quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Atitudes, Iscas, Iscadas, Processos e... Algumas Capturas


Diversidade de gostos, para além de ser bonito, é coisa que não falta. Uns adoram tirar fotos colocando os peixes como se vissem mal ao longe, pessoalmente, prefiro compará-los com o meu pézinho de Cinderela, principalmente quando se proporciona um raid a solo ou, se entretanto aparecer alguém que não se importe de agarrar na máquina e fazer o boneco, gosto de os mostrar encostadinhos ao peito, ou quase... coisas do coração!

À volta de colocar a escrita em dia e por não gostar de só mostrar peixes capturados, tento olhar para trás, rever os momentos e tentar perceber as razões das capturas, no meu caso, sempre encostadas a processos de pesca que tentam minimizar a intervenção do factor sorte. Sinceramente, não me tenho dado mal e é assim o meu gosto. Certo é que, a captura deste exemplar e mais alguns peixes que o acompanharam, não as posso olhar de forma alguma como obra do acaso, antes, como resultados de um conjunto de atitudes e decorrentes acções que foram sendo adequadas aos sinais e resultados, ou falta deles, permitindo transformar uma jornada de nada, numa outra que me deixou sorriso aberto. Sorriria na mesma, mas assim a "tacha" arreganha-se de outra forma.

Não pensem que tenho estado completamente parado, não tenho é conseguido andar por aqui. Quem diria... reformei-me e os afazeres são muitos, quase todos ao sabor do meu tempo e esse é o problema... quase todos.

Não me queixo, antes, gosto de me mexer, trabalhar e sentir que faço falta, ou não sejamos todos assim!?

Mas vamos ao que interessa!

8 a 10 de Novembro, andei por Sines a resolver a questão do depósito do barco e vá de pesca, com o Brás e o João Martins, dando nos Pargos de 1,5 a 3 kgs que junto a cinco Douradas iguais a esta que o Brás mostra aqui por baixo, atingiram o peso máximo legal com alguma rapidez.


Depois, mais um interregno, interminável, até este passado fim de semana, em que voltei ao meu paraíso de pesca, pescadores e petiscos que só os Alentejanos sabem preparar. Pesca, Domingo e Segunda, aguardava-me, combinada com os meus amigos de Évora, no Domingo e pessoal de Sines, na Segunda. Estes últimos acabando à própria da hora por não poderem vir, ficando assim com a Segunda Feira a solo. Grande problema... deles claro!

No Domingo a coisa não correu bem e a culpa, como sempre, só pode ser minha!

Vários erros cometi... em primeiro lugar, não sei bem porquê, ia para o mar com a ideia de que daria facilmente com o peixe; depois, saí do primeiro pesqueiro, com peixe miúdo a roubar, mais cedo do que é normal, sendo que a partir daqui, paciência... a asneira já estava feita e o tempo que sobrava já de pouco nos valeria. Bem feita!
Todos temos os nossos dias parvos e este foi um dos meus, sendo que o mar depressa me reduziu à expressão mais simples como tão bem o sabe fazer.

Serviu-me de emenda na segunda feira, outro dia, desta vez sem a preocupação de ter amigos que sempre quero que apanhem uns peixes e com a única ideia de pescar, para além das capturas que pudesse vir a conseguir.

Eram umas 10.30 da manhã quando saí a boca do Porto de Recreio, em direcção a Sul, muito por ter verificado que, na zona das Douradas de Norte, estava por lá muita gente e não me apeteciam ajuntamentos.

Procurei um pesqueiro habitualmente frequentado pelas "moças de oiro" nesta época do ano e para lá me dirigi, observando à chegada que um daqueles navios de contentores que descarregam no cais 21, estava fundeado, aguardando descarga, mesmo em cima do pesqueiro que escolhi, coisa que não é a primeira vez que acontece. Não desarmei, aquela zona é grande e as tais "moças", por vezes espalham-se por ali.
Sondei, encontrei uma marcação interessante e fundeei, iniciando de imediato a acção de pesca.

O peixe comia pouco, uma vezes roubava no anzol de cima, outras, no anzol de baixo, iscados com Caranguejo e Sardinha, alternados em altura a cada descida, raramente completamente roubados mas sempre com sinais de terem sido mordidos. Não sabia se já lá andava peixe grande e estava indeciso ou se, pura e simplesmente, só lá habitavam as bocas pequenas que mordiam as iscas, talvez a medo!?

