… Tinha eu de estar convosco, mostrar-vos fotos de sonda espectaculares, falar-vos das minhas pescas, agora muito intervaladas, pelo trabalho, a vida… Razões pouco aceitáveis, eu sei! Mas que nos tiram, por vezes, algumas vontades e até a inspiração.
Mas cá estou eu, tentando ser fiel a todos vós que me lêem e continuamente procuram leitura à segunda feira, insistem à terça e, parece-me, esmorecem à quarta, procurando depois outras páginas aqui pelo blogue.
A verdade é que sinto isso e a sensação não é boa, pois gostaria de corresponder, mantendo hábitos que me sinto responsável de ter de algum modo criado. Mas a vida é assim, como a pesca… Irregular, em muitos mais momentos que desejaríamos.
Mas cá estou mostrando a foto de sonda, de um fundo que ao fim dum dia de Zagaia, muito trabalhoso e pouco frutífero me deu o Robalo da foto abaixo:
Atirou-se àquela zagaia, estreando-a nas capturas e salvou-me da grade, neste Domingo em que à última hora me decidi a arriscar, saindo Sábado à noite para Sines e gozando um pouco do “paraíso”, antes da última semana de aulas do 2.º período; pródiga em actividades, reuniões, avaliações e outras coisas mais ou menos interessantes terminadas ou não em “ades” ou “ões”.
Mesmo assim antes o Robalo deste Domingo que o Pampo do Domingo seguinte (28/Março), dia ainda mais trabalhoso e menos frutífero, também ele tirado à última da hora e dedicado à zagaia por fundos que oscilaram entre os 20 e os 100 metros, em 6 horas consecutivas de conversa com o mar, o barco, os peixes, os fundos… Tão bom!
Cá está o “artista” que acabou por escolher a mesma zagaia que o Robalo, entre tantas testadas nas dezenas de passagens em cada pesqueiro.
A estas jornadas “tiradas a ferros”, entre longos dias de trabalho, sobrevieram as reuniões de avaliação, a Páscoa, o passeio com a família, a constipação da neta e, quando já se pensava que o 3.º período ia começar sem um intervalito para pescar, eis senão quando… Surge a oportunidade de quatro dias de pesca (Quinta, Sexta, Sábado e Domingo passados) sugeridos pela família e agarrados por mim com unhas e dentes.
Mereço? Não mereço? Não sei!
O que sei é que os aproveitei até ao último momento, como se fora a última vez que pescasse na minha vida.
Alguns de vós comentarão: Este gajo… Para aqui a queixar-se e depois é isto… Quatro dias de pesca sem ninguém o chatear!
Têm razão! Mas não me estou a queixar, simplesmente sinto necessidade de vos dar alguma explicação por estar tanto tempo sem nada escrever por aqui… Não é uma obrigação. eu sei! Mas é uma questão de respeito por quem aqui vem procurar. Coisas de malta velha… Não liguem!
Vamos mas é passar para o que interessa que isto de filosofar é para filósofos! A malta por aqui quer é pescar!
A pesca nesta altura do ano, complica-se quanto a exemplares maiores. Não porque deixem de existir ou de comer, mudam é de zonas, procurando tendencialmente pesqueiros mais profundos, por vezes longínquos, mais sujeitos a correntes variáveis em intensidade e direcção, o que, coadjuvado pelas mudanças também de intensidade e direcção do vento, tornam as manobras de fundeio mais difíceis, quer de efectuar, quer de manter ao longo da jornada de pesca, obrigando muitas vezes a várias manobras ao longo do dia para que nos mantenhamos em cima do local ou zona escolhidos.
As dificuldades aumentam com ventos laterais à vaga causadores de movimentos muito desconfortáveis do barco ou correntes contrárias ao vento, ocasionando muitas vezes linhas para baixo do barco ou para a proa, promotoras de acções de pesca difíceis e tendentes a moerem a paciência dos mais persistentes.
Estes pensamentos enchiam-me a mente, enquanto guiava para Sines na Quarta Feira à noite, ao som da Vanessa da Mata, antevendo a pesca de Quinta, programada a solo, sem horas; após uma noite que esperava e foi bem dormida.
