseguir dar com eles.
É verdade que reduzi os anzóis para 3/0 e 4/0, mas as duvidas relativamente aos sargos mantêm-se na minha mente.
Boas continuações e que venha o bom tempo para podermos desfrutar mais desta bela paixao.
Forte abraço para ti e para o Almirante João Martins.
Viva Pessoal
Grato pelos comentários.
De facto este ano tem sido uma dificuldade para conseguir condições mínimas para irmos para a nossa maluquice.
Quanto aos Sargos do Tiago Rebolo, em termos de embarcada em Setúbal, capturei poucos.
Os que capturei, consegui-os no Terreiroso de terra e no "Pente", lá por Sul do "Zimbral de Terra" e também na "Pedra da Alfadiga", lá para o Sul, frente à Praia da Raposa (se não me engano) e em profundidades entre os 25 e os 33 metros.
As iscas, foram na altura Bomboca, Caranguejo e Lula.
Ali por Sines, com Sardinha e em várias épocas, conseguem-se mais assiduamente.
Abraço
Viva Ernesto,
Não sei se do tempo, se da ressaca de posts por squi, este "calhou-me quen nem ginjas"... Obrigado por esta lufada de ar fresco.
Quanto aos anzóis e iscas, não discordo de ti. Claro que,e esporadicamente, um anzol pequeno prende um peixe maior (tirá-lo já é outra coisa, até atendendo aos fios que normalmente acompanham estes anzóis), embora dependendo dos peixes (ferrar um sargo de kg ou um pargo de 2 que dão uma dentada num isco nada tem que ver com um robalo do mesmo peso que come por sucção). Agora um anzol grande com uma isca grande, e se for sardinha ou algo que provoque mais frenesim, sem dúvida que ferra mais "facilmente" um peixe pequeno. Às vezes até demais. Mas iscar bem uma isca para peixe maior num anzol pequeno, grande parte das vezes é missão quase impossíivel, pelo que tens toda a razão.
Abraço
João Carlos Silva
Boas,
Amigo Ernesto, em tempo de "vacas magras" é uma delícia ler um relato destes.
Pareceram-me francamente positivas as opções tomadas, tendo em conta o resultado mas, é mesmo assim e nem sempre corre bem, tal como a eterna dúvida se não estaria para entrar peixe grande quando se abandonou o pesqueiro...
Quanto aos anzóis, apesar de eu gostar mais deles pequenos, muito devido aos resultados dos últimos tempos, também concordo que nas iscadas de sardinha devem ser mesmo "exagerados" em relação à iscada que se apresenta de forma a facilitar a ferragem no meio da volumosa 'carne'.
Obrigado por mais está partilha, um abraço,
Roberto
Viva.
Ora aí está; Pexinho fresco como a gente gosta.
Confesso que o que me deixou mais "furibundo" foi aquela passagem do despertar dum soninho ao sabor das porradinhas na amarração; que saudades de dormir uma soneca por cima de água.....
Sobre a pesca em si, a procura e as interpretações dos sinais dificilmente poderiam conduzir a resultados diferentes.
Continuação de boas proas e tenho de ir experimentar o update da "deep water" e a nova linha da SEAGUAR....He he he he he
Da Caparica;Aquele abraço!
Mário Baptista
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