A acção de pesca decorria, num ritmo intenso, repondo e variando iscas e iscadas que quase sempre subiam  parcialmente comidas.
Uns toques repetidos e intervalados fizeram-me ferrar alto e o primeiro peixe, com direito a entrar na geleira, subiu a bordo aos sacões... um Sargo que dava para o jantar de dois homens feitos. Fiquei animado, pensando que talvez a coisa não se ficasse por ali.
Outra vez Caranguejo e Sardinha, mais Sardinha e Caranguejo, num sobe e desce contínuo e ininterrupto; um toque conhecido, uma ferragem alta e a pancada certa de uma Dourada pequena que teimava em ficar lá pelos fundos, mas que subi, garantindo assim o jantar pelo menos para três. Que raio... será que é agora que elas vão dar um ar da sua graça? Questionei-me!
Mas não, eram já passadas umas três horas e o pesqueiro quanto a sinais, em vez de melhorar, foi piorando até ao ponto em que as iscas quase não eram tocadas. Ainda isquei grande, não fora andar por ali "quem" não ligasse a petiscos, tornei a variar para pequeno mas, na verdade, aquilo morreu mesmo. Eram quase três da tarde e duas opções possíveis me restavam: voltar ao porto e tratar do barco, de mim e do jantar, ou procurar um pesqueiro perto, daqueles a que já por aqui chamei "fiáveis", e tentar o fim de tarde. Optei por esta última, para lá me dirigi e fundeei de novo, com sondagem e manobra rápida, frutos colhidos de tantas vezes que por lá pesquei. Melhor de tudo... os sinais oferecidos pela sondagem até que não eram nada de se deitar fora. Entusiasmei-me como se neste momento tivesse iniciado o dia. Vamos ver... disse para com os meus botões.
Iscas para baixo, agora só sardinha, e, roubo quase imediato. Gostei ainda mais.
Sardinha à posta, meia Sardinha, Sardinha à posta, Sardinha inteira, mistura com Caranguejo, outra vez Sardinha à posta..., foi de mais para um Sargo de quilo e tal que não resistiu a tanta azáfama. A coisa compunha-se!
Tiro foto, não tiro foto... não há tempo que o Sol  vai cair rápido. Logo tiro se valer a pena!
A acção não parava e outro Sargo grande entrou, fazendo-me pensar que nada tinha ainda terminado. Talvez até algo maior ainda entrasse, mesmo as Douradas que não raras vezes aparecem por ali, dentro e fora desta época. A tensão era a necessária, os sentidos todos em alerta e, mais um toque, mais uma ferragem, mais uma luta, desta vez foi um Pargo de 1,5 kg que subiu ao poço.
Penso para comigo que o pesqueiro não me enganou. Pena o Sol já estar tão baixo, mas vamos ver!?
Iscas para baixo, anzóis limpos para cima, pesca arrochada, estralho partido, novo estralho, novas iscadas, linha para baixo e... não picam ou já me roubaram e nem senti?
Aguardo um pouco, sinto como que um puxar matreiro, a seguir um só toque pequeno, curto, seco, e... arrisco a ferragem!
A cana dobra, a baixada inicialmente parece não querer sair do fundo, iniciando-se de imediato os sacões compridos levando a baixada para a proa do barco, na direcção da leve aguagem que se fazia sentir, sempre à cabeçada longa, não deixando grandes dúvidas sobre o interlocutor que venderia cara a entrada na cozinha fosse de quem fosse.
A luta prolongou-se para além do habitual, mesmo para um peixe do tamanho deste, mas o certo é que acabou por ir subindo, chegando à amura do Makaira, onde lhe meti o enxalavar, o subi a bordo e lhe tirei a foto que abre esta entrada. Pesou na minha balança, onde uma garrafa de água de litro e meio pesa 1,480 kg, uns belos 6,200kg.
Mais tarde, já no porto, um amigo pescador tirou-me a que se segue, onde o tenho perto do coração e mostro o sorriso malandro de quem não desistiu, "porfiou e matou caça"!


E foi assim meus amigos... dias diferentes, provando uma vez mais que a acção persistente e diversificada, assim como atitudes e comportamentos adequados dos pescadores face aos sinais de uma jornada, podem pesar fortemente nos resultados da mesma, dando um contributo valioso para a diminuição da intervenção do factor sorte na nossa pesca.