O Sol já assomava sobre o molhe à popa do barco quando me levantei, observei e cheirei a manhã; gozando tudo a que acho ter direito. Seguiram-se o pequeno almoço, as conversas com quem me cruzei, o controlo sobre o tempo que era meu, talvez atrasando o climax de sair para o mar e entrar no mundo da pesca, onde sei que tudo esqueço, para além da sonda, do GPS, das iscas, dos materiais e da dança ritmada entre as subidas, descidas, toques e consequentes sinais, constante e sistematicamente analisados, sentidos, esperando sempre aquele momento em que a cana é elevada e o peixe, lá ao fundo, a obriga a mostrar o que vale em conjunto com quem a manobra.
Procurei longe e longe fundeei em manobra certa que durou o pouco tempo em que a direcção do vento mudou, a intensidade diminuiu e, de imediato, o barco saiu do pesqueiro deixando-me a pescar no deserto. Levantei ferro, fundeei de novo, montei as iscas e o vento aumentou, assim como a corrente fazendo-me de novo sair do pesqueiro. Desisti e procurei pesqueiro mais fácil, sob pena de gastar demasiado tempo útil de pesca em manobras de fundear sucessivas.
A acção de pesca, fruto das manobras descritas, iniciou-se pelas duas da tarde, em pesqueiro mais à terra, com boa marcação de sonda e onde já só esperava apanhar o jantar e descansar da azáfama, pescando.
A sardinha iniciou o seu trabalho certinho, ritmado. Os sinais prometiam e o primeiro Parguito entrou uma meia hora depois. Se fosse mais cedo tinha-o libertado, mas a vontade de comer peixe fresquinho ao jantar foi mais forte e guardei-o.
O peixe comia de tudo, Sardinha, Cavala e Lula, rápida e agressivamente, indicando que mais cedo ou mais tarde algo aconteceria.
Um Carapau daqueles grandes e gordos, para aí com uns 35/40 cm, foi a vítima seguinte, fazendo-me sorrir por sentir que o jantar, para mim e mais alguém, já estava garantido. Mas não tinha acabado… Dois Sargos um tudo nada maiores que o pé, acabaram por entrar, assim como uma daquelas Choupas azuis, para aí com meio quilo. Nesta altura, já nem queria pensar em mais peixe; o jantar estava garantido, estava arrependido de ter guardado o Parguito de 800 grs que tinha entrado à primeira, mas o mal já estava feito… Lá teria de o comer grelhadinho, com salada à Algarvia e batatinha cozida em molho de azeite, coentrinho e alho… Chatice!
O Sol já baixava, quando, numa das últimas descidas de iscas, senti aquele toque duplo, mais seco e fundo, quase garantido e… Ferrei! Deu-se a luta que antevia uma testa com lista dourada, pertença do peixe a que dá nome. Cá está ela… A última do dia.
A azáfama da manhã, a pesca que se compôs durante a tarde e esta última Dourada, ocuparam-me o pensamento durante a viagem de volta ao porto, pensando no jantar e na noite e três dias de pesca que ainda tinha ao meu dispor, acompanhado por pessoal amigo que o clima atípico, deste ano de 2010, não permitiu que mais cedo viessem pescar comigo.
O jantar decorreu entre nacos de Parguito e Carapau XL, goles de Pias, história do dia e antevisão da jornada seguinte, já com a presença do João Martins, companheiro de outras pescas, da jornada que se seguia e também pouco amigo de pescas pela madrugada, pelo que combinámos pequeno almoço entre as 9.00 e as 10.00… Boa hora. A vida não é só pesca.
Saímos na Sexta, pelas 10.30 e dirigimo-nos aos mares de fora onde me apercebi que a irregularidade dos ventos e correntes nos fariam certamente sofrer as canseiras do dia anterior que, sinceramente, não me apeteciam, para além de ter ficado curioso em tornar à zona do dia anterior e explorá-la bem, durante todo o dia. Procurei a zona que sondei melhor, encontrando uma boa marcação numa cetomba que caía, após um pontão a 39 metros, para os 54 metros de profundidade, mostrando peixe em toda a extensão sondada. Mesmo como gosto. Fundeámos e fomos à luta.
