terça-feira, 21 de junho de 2011

Amigos... ingleses trabalhadores e... surpresas, ou nem tanto!?


Estou atrasado!

O relato que se segue, já devia ter acontecido, pois refere-se ao período entre 9 e 12 de Junho, mas a preparação de outras actividades, neste caso a FINA 25 km Setúbal Bay 2011, prova do Circuito da Taça do Mundo de Natação de Águas Abertas, realizada no passado dia 18 e da qual fui o responsável pela segurança no mar; não me deixou espaço para vir deambular e deixar factos e sentimentos por aqui. Mas estão fresquinhos e chegou a hora de deitar mãos a esta obra!

Os dias, aos quais se refere o relato, estavam todos combinados com pessoal amigo... ora no que se refere ao Morais e ao Teles, também uns ingleses que vinham experimentar "a minha pesca" através do Nuno Mira, na Sexta; ainda mais dois amigos de Évora, no Sábado; e, claro, o Zé Beicinho, no Domingo; único dia em que aquele mouro de trabalho consegue molhar as linhas... uma azáfama!

Sou sincero! Não que me importe de ter por lá pessoal amigo... mas assim todos os dias, também não é do meu completo agrado. Faz-me falta um diazinho sossegado, daqueles em que sinto poder fazer o que quero, quando e onde quero; sem dar cavaco a quem quer que seja! Mas adiante!

As zonas a testar, estavam na minha cabeça... havia que andar por fora e, caso a coisa não se desse, descambar para a terra onde já é altura de aparecerem umas surpresas.
Lá fomos, eu o Morais, amigo desde os 14 anos... escola... doidices... namoradas..., enfim, aquelas coisas boas que passaram pelos anos à maioria dos mortais. Também o Teles, mais novo que nós e bom companheiro.

Os pesqueiros apareceram na sonda, escolhemos e poitámos. A aguagem era muito leve, ideal para pescar, e, os nossos interlocutores, intervalando com a habitual ladroagem de isca, começaram a subir ao poço. Ora dourados, ora vermelhos, ora até malhados, como este Alfaquim pertencente ao par capturado pelo Morais...


... ou este Parguito, do Teles, pertencente ao grupo que subiu, nunca excedendo este "miserável" tamanho!


As horas passavam, as capturas sucediam-se ao ritmo referido, até que, entrou uma aguagem tão forte que mesmo as chumbadas de 400 grs, tinham dificuldade em chegar ao fundo (60 metros)! Chatice! Aguagem pode ser coisa boa!? Mas assim e sem toques... é complicado!

A pescaria estava composta e o pesqueiro mais à terra, testado em seguida, não se mostrou frutuoso, empurrando-nos para a demanda do porto e da segunda parte da pesca onde os Alfaquins do Morais, foram as estrelas do evento... um espectáculo!
Vejam só o que o "Grande" Zé Beicinho fez com eles: fritinhos com Açorda de Alho! "Oh Mãe... dá-me água"! Este o grito de guerra que costumo proferir em situações destas, não liguem!


Claro que tivemos de "regar o quintal", com o Pias do Zé, enquanto falávamos dos acontecimentos do dia e degustávamos tal pitéu. Sei que tem por aí muita gente que anda numa Gourmet, outros, numa de Sushi e coisas do género... não critico e até alinho... às vezes!? Mas sinto-me cada vez mais Alentejano!


Apetecia-me continuar a contar-vos ao pormenor todas as conversas e brincadeiras deste jantar, mas foram tantas e tão variadas que melhor será avançar para as pescarias ou tão cedo não saímos daqui.

O Nuno Mira lá me apareceu, na Sexta de manhã, com os seus amigos ingleses, a quem, por obséquio ao Nuno, montei canas, carretos, montagens... a papinha toda para a pescaria do dia!
Uma coisa é certa... os homens perceberam tudo rapidamente e portaram-se à altura, a todos os níveis, conseguindo até alguns bons exemplares e uma pescaria que não sendo um estrondo, pode classificar-se como bonita! Ora vejam alguns dos exemplares conseguidos.

