
A conjugação de Amigos, Mar, Pesca e Peixes, parece-me algo de sublime e que raia a perfeição!
Principalmente quando tudo isto funciona com harmonia em determinado dia ou momento! Foi o que aconteceu no sábado deste fim de semana, dia 17 de Novembro do ano de 2007!
O Albino e o Chico, quiseram vir comigo à pesca, o que, é sempre algo esperado, atendendo ao facto de os nossos trabalhos e vidas pessoais dificultarem estes momentos.
Tenho, como muitos, vários amigos, gente que a vida permitiu que com eles me cruzásse algures, e cujas estradas, com mais ou menos nuances, acabaram por ser as mesmas, com mais curva menos curva, e, por razões diversas no que respeita aos objectivos, ideias e, talvez, profissões comuns.
Relativamente ao gosto pelo Mar e pela Pesca, pois, tenho pessoal amigo para todos os gostos:
Ele há os ferrenhos, ele há os competitivos, ele há os desinteressados e os que fingem ser, ele há os falsos amigos, e, claro, O Albino e o Chico a quem designarei por bons e peculiares amigos. A todos, excepto aos falsos, daqui mando o meu grande abraço e a promessa que estamos aqui, estamos a pescar juntos mais uma vez!
Caracterizando o Albino (casaco azul) e o Chico (casaco vermelho); os nossos caminhos cruzam-se através da profissão, cursos iniciais e complementares que fizémos em conjunto, horas de estudo mais ou menos agrestes, e, o café e conversa de todas as Quartas Feiras!
Quanto ao Mar e à Pesca, pois, esta gente não é própriamente pescadora! São mais pelo vamos para Sines, comemos, bebemos e, já agora pescamos, porque, por puro acaso, o nosso amigo Ernesto tem lá o barco e até se ajeita com "aquilo"!
Por meu lado, adoro o misto de displicência pela pesca e o gosto evidente que têm em estar comigo, seja em que situação for! De tal forma que lhes preparo tudo: As canas, as iscas, as montagens..., assim como, os apoio contínuamente durante toda a jornada, na qual, o Chico se destaca pela piada fluente e a anedota pronta e, o Albino, chateando-se quando o peixe pica de seguida e o obriga a substituir a isca assiduamente, "atirando-se ao ar" por tal facto!?
Isto, já para não falar dos sustos que apanham quando algum peixe grande lhes "bate à porta", obrigando-me a largar a pesca e a acalmá-los enquanto labutam para o tirar!?
Foi, portanto, neste ambiente de galhofa e bom viver que juntos partimos para mais um dia de pesca, procurando eu forma de pescar algo de jeito, com tais pescadores a bordo!
Encontrámo-nos às 9.00 horas, tomámos café e cavaqueámos, andámos para o barco e partimos para o mar, pensando eu, durante toda esta acção que teria que escolher um local perto, com peixe, tendo em conta que desde que nasceu a minha neta (4/11/07), gosto de voltar para casa mais cedo, para ainda poder disfrutar dos carinhos que esta gente pequena nos desperta!
Chegámos ao primeiro local eleito, sondei e não gostei, assim como no segundo! Muito peixe alvorado e muitos azuis na sonda, sinais que podendo ser bons para a Zagaia, para a pesca de fundo, a eleita para este dia, não me parecem os mais adequados nesta altura do ano! Poderão ser produtivos, mas muito desmotivadores devido ao roubo contínuo de iscas!
Prefiro um fundo mais calmo, onde o peixe miúdo só coma pelas pontas e onde os predadores, ao serem atraídos pelo cheiro que a Sardinha iscada espalha, ainda encontrem comida, agarrada aos nossos anzóis, suficiente para despertar o seu instinto de alimentação.
Lembrei-me dum fundo em que o ano passado, nesta altura, tive vários sucessos e lá me dirigi! Abri a sonda e lá estava o que eu queria ver! Pedra rasa no fim duns pontões altos, a cair para uns entralhados com muito bom aspecto e algum peixe, em pequenas bolas amarelas, muito agarrado ao fundo, aqui e ali, um tudo nada por cima deste! Não quis acreditar na "sorte" de dar com isto, mas o que é certo é que estava lá! Pensei de imediato: "nem quero dizer nada mas que aqui há assunto há!"
Procedi à manobra de fundeio com a habitual ansiedade contida que surge quando algo me está a "cheirar", esperei que o barco parasse, controlando a sonda e iniciámos a acção de pesca, não sem antes ter aconselhado os meus companheiros a iscarem sempre, pelo menos, um dos anzóis com Sardinha, para que iniciássemos o efeito de atracção, sobre "aqueles" que procurávamos!
As primeiras iscas desceram, os toques iniciaram-se, fracos, quase não se sentindo! Puxámos para cima e verificámos que as iscas vinham comidas pelas pontas! A sardinha pela barriga, o Carangueijo chupado e a lula comida nas suas zonas mais moles! Calma, disse eu, vamos insistir e renovar iscas continuamente que me parece que se vai dar qualquer coisa!
Há coisas que não sei explicar! Não sou "bruxo", nem tenho quaisquer outros poderes! O que me parece é que nós temos a capacidade de armazenar, em pequenos locais do nosso cérebro, resquícios de experiências passadas que nem damos por elas! Estava eu pensando isto, tentando encontrar razões para a entrada franca de peixe a picar, quando a cana do Albino dá sinal e o primeiro Pargo, com 0,800 kgs, entra a bordo, sem nada que parecesse indicar que tal ia acontecer! Mais atento fiquei!
As iscas iam sendo comidas, umas vezes em mais quantidade que outras, mas sempre de forma leve, quase indelével! Parecia que o peixe miúdo estava a comer a medo! Mas que medo? O de ser comido? Talvez!?
Estava eu nestes pensamentos quando, mais uma vez, a cana do Albino dá sinal, agora mais potente e levando o meu companheiro à beira dum "ataque de nervos"! Acalmei-o e acompanhei a luta, até que chegou à superfície o Pargo com 1,700 kgs que se vê na foto abaixo!

Tirámos a foto entre brincadeiras, enquanto eu pensava que afinal as coisas estavam a caminhar conforme os sentidos me alertaram!? Será!?
Instalou-se algum nervosismo e vi os meus companheiros, habitualmente despreocupados, a atirarem-se às iscas com fervor e tentando ser mais rápidos a colocar as pescas no fundo! Sorri para dentro e virei-me para a minha cana, verificando que, das subidas e descidas com isca, os estralhos estavam um pouco enrodilhados! Troquei-os e continuei a acção de pesca!
Deixo cair a montagem junto ao casco, para que a aguagem leve que se fazia sentir não a afastasse muito! Tiro a folga assim que chega ao fundo e aguardo! Nada! Nem um toque! Desconfio! Levanto a cana num movimento lento e amplo, tornando a baixá-la! Assim que a chumbada toca o fundo, sinto três toques insistentes e levanto a cana com força! "A coisa tinha de se dar!", comento!
A cana dobra a sério e o Pargo que lá está ruma em direcção à aguagem, para longe, levando linha! Não muita! Só aquela que a taragem da embraigem do carreto lhe permite! Cana levantada, luto com ele e dou-lhe a iniciativa! Leva mais linha e eu deixo! Pára e eu levanto ainda mais a cana e começo a enrolar! Ele deixa e eu continuo a enrolar! Ele insiste e leva mais linha! Eu revejo mentalmente, em fracções de segundo, todos os nós e materiais da montagem, pensando se tudo estará bem, embora nada disso me possa servir, os dados estão lançados e agora é andar para a frente com calma, paciência e sentidos apurados!
Enquanto penso nisto ele não leva linha, mas também não consigo recuperar nada! Bom sinal, penso eu! Ele parece querer desistir e eu recupero a linha, devagar mas firmemente, esperando o último estertor que se dá junto da superfície, onde o enxalavar finaliza a azáfama!
O Pargo Dourado, de 7,00 kgs (arredondados para trás) que abaixo vos apresento, dispensa outros comentários, quer quanto à luta quer quanto à alegria de capturar tal animal!

A pesca continua com toda a gente de sobreaviso! Isco bem, com Sardinha, lanço a pesca a alguns metros do barco, não muitos. Chega ao fundo e eu tiro a folga! Mais uma vez, levanto devagar e assento! Espero um pouco! E outra vez! Lá vai linha para Porto Côvo e vá de luta! Este não é tão grande, mas para levar linha assim, não é para brincadeiras!
A pesca continuou, o peixe miúdo ficou mais activo e isso fez-me pensar em algo que já referi em anteriores entradas: "Quando um peixe grande de fundo é capturado, muitas vezes durante algum tempo, a coisa pára um pouco"! Será verdade!?
O que é certo é que antes desta captura o peixe miúdo parecia comer a medo e agora andam para aqui a limpar tudo que nem desalmados! O medo acabou!? Não há predadores à vista!? Não sei!
Quinze minutos passados e depois de haver gente a queixar-se com fome! Parámos, iscámos as pescas, colocámo-las no fundo a pescar a solo e fomos almoçar!
Quarenta e cinco minutos depois, voltámos à lida, não sem antes eu ter dado algum cabo, já que o vento da manhã tinha diminuído e o barco tinha andado um pouco com a aguagem que se dirigia quase contrária ao vento.
Pescas para a água! O peixe já comia diferente e roubava desalmadamente!
Entra uma Sargueta ao Albino, com anzol 2/0! Como é possível!?
Depois uma choupa, ainda ao Albino, mais um Pargo de quilo para o Albino e outro ao Chico!
O peixe miúdo começa outra vez a comer a medo! Eu, "espeto as orelhas" e aviso os outros!
Pescas para baixo! Pescas para cima! O Chico tira uma Dourada, a da foto abaixo, e, todos pensamos: será que a época começa hoje!?
Repete-se tudo e, finalmente, apresento-vos o último do dia, Um Pargo legítimo com 4,800 kgs.
São 15.00 horas, estamos cheios e satisfeitos, direi mesmo que não cabemos em nós de satisfação!Seguiram-se, a euforia geral, a foto e a colocação de bicho tão valente, devidamente acondicionado na arca do gelo! Um último olhar e vá de continuar a pesca! Embora, em momentos como este, quase nos apeteça arrumar tudo e rumar a terra, dando a pesca por terminada, mas que raio!? São 13.00 horas e temos petisco a bordo! Pescamos mais um pouco!
Um dia destes, entre amigos, com bom mar, pesca sem incómodos, todos os raciocínios a surtirem resultados, e... os Peixes!? Grandes, lindos, poucos, sem devolver ao mar devido a medidas mínimas, e agora, a chegada à terra e o reconhecimento dos outros pescadores!? Talvez até alguma "dorzita de cotovelo" por aqui e por ali! Não vem mal ao mundo por causa disso! Faz parte! É aceitável e até compreensível!
É, sem dúvida, no mar que se testam os nossos conhecimentos, as nossas sortes, os nossos azares, as nossas montagens, as iscas, as formas de iscar, as inovações e as antiguidades! Só há que ir tentando conjugar: os Amigos, o Mar, a Pesca e... os Peixes!
E, para terminar por hoje, há sempre alguém que é capaz de dar uma dica ou outra! Basta saber perguntar!
A todos os leitores! Um resto de Bom Domingo!