Não me canso de estar na situação da imagem de abertura, muito por só ver para a frente enquanto a máquina atinge a temperatura ideal para saltar para os habituais 18 nós de velocidade, com rumo feito à primeira zona escolhida onde quero colocar iscas na água, desafiar os peixes que gosto a morderem o que lhes apresento e a lutarem comigo.
É um momento alto do dia... tudo o que fica para trás não interessa, olho o mar, sinto-lhe o cheiro, observo-lhe o comportamento, oiço o ronronar certinho do motor e todos os outros barulhos conhecidos que me dizem estar tudo bem.
Revejo mentalmente a zona onde vou iniciar a pescaria, os seus fundos característicos, e tento adivinhar se haverá corrente e qual o seu rumo, imaginando cenários variados face às condições diversas que mentalmente vou desfiando, construindo, sabendo de antemão que só quando chegar poderei decidir o que fazer, podendo ou não acertar à primeira com o fundeio. Mas tudo isto me desafia, aguçando-me os sentidos e isolando-me de tudo o resto, em momento muito meu.
Os pensamentos continuam em torno da época do ano, exigente na procura, obrigando a pescas mais profundas, onde os cuidados relacionados com o fundeio e o esforço a desenvolver aumentam significativamente, mas se tornam obrigatórios se quisermos encontrar aqueles maiores que se procuram. Aviso o Jorge Nice, meu companheiro deste dia e dou força à máquina, sabendo que em 15 minutos estarei no pesqueiro, pronto a desvendar a posição em que o barco vai ficar para que as iscas caiam onde queremos.
Chegamos e a sonda começa de imediato a fornecer imagens conhecidas... de contornos, estruturas de fundo e da vida que por lá anda.
O fundo assemelha-se a uma montanha estreita e com algum comprimento, tipo cordilheira, mais ou menos orientado de E para W e começo a sondar as vertentes de Norte para Sul e vice versa, batendo-as em rumos paralelos.
Detecto o fundo que me parece melhor para colocar as iscas a funcionar e preciso de saber onde largar o ferro para que tal aconteça... paro completamente o barco e enquanto preparo o ferro para lançar deixo que o barco derive ao sabor do vento fraco que sinto e da corrente que ainda não sei se existe. O GPS, traça uma deriva relativamente rápida, de SE para NW, em pouco tempo, indicando pela velocidade em que o traçado se desenhou que tanto o vento fraco, quanto alguma corrente, estão mais ou menos alinhados no mesmo rumo. Perfeito... dá um fundeio giro, penso para com os meus botões. Deixei-vos curiosos? Eu explico...
Esta cordilheira, tem bicos que, dum fundo de 86 metros, sobem perto dos 50, tanto para Norte, quanto para Sul; sendo que para Norte as quedas são abruptas e até alcantiladas em grande parte da sua extensão, enquanto para Sul, são menos abruptas e a diferença de profundidades vai acontecendo em socalcos relativamente grandes e normalmente com vida.
Foi mesmo isto que a sondagem já me tinha mostrado e, procurando largar o ferro com a brevidade possível, coloquei-me em cima do bico mais alto, aproei contra o rumo da deriva (SE) e fui controlando as profundidades que caíram primeiro para os 62 metros, depois para os 72 a 76 num declive calmo e prolongado, logo a seguir para os 82 a 84 de forma também calma e, logo a seguir, abruptamente dos 84 para os 86, seguindo-se o limpo, onde após dar algum desconto larguei o ferro, esperando que corresse com a força da deriva e se fixasse no declive entre os 86 e os 84 metros, o que aconteceu.
Tal fundeio, considerando as distâncias, a corrente e a deriva, permitiam-me fazer o que queria, ou seja, colocar uma baixada com dois estralhos compridos e chumbada mais pesada a pescar no socalco dos 84 a 82 metros e explorar o dos 76 a 72, com lançamentos duma baixada à Chumbadinha, cobrindo assim várias áreas de fundo, assim como vários tipos de iscadas em formato e tamanho, já para não falar de 10 a 20 metros da coluna de água que a baixada da chumbadinha explora lentamente, após chegada da chumbada ao fundo.