O Graham com uma Choupa de tamanho interessante:


Outra vez o Graham, agora com um polvo de tamanho considerável:


O Brian, com a captura do dia:


Ainda o Graham, com uma Dourada de tamanho aceitável:


Finalmente o Brian com um pequeno Serrajão, libertado posteriormente devido ao tamanho e cuja foto só aqui figura, devido ao gozo extremo que evidenciou em tal luta. Há gostos para tudo!? Mas até se percebe.


E assim terminou este dia, evidenciando que as coisas acontecem... basta a uns, saber procurar; e, a outros, saber ouvir!

Mas esperem lá! Neste dia tive uma notícia excelente! o Nuno disse-me logo à chegada que, por motivos de força maior, os nossos outros amigos que eram para vir no dia seguinte - Sábado - não o poderiam fazer, o que, sinceramente, até me alegrou. Não porque não goste da companhia mas, na verdade, abria-se uma janela para um conjunto de dias perfeito, já que ia ter o meu dia a solo. Espectáculo!!!
E, meus amigos, para além de ter ficado em estado de graça, até que valeu por cada minuto, iniciando-se este tempo no preciso momento em que fiquei só, arrumando o barco, sentindo aquela liberdade só possível quando sabemos que não temos contas a dar a qualquer mortal durante um determinado espaço de tempo. Difícil, é encontrar palavras para descrever!?

Arrumei tudo, devagar, fui tomar o meu banho, olhar as fuças no espelho, fazer a barba de três dias, seguindo-se um jantar descansado, com amigos lá de Sines que sempre se encontram, o digestivo no Bar do Náutico e a volta ao barco para um sono reparador, sem hora marcada para acordar. Tão simples! Tão bom!

O Sol acordou-me batendo-me nos olhos, já elevado por cima do molhe de protecção, virei-me para o outro lado, destapei-me e deixei-me acordar, relaxado, sem sentir o cansaço normal de dois dias de pesca. Levantei-me devagar, lavei-me na mangueira da marina, tomei o pequeno almoço sentado no poço do barco e subi à cidade, procurando o café, a isca, o gelo... tudo sem pressas, trocando conversa com quem me cruzava, normalmente de pesca ou sobre os artigos que procurava. Uma delícia!
O barco aguardava-me, fiel, na calma do local, obrigando-me a guardar o momento com a imagem que resolvi reter.


Retoquei as baixadas das canas que ia utilizar, acomodei-as para a viagem e saí o porto, aquecendo motor e pensando como actuar tendo em conta a época do ano, o vento anunciado, as 12.30 horas mostradas no telemóvel e a vontade de procurar pesqueiros à terra que há muito não visitava. É tempo de voltar ao princípio e testar aqueles pesqueiros onde me iniciei lá por Sines que tantas alegrias me deram. Já merecem a visita e, nesta época, até me podem surpreender... pensei com o único botão que trago nos calções.
As pescarias e respectivos resultados, por ali conseguidos, passavam no ecran do PC interno, fazendo-me desviar rumos, indeciso, acabando por escolher uma zona de pesqueiros, ali pelos 37/38 metros, onde esperava que a sondagem ditasse a decisão final!?
E, de facto, lá estavam marcações conhecidas, num entralhado à beira dum pontão não muito alto que se encontrava no limite da zona de pedra. Azuis, amarelos e alguns verdes; espalhados num raio de 50 metros, não deixavam dúvidas sobre a actividade no pesqueiro. Restava saber o que por lá andaria, se a isca interessava e, se sim, o que apareceria no decorrer da acção de pesca!?
Estava nas minhas "sete quintas"!

O mais engraçado é que o pesqueiro reagiu tal e qual como sempre foi seu hábito, salvo raras excepções. Nos primeiros quinze minutos, as iscas iam e vinham como se nada por lá estivesse, depois, começaram a vir ratadas nas partes mais moles, indicando a chegada ou decisão de alguns pequenos interessados; em seguida, começaram a desaparecer no anzol de cima; mais tarde, no anzol de baixo; até que... primeiro peixe de jeito: um Sargo com perto de quilo! Logo em seguida uma Dourada um pouco maior e outro Sargo bom na descida seguinte. A coisa está-se a compor... pensei!