O peixe comia de tudo a uma velocidade impressionante, adivinhando-se jornada trabalhosa e quem sabe profícua, com a habitual variação de iscas e formato de iscadas, tendo a Sardinha como isca mãe, pela capacidade de atracção sobejamente testada e comprovada.
Entraram Pargos, sem grandes exemplares, outros peixes, com curiosidades no que respeita mais à qualidade e variedade de espécies que propriamente à quantidade, como se pode ver no relatório fotográfico que se segue.
O João e a Choupa Azul:
O Sarrajão:
A surpresa do dia, também pela mão do João:
Vejam só! Um Robalo no anzol de cima e uma Abrótea no anzol de baixo, a pescar ao fundo!
Pode dizer-se no mínimo… É curioso!
Finalmente a nossa pesca:Certamente não se pode considerar uma grande pesca, mas a qualidade esteve presente e aquele Parguito maior caiu nas mãos do Zé Beicinho que fez o favor de o escalar e grelhar, fazendo as delícias destes dois pescadores que com ele se empanturraram, enquanto esmifravam o dia de pesca ao pormenor mais ínfimo. Bonito não é?
O cansaço já se fazia sentir, sobrevindo obrigatoriamente a deita e o sono longo e profundo antecedendo a chegada dos companheiros de longa data: Raimundo, Pedro e Vitor!
Desta vez, nem tentei procurar outro sítio!
Mais gente a pescar, mais Sardinha a fazer efeito e quem sabe atrairíamos algo maior.
A pesca decorreu com os mesmo sinais, o barco certinho no pesqueiro durante todo o Santo dia e bastante mais peixe, embora os exemplares próximos da meia dezena de quilos ou maiores não tenham comparecido, mas… Vejam lá as fotos!
Um dos Parguitos do Vitor:
Um dos Parguitos do Raimundo:
Um dos Sargos que entraram, pela mão do Vitor:
A pesca andou assim… Parguito daqui, Sargo dali, Choupa Azul dacolá, com o Pedro em maré de azar e eu, sempre à espera daquele peixe, a conseguir o melhor exemplar do dia… Este que se apresenta:
As Saimas estão a gostar dos meus anzóis, pois que venham enquanto outros maiores não me aparecem.
Foi uma boa pesca que terminámos junto ao molhe Oeste onde procurámos uns Besugos que compareceram tímidos e em pouca quantidade, para compor o rodízio de peixe.
Voltámos ao porto, satisfeitos, acusando eu o cansaço acumulado em três dias de actividade intensa e ainda com um dia de pesca pela frente que, pela sua diferença dos três relatados, merece uma análise própria em entrada posterior que farei assim que o tempo e a inspiração me permitirem.
Até lá, espero que se divirtam se não mais, tanto quanto eu me diverti a pescar e a conversar convosco por aqui.
Boa noite a todos os leitores.
14 comentários:
Olá Ernesto
é sempre muito bom "ouvir" os teus relatos, tão completos e cheios de tudo.
dá sempre a ideia que estamos no barco contigo onde a palavra de ordem é aprender.
fico-te muito grato por me ensinares um pouco da tua arte, porque neste teu blog para mim é uma grande escola.
1 abraço
zé
Bem vindo de volta!
Pois já se sentia a falta de qualquer coisa neste mundo dos blogues.
Mais umas boas pescarias pois todas elas são boas, com ou sem peixe. Ainda por cima em boa companhia.
Abraço
Sr Ernesto,
é mesmo uma maravilha ler os seus relatos.
É verdade que todas as semanas cá venho à procura das novidades de Sines e é impaciente que fico á espera das suas pescas.
De resto mais uns belos dias de pesca entre amigos, com boa variedade de peixes e o suficiente para saborear entre eles,que é sempre muito agradavel.
Só tenho a lhe dar os meus parabéns por conseguir fazer o melhor blog de pesca embarcada de Portugal.
Um abraço,e obrigado Sr. Ernesto
Flávio Batista
Boa tarde professor,
mais um excelente relato para nos deliciar.
Também eu tenho notado a falta de estabilidade nas poitadas realizadas. Ainda na 5ªfeira passada fui para 16 milhas da Roca e o barco ao fim de 15 minutos já tinha saído da marcação. E foi assim todo o dia. Só não tive a sorte de dar com os exemplares maiores que era o nosso objectivo. (O anzol de baixo era 6/0). Mas eles não estavam lá..... Só fui presenteado com um parguete de 1,2K e de um sarrajão de 1 K. Este último fez a delicia dos meus dois filhotes(e a minha), nessa mesma noite, num sushi caseiro que modéstia à parte, estava divinal!! O sarrajão tem uma carne mole mas muito saborosa, comida em cru e unicamente molhada na soja.
Um abraço do seu aluno
Pedro
Viva Ernesto,
Eu também era um dos que andava aqui a ressacar com a falta da melhor leitura dos blogues que frequento. Boa pesca, mas acima de tudo, bom tempo aquele que é passado no mar e no sábado, então com o vento certo a não chatear, foi óptimo.Penso que estivemos na mesma zona, ali perto de terra, eu estaria um pouco mais ao norte por fora da baixa e também deu uns peixes. De registo uns parguetes, 2 abróteas muito boas e um safio que escolheu o meu barco em detrimento do Makaira por ter a borda baixa e lhe poder jogar a mão...(é a tal porcaria de um gajo cumprir leis!)
Um abraço e continuação de pescas felizes
João Carlos Silva
Viva Pessoal!
A todos vós agradeço os comentários!
Quanto à culinária do Pedro, já pensei em levar um limãozito para juntar ao azeite, oregãos e sal que tenho lá no barco e fazer um "suchiguês" lá a bordo. Ainda não o fiz mas... Não perde pela demora.
Outra coisa que sempre me esqueço é de tirar umas fotos dos jantares, acho que mereciam.
Ao João Carlos Silva:
Bem me pareceu que era o teu barco que estava ali por fora... Ainda bem que correu bem. É preciso ir!
Estando lá, as coisas acontecem.
Abraço a todos
Ernesto
Viva Ernesto
Finalmente houve pesca no blogue!
Que saudades... as suas e as de todos os que andam por aqui.
E que texto! São vários os parágrafos de escrita requintada, de imagens sensacionais e humor fino.
Brilhante a sua forma de exprimir o seu regresso aos fins de semana cheios de pesca e convívio com amigos.
Na parte que me respeita, regressei às aulas teórico práticas, pois então. O que eu continuo a aprender conversando e pescando consigo...
A procura do local certo e as respectivas manobras, a “construção” do pesqueiro em acção de pesca, a certeza absoluta que as coisas vão ter de suceder mais tarde ou mais cedo, o “entrar” dos resultados de toda essa acção no Makaira.
E depois a reflexão séria sobre a jornada ainda no barco, no regresso à marina, e durante o merecido jantar
Maravilha!
Um grande agraço e o meu obrigado por poder participar na sua pesca e ler este seu blogue.
João Martins
Bem regressado seja amigo Ernesto.
O pessoal já andava todo a ressacar por falta dos seus relatos/lições he he he, eu incluido.
Parabéns pelas pescarias e pelas jornadas bem passadas com os amigos.
1 Abraço
Nuno (Pescas1976)
ola ernesto? gostei muito do seu novo comentario,fotos,espero nos vermos este ano e marcamos uma pescaria. 1 abraço nino
Viva Pessoal!
Aos últimos comentadores agradeço os comentários!
Ao Nino:
Viva "primo", vamos ver se este ano conseguimos conciliar as férias para umas pescarias!
Abraço para ti e um beijo Para a Luísa!
Ernesto
Sr.Ernesto.Pela primeira vez escrevo para lhe dizer que quem lê os seus comentários fica deslumbrado e depois quando se vê as fotos só apetece lá estar para conviver e partilhar a felicidade que o sr.e os seus amigos demonstram nestas pescarias,continue para que possamos ter um poquinho dessa felicidade tambem.Um abraço.
Viva Alex!
Grato pelo comentário, seja Bem Vindo e deixe lá isso do Sr..
Abraço
Ernesto
very interesant your blog;and nice photo; bravo
Hi Sebi!
Welcome here and thank you for comment!
I Saw your Blog and I realy like it!
I'll put your link year!
Best regards
Ernesto
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