Outra vantagem desta opção de fundeio, prende-se com o que se pode chamar uma "engodagem de baixada para baixada". Isto é, considerando que a de dois estralhos, com chumbada mais pesada, fica a pescar mais perto do barco e a da chumbadinha mais longe, ambas alinhadas na corrente, se o peixe miúdo começar a desfazer iscadas como a da imagem seguinte...
Esta cordilheira, tem bicos que, dum fundo de 86 metros, sobem perto dos 50, tanto para Norte, quanto para Sul; sendo que para Norte as quedas são abruptas e até alcantiladas em grande parte da sua extensão, enquanto para Sul, são menos abruptas e a diferença de profundidades vai acontecendo em socalcos relativamente grandes e normalmente com vida.
Foi mesmo isto que a sondagem já me tinha mostrado e, procurando largar o ferro com a brevidade possível, coloquei-me em cima do bico mais alto, aproei contra o rumo da deriva (SE) e fui controlando as profundidades que caíram primeiro para os 62 metros, depois para os 72 a 76 num declive calmo e prolongado, logo a seguir para os 82 a 84 de forma também calma e, logo a seguir, abruptamente dos 84 para os 86, seguindo-se o limpo, onde após dar algum desconto larguei o ferro, esperando que corresse com a força da deriva e se fixasse no declive entre os 86 e os 84 metros, o que aconteceu.
Tal fundeio, considerando as distâncias, a corrente e a deriva, permitiam-me fazer o que queria, ou seja, colocar uma baixada com dois estralhos compridos e chumbada mais pesada a pescar no socalco dos 84 a 82 metros e explorar o dos 76 a 72, com lançamentos duma baixada à Chumbadinha, cobrindo assim várias áreas de fundo, assim como vários tipos de iscadas em formato e tamanho, já para não falar de 10 a 20 metros da coluna de água que a baixada da chumbadinha explora lentamente, após chegada da chumbada ao fundo.
Outra vantagem desta opção de fundeio, prende-se com o que se pode chamar uma "engodagem de baixada para baixada". Isto é, considerando que a de dois estralhos, com chumbada mais pesada, fica a pescar mais perto do barco e a da chumbadinha mais longe, ambas alinhadas na corrente, se o peixe miúdo começar a desfazer iscadas como a da imagem seguinte...
... ou desta outra, ainda com mais comida...
... os cheiros libertados, levados pela corrente, acabarão por chamar a atenção de predadores que estejam mais afastados e que ou encontram primeiro as iscadas acima ou muito provavelmente dão de caras com esta outra - a da chumbadinha.
Ora digam-me lá se não é possível, sabendo nós que os socalcos que referi são sem dúvida locais interessantes para aqueles que se querem esconder e atacar de surpresa os mais pequenos que se passeiam em grandes grupos pelas paredes e em torno dos bicos destas elevações submarinas, alimentando-se dos nutrientes e pequenos seres que sempre se acumulam em torno ou por cima.
Pensa-se portanto, ter sido assim que alguns Safios de bom tamanho caíram numa e noutra baixada, dois Pargos de 1,5 a 2 quilos caíram nas iscadas da de dois estralhos e, da forma que se espera e por vezes não se alcança, passadas uma 3 horas de pesca intensa e atenta, a ponteira da cana com a baixada da chumbadinha teve um breve tremelique, seguido de uma cabeçada intensa e prolongada, luta a condizer e o prémio de 6,080 kg que a seguir vos mostro, vindo directamente do socalco entre os 72 e 76 metros.
O que andaria o "pardal", por lá a fazer? Certamente achou que tinha por ali calorias para ingerir a "baixo preço"!?
Pensa-se portanto, ter sido assim que alguns Safios de bom tamanho caíram numa e noutra baixada, dois Pargos de 1,5 a 2 quilos caíram nas iscadas da de dois estralhos e, da forma que se espera e por vezes não se alcança, passadas uma 3 horas de pesca intensa e atenta, a ponteira da cana com a baixada da chumbadinha teve um breve tremelique, seguido de uma cabeçada intensa e prolongada, luta a condizer e o prémio de 6,080 kg que a seguir vos mostro, vindo directamente do socalco entre os 72 e 76 metros.
O que andaria o "pardal", por lá a fazer? Certamente achou que tinha por ali calorias para ingerir a "baixo preço"!?
E foi como aconteceu caros leitores... desta vez funcionou, tem outras que não funciona e até acontece funcionar melhor. O problema é perceber porquê!?
Sinceramente, penso que o fundeio e a colocação das iscas, são os factores mais importantes, sendo que em certos locais, dias e respectivas condições de mar e vento, a coisa pode não funcionar tão bem.
Perguntarão alguns de vós: então e não podia ter fundeado de outra forma?
Ao que responderei: Podia e até é possível que fosse mais produtivo, mas pensa-se aposta-se, testa-se, observam-se os resultados e numa próxima vez logo se vê o que nos trás o dia.
Não se preocupem... entretenham-se para já com o que por aqui pensei, vamos conversando e na próxima eu conto.
Uma boa noite a todos os leitores.
10 comentários:
Isso de andar aos pargos e sair um "pardal" é que me deixa com algum receio de me aproximar sequer do porto de Sines... lol.
Que bonito exemplar, parabéns.
Viva Ernesto
Estratégia, muita técnica, muito ritmo e nervos de aço
E mais uma vez, a merecida recompensa
Pena este ano estar a correr tão mal em número de saídas
Os meus parabéns
João Martins
Viva Pessoal
Grato pelos comentários
Ao Pardal:
Companheiro e amigo, desculpa lá, mas isso é "boca" à Setúbal e não me lembrei de ti.
Podes ir a Sines à vontade. Eheheh
Ao João Martins:
Amigo JM, tem toda a razão... este ano tem sido francamente mau em saídas.
Trabalho e condições de Mar e Vento, uniram-se para nos tramar!
Haja saúde.
Abraço a todos
Boas Ernesto..:-) Os meus parabéns por mais um belo exemplar.
Apesar de este ano não ter sido famoso, derivado ao mar. Pode ser que a partir de agora consigas ir ao mar com mais regularidade..:-)
Uma vez mais, obrigado pela partilha de conhecimento amigo..:-)
Um grande abraço
Luís malabar
Viva Ernesto
Mais um peixinho digno de foto, e que belo exemplar, é desses que ando ha procura mas so me tem saído e poucos parentes menos pesados 2.750 foi o meu maior, mas ha de chegar o dia.
Isso do fundear é complexo pois cada pessoa tem a sua maneira de fundear uns em cima da marca (GPS) outros ligeiramente mais afastado ou aonde a marcação de peixe for mais favorável, outros preferem ficar ligeiramente afastados das marcações e deixar o peixe pequeno fazer o seu trabalho e atrair os maiores.
Todos com resultados melhores e piores mas convictos que fazem o melhor, por isso acho que sendo importante o "sexto sentido e convicção deve tb aqui funcionar"
Um abraço e continuação de boas saídas pode ser que a gente se encontre ai nesse mar .
Boa noite a todos.
Aos novos comentadores agradeço os comentários.
Ao Luís Malabar:
Pois é companheiro, isto este ano está complicado. Mas vai melhorar certamente.
Ao Bruno Mendes:
É verdade Bruno... a convicção de que de facto estamos bem fundeados, com as iscas a trabalhar onde decidimos e sentindo sinais de toques que coincidam, são de facto quase meia pesca, em termos de hipóteses.
Sobre o sexto sentido, já tenho as minhas dúvidas... esse é o tal sentido só de fé, em que os factores sorte/azar têm uma importância maior.
Sinceramente... prefiro a interpretação baseada na percentagem de resultados obtidos duma certa forma, em determinados pesqueiros, e épocas específicas.
Posso afirmar à vontade que esta zona de pesqueiros, nesta época, fundeado desta forma e também de outras, sempre me deu e continua a dar alguns bons exemplares.
Verdade que em algumas épocas, pelas condições adversas de mar e vento, conjugadas com as hipóteses de ir, possam não ter permitido lá pescar, mas fora isso, mais dia menos dia, nesta zona e nesta época, a coisa dá-se.
Abraço
Boas,
Amigo Ernesto, parabéns por mais esta excelente entrada.
Eu, como este ano ainda não fui ao mar, são estes relatos que me fazem manter (ou aumentar) o bichinho...
Fiquei curioso com alguns pormenores dessa saída.
- quando aconteceu? o mar parece me francamente bom, para o que tenho visto por estas bandas.
- segundo percebi, tendo em conta as condições de fundeio, a aguagem estava no sentido da parede, certo?
Obrigado por mais esta partilha.
Um abraço,
Roberto
Boa tarde Roberto
Esta captura corresponde à última que documentei no "Pesqueiro". A foto do peixe é que está noutra posição.
Aconteceu no dia 13 de Março, quinta feira. Se está lembrado, estiveram uns 4 ou 5 dias bons e quentes. Esta foi a melhor pesca de 4 seguidas, em que pouco mais se conseguiu.
Sobre a aguagem, ela estava na direcção da parede do lado que resolvi escolher.
A escolha foi esta por várias razões:
- A existência dos socalcos espaçados que normalmente têm peixe
- A força da corrente que era alguma e dificilmente me deixaria colocar as iscas onde queria, caso fundeasse para pescar do outro lado do bico.
- Os resultados positivos já antes conseguidos neste pesqueiro, em condições idênticas de época, rumo da aguagem, rumo do vento e decorrente fundeio.
De qualquer modo, no Domingo seguinte (16), tornei a pescar no mesmo local em condições idênticas e embora o peixe roubasse iscas, nada se conseguiu para além de pataroxas.
É assim a pesca.
Abraço
Boas,
Nessa data eu não estava em Portugal, por isso não ter presenciado esse "verão de carnaval" que por aí passou, apesar de ter ouvido falar do mesmo...
O raio do mau tempo anda atrás de mim!!!
Eu questionei o sentido da aguagem, porque normalmente, procuro fundear na parede onde a aguagem é contrária à mesma e pelas seguintes razões:
- Evita mais as prisões no fundo;
- Os peixes tendem a comer contra a aguagem, logo apresentar a isca com aguagem contraria à parede, poderia no meu entender, facilitar a abordagem do peixe à iscada.
- A aguagem contraria à parede pode aumentar a zona de engodagem libertada pelas iscas.
Gostaria, se assim o entendesse, que comentasse este meu raciocínio.
De qualquer forma entendo que, de facto, o mais importante é colocar as pescas na zona "quente" independentemente de a aguagem estar na direcção x ou y.
Obrigado por mais esses pontos de vista que terei em conta nas próximas sondagens para escolha do fundeio.
Um abraço,
Roberto
Viva Roberto.
O seu raciocínio não está errado e é assim que se conseguem muitas vezes as melhores pescarias.
A questão neste caso é a intensidade da aguagem que sendo forte pode fazer com que o peixe fique por ali encostado à base do pontão, onde tem comida e evite andar a saltar de um lado para o outro, gastando energia.
Neste caso, de aguagem forte, acontece que se se fundeia do pontão para o limpo, podem estar a correr-se mais riscos de estarmos a mandar cheiros para onde nada virá. Já se a aguagem for leve, prefiro de longe fundear do bico para a base.
Tem ainda outro factor importante... se para além da beirada existirem entralhados (mistura de pedra e areia) ou outros montes de pedra mesmo mais baixos que também constituam abrigo e não estejam muito afastados, será talvez uma mais valia fundear do bico para este tipo de beirada, principalmente se virmos que conseguimos colocar as iscas entre beiradas.
No caso deste local onde estive, é completamente limpo para Norte e preferi a poitada que já expliquei.
Questão: Será que se poitasse de maneira a pescar para a base de Norte teria tido mais sucesso?
Resposta: Das vezes que optei dessa forma neste local, com aguagem forte, não se verificaram capturas assinaláveis e muitas vezes nem toques de peixe.
Não sei ao certo se estes raciocínios são os mais correctos, mas na verdade os resultados anteriores tiveram uma palavra a dizer quanto à opção tomada.
Importa ainda referir que esta montanha submarina deve ter uns bons 400 metros de comprimento e em alguns locais 100 a 150 de largura. É muita zona de abrigo e muito peixe miúdo agarrado.
Os predadores não têm de se afastar muito.
O problema é que se com aguagem forte, lá estiverem poucos e não vierem mais. Apanham-se os que lá estão e depois acabou, nem mais um entra.
Já aconteceu outras vezes.
Abraço
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