Não vos passe pela cabeça que isto aconteceu de repente... estes três primeiros peixes só subiram a bordo passada uma boa hora de acção de pesca. No entanto, o pesqueiro já estava a reagir de forma totalmente diferente: os anzóis ficavam "polidos" em segundos e as trocas de iscas sucediam-se em tempos proporcionais.
A acção continuou, ininterrupta, mantendo-me em estado de alerta para os toques, agora já perceptíveis, aguardando momentos de paragem aos quais, invariavelmente se sucediam capturas, principalmente à base de Sargos grandotes que iam entrando a espaços, obrigando-me já a olhar a caixa, tentando avaliar o peso total para não exceder aqueles limites que conhecemos.

Pesca alvorada, um pequeno toque e sobe um Carapau, tão gordo que de imediato pensei em jantá-lo, talvez na companhia de outros irmãos anafados que por ali andassem e quisessem "jantar comigo". Nova paragem e entra o primeiro Pargo, para aí com um quilito. Só agora? Lá mais para a frente já devem chegar mais cedo... falei para dentro comentando os sinais.
O peso estava quase certo e a pesca estava a chegar ao fim. Isco meia sardinha e desaparece em um minuto; isco duas postas em cada anzol, deixo cair e tudo fica calmo muito para além do tempo aceitável permitido pelos "miúdos". Não tenho a certeza se já me roubaram e não senti! Não quero mexer a pesca, para não espantar algo que por lá ande. De repente, sinto dois toques mais secos ao fim daquele tempo que pareceu uma eternidade e... ferro com violência!

A cana dobra, amortecendo as primeiras cabeçadas! A linha sai! A tensão mantêm-se! Sai mais linha, só aquela que a taragem deixa, a luta é séria! Ele leva, eu deixo! Vai para longe e cansa-se! Já se nota! Enrolo, aguento, torno a enrolar de cana levantada e começo a vislumbrar aquele prateado encarniçado, com laivos azuis que costumam mostrar perto de aceitarem a derrota ou antes de algo acontecer e libertarem-se à última hora. Mas não! O enxalavar já está na água, coloco-o debaixo do peixe, mudando a cana de mão e elevo-o até ao poço, onde lhe capto a imagem junto ao meu pé! Lindo peixe!


Não resisto e guardo a imagem de grupo:


Mais tarde, chegado ao porto, encontro alguém para nos tirar a foto merecida, ao alto, guardando assim momentos que mesmo sem foto não se esquecerão... por tudo!



Mais bonito ainda... eram 16.30 horas e já ali estava, sem pressas e com tudo aquilo que não esperava mas que procurei e encontrei! Não peço mais... só quero outros dias deste tipo, com mais ou menos peixe, mas onde os prazeres que ficaram possam perdurar no tempo!

O jantar foi rico de peixe, de conversa e de companhia, pois para além do Zé que sempre guarda um tempo entre assadas para dar dois dedos, o meu amigo João Martins apareceu para o café e cacau técnicos que se arrastaram pela noite dentro, antes que os lençóis me acolhessem de novo.

No dia seguinte, Domingo, o Zé Beicinho e o meu amigo Carlos Cruz completaram a campanha que, considerando o vento já mais forte e os resultados do dia anterior, se dirigiu de imediato, adivinhem onde? Ao pesqueiro do Pargo grande... claro!!!
O mais engraçado é que, à excepção de um exemplar daquele tamanho, o pesqueiro teve um comportamento quase tirado a papel químico sobre o do dia anterior, oferecendo-nos uma pesca bonita, onde figuraram três Sargos Veados, entre 1,200 e 2,500 kgs, alguns Parguitos, e alguns Sargos legítimos que só não foram guardados em imagens porque, pasme-se, ninguém levou máquina e a minha ficou sem bateria... Parvoíce!

Não faz mal! Haja saúde, tempo, algum dinheiro e muita pesca!

Boa tarde a todos os leitores!

11 comentários:

Anónimo disse...

Muitos Parabéns pelo BLOG, não há dia que não passe cá, imperdivel para quem ama este passatempo. Não há outro igual. Obrigado

Anónimo disse...