De tudo isto, iscas, iscadas, materias, montagens e suas aplicações ao longo de uma jornada de pesca; quero convosco trocar ideias, experiências, resultados..., ao vivo e a cores, no próximo dia 16 de Dezembro, em mais um Workshop, com enquadramento no site Porto de Abrigo e mais uma vez com o apoio do Hotel do Sado, em Setúbal, cujo título de divulgação se encontra na imagem seguinte.


Quanto aos objectivos desta acção, deixo-vos o geral, parecendo-me que tem "pano para mangas" e  tende a provocar conversa de pesca como se não houvesse amanhã. Para além disso é bonito sair do blogue e conversar convosco. Eu gosto!


Para mais informação aos interessados, cuja disponibilidade lhes permita estar presentes, podem consultar o documento com as condições de realização, programa e processo de inscrição, clicando na imagem que se encontra no topo da coluna da direita da página inicial do blogue, no site já referido no sector "Pesca Embarcada" e também na minha página do FB.
Podem ainda contactar-me telefonicamente através do n.º 96 357 91 32 ou, pelo seguinte endereço de mail.
Mais informo que o prazo de inscrições, inicialmente previsto até às 24.00 horas, do dia 5 de Dezembro, se prolonga até às 24.00 horas, do próximo dia 10 de Dezembro, no sentido de dar oportunidade aos eternos atrasados.

Por hoje fico-me por aqui, este fim de semana é capaz de haver mais pesca!? Depois conto.

Até lá, uma boa noite para todos vós.

11 comentários:

Gilberto disse...

Boas Ernesto
Brutal post quase me senti ao teu lado a por o enxalavar ao peixe..
Abraço

Anónimo disse...

AH granda Ernesto !!!

Uns sargos (aonde andem eles??)ja fazem as delicias deste leitor/pescador mas velos a sair quase em fila aqui é um autentico manjar adornado com umas douradas so para nao enjoar :) agora para sobremesa um bicho desses é soberbo, fenomenal resultado de muito trabalho.
As vezes as espera e continuar a apostar tras as suas recompensas e esta foi uma delas.
Continue esse bom trabalho e com estes textos fabulosos !!!
Um abraço Bruno Mendes

António Vinha disse...

Olá Ernesto
- Belo Pargo
No Domingo estavam "enjoados" do 1º de Dezembro (e último).
A Pesca é o hobie dos teimosos.
E tu.... és sem dúvida "teimoso".
Os meus sinceros parabens Ernesto

Um abraço co amizade
TóZé

Ernesto Lima disse...

Viva Pessoal!

A todos agradeço os comentários.

Abraço

Ernesto

Unknown disse...

Viva Ernesto

Já faz tempo que não nos mostravas uma medalha destas. Que bom/rico troféu.

Abraço

Vira

João Peixoto disse...

Espectacular Ernesto!!!

Continue assim, tanto a pescar como a partilhar estes momentos soberbos.

abraço
João Peixoto

João Martins disse...

Viva Ernesto
Aí está como um dia de pesca "incolor" trabalhado a preceito nos pode levar a um peixe a sério!
Mais um grande raid a solo
Quanto ao documento, é daqueles que justificam novas leituras com regularidade a fim de ganhar coragem para evitarmos as posturas "fáceis" que vamos adquirindo na pesca

Abraço JM
.

Unknown disse...

Lindo Pargo amigo Ernesto!
Uma grande recompensa pela persistência, resultado da experiência acumulada.
Quanto ao relato, faz-nos sentir a bordo!

Abraço
Pardal

Ernesto Lima disse...

Ao João Martins e ao Pardal, agradeço os comentários.

Não há dúvida... na pesca como na vida, sem trabalho nada se consegue de melhor.

Abraço

Unknown disse...

Boas, mas que bela pescaria, uns dias ganha o mar, outros ganha o pescador!!!! Abraço, Bons Ventos e Boas Marés!!!
Luís Miguel Coelho

Ernesto Lima disse...

Boa tarde Luís Coelho

Grato pelo comentário

Essa é uma grande verdade, sendo que por vezes podemos contribuir para empatar a coisa. Tem outras que nada funciona.

Abraço