Porra que o homem desta vez acabou com a gente todos. Que inveja que eu tenho! Ainda por cima um gajo com o barquito de patas ao ar a trabalhar e o "mano" a dar-lhe em grande! O que posso dizer mais? Olha, que tenhas muita saúde para ir gozando estes momentos que tanto gostas e que tão bem nos fazem. Ah, qualquer dia és adoptado pela terra ou levas o título de verdadeiro Alentejano: Até as "mines" já são de abertura fácil... para não cansar.. Vai lá vai oh "sôce".
Um abraço
João

António Vinha disse...

Alentejano não é quem nasceu no Alentejo mas quem pensa e age como tal. Alentejanos como tu são sempre bem vindos (ainda por cima pescadores).

Magnificas jornadas Ernesto. Obrigado pela partilha.

P.S: Há males que vêm por bem
TóZé

Os Pescas disse...

Boa tarde Ernesto, gostei muito do relato, aliás como sempre. Vai continuando a deliciar-nos com estes peixes de embarcada. Um abraço.
Filipe.

Ernesto Lima disse...

Viva Pessoal!

A todos agradeço os comentários!

Ao Sr. Anônimo, se é a primeira vez que comenta, seja Bem Vindo aqui à zona de comentários, já que dá para perceber que é "cliente habitual"

Abraço a todos!

Unknown disse...

Ernesto,
Como sempre, grandes momentos, é a isso que eu chamo grandes "Momentos de PESCA", amigos, diversão, sol, mar, peixe... que mais se pode pedir, quando se faz o que se gosta com quem se gosta!!!!
Parabéns pelas capturas e obrigado pela partilha desses momentos, cada vez que leio os seu relatos, fecho os olhos e consigo ver como se lá estivesse!!! Obrigado....
Abraço,
Nelson Silva
http://momentos-de-pesca.blogspot.com/

Ernesto Lima disse...

Viva Nelson!

Grato pelo comentário!

A vida é curta... há que tentar aproveitar o máximo, olhando e gozando todos os pormenores. Por vezes, existem momentos espectaculares em situações extremamente simples... porquê deixá-los passar ao lado?

É assim que olho a vida!

Abraço

João Martins disse...

Viva Ernesto
Mais uma entrada excelente. E desta vez mais um vermelho digno de registo! Lindo animal!
Um outro aspecto que me tem despertado a atenção nas suas estadias em Sines é o cuidado que coloca na programação das saídas ao longo dos 3 ou 4 dias em que aqui permanece
De forma descontraída e sem horário mas com actividades bem seleccionadas e intencionais em tempos ocupados em pleno
Uma contradição que no seu caso não o é!
Dá gosto ir assistindo ao vivo ou contado a este espectáculo que é a sua pesca no mar e em terra firme

Abraço
João Martins

Ernesto Lima disse...

Viva João!

Grato pelo comentário!

Penso para comigo que cada saída de pesca tem características especiais, muito ligadas ao estado do mar, do vento e às horas do dia em que vamos efectivamente praticar a acção.
Daqui que, a gestão do tempo e a escolha de percurso deverão ter em conta, pelo menos a possibilidade de visita a dois ou três pesqueiros, caso o primeiro escolhido se verifique pouco produtivo ou altere o comportamento e as mudanças não nos obriguem a grandes segundas deslocações, tendo em conta também a época do ano.

Abraço

Daniel Pedro Silva disse...

Boas Ernesto.

Mais uma serie daquelas a que nos foste habituando.

Que venham muito mais dessas. e no final resume-se tudo ao que dizes quando terminas o post

"Haja saúde, tempo, algum dinheiro e muita pesca!"

Abraço
Daniel Pedro Silva

Ernesto Lima disse...

Viva Daniel!

Grato pelo comentário!

Na verdade, sem saúde não vamos a lado nenhum; o tempo para nós - algo que cada vez é mais difícil conseguir - é um bem cada vez mais precioso; e, por fim, algum dinheiro, sendo que este, pode utilizar-se o tal ditado português: "quem não tem cão... caça com gato", ou seja, se não se vai de barco, vai-se de terra ou qualquer outra forma que cada um ache acessível; e... sempre se pesca!

